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Secção IV- Questionário de Competência Emocional

111 CAPITULO 6-D ISCUSSÃO DE RESULTADOS

Após apresentação dos resultados é inevitável a discussão crítica dos dados obtidos na nossa amostra. Para tal, iremos ter em conta autores que já se debruçaram sobre a temática em estudo, alguns deles já referenciados no corpo teórico, bem como outras investigações realizadas com profissionais de saúde e noutras populações, que tiveram como propósito o estudo da Inteligência Emocional.

No início da nossa investigação delineamos objetivos específicos com vista a caracterizar a amostra e a compreender de que forma a Inteligência Emocional altera em função das diversas variáveis em estudo (sociodemográficas, profissionais e funcionalidade familiar). Assim sendo, a presente discussão de resultados está organizada segundo essas mesmas variáveis.

6.1.Características sociodemográficas

Género

No que respeita ao género, 68,9% dos profissionais de saúde são do género feminino e 31,1% do masculino. Quando testamos a relação entre o género e a Inteligência emocional (hipótese 1) verificamos que não existem diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das dimensões da escala do QCE, contudo é o género masculino que apresenta médias mais elevadas nas 3 dimensões do QCE. Assim sendo, para a nossa amostra, o género não influencia a Inteligência Emocional, à semelhança dos dados obtidos por Ângelo (2007), Campos (2010), Costa (2009) que também não encontraram diferenças estatísticas significativas na inteligência emocional entre os géneros, sendo que, tal como no nosso estudo, as médias dos rapazes apresentar números mais elevados do que o das raparigas. Também os resultados obtidos por Vilela (2006) são concordantes com os nossos, uma vez que constatou no seu estudo com enfermeiros, que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os dois géneros.

No entanto, a maioria dos autores (Agostinho, 2008; Areias, 2010; Brackett, Rivers, Shiffman, Lerner, & Salovey, 2003; Forte, 2009; Goleman, 1997; Schutte et al.,

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2007) contraria os resultados obtidos na presente investigação ao obterem valores superiores de inteligência emocional no género feminino, independentemente do instrumento utilizado para medir a inteligência emocional. A inteligência emocional está associada pela maioria dos autores ao género feminino, pelo facto das mulheres apresentarem maiores capacidades de extroversão e adaptação a novas situações emocionais (Ângelo, 2007). Similarmente, Brody e Hall (s.d.) citado por Campos (2010) e Domingues (2009) advogam que o género feminino está mais atento às suas emoções expressando com mais facilidade os seus sentimentos, e são mais competentes na substituição da palavra em detrimento de respostas emocionais.

Os resultados do nosso estudo podem ser explicados pelo facto da nossa amostra não ser equitativa, uma vez que o género feminino é o dobro do género oposto, o que poderá eventualmente ter influenciado os resultados estatísticos obtidos.

Idade

As idades dos profissionais de saúde da RNCCI oscilaram entre os 22 e os 66 anos. O grupo etário mais representativo é o dos [20-35] com 67% e o menos representado é o dos [51-65].

O segundo ponto de discussão remete-nos para a influência da idade nas dimensões da competência emocional (hipótese 2), registando-se curiosamente diferenças estatisticamente significativas apenas na dimensão da expressão emocional, sendo o grupo etário dos [30-35] o que mais facilmente exprime as suas emoções. Na dimensão capacidade para lidar com as emoções são os “mais velhos” que apresentam valores médios superiores. Já no que respeita à percepção emocional, o grupo etário dos [30-35] apresenta médias ligeiramente mais elevadas. Assim sendo, na nossa amostra, a idade influencia somente uma das dimensões da inteligência emocional, a expressão emocional, o que não nos permite afirmar que, a idade influencia a competência emocional. Tais resultados estão em consonância com os estudos de Costa (2009) e Silva (2011) que se debruçaram sobre esta temática em adolescentes, jovens adultos e enfermeiros, salientando-se que ambos os autores aferiram que as competências emocionais daquelas populações não são influenciadas pela idade.

Contrariamente, Campos (2010) refere que a pluralidade da literatura aponta níveis mais elevados de Inteligência Emocional em grupos de indivíduos mais velhos comparativamente aos mais novos. Também Goleman (2000) e Agostinho (2008)

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mencionam que a Inteligência Emocional é assimilada e evolui ao longo da vida, de acordo com as nossas experiências, no entanto, Mayer e Salovey (1997) defendem que o aumento da IE ocorre sobretudo até à quinta década de vida, sendo que, a partir dessa idade tal acréscimo não se verifica. Goleman (2000) define este crescimento emocional recorrendo à palavra “maturidade”, o que não se verifica no estudo de Domingues (2009) ao constatar que os níveis da competência emocional empatia decrescem ao longo da carreira dos médicos, sendo evidente o afastamento entre o médico e o doente, talvez para garantir o profissionalismo e a isenção que lhe são incutidas desde a formação académica.

É de salientar que os grupos etários da nossa amostra não são homogéneos na sua composição, por exemplo o grupo etário [20-35] é constituído por 71 elementos, enquanto que o grupo dos [51-65] apenas é composto por 7 elementos, o que em termos estatísticos poderá ter influenciado os resultados obtidos.

Estado Civil

Em relação ao estado civil, os elementos da amostra são maioritariamente casados (44,3%), seguindo-se os solteiros (33,0%), sendo o estado civil com menor representação o de divorciado (3,8%). No que respeita a este ponto de discussão (hipótese 3) verificámos que não existem diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das dimensões do QCE, ou seja, o estado civil não influencia as competências emocionais dos inquiridos. Estes resultados estão em conformidade com os obtidos por Costa (2009) e Forte (2009), uma vez que também não aferiram associação estatística significativa entre estas duas variáveis. Todavia, os nossos resultados contrariam os estudos de Agostinho (2008) e Campos (2010), sendo que este último advoga que, o ser casado e a partilha poderá explicar a competência de se compreender melhor o outro e a maior habilidade para se sentir o que outro sente. Analogamente, Goleman (2003) considera que o divórcio leva a consequências graves ao nível da Inteligência Emocional, sendo que na maioria dos casos, o processo de divórcio é caraterizado por desprezo, comportamentos defensivos, silêncio, pensamentos negativos e inundação emocional que se irão conduzir a uma desintegração ao nível das diversas dimensões da inteligência emocional/competência emocional.

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