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2 CONSTRUINDO O CONTEXTO DO ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA

2.3 Uma reflexão sobre o perfil dos professores de PLE

O próprio contexto do ensino do português como língua estrangeira nas universidades brasileiras aponta a situação da formação do professor. Ora, se ainda não há definida uma política para o ensino, como esperar uma política de formação docente? As respostas às questões feitas às universidades e a análise que realizamos nos sites destas instituições mostraram que, considerando o universo brasileiro, poucas universidades disponibilizam aos interessados formações específicas (através de pós-graduação, como é o caso do curso de pós- graduação em Português como Língua Estrangeira oferecido pela Universidade de Brasília) para uma formação mais específica viabilizada ao professor que irá trabalhar na área de PLE. Com o intuito de identificar onde e como é feita a formação de professores de Português Língua Estrangeira, fizemos uma pesquisa, empregando a mesma metodologia utilizada antes para coletar informações sobre os cursos oferecidos aos estrangeiros: buscando informações nos sites das universidades e enviando questionários aos professores responsáveis pelos cursos. Através desta busca, encontramos na região Nordeste: a UFBA.

14 Informações coletadas no site de Extensão da Universidade de Caxias do Sul, disponível em http://www.ucs.br/ucs/extensao/ppe2/portugues/exames/, acessado em 13 de maio de 2011.

(Universidade Federal da Bahia), que possui uma habilitação no Curso de Letras em PLE. O curso é organizado pelo Departamento de Letras Vernáculas. Na região Sul: a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) possui um programa que promove regularmente módulos do Curso de Formação de Professores na área de Aquisição e Metodologia de Ensino do Português/Língua Estrangeira, Elementos de Gramática do Português/Língua Estrangeira e Elaboração de Materiais Didáticos para o Ensino de Português/Língua Estrangeira. É voltado para a formação dos bolsistas, que atuam como estagiários nos cursos de Português para Estrangeiros; a UFPR (Universidade Federal do Paraná), através do Celin (Centro de Línguas e Interculturalidade) oferece cursos de formação e atualização para professores de PLE. Na região Sul: a PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica) oferece curso de especialização de Ensino de Português para Estrangeiros, dividida em três módulos, com carga horária total de 360 horas/aula. Na região Centro-Oeste: a UnB (Universidade de Brasília) oferece uma licenciatura em Português do Brasil como Segunda Língua, que tem por objetivo a formação de professores de Língua Portuguesa para ensinar o Português do Brasil – língua, literatura e cultura – a falantes e usuários de outras línguas.

Além da UFBA, que oferece uma habilitação em PLE (mas que não apresenta informações na sua página na Internet e que não respondeu ao contato feito) só foram encontrados registros de licenciatura em Português do Brasil como Segunda Língua (PBSL) na UnB, dentre todas as pesquisadas do país. Segundo as informações contidas na própria página da universidade, esse curso surgiu a partir da necessidade de se formarem professores/pesquisadores na área de Português com Língua Estrangeiras ou Segunda língua:

1. O Departamento de Linguística, Línguas Clássicas e Vernácula (LIV), do Instituto de Letras (IL), da Universidade de Brasília (UnB), decidiu preencher uma lacuna em sua estrutura curricular em favor da internacionalização de nosso idioma. Na atualidade, o Português é língua de dois grandes mercados mundiais, a União Europeia e o Mercosul, e língua oficial de todos ao países da Comunidade dos

Países de Língua Portuguesa (CPLP).

2. O Departamento de Linguística, Línguas Clássicas e Vernácula (LIV) procurou, assim, atender à crescente demanda de formação de docentes que possam atuar nos mais diversos contextos públicos e privados, tanto no Brasil quanto no exterior. 3. O Curso, durante todo processo de organização do fluxo, foi orientado para o desenvolvimento da compreensão e produção linguísticas e interculturais, bem como para os estudos contrastivos, a fim de preparar profissionais brasileiros – estudantes de PBSL – a ensinarem o vernáculo a falantes de outras línguas das mais diversas comunidades nacionais e internacionais15.

15

Dados disponíveis em http://vsites.unb.br/il/liv/graduacao/pbsl_curriculo.htm, acessado em 08 de junho de 2011.

Observamos, então, que as próprias justificativas para a implantação do curso são as mesmas levantadas como justificativas para tantos outros cursos em tantos outros estados que ainda não foram implementados. Quais seriam os fatores que viriam a contribuir (ou não) para a inclusão deste tipo de curso em outras universidades? O que falta? Sabemos que Brasília possui um grande número de estrangeiros e que possui um dos melhores, possivelmente, o melhor, curso de Português para Estrangeiros do país (de acordo com dados do SISU/MEC referentes às notas obtidas pelos alunos estrangeiros dessa instituição no exame CELPE-Bras) e manter este nível, bem como melhorá-lo, impulsiona um maior investimento na formação dos professores, desde a inicial à continuada. Se podemos perceber que o investimento nessa área é necessário, que traz respostas, que há um público discente que anseia por este tipo de curso, então por que essa medida não é tomada? Por que outras licenciaturas ou habilitações não são implantadas nas demais universidades do país?

Ainda sem respostas às perguntas feitas logo acima, observamos a existência de alguns cursos, e, a fim de elucidar dúvidas quanto ao funcionamento destes, levantamos alguns questionamentos: As universidades estão disponibilizando cursos de qualidade, ministrado por profissionais qualificados na área da formação de professores de PLE? Também ligados de alguma forma ao ensino de PLE no país, buscamos identificar que motivações permeiam a publicação de materiais didáticos voltados ao ensino de PLE. Segundo Tavares (2008:30), são necessários mais estudos que contribuam para a elaboração de programas, manuais e demais materiais apropriados ao público e aos contextos; para a formação de professores; e, para a reflexão sobre a evolução das metodologias no ensino das línguas.

Indubitavelmente, todos os aspectos até aqui levantados são importantes para a construção de um contexto do ensino de português como língua estrangeira no nosso país. Dentre todos os elementos que constituem este contexto, o LD é, necessariamente, um dos que necessita de investimentos (financeiros e teóricos). Os cursos oferecidos praticamente não utilizam LDs, pois os existentes não estão de acordo com as propostas da maioria dos cursos.

3 – GÊNEROS E ENSINO

O ensino com base em gêneros, na sala de aula, vem sendo cada vez mais fortalecida. Ora percebemos uma tendência mais tradicional, ora o foco recais sobre uma abordagem mais funcional. Diversas publicações e a experiência com o ensinar apontam para o fato de que o ensino/aprendizagem relacionado aos gêneros têm causado muita angústia em professores dos ensinos fundamental, médio, superior. E, atualmente, professores que trabalham com ensino de línguas estrangeiras. Parece sempre haver dúvidas que giram em torno da definição de gêneros, da classificação destes. Marcuschi (2000) já nos alertava sobre a falta de um consenso quanto às terminologias, se gêneros textuais, gêneros do discurso, gêneros discursivos), do ensinar ou não gêneros; do como ensinar; do porquê ensinar gêneros. Dentro deste contexto, vamos abordar algumas concepções de gêneros, posicionando-nos por uma destas concepções. Apresentaremos os gêneros como propiciadores de comunicação, mas também de como ferramenta de ensino/aprendizagem.