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2.1 CAPITAL HUMANO, CULTURAL E SOCIAL

2.1.4 Capital Social

Para Lin (2001), capital social significa investimento em relações sociais com retornos esperados no mercado. O mercado pode ser econômico, político, trabalhista ou a comunidade. Indivíduos envolvem-se em interações e relacionamentos para produzir lucros. Ou seja, é o capital capturado por meio das relações sociais. Lin, Cook e Burt (2001, p. 58, tradução própria), definem ainda capital social como “[...] recursos imersos em uma estrutura social acessados ou/e mobilizados em ações intencionais [...]”. Essa noção possui três vertentes:

1 - Recursos imersos em uma estrutura social (ESTRUTURAL); 2 - Acesso a esses recursos pelos indivíduos (OPORTUNIDADE);

3 - Uso ou mobilização desses recursos pelos indivíduos em ações intencionais (USO). Segundo Lin (2011), quatro explicações podem ser oferecidas para esclarecerem por que recursos imersos nas redes sociais aumentam os resultados das ações:

1 – O fluxo de informações é facilitado. Os laços sociais localizados em posicionamentos estratégicos podem fornecer aos indivíduos informações privilegiadas sobre oportunidades que em outra situação estariam indisponíveis. Essa informação pode reduzir os custos de transações para recrutar indivíduos melhores (seja em habilidades ou conhecimento cultural), e também podem ser utilizadas por indivíduos para acharem melhores companhias para usarem seus capitais para obterem recompensas;

2 – Esses laços sociais podem exercer influência sobre os agentes que possuem papéis críticos nas decisões que envolvem o ator (contratação ou promoção). Algumas localidades estratégicas e posições trazem consigo mais recursos e exercem maior poder nos agentes organizacionais que tomam decisões;

3 – Os laços sociais e os relacionamentos do indivíduo podem ser considerados pelas organizações e seus agentes como certificados das credenciais dele, alguns dos quais refletem a acessibilidade dos indivíduos a recursos por meio dos seus relacionamentos e redes sociais (seus capitais sociais). Desta forma, para uma organização, esses indivíduos podem prover recursos adicionais úteis, além do capital pessoal deles;

4 – As relações sociais reforçam a identidade e reconhecimento. Ser assegurado e reconhecido por alguém como indivíduo membro de um grupo social que divide interesses similares e recursos não somente proporciona suporte emocional como também reconhecimento público da reinvindicação de alguém para acessar alguns recursos.

O trabalho de Burt (1992) reflete essas quatro perspectivas. As localizações na rede representam e criam vantagens competitivas. Localizações que ligam os nós e seus ocupantes a informações e outros recursos que não seriam acessados de outra forma constituem capital valoroso para os ocupantes dessas posições de “buracos estruturais”.

Ao definirmos capital social, nos deparamos com as diferentes visões de capital social como sendo um atributo individual ou coletivo. Segundo Lin (2011), do ponto de vista individual, o principal foco de como os indivíduos podem acessar e usar recursos imersos na rede de relacionamentos está baseado em como indivíduos investem nesses relacionamentos e como eles capturam os recursos imersos nas relações para gerar retorno. Flap (2002) cita ainda que o capital social possui três elementos:

1 – Número de pessoas na rede social de alguém que são obrigadas ou estão dispostas a ajudar quando solicitadas;

2 – A força desses relacionamentos indicando prontidão para ajudá-lo; e 3 – Os recursos dessas pessoas.

Por outro lado, do ponto de vista do grupo, segundo Lin (2001), os principais pontos focais de discussão giram em torno de como certos grupos desenvolvem e mantém (mais ou menos) o capital social como um ativo coletivo e como esse ativo coletivo aumenta as chances de sucesso dos membros do grupo. A abordagem de Bourdieu (1986, p.248, tradução própria) sobre capital social faz referência à agregação de “[...] recursos atuais ou potenciais os quais estão ligados à posse de uma rede social durável de relacionamentos institucionalizados de conhecimento mútuo e reconhecimento – ou em outras palavras, a afiliação a um grupo”. Capital assim é representado pelo tamanho da rede e pelo volume de capital (econômico, cultural ou simbólico) possuído por aqueles a quem uma pessoa está conectada. Assim, Bourdieu (1986) vê capital social como a produção dos membros de um grupo, com limites bem definidos, obrigações de troca e reconhecimento mútuo. Lin (2001) argumenta ainda que, por meio das conexões entre os membros, o capital pode ser usado pelos membros como créditos. Segundo Lin (2001), o maior problema da visão de capital social do ponto de vista coletivo é que o termo capital social vem sendo utilizado divorciado do seu significado original de interações sociais e redes sociais, para ser um termo da moda com o objetivo de construir integração social e solidariedade. Neste caso, o capital social, como um ativo relacional, deve ser distinguido de ativos coletivos e bens tais como cultura, normas e confiança.

Portes (1998) argumenta que além da perspectiva coletiva, existe ainda a abordagem do capital social da perspectiva do indivíduo. Coleman (1988), um dos maiores defensores

dessa perspectiva, define capital social como a quantidade das obrigações de um indivíduo e expectativas que podem ser entendidas como uma nota de crédito de um ator “A” que pode ser resgatada por alguma performance do ator “B”. Portes (1998) argumenta que o capital social pode ser entendido como uma característica das organizações sociais que facilita a ação e cooperação para benefício mútuo.

Para Coleman (1994), o capital social consiste de dois elementos: Ele é um aspecto da estrutura social e ele facilita ações específicas de indivíduos dentro da estrutura. Neste contexto, capital social são os recursos, reais ou potenciais, ganhos por meio dos relacionamentos. Nesta definição de ação social, Coleman (1994) argumenta que os atores exercem controle sobre os recursos que eles estão interessados e sobre as saídas de eventos que são parcialmente controlados por outros atores. Devido ao seu interesse no ganho na saída de eventos específicos, atores se envolvem na troca e transferência de recursos. Essas relações formam a base do capital social (LIN, 2011). Desta forma, é entendimento de diversos autores, tais como Bourdieu (1986), Lin (2011), Coleman (1994), Flap (2002), Burt (1992) e outros, que o capital social consiste em recursos imersos nas relações sociais e na estrutura social, que podem ser mobilizados quando atores desejam aumentar a probabilidade de sucesso de uma determinada ação.

A Tabela 3, adaptada a partir de Lin (2001), descreve as diferentes perspectivas dos teóricos de capital social, separando por autor, além das suas principais perspectivas, os tipo, dimensão e nível de análise do capital social.

Tabela 3. Diferenças de perspectivas do capital social.

Autores Perspectiva do Capital Social Dimensão Nível de

Análise Lin (1981) Recursos sociais são recursos acessados por meio de

conexões sociais de um indivíduo. Dependendo da extensão e da diversidade de suas conexões sociais, os indivíduos têm diferentes recursos sociais.

Relacional Indivíduo

Flap (1991) São os recursos fornecidos pelo alters, que têm fortes relações com o Ego. Isto é o produto da disponibilidade de recursos sociais e da propensão pelos alters em oferecer tais recursos para ajuda.

Burt (1992) Posição na rede representa e cria vantagens competitivas. Posições que estão ligadas a nós e em seus ocupantes a informação e outros recursos possuem um acesso improvável de outra forma, constituem um valioso capital para os ocupantes nessas posições (lacunas estruturais) e em outras posições para os outros ocupantes acessarem.

Estrutural Indivíduo

Bourdieu (1986) O capital social depende do tamanho das próprias conexões e sobre o volume ou quantidade de capital em posse dessas conexões. Bourdieu vê o capital social como uma forma de capital possuído por membros de uma rede social ou grupo.

Relacional Grupo

Coleman (1988, 1994)

O capital social é composto de dois elementos: o primeiro é o aspecto da estrutura social e o segundo é que este aspecto facilita certas ações dos indivíduos dentro da estrutura.

Relacional Grupo

Putnam (1993) Argumenta que associações sociais e o seu grau de participação indicam a extensão do capital social em uma sociedade. Essas associações e participações promovem e melhoram normas coletivas e confiança, que são centrais para a produção e manutenção do bem-estar coletivo.

Relacional / Cognitiva

Grupo

Portes (1998) Capital social pode se traduzir em riscos e responsabilidade social.

Relacional Indivíduo

Nahapiet e Ghoshal (1998)

Compreende a rede e os ativos que podem ser mobilizados por meio dessa rede.

Relacional Indivíduo

Fonte: Lin (2001).

Finalizada a revisão sobre capital social, ressaltamos que o conceito de capital social que será utilizado será o conceito definido pelos teóricos Lin, Cook e Burt (2001), no qual o capital social é capturado a partir de relações sociais dos indivíduos que obtém acesso e uso

desses recursos inseridos nas redes sociais para melhorar o retorno esperado. Essa definição é esquematizada na Figura 2.

Figura 2. Modelagem do capital social. Fonte: Adaptado de Lin, Cook e Burt (2001, p.21).

Ao analisar a Figura 2, podemos verificar que o capital social é composto por três componentes: recursos presentes na rede, acessibilidade a esses recursos pelos atores e mobilização destes recursos para um uso específico. Ao nos referirmos à acessibilidade, remetemos à noção de estrutura, e quando falamos de mobilização, estamos nos referindo a elementos orientados à ação. Podemos avaliar que existem distribuições diferentes dos recursos que podem ser mobilizados, ou seja, o capital social não é uniformemente distribuído na rede, e que dentro dessa estrutura, indivíduos ocupam diferentes posições nas camadas sociais, culturais, políticas e econômicas, o que pode afetar a abundância ou escassez de vários recursos, tais como riqueza, poder, reputação, saúde e satisfação.