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2.3 Procedimentos de análise dos dados

2.3.1 Capacidades de linguagem como categoria de obtenção de dados

As capacidades de linguagem são apresentadas por Dolz e Schneuwly (2004, p. 44) como “as aptidões requeridas do aprendiz para a produção de um gênero numa situação de interação

determinada”, configurando-se em três tipos: capacidades de ação, capacidades discursivas e

capacidades linguístico-discursivas (DOLZ; PASQUIER; BRONCART, 1997; DOLZ;

pesquisadores genebrinos uma outra capacidade que denominam de capacidade de

significação.

As capacidades de significação propostas por Cristóvão e Stutz (2011) emergem, segundo as autoras, em virtude da necessidade de evidenciar os aspectos mais amplos em termos de atividade geral, de conjuntos e sistemas de gêneros, bem como de uma contribuição marcada para o quadro de intervenção didática para produção e compreensão de textos na aprendizagem de línguas.

Segundo Cristóvão (2013), as capacidades de ação se constituem pela faculdade da pessoa construir conhecimentos e / ou representações sobre o contexto de produção de um texto, o que pode contribuir para seu reconhecimento do gênero e sua adequação à situação de comunicação. Machado (2005) assinala que essa situação, a ação de linguagem, corresponde ao conjunto de representações inicialmente mobilizadas que serve de base de orientação para a ação de linguagem e que vai ter influência decisiva sobre a forma e sobre os conteúdos textuais, envolvendo:

– os conteúdos que serão verbalizados;

– espaço-tempo em que o emissor e o receptor se situam; – o produtor, no seu aspecto físico;

– o destinatário, no seu aspecto físico;

– o lugar social (instituições, por exemplo) no qual se realiza a interação e no qual

vai circular o texto;

– os papeis sociais desempenhados pelo emissor e pelo receptor;

– os efeitos que o produtor quer produzir no destinatário (MACHADO, 2005, p.

253, grifos da autora).

Assim, ao mesmo tempo, o produtor deve necessariamente mobilizar o conjunto de seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o que contribui para a definição da situação, além de ter que adequá-lo a um destinatário, a um conteúdo, a um objetivo determinado em uma situação específica, o que constitui uma operação de linguagem, que dominada constitui as capacidades de linguagem (MACHADO, 2005).

As capacidades discursivas oportunizam a mobilização de conhecimentos e / ou representações sobre a organização do conteúdo em um texto e sua apresentação (CRISTÓVÃO, 2013). Conforme Machado (2005), a adoção de um gênero implica dois subconjuntos de operações:

– as de regulação da infraestrutura geral do texto, que envolvem a escolha dos tipos

de discurso e de sequência; assim como

– as de seleção e elaboração de conteúdos (MACHADO, 2005, p. 253, grifos da

necessários para a produção ou compreensão de um texto que, nos estudos de Machado (2005), referem-se às operações:

– de textualização, que envolvem operações de conexão e segmentação, por meio

das quais se explicitam os diferentes níveis de organização do texto; sua articulação, os segmentos de discurso, a separação, as relações entre segmentos, enunciados e orações e as operações de coesão verbal e nominal;

– as de regulação das vozes enunciativas e as de expressão de modalização; – as de construção de enunciados;

– as de seleção de itens lexicais (MACHADO, 2005, p. 254, grifos da autora).

Tendo em vista as operações envolvidas na produção da linguagem, Dolz e Schneuwly (2004, p. 45) apontam que a observação dessas capacidades, antes e durante a realização de uma sequência didática, destina-se a delimitar um espaço de trabalho possível de ser adotado nas intervenções didáticas. Desse modo, buscamos nos apoiar nas necessidades de aprendizagem dos alunos para aprimorar e transformar suas capacidades de linguagem. Nesse sentido, partimos dos saberes pré-existentes para a construção de novas operações de linguagem, com o intuito de fornecer aos alunos uma melhor mestria dos gêneros e das situações de comunicação, fornecendo-lhes os instrumentos necessários para progredir.

Para isso, as atividades relacionadas ao ensino de língua precisam contemplar as operações com base na dimensão do gênero textual e conduzir a transformação das capacidades de linguagem dos alunos. Dessa forma, justifica-se a primeira parte da análise de dados da presente pesquisa, que parte da verificação de quais capacidades de linguagem foram mobilizadas e de que maneira elas foram desenvolvidas nas atividades das oficinas de cada projeto didático de gênero. Nesse sentido, propomos o seguinte quadro de análise, projetado a fim de evidenciar os critérios que utilizamos na primeira análise dos dados, baseada nas capacidades de linguagem.

Quadro 4 – As capacidades de linguagem CAPACIDADES DE LINGUAGEM (CS, CA, CD, CLD) Capacidades de significação (CRISTÓVÃO e STUTZ, 2011)

(1CS) Compreender a relação entre textos e a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz; (2CS) Construir mapas semânticos;

(3CS) Engajar-se em atividades de linguagem;

(4CS) Compreender conjuntos de pré-construídos coletivos; (5CS) Relacionar os aspectos macro com sua realidade;

(6CS) Compreender as imbricações entre atividades praxeológicas e de linguagem; (7CS) (Re)conhecer a sócio-história do gênero;

(8CS) Posicionar-se sobre relações textos-contextos. Capacidades de ação (CRISTÓVÃO; STUTZ, 2011)

(1CA) Realizar inferências sobre: quem escreve o texto, para quem ele é dirigido, sobre qual assunto, quando o texto foi produzido, onde foi produzido, para que objetivo;

(2CA) Avaliar a adequação de um texto à situação na qual se processa a comunicação;

(3CA) Levar em conta propriedades linguageiras na sua relação com aspectos sociais e/ou culturais; (4CA) Mobilizar conhecimentos de mundo para compreensão e/ou produção de um texto.

Capacidades discursivas (CRISTÓVÃO; STUTZ, 2011)

(1CD) Reconhecer a organização do texto como layout, linguagem não verbal (fotos, gráficos, títulos, formato do texto, localização de informação especifica no texto) etc.

(2CD) Mobilizar mundos discursivos para engendrar o planejamento geral do conteúdo temático; (3CD) Entender a função da organização do conteúdo naquele texto;

(4CD) Perceber a diferença entre formas de organização diversas dos conteúdos mobilizados. Capacidades linguístico-discursivas (CRISTÓVÃO; STUTZ, 2011)

(1CLD) Compreender o uso de elementos linguísticos para manter a organização textual;

(2CLD) Reconhecer as diferentes formas de introdução e retomada de elementos na progressão temática do texto;

(3CLD) Mobilizar recursos linguísticos para estabelecer relações temporais;

(4CLD) Realizar o gerenciamento enunciativo da sua própria voz, enquanto agente-produtor, além de outras que convoca para o texto;

(5CLD) Avaliar a adequação e a pertinência da expressão de juízo de valores em relação ao conteúdo temático.

Fonte: Cristóvão; Stutz (2011, p. 576-577).

O Quadro 4 apresenta as quatro capacidades de linguagem, das quais três foram propostas por Dolz e Schneuwly (2004) – capacidade de ação, capacidade discursiva e capacidade

linguístico-discursiva – e a quarta, a capacidade de significação, foi sugerida por Cristóvão e

Stutz (2011). As autoras detalham cada capacidade de linguagem, expandindo-as em proporções específicas. Tomaremos as 21 capacidades descritas por Cristóvão e Stutz (2011) como os critérios de análise para cada oficina dos três projetos didáticos de gênero, representadas por seus objetivos declarados.

Assim, como organização da aplicação das categorias de análise, propomos o quadro abaixo, que apresenta os objetivos declarados das oficinas e a(s) capacidade(s) de linguagem mobilizada(s) em cada atividade do PDG em análise.

OFICINA OBJETIVO(S) DECLARADO(S) CAPACIDADE(S) MOBILIZADA(S) Fonte: Elaborado pela autora.

A partir das oficinas elaboradas pelos professores, identificamos um verbo de comando principal, representado como o objetivo declarado da atividade. Em seguida, analisamos qual a capacidade de linguagem8 foi mobilizada na tarefa proposta e verificamos de que maneira o docente trabalha essas capacidades em sua prática pedagógica.