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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 Mensuração do Índice de Vulnerabilidade Sociodemográfica (IVSD)

3.3.3 Capital Social (CS)

5 Para saber mais, consultar o sítio Terra de Direitos. Link: https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/grandes- obras-e-aumento-da-violencia-contra-mulher/19632.

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Os indicadores do capital social (Quadro 6) buscam tratar de fatores como o acesso a serviços, proteção social e a formação da estrutura familiar, as quais poderiam colocar em xeque a qualidade de vida das famílias, assim como do lugar (CUNHA et al., 2006; IPEA, 2019). Como observado, alguns indicadores potenciais de fonte de capital social nas famílias são a idade, considerada uma proxy da fase do processo de acumulação de ativos relacionado ao ciclo de vida, e a posição dos indivíduos na organização da sociedade, como ocupação empregatícia, considerada uma proxy do peso relativo dos ativos próprios aos do lugar (KAZTMAN, 1999). Além disso, outras características como as que envolve a estrutura familiar, como a educação do chefe, podem operar como fonte de capital social fundamental para seus filhos, podendo, dessa maneira, dar maior proteção e seguridade aos membros da família.

Condutas demográficas, como já mencionado, podem reforçar a situação de risco social. Crianças geradas fora de uma união estável e a formação de núcleos familiares uniparentais, são condutas que geram vulnerabilidade e que se agudiza se os pais forem adolescentes ou muito jovens (RODRÍGUEZ, 2001). A ausência de um dos cônjuges, por exemplo, é uma condição que afeta as redes de contato e de apoio, pois se reduz o número de tios, primos, avós etc. (KAZTMAN, 1999). Além disso, a chefia adolescente (com menos de 20 anos) é uma condição de vulnerabilidade, visto que corresponde ao estágio inicial do ciclo de vida e os esforços particularmente para inserção no mercado de trabalho são maiores, especialmente no mercado formal, o que pode se agravar onde o machismo é ainda muito forte. O que pode incorrer, mesmo sem este último fator, em trabalhos informais os quais não proporcionam proteção social, ou mesmo em desemprego por tempo indeterminado.

Um fator importante a ser levado em conta é o clima que predomina na região onde estão inseridas as áreas de influência. O clima semiárido, este não afeta de maneira homogênea todo território, ocorrendo com maior frequência em alguns espaços do que em outros. É no semiárido setentrional onde as secas são mais intensas e/ou frequentes. No ano de 2010 foram contabilizados nessa área mais de 14 milhões de habitantes (OJIMA; COSTA; CALIXTA, 2014), conferindo-lhe cerca de 67% da população do semiárido nordestino que possui mais de 21 milhões de habitantes. A fonte de sustento de grande parte dessa população é proveniente de atividades tradicionais, como a agricultura e a pecuária, que são diretamente afetadas pelas longas e frequentes secas (CASTRO, 2011), o que a coloca em uma situação de insegurança hídrica, alimentar e de rendimento. Ou seja, são mais de 14 milhões de habitantes

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inseridos em uma área de significativa vulnerabilidade socioambiental, o que gera sérias preocupações. Isso reforça, portanto, o indicador que faz menção a taxa de ocupação agrícola.

Quadro 6: Indicadores e descrição do cálculo – Capital Social

Indicadores Descrição do Cálculo

1. % de chefes de família (ou individuais)

femininos, com “10 a 19” anos de idade; Razão entre as mulheres chefes de famílias com 10 a 19 anos de idade e o número total

de chefes de família (*100).

2. Tamanho médio da família 01

(principal); Média do número de pessoas na família.

3. % de famílias unipessoais feminina com rendimento até ½ SM;

Razão entre famílias unipessoais femininas com rendimento até ½ SM e o número total de famílias unipessoais femininas (*100)

4. % de pessoas sendo agregados da família;

Razão entre as pessoas sendo agregados da família e o total de pessoas da família (*100).

5. Taxa de atividade das pessoas de 10 a 14 anos de idade;

Razão entre o número de pessoas de 10 a 14 anos de idade economicamente ativas, ou

seja, que estavam ocupadas

(formal/informalmente) ou desocupadas (procurando trabalho), e o total de pessoas nesta faixa de idade (*100).

6. % de pessoas com 14 anos ou mais inseridos em ocupação informal;

Razão entre pessoas com mais de 14 anos de idade, sem ensino fundamental completo, inseridas em ocupação informal, e o total de pessoas nesta faixa etária (*100). Ocupação informal implica dizer que estão empregados, mas não são: empregados de carteira assinada, militares do exército, da marinha, da aeronáutica, da polícia militar ou do corpo de bombeiros, empregados pelo regime jurídico dos funcionários públicos ou empregadores e trabalhadores por conta própria com contribuição a instituto de previdência social.

7. % de pessoas com 10 anos ou mais de idade ocupadas em atividades agrícolas

Razão entre as pessoas com 10 anos ou mais ocupadas em atividades agrícolas e o total de pessoas nesta faixa etária (*100).

8. Taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais de idade;

Razão entre o número de pessoas com mais de 18 anos de idade desocupadas (procurando trabalho), e o total de pessoas nesta faixa de idade (*100).

9. % de crianças que não frequentam escola ou creche;

Razão entre o número de crianças de 4 a 14 anos de idade, que não frequentam escola ou creche, e o total de crianças nesta faixa de idade (*100). Estas idades contemplam a pré-escola (4 a 5 anos) e o fundamental (6 a

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14 anos).

10. % famílias com renda per capita até ½ SM;

Razão entre famílias com renda per capita inferior a ½ SM e o total de famílias (*100).

11. % de pessoas que recebem rendimento habitual mensal de aposentadoria ou pensão

Razão entre o número de pessoas com rendimento habitual mensal de aposentadoria ou pensões e o total de pessoas beneficiadas e não beneficiadas (*100).

12. % de pessoas que recebem rendimento habitual mensal do PBF ou PETI

Razão entre o número de pessoas com rendimento habitual mensal do Programa Bolsa Família (PBF) ou Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o total de pessoas beneficiadas e não beneficiadas (*100).

13. % de pessoas que recebem rendimento habitual mensal de outros programas sociais ou de transferências

Razão entre o número de pessoas com rendimento habitual mensal de outros programas sociais ou de transferências e o total de pessoas beneficiadas e não beneficiadas (*100).

14. % de mulheres responsáveis pelo domicílio com rendimento inferior 1/2/SM

Razão entre mulheres responsáveis pelo domicílio com renda inferior a meio salário mínimo, e o total mulheres chefes (*100).

Portanto, variações na estrutura familiar, como a falta de um dos cônjuges, além da falta de empregos formais e de apoio das instituições públicas são questões que estão ligadas não só a dimensão do capital social, especialmente o intergeracional, mas também ao capital humano e físico. Particularmente a proteção social não está diretamente ligada ao capital social, mas é um forte indicador da relação das pessoas e do lugar com as instituições, neste caso, o Estado (CUNHA et al., 2006; KAZTMAN, 1999).

Segundo Adge (2000), um fator-chave para a capacidade adaptativa encontra-se no crescimento econômico e na redistribuição da renda entre a população, com participação imprescindível das instituições. Essa resiliência social depende da evolução histórica e da capacidade das instituições de satisfazerem as necessidades da sociedade.

As políticas públicas, no caso brasileiro, ganharam força especialmente a partir dos primeiros anos do século XXI, que resultou na criação de um número significativo de políticas públicas englobando os três vieses (social e assistencialista; agrícola e agrário; e segurança alimentar, nutricional e sustentabilidade ambiental) nunca visto antes na história brasileira, com foco maior nas transferências de renda direta para o combate à pobreza e extrema pobreza (COSTA, 2017).

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A partir dos anos 2000, se vislumbra reduções significativas das desigualdades sociais e econômicas, especialmente entre as regiões Nordeste e Sudeste, bem como entre o rural e o urbano (STUMPF JUNIOR; BALSADI, 2015), devido a “[...] um movimento sistemático de ampliação do escopo e da escala dos programas e ações em educação, saúde, trabalho, habitação, previdência social e desenvolvimento social” (JANNUZZI; PINTO, 2013, p. 179).

O PBF, por exemplo, tem sido a mais notória e emblemática política pública responsável pelo combate à pobreza no país (CAMPELLO, 2016). Esse programa foi desenhado para ir além do alívio imediato da pobreza e extrema pobreza das famílias brasileiras nestas condições. As transferências de renda diretas e suas condicionalidades têm por objetivo não somente garantir o acesso a direitos básicos como a alimentação, mas também o exercício da cidadania através do acesso a direitos elementares como a educação (tendo como condicionalidade a frequência escolar) e a saúde (tendo como condicionalidades a manutenção do cartão de vacinação em dia e o acompanhamento pré-natal), contribuindo com a oportunidade das famílias romperem com o ciclo da pobreza entre a presente e as futuras gerações (ALVES; CAVENAGHI, 2013; QUEIROZ; REMY; PEREIRA, 2011).

Em síntese, as dimensões apresentam um leque de indicadores que julgamos ser fundamental para captar a multidimensionalidade e causalidade da vulnerabilidade sociodemográfica das áreas de influência do Projeto de Transposição. Dessa maneira, acreditamos que o conjunto de indicadores selecionados em suas respectivas dimensões, as quais englobam recursos materiais e imateriais que moldam as capacidades de resposta ante adversidades que podem interferir na qualidade de vida da população, possuem elementos fundamentais para verificar as possíveis influências da mobilidade da população provocada pelos impactos do Projeto de Transposição listados na primeira seção. Nesse contexto, as dimensões forneceram um gradiente de vulnerabilidade para cada área de influência, em especial para os espaços urbanos.