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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 Mensuração do Índice de Vulnerabilidade Sociodemográfica (IVSD)

3.3.2 Capital Humano (CH)

O CH (Quadro 5), refere-se a ativos que o lugar dispõe em termos de quantidade e qualidade da força de trabalho e do valor adicional dos investimentos em saúde e educação para os indivíduos, os quais podem implicar na inserção ocupacional. Esta dimensão traz uma maior relação com os processos demográficos, pois seus indicadores estão intimamente relacionados ao grau de dependência econômica e envelhecimento populacional nos espaços a serem estudados que, por sua vez, podem trazer dificuldades às famílias ou indivíduos e interferir no processo de reprodução social (CUNHA et al., 2006; IPEA, 2019).

Os ciclos de vida das unidades familiares no que se refere em especial as etapas iniciais (jovens) e finais (idosos) são os mais turbulentos em termos de vulnerabilidade, pois encontram maiores dificuldades de inserção ou adaptação ao meio; dessa maneira, a idade do chefe da família é um fator importante, se for particularmente muito jovem, indica maior vulnerabilidade sociodemográfica (RODRÍGUEZ, 2001). A idade é uma característica demográfica importante a ser considerada nesta dimensão e que provavelmente também será ser tratada na dimensão seguinte.

Quadro 5: Indicadores e descrição do cálculo – Capital Humano

Indicadores Descrição do Cálculo

1. Taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais de idade;

Razão entre pessoas que não sabiam ler e escrever um bilhete simples com mais de 15 anos de idade e a população total a partir deste grupo de idade (*100). Considerou-se também a pessoa alfabetizada que se tornou física ou mentalmente incapacitada de ler ou escrever. 2. % de chefes de família (ou individuais)

com menos de 4 anos de escolaridade;

Razão entre os chefes de família com menos de 4 anos de escolaridade e o total dos chefes de família (*100).

3. % de pessoas com 18 anos ou mais sem fundamental completo;

Razão entre pessoas com 18 anos ou mais que não possui ensino fundamental completo e o

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total de pessoas nesta faixa de idade (*100). 4. % de mulheres de 10 a 17 anos de idade

que tiveram filhos;

Razão entre mulheres com 10 a 17 anos que tiveram filhos e o total de mulheres nesta faixa etária (*100).

5. % de mulheres chefes de família sem ensino fundamental completo e com pelo menos 1 filho com menos de 3 anos;

Razão entre mulheres chefes de família sem ensino fundamental completo e tem pelo menos 1 filho de idade inferior a 3 anos morando no domicílio, e o número total de mulheres chefes de família (*100).

6. % de jovens (15 a 24 anos) que não estudam, não trabalham e são vulneráveis a pobreza

Razão entre o número de jovens (15 a 24) que não estudam, não trabalham e possuem rendimento até ½ SM e o total da população nesta faixa etária (*100). Entende-se como vulnerável a pobreza pessoas com rendimento

per capita inferior a ½ SM. Esse perfil de jovem

é convencionalmente nomeado pela literatura como ‘Nem Nem’.

7. % de pessoas com alguma dificuldade de ouvir, ver, caminhar ou subir escadas.

Razão entre pessoas com alguma dificuldade de ouvir, ver, caminhar ou subir escadas e a população total residente no domicílio particular (*100).

8. Razão de Dependência Razão entre a população de “0 a 14” com a de “65 ou mais” e a população de “15 a 64” anos (*100).

9. Índice de Envelhecimento Razão entre a população de “65 ou mais” e a população de “0 a 14” anos (*100).

Alguns dos indicadores observados nesta dimensão fazem menção as mulheres (% de mulheres de 10 a 17 anos de idade que tiveram filhos; e % de mulheres chefes de família sem ensino fundamental completo e com pelo menos 1 filho com menos de 3 anos) porque como se sabe, existem fatores que afetam a vida de ambos os sexos, no entanto alguns incidem com mais intensidade sobre a população feminina, visto que em estudos voltados para o fenômeno da pobreza ressaltam duas fragilidades que elas carregam: ser mulher e ser pobre (MELO, 2005).

A literatura geralmente utiliza o indicador mulheres chefes das famílias para avaliar a feminização da pobreza, resultado das evidências da baixa remuneração feminina no mercado de trabalho em relação ao sexo masculino. Dessa maneira, via-se que domicílios em que as mulheres são chefes deveriam ser os mais pobres entre os mais pobres. Embora atualmente ainda se verifique diferenças de rendimento por sexo, não necessariamente famílias chefiadas por mulheres são pobres (MELO, 2005). De modo complementar, na seção das características das áreas de influência foi constatado um crescimento expressivo de mulheres chefes de domicílios entre 2000 e 2010, o que reforça a importância deste indicador.

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Outro fato importante, observando as grandes regiões brasileiras, é que as moradias chefiadas por mulheres, no estudo de Melo (2005), apresentaram melhores condições do que as chefiadas por homens, e uma das justificativas dadas pela autora foi que por estarem sozinhas, sem cônjuge ou parceiro, elas se dedicam e se empenham mais para dar uma melhor qualidade de moradia e de vida para sua família.

A fecundidade adolescente é um risco demográfico que poderia se esperar que pudesse reduzir à medida que a transição demográfica avançasse, mas em determinados contextos ainda possui significativa autonomia ou mesmo relativo atraso na matéria transicional (RODRÍGUEZ, 2006). A gravidez na adolescência traz consequências psicológicas e biológicas e sociais, e é um fenômeno recorrente em sociedades de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Nas áreas de influência, como já mencionado, ainda persiste um quadro de baixo poder aquisitivo embora tenha-se verificado melhora entre os censos (2000 e 2010), além de uma proporção ainda substancial de crianças e jovens.

Além disso, é pertinente relembrar da influência dos megaprojetos na vida cotidiana da população beneficiada, visto que eles mudam não só as condições de trabalho, mas também o modo de vida. Existem relatos que essas grandes obras também trazem consigo o aumento dos casos de exploração sexual, violência doméstica, violência sexual, suicídio, até mesmo da mortalidade infantil. Portanto, são violações de direitos que recaem especialmente sobre a população feminina5. Ademais, ressalta-se que foi registrado crescimento da proporção de mulheres responsáveis pelo domicílio nas áreas de influência do Projeto de Transposição, especialmente na AID.

Os indicadores de saúde e educação são fundamentais para o ingresso no mercado de trabalho e exercício da vida como cidadão. O investimento especialmente nestes dois indicadores é tido como fator-chave para redução da vulnerabilidade, pois fornecem simultaneamente a capacidade de prevenção, resposta e adaptação aos riscos sociais (RODRÍGUEZ, 2006). Portanto, saúde e educação são dois ativos que certamente podem ditar as perspectivas de futuro dos indivíduos, sendo este último ativo, por exemplo, um dos canais por excelência de mobilidade social (KAZTMAN, 1999).