2 RELAÇÃO RISCO E RETORNO DE ATIVOS
2.7 CAPM e o fator de desconto estocástico
O comportamento dos investidores é modelado pela função utilidade U c c
t, t1
, que é definida levando em consideração os valores de consumo atual, c , e futuro, t ct1:u c c
t, t1
u c
t E u ct
t1 (2.44)onde,
tu c : utilidade do consumo em t;
: taxa de impaciência à postergação do consumo característica do investidor utilizada para descontar u c
t1 para t;
1t t
E u c : expectativa em t da utilidade do consumo em t+1.
Cochrane (2005, p. 4) utiliza a função utilidade potência, que indica que o investidor com aversão ao risco preocupa-se mais com a possibilidade de perda do que com a de ganho, cuja expressão é dada por:
1 1 1 t t u c c (2.45) onde, indica o grau de aversão ao risco do investidor.Quando 1, o limite da expressão 2.45 é:
u c
ln
c (2.46) A expressão 2.46 é denominada de função utilidade logarítmica. Segundo esta função, o consumo do investidor é proporcional à sua riqueza. Ainda, a função utilidade u c é
crescente, o que reflete em um maior desejo por consumo, e côncava, denotando declínio do valor marginal do consumo.Assumindo-se que é possível investir livremente em qualquer ativo, ao preço pt, o ponto de
equilíbrio entre a função utilidade de consumo, tanto em t quanto em t+1, e a riqueza investida é dada por:
max
u c
t Eu c
t1
(2.47) sendo, igual à quantidade de ativos que o investidor escolhe comprar.A expressão 2.47 está sujeita às seguintes restrições:
ct et pt (2.48) ct1 et1 xt1 (2.49) onde,
t
c e ct1: nível de consumo do investidor em t e t+1, respectivamente;
t
e e et1: nível de riqueza do investidor em t e t+1, respectivamente; 1
t
x : payoff, ou investimento, em t+1.
Portanto, para encontrar o número de ativos que o investidor deverá comprar para maximizar a função utilidade de consumo versus o investimento, deve-se atentar para as restrições: (i) de acordo com a expressão 2.48, o consumo em t é igual ao nível de riqueza em t menos o valor total do investimento em t; e (ii) pela equação 2.49, o consumo em t+1 é igual ao nível de riqueza em t+1 somado ao payoff total em t+1.
Substituindo as expressões 2.48 e 2.49 na equação 2.47, tem-se:
max
u e
t pt
Etu e
t1 xt1
max
u e
t pt
Etu e
t1 xt1
(2.50) Derivando a equação 2.50 em relação em função de , e igualando a zero, obtém-se:d max
u e
t pt
Etu e
t1 xt1
d 0 Etu c
t1 xt1 ptu c
t (2.51) ou, ptu c
t Etu c
t1 xt1 (2.52)Reescrevendo a expressão 2.52 em função de pt:
pt Et u c
t1 u c
t xt1 (2.53) onde,
tu c : utilidade marginal de consumo em t;
t 1u c : utilidade marginal de consumo em t+1;
1
t
x : payoff, ou investimento, em t+1.
Sendo que m1 é denominado de fator de desconto estocástico ou taxa de substituição marginal, tem-se:
m mt1u c
t1
u c
t (2.54)A relação entre o fator de desconto estocástico e o payoff é fundamental na teoria de apreçamento de ativos. Entre t e t+1, este fator de desconto deve satisfazer à seguinte expressão: Et
mt1xt1
Rt ,tf1Et
mt1 pt (2.55) 1 A variável aleatória mt+1 também é conhecida como pricing kernel. O termo fator de desconto estocástico é
onde,
Rt,tf 1: taxa livre de risco entre t e t+1.
Harrison e Kreps (1979) demonstram que a existência do fator de desconto estocástico equivale à lei do preço único, segundo a qual dois bens idênticos não podem ser vendidos a preços diferentes (ELTON et al., 2004, p. 317).
Se não houvesse incerteza, os preços poderiam ser expressos segundo a equação padrão do valor presente: 1 1 t t f p x R (2.56)
sendo, Rf igual à taxa livre de risco.
Mas, como há incerteza envolvida no cálculo de pt, a expressão 2.53 é equivalente a:
1 1
t t t t p E m x ou p E mx
(2.57)Tecnicamente, segundo Ferson (2003, p. 748), todos os modelos de apreçamento de ativos são derivados da seguinte equação:
pt E m
t1
pt1 dt1
(2.58) onde,t
p e pt1: preço do ativo em t e t+1, respectivamente; 1
t
m : fator de desconto estocástico;
1
t
Para ações, o payoff xt1 é igual ao preço p somado ao dividendo t dt1. O retorno bruto do
ativo, entre t e t+1, corresponde ao logaritmo natural da divisão do payoff pelo preço:
t 1 ln t 1 t x R p (2.59)
Supondo a existência de um retorno R como um payoff de preço unitário, se R$1,00 for pago hoje, o retorno será igual à quantidade de reais ou de unidades de consumo obtidas em um período futuro. Assim:
1 E mR
(2.60) Como o ativo livre de risco Rf é independente do fator m, tem-se:1 E m
Rf ou Rf 1E m
(2.61)Lembrando que somente o risco sistêmico gera correção de risco ao preço, pode-se decompor o payoff x em uma parte correlacionada com o fator m e em outra parte idiossincrática não correlacionada com o referido fator:
x proj x m
(2.62)
Segundo a Teoria de Carteiras desenvolvida por Markowitz (1952) e o modelo de apreçamento de ativos, o CAPM, elaborado por Sharpe (1964), o risco idiossincrático tende a desaparecer, apresentando, portanto, valor igual a zero em 2.62. Logo, o preço de x é equivalente a sua projeção para um dado fator de desconto m. A projeção de x em m é a parte de x que é perfeitamente correlacionada com m (COCHRANE, 2005, p. 15). Como o termo projeção denota uma regressão linear sem constante, obtém-se:
proj x m
E mx
E m
2 m
O preço p de proj x m
é:
2
2 2 E mx E mx p proj x m p m E m E mx p x E m E m (2.64)Os ativos que se encontram na fronteira eficiente são perfeitamente correlacionados uns com os outros e com o fator m. Segundo Cochrane (2005, p. 18), é viável definir um fator de desconto m a partir do retorno de qualquer carteira da fronteira eficiente, com exceção de um ativo livre de risco. O autor também declara a seguinte propriedade para a fronteira eficiente:
Cada ponto da fronteira eficiente apresenta correlação negativa perfeita com o fator de desconto estocástico m e correlação positiva perfeita com o consumo. Sendo assim, em um modelo uniperiódico, pode-se escolher constantes a e b tal que:
m a bE R
fr (2.65)sendo, E R
fr igual ao retorno esperado de qualquer carteira da fronteira eficiente.De acordo com Cochrane (2005, p. 19), dado o retorno de uma carteira da fronteira eficiente, é possível encontrar um fator de desconto que precifica todos os ativos.
No CAPM não-condicional uniperiódico, modelo desenvolvido por Sharpe (1964), o parâmetro E R
fr é igual ao retorno esperado da carteira de mercado menos o retorno do ativo livre de risco. Por sua vez, a constante a é igual ao retorno do ativo livre de risco. Ainda, para um único ativo, a constante b é igual ao risco do ativo em relação ao mercado, representado por i,m. Por fim, o fator de desconto estocástico m é igual ao retorno requerido pelo investidor ao aplicar sua riqueza no ativo i. Portanto, a equação 2.65 pode ser também expressa por:onde,
iE R : retorno esperado do ativo i;
f
R : retorno do ativo livre de risco;
,
i m
: beta do ativo i em relação à carteira de mercado m;
mE R : retorno esperado da carteira de mercado m.