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O interesse pelas emoções no contexto laboral teve o seu crescendo nos últimos anos, pois os gestores aperceberam-se que o comportamento organizacional era fortemente influído por uma evidente componente emocional (motivação, conflitos, mudança) (Agostinho, 2008; Correia, 2010). O reconhecimento da importância das emoções por parte das organizações é resultado de inúmeras investigações científicas (Svyantek & Rahim, 2002) que ao longo dos anos se debruçaram sobre a temática e também, pelo aparecimento do conceito de Inteligência Emocional, amplamente reconhecido como essencial na gestão contemporânea (Correia, 2010).

Ao longo dos anos, muito se tem investigado sobre a relação da inteligência emocional com aspectos intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo, como é o caso da idade, do género, da actividade profissional e da família.

No que respeita à idade, Mayer concluiu nos seus estudos, que a Inteligência Emocional se desenvolve com a idade e a experiência. Os séniores quando devidamente motivados, são tão ou mais capazes de aprender ou desenvolver capacidades emocionais que os mais jovens. Assim, para Mayer, o termo que melhor caracteriza o desenvolvimento da Inteligência Emocional é a maturidade (Agostinho, 2008; Goleman, 2005). Tal é contrário aos resultados de Domingues (2009) que estudou a relação da inteligência emocional com a empatia e a satisfação no trabalho em médicos e constatou que os níveis da competência emocional empatia decrescem ao longo da carreira dos médicos, sendo evidente o afastamento entre o médico e o doente, talvez para garantir o profissionalismo e a isenção que lhe são incutidas desde a formação académica.

Também o género pode ter influência no nível de Inteligência Emocional, pois homens e mulheres apresentam comportamentos e posturas distintas perante situações emocionais idênticas. Agostinho (2008) e Goleman (2005) dizem que meninos e meninas são educados de forma distintas, no que respeita ao modo de lidar com as emoções, sendo que, regra geral, os pais discutem mais a temática das emoções com as filhas, do que os filhos. Assim, as mulheres parecem desenvolver e descrever melhor os seus sentimentos que os homens, pois estes últimos, manifestam mais dificuldade em ler expressões faciais de emoções (Agostinho 2008).

Um estudo efetuado a milhares de homens e mulheres mostrou que, as mulheres têm uma percepção emocional superior apresentando maiores níveis de empatia e melhores

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competências nos relacionamentos interpessoais. Por sua vez, os homens mostram maior autoconfiança e otimismo, moldando-se mais facilmente às situações. Todavia, neste estudo foram verificadas diversas situações em que os homens eram tão empáticos como as mulheres, assim como, situações em que estas eram capazes de suportar o stress, tal como os homens emocionalmente mais inteligentes. Desta forma, aferiu-se que na maioria das situações, homens e mulheres compensam-se, não existindo assim, de acordo com os resultados deste estudo, diferenças significativas entre os géneros, a nível da Inteligência Emocional total (Goleman, 2005).

Também Vilela (2006) constatou no seu estudo com enfermeiros, que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os dois sexos. No entanto, mais uma vez, a investigação de Domingues (2009) é divergente, pois a inteligência emocional total é superior no género feminino, ao nível da autoconsciência e auto-motivação, o que demonstra que as mulheres estão mais atentas às suas emoções e expressão de sentimentos e são mais aplicadas no prosseguimento dos objectivos.

No que respeita à influência da atividade profissional nas competências emocionais, Colell Brunet e seus colaboradores realizaram um estudo, com o qual pretendiam verificar quais as implicações da IE nos profissionais dos cuidados paliativos. Os resultados obtidos comprovam que os profissionais que detinham competências emocionais mais desenvolvidas lidavam melhor com a morte dos seus doentes (Vilela, 2006).

Um estudo de Vilela (2006) realizado com enfermeiros mostrou que, os que trabalham com doentes crónicos (enfermarias) autodescrevem-se emocionalmente mais inteligentes, comparativamente aos que trabalham com doentes agudos (urgências). Tal, leva-nos a concluir que as relações de proximidade com doentes crónicos conduzem ao aperfeiçoamento das competências emocionais dos enfermeiros (Agostinho, 2008).

Costa e Faria (2009b) exploraram a relação entre a competência emocional e a satisfação profissional de enfermeiros e a satisfação com o voluntariado por parte dos voluntários. Os resultados exprimem que a satisfação profissional e a satisfação com o voluntariado estão correlacionadas positivamente na dimensão de Capacidade para Lidar com a Emoção, para os enfermeiros e voluntários, e com a dimensão Expressão Emocional, para os voluntários. Para além disso, registaram-se diferenças estatisticamente significativas na percepção de competência emocional entre enfermeiros e voluntários, em benefício dos últimos.

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No que respeita à classe médica, Domingues (2009) observou que os médicos especialistas estão ligeiramente mais satisfeitos com o trabalho comparativamente aos clínicos gerais. No mesmo estudo verificou-se que relativamente à empatia, os médicos especialistas registam valores mais elevados, o que contraria a concepção de que o tradicional “médico de família” é inevitavelmente mais atingível e mais interessado com o doente. Todavia, a autora do estudo reconhece que o grupo de especialistas é bastante mais jovem, o que poderá ter contribuído para aqueles resultados, visto a literatura afirmar que a empatia tende a diminuir com os anos de profissão (Hojat et al., 2004). Assim sendo, no estudo de Domingues (2009) a variável idade poderá ter funcionado como variável parasita.

Wilkin (2007) estudou a influência da empatia do profissional de saúde no doente e averiguou que os doentes recuperam mais rapidamente, sentem-se mais seguros e cooperam melhor no tratamento, nos casos em que o profissional revela empatia para com o doente e a sua condição de saúde.

Relativamente à influência da experiência profissional nos níveis de Inteligência Emocional, Lopes (2006) aferiu que a capacidade de entender as próprias emoções pode ser menor nos profissionais de saúde recém-formados, influenciando ou até mesmo impedindo a capacidade de criar uma relação empática com o doente. Tal é concordante com o estudo de Costa e Faria (2009a) efetuado a 217 enfermeiros e que demonstrou que os profissionais com mais tempo de experiência apresentam maiores competências emocionais. Em oposição, as investigações de Austin, Farrelly, Black, e Moore (2007) e Stratton, Saunders, e Elam (2008) revelam que mesmo a própria “experiência profissional” adquirida em contexto formativo pelos estudantes de Medicina provoca alterações a nível da IE, pois os níveis de empatia dos estudantes dos 2º e 3º anos são superiores aos do 5º ano. Para além disso, aqueles investigadores verificaram ainda que nas estudantes do género feminino ocorreu um decréscimo preocupante dos níveis de empatia, da fase inicial para a fase final do curso.

Debruçando-nos agora sobre a óptica da saúde e do bem-estar biopsicossocial são inúmeros os estudos que referem uma associação positiva da Inteligência Emocional com o

stress, o humor, a auto-estima, o uso de substâncias, os estados depressivos, o

autoconceito, a saúde física e psicológica e a interação social (Bar-On, 2006; Latimer, Rench & Brackett, 2008; Mayer, Roberts, & Barsade, 2008; Mayer, Salovey, Caruso, & Cherkasskiy, 2011; Meyer & Fletcher, 2007; Meyer & Zizzi, 2007; Nunez, León, González, & Martín-Albo, 2011).

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Estudos de Trinidad, Ungerb, Choub, e Johnson (2004) evidenciaram que níveis elevados de IE actuam como fator protetor de hábitos tabágicos e alcoolismo em adolescentes. Tais estudos são corroborados por Meyer e Fletcher (2007) ao demonstrarem que as competências emocionais influenciam positivamente a minimização do uso de substâncias (tabaco, álcool, drogas, narcóticos, esteróides) utilizadas por atletas.

Uma meta-análise de 44 estudos e 7898 participantes efetuada por Schutte, Malouff, Thorsteinsson, Bhullar, e Rooke (2007) destacam que elevados níveis de inteligência emocional estão relacionados a maiores níveis de saúde mental (r = 0.29), psicossomática (r = 0.31) e física (r = 0.22).Mais recentemente, Lu, Li, Hsu, e Williams (2010) demonstraram que os atletas com menores níveis de Inteligência Emocional vivenciaram maiores estados de ansiedade antes das competições, do que os atletas com maiores níveis de IE. Laborde, Brull, Weber, e Anders (2011) destacam, por sua vez, que atletas com elevadas competências emocionais experienciavam menos stress comparativamente aos atletas com diminutas competências emocionais.

Após a revisão teórica dos conceitos em torno da Inteligência Emocional, percebemos que ao longo dos últimos anos, a IE tem sido alvo de inúmeras pesquisas com os objetivos de compreender a inter-relação entre pensamentos, emoções e capacidades, e ainda o papel das emoções no comportamento inteligente. Tais investigações científicas têm vindo a contribuir para a aceitação plena da interdependência entre a razão e a emoção, o que conduzirá, num futuro próximo, ao reconhecimento da capacidade do indivíduo lidar com as suas emoções de forma inteligente (Woyciekoski & Hutz, 2010).

No presente capítulo efetuou-se uma pesquisa bibliográfica em torno do tema da Inteligência Emocional abordando-se aspetos como a inteligência, a relação entre as emoções e a cognição e as estruturas neurológicas envolvidas nas emoções. Foram ainda explanados os dois modelos de IE, o das habilidades e os mistos, bem como os métodos de avaliação (testes das aptidões/competências, questionários de auto-descrição e o método dos informadores). Findo este capítulo conclui-se assim, o enquadramento teórico da presente pesquisa, que se iniciou pela conceptualização dos Profissionais de Saúde e da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Posteriormente efetuou-se uma breve abordagem sobre funcionalidade familiar direcionada obviamente para a vertente dos serviços de saúde e por último, apresentou-se uma fundamentação teórica aprofundada sobre a Inteligência Emocional, como foi supra citado.

De seguida serão descritos os procedimentos metodológicos perfilhados no desenvolvimento da presente investigação que orientaram a pesquisa de campo.

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