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COMPETÊNCIAS SOCIAIS

3.3.3. Instrumentos de medida da inteligência emocional

Paralelamente ao desenvolvimento e discussão das concepções teóricas, também os instrumentos de medida são alvo de polémica entre o s investigadores da área. Assim, o conteúdo dos instrumentos de medida de IE varia em função das diversas conceptualizações teóricas atribuídas ao termo inteligência emocional (Monteiro, 2009).

Os instrumentos inicialmente construídos para avaliar a IE mensuravam apenas a percepção emocional ou, mais especificamente, a percepção não verbal. Ultimamente, os modelos de inteligência emocional (de aptidões e mistos) sugeriram o desenvolvimento dos seguintes instrumentos para medir a inteligência emocional: os testes de aptidões ou de competências, as escalas de auto-avaliação ou auto-descrição/auto-relato e o método dos informantes (Ângelo, 2007; Mayer et al., 2000).

Os testes de aptidões mensuram a inteligência emocional na linha dos modelos de aptidões e caracterizam o nível do desempenho de cada pessoa no cumprimento de um objectivo, sendo considerados fiáveis e válidos (Mayer et al., 2000). O sujeito é induzido a executar várias tarefas, como a resolução de problemas que pressupõem a existência de uma resposta correta relevadora de um nível de IE superior (Alves, 2010). Estes testes de

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aptidões ou competências podem ser efetuados pelo método do consenso, através do qual se confrontam as respostas dos participantes com as do grupo em que estão incluídos, pelo método dos especialistas, onde as respostas dos indivíduos são confrontadas com as de um especialista, ou pelo método dos alvos, em que se averigua se a resposta dos sujeitos concorda com o comunicado pelos próprios alvos. É de notar que as interdependências entre os produtos obtidos através dos três métodos são comummente positivos (Ângelo, 2007). Um exemplo deste tipo de instrumentos é o Multifactor Emotional Intelligence

Scale (MEIS) (Monteiro, 2009).

Os questionários de auto-avaliação, auto-descrição ou auto-relato medem a inteligência emocional na óptica dos dois modelos de IE e representam um modo menos directo de avaliar a inteligência emocional, comparativamente aos testes de aptidões/competências. Neste tipo de instrumento, os indivíduos autodescreverem-se de acordo com as respostas a diversas afirmações (Alves, 2010; Woyciekoski & Hutz, 2010). Estes questionários baseiam-se na auto-análise, autoconhecimento e autoconceito. Assim, caso o autoconceito do indivíduo seja afinado, este tipo de instrumento constitui uma medida precisa da IE, no entanto, se o autoconceito do indivíduo for diminuto, a medida dará somente informação sobre o seu autoconceito e não sobre as suas aptidões (Mayer et al., 2000). Os questionários de auto-descrição apresentam algumas desvantagens como o facto de poderem refletir apenas o autoconceito do indivíduo e as suas perceções de desejabilidade, e não a sua verdadeira inteligência emocional (Alves, 2010; Woyciekoski & Hutz, 2010). Para além disso, os indivíduos podem adulterar as respostas com vista a uma impressão favorável (Ângelo, 2007). Todavia, os questionários de auto- descrição/auto-relato comportam algumas vantagens, pois são mais simples de gerir, possibilitam o acesso a experiências internas difíceis de aceder através de medições de aptidões e permitem a avaliação de processos conscientes relacionados com a inteligência emocional (Mayer et al., 2000). De acordo com Austin (2010), os testes de aptidões e os questionários de auto-avaliação têm uma correlação positiva. Para Alves (2010), exemplos deste tipo de instrumentos são o Trait Meta-Mood Scale, o EQ-i de Bar-On e o instrumento proposto por Wong e Law a partir da tetradimensionalização sugerida por Mayer e Salovey.

No método dos informantes solicita-se aos observadores que avaliem e/ou posicionem um indivíduo no que respeita a determinadas afirmações, ou seja, este método de avaliação de IE focaliza-se na forma como cada indivíduo é encarado pelas outros, mensurando, na realidade, a reputação dos indivíduos (Alves, 2010; Ângelo, 2007). Tal

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como os outros tipos de instrumentos, também o método dos informantes apresenta desvantagens, como o facto de a avaliação poder ser influenciada pela concepção que o informador tem sobre o indivíduo avaliado (efeito de halo).Tal como o autoconceito dos questionários de auto-descrição, também a reputação é essencial, mas não equivale necessariamente à inteligência emocional real (Mayer et al., 2000). Este método tem a vantagem de afastar os enviesamentos acrescidos das auto-descrições. No entanto, apresenta riscos, pois apenas é válido para comportamentos observáveis. Assim, sendo as aptidões mentais intrínsecas ao indivíduo, não podem ser avaliadas através do método dos informadores (Alves, 2010).

Para Kaufman e Kaufman (2001), o futuro da medição da inteligência emocional deve passar pela melhoria dos testes de aptidões e não nos questionários de auto- avaliação/auto-descrição. Os investigadores da área da inteligência utilizam por norma os testes de aptidões, pois a maioria considera, que a inteligência equivale à capacidade de desempenho atual das pessoas em matéria de tarefas mentais e não às convicções sobre essa capacidade (Ângelo, 2007; Woyciekoski & Hutz, 2009). No entanto, para alguns autores, a Inteligência Emocional não pode ser encarada uma forma de inteligência, devido ao facto de não existirem respostas objetivas para os testes de inteligência emocional (Mayer, Roberts & Barsade, 2008). Os métodos de avaliação dos testes de aptidões (métodos do consenso, dos especialistas e dos alvos) suprimiriam, esse problema, pois possibilitam a determinação das respostas correctas para as questões apresentadas nesse tipo de testes (Mayer et al., 2000).

Os instrumentos que têm merecido maior atenção foram o Mayer-Salovey-Caruso

Emotional Intelligence Test (MSCEIT) desenvolvido por Mayer, Salovey e Caruso, o Emotional Competency Inventory (ECI) do famoso Goleman juntamente com Boyatzis e

por último, o Emotional Quotient Inventory (EQ-i) de Bar-On (Mayer, 2006; Monteiro, 2009).

A presente investigação focaliza-se no âmbito do modelo das aptidões/habilidades e no método de questionários de auto-descrição. Pretendemos apresentar evidência empírica do instrumento desenvolvido e validado por Lima Santos e Faria (2005), sendo a versão portuguesa do Emotional Skills and Competence Questionnaire originalmente desenvolvido na Croácia por Taksic baseando-se no modelo teórico de Mayer e Salovey.

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