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6 CONSTITUCIONALIDADE DO PODER REGULAMENTAR DAS AGÊNCIAS

6.5 O caráter não exclusivo da competência regulamentar do Chefe do Poder Executivo

Faticamente, entendemos que não caberia ao Chefe do Executivo adentrar nos ordenamentos setoriais pelo já tão explanado tecnicismo que as matérias reguladas demandam. Apesar de tão constatação ser bastante razoável, trata-se de uma argumentação meta-jurídica, e está ainda desprovida de fundamentação jurídica.

Desta forma como já tivemos oportunidade de apresentar quando tratamos do tema do Poder Regulamentar, esta atribuição estatal encontra-se prevista em um único dispositivo constitucional, qual seja o artigo 84, IV. Por uma interpretação restritiva, a única autoridade competente para a edição de regulamentos seria o chefe do Executivo. Neste trabalho, entretanto, como já apresentamos, filiamo-nos a corrente que entende o caráter não exclusivo do poder regulamentar, podendo sim tal atribuição ser compelida às Agências Reguladoras.

Nenhum problema há na admissibilidade da edição de regulamentos pelas Agências Reguladoras. O Poder Regulamentar está expresso na Constituição apenas como a delimitação de uma das atribuições do Chefe do Executivo. Caso não estivesse, a Administração continuaria com tal atribuição, por ser seu pode imanente.

Apesar de soar como um lugar comum, importante faz-se sempre lembrar que a sociedade hodierna configura-se como um organismo extremamente complexo, dinâmico e técnico. Tal constatação deve sempre estar na mente dos aplicadores do Direito para que não caiam no erro da persistência na manutenção de valores ultrapassados sob o pálio sempre da consagrada segurança jurídica.

Sobre o tema discutido, deparamo-nos com o processo de desestatização e a limitação do Legislativo para regular as complexas atividades econômicas e os serviços públicos prestados pela iniciativa privada. A solução adotada, já com bons resultados no Direito comparado, foi então implantada no Brasil, qual seja: a atribuição de poder regulamentar às Agências Reguladoras. Concomitantemente, passa-se a se questionar sobre a constitucionalidade dessas autarquias especiais e de seus poderes, afinal passa a existir em nosso universo jurídico um ente com funções concernentes aos três poderes.

As principais questões levantadas foram a violação ao princípio da separação dos poderes, da legalidade e a invasão em uma atribuição exclusiva do Chefe do Executivo.

Através da pesquisa realizada nesta monografia, pudemos constatar que não há qualquer espécie de violação ao princípio da separação dos poderes. O poder estatal é uno, e só é aparentemente dividido em órgãos distintos para facilitar a execução de todas as atribuições estatais, bem como para controlar o autoritarismo proveniente do próprio exercício do poder. A doutrina de Montesquieu não pode ser mais aplicada como o foi no século XVIII. A revisão fez-se fundamental. O mais apropriado seria falar em funções, bem como adotar um critério material em detrimento do orgânico. Desta forma, temos que o exercício das funções estatais não pode ser inteiramente exercido por um só dos poderes, podendo ter a participação dos demais.

Quanto ao princípio da legalidade, o Direito brasileiro adotou a teoria da delegificação, pela qual uma lei reduz o grau hierárquico de uma outra para que determinada

matéria possa ser regulada através de um regulamento proveniente do Executivo e não do Legislativo. Desta forma, o poder regulamentar continuará sendo exercido nos estritos limites de uma lei. Não aqui nenhuma violação também ao princípio da legalidade.

Por fim, entendemos que também não há nenhuma invasão a uma atribuição exclusiva do Chefe do Executivo. A competência atribuída na Constituição não é exclusiva do Chefe do Executivo, mas privativa, podendo sim ser o poder normativo ser descentralizado para órgãos ou entidades tecnicamente mais aparelhados.

Não pretendemos trazer ao presente tema escopo de exaurimento e definitividade, uma vez que se trata de questão bem recente ainda com muitas discussões doutrinárias e jurisprudenciais. Pela pesquisa realizada, entretanto, outra não pode ter sido a nossa constatação que não a constitucionalidade do poder regulamentar das Agências Reguladoras.

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