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2.3 O SETOR DE EDUCAÇÃO – ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA NO BRASIL

2.3.2 Característica do ensino a distância

Para Puntel (2003), a educação à distância é entendida como um ambiente que oferece recursos visando o ensino baseado em tecnologias de informação, sendo realizado de maneira interativa, à distância. Nesse sentido o autor destaca algumas características importantes da educação a distância:

a) separação do professor e aluno no espaço e/ou tempo (PERRATON, 1988); b) os alunos estudam, quer em grupos, quer individualmente em seus lares, locais de

trabalho ou outros lugares (SILVA, 1990);

c) controle do aprendizado, realizado mais intensamente pelo aluno do que pelo professor distante (JONASSEN, 1993);

d) comunicação em dois sentidos (two-way comunication) entre professor, alunos ou instituição de ensino e alunos (VERDUIN; CLARK, 1991);

e) comunicação entre alunos e professores é mediada por documentos impressos ou alguma forma de tecnologia (GARRISON; SHALE, 1987; KEEGAN, 1986). Victorino e Haguenauer (2004) apontam que o ambiente colaborativo de aprendizagem é um espaço de interação que sustenta a construção, inserção e troca de informações pelos participantes, visando a construção social do conhecimento.

Peixoto (2008) aponta o ensino à distância como um dispositivo de formação que é constituído de um conjunto de atores (aprendizes, tutores, responsáveis pela formação) e de ferramentas técnicas organizadas no espaço e no tempo, de acordo com uma meta de aprendizagem. Dessa forma, o dispositivo de formação é em si mesmo mediação; por conseguinte, distribui papéis entre os atores, organiza a sua participação, suscita e define, pouco a pouco, a utilização real e ativa.

Puntel (2003) e Brasil (2007) definem quem são os participantes e seu papel dentro do ensino à distância: coordenador do curso; docentes; tutores; infraestrutura tecnológica; corpo de técnicos-administrativos e instalações físicas.

Coordenador do Curso

Se responsabiliza pela “análise e avaliação do curso e da modalidade a distância”, por meio das seguintes funções (NEDER, 1999 apud PUNTEL, 2003):

b) avaliar, com base nas dificuldades apontadas pelos acadêmicos, os materiais didáticos utilizados no curso;

c) informar sobre a necessidade de apoios complementares não previstos pelo ambiente de EAD;

d) mostrar problemas relativos à modalidade da EAD, a partir das observações e das críticas recebidas dos acadêmicos;

e) participar do processo de avaliação do curso.

Docentes

Em primeiro lugar, é enganoso considerar que programas a distância minimizam o trabalho e a mediação do professor. Muito pelo contrário, nos cursos superiores a distância, os professores veem suas funções se expandirem, o que requer que sejam altamente qualificados. Em uma instituição de ensino superior que promova cursos a distância, os professores devem ser capazes de:

a) estabelecer os fundamentos teóricos do projeto;

b) selecionar e preparar todo o conteúdo curricular articulado a procedimentos e atividades pedagógicas;

c) identificar os objetivos referentes a competências cognitivas, habilidades e atitudes;

d) definir bibliografia, videografia, iconografia, audiografia, tanto básicas quanto complementares;

e) elaborar o material didático para programas a distância;

f) realizar a gestão acadêmica do processo de ensino-aprendizagem, em particular motivar, orientar, acompanhar e avaliar os estudantes;

g) avaliar -se continuamente como profissional participante do coletivo de um projeto de ensino superior a distância.

Tutores

O tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico.

 Tutor a distância: atua a partir da instituição, mediando o processo pedagógico junto a estudantes geograficamente distantes, e referenciados aos polos descentralizados de apoio presencial. Sua principal atribuição deste profissional é o esclarecimento de dúvidas por meio fóruns de discussão pela Internet, pelo telefone, participação em videoconferências, entre outros, de acordo com o projeto pedagógico.

 Tutor presencial: atende os estudantes nos polos, em horários pré-estabelecidos. Este profissional deve conhecer o projeto pedagógico do curso, o material didático e o conteúdo específico dos conteúdos sob sua responsabilidade, a fim de auxiliar os estudantes no desenvolvimento de suas atividades individuais e em grupo, fomentando o hábito da pesquisa, esclarecendo dúvidas em relação a conteúdos específicos, bem como ao uso das tecnologias disponíveis. Participa de momentos presenciais obrigatórios, tais como avaliações, aulas práticas em laboratórios e estágios supervisionados, quando se aplicam. O tutor presencial deve manter-se em permanente comunicação tanto com os estudantes quanto com a equipe pedagógica do curso.

Infraestrutura tecnológica

A sustentação de uma infraestrutura de EAD que utilize a internet como meio principal de comunicação pressupõe que os alunos tenham acesso ao computador. Além de mobilizar recursos humanos e educacionais, um curso à distância exige a montagem de infraestrutura material proporcional ao número de alunos, aos recursos tecnológicos envolvidos e à extensão de território a ser alcançada, o que representa um significativo investimento para a instituição.

a) estrutura de rede local: uma rede de computadores cuja tecnologia de informação possibilite a conectividade de diversos computadores através de serviços de rede;

b) estrutura de servidores: um conjunto de computadores, com capacidade e estrutura física para armazenamento de massa destinado ao armazenamento dos programas, aplicações de internet e dados;

c) acesso à internet: acesso à Web através de telas de navegação; d) sistemas aplicativos: software de EAD com recursos de iteratividade;

e) sistema operacional: para suporte ás informações que trafegam na internet e na rede;

f) softwares utilitários: programas funcionais para suporte e segurança ao ambiente, tais como antivírus, firewall, backup de dados etc.

Corpo de técnico-administrativo

Espera-se que o corpo de técnico-administrativo seja integrado ao curso e que preste suporte adequado, tanto na sede como nos polos (BRASIL, 2007);

Instalações físicas

a) infraestrutura material que dá suporte tecnológico, científico e instrumental ao curso;

b) infraestrutura material dos polos de apoio presencial;

c) existência de biblioteca nos polos, com um acervo mínimo para possibilitar acesso aos estudantes a bibliografia, além do material didático utilizado no curso; d) sistema de empréstimo de livros e periódicos ligado à sede da IES para possibilitar

acesso à bibliografia mais completa, além do disponibilizado no polo.

Em se tratando do processo de gestão em educação a distância o Ministério da Educação – MEC (BRASIL, 2007) aponta em seu documento Referenciais de Qualidade para Cursos a Distância os critérios básicos que devem merecer a atenção das instituições que preparam seus cursos e programas a distância:

1) Compromisso dos gestores; 2) Desenho do projeto;

3) Equipe profissional multidisciplinar; 4) Comunicação/interação entre os agentes; 5) Recursos educacionais;

6) Infraestrutura de apoio;

7) Avaliação contínua e abrangente; 8) Convênios e parcerias;

9) Transparência nas informações; 10) Sustentabilidade financeira.

Os conceitos envolvidos simultaneamente no processo de inovação e no planejamento estratégico de cursos na modalidade EAD são descritos a seguir para suscitar reflexões sobre o tema (ARAUJO et al., 2013; MOORE; KEARSLEY, 2008).

a) fontes de conteúdo: são de responsabilidade da organização que delega aos especialistas a constituição de um conteúdo que abarque teoria, prática, literatura e o uso da tecnologia.

b) criação do programa/curso: o preparo de um curso em EAD requer as atividades do especialista no assunto e profissionais da área da instrução que organizem o conteúdo, de acordo com a teoria e a prática da gestão da informação e das teorias da aprendizagem.

c) mídia, transmissão e disposição do material didático: a comunicação entre instituição educacional e o aluno deve ocorrer por intermédio de tecnologia, possibilitando que todo tipo de mensagem seja entregue a todos os alunos. A perspectiva dos autores sobre esse subsistema é que a utilização de várias tecnologias alternadas ou simultaneamente pode estabelecer maior qualidade na transmissão e disponibilização do material do curso.

d) interação e o papel dos instrutores: a comunicação entre aluno e instituição, em especial com os tutores, depende da natureza e da extensão da interação que, por sua vez, varia também de acordo com a filosofia organizacional, da visão dos criadores de curso, da maturidade dos alunos, da localização e da tecnologia utilizada nos cursos.

e) ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs): os ambientes de aprendizagem

controlados pela instituição exercem impacto considerável sobre a eficácia dos sistemas e subsistemas. O ambiente deve ser acessível aos alunos em lugares e momentos diferentes para viabilizar a transmissão do conteúdo do curso e promover a interação entre alunos/alunos e alunos/tutores.

f) perfil do aluno em EAD: os interesses dos alunos por cursos online também estão relacionados à liberdade de escolha do AVA para o estudo. Em sua maioria, esses alunos estudam durante o trajeto que perfazem para o trabalho ou para casa, nos horários livres em que estão sentados em meios de transporte coletivo, como ônibus. Esse tempo livre é precioso para os alunos da EAD que aproveitam esses momentos para o estudo e a interação nos cursos, pois, geralmente, desenvolvem muitas outras atividades paralelas, como trabalho, etc.

Para Cruz e Barcia (1999), o desenvolvimento do ensino a distância está relacionado com o desenvolvimento dos meios de comunicação para distribuição dos cursos, do material didático, influenciando o modo de produção e administração dos cursos e o grau de interação entre professores e alunos.

Prado e Valente (2002) afirmam que as abordagens de EaD por meio das TIC podem ser de três tipos: broadcast, sala de aula virtual (presencial) ou estar junto virtual:

 Na abordagem broadcast, a tecnologia computacional é empregada para “entregar a informação ao aluno” da mesma forma que ocorre com o uso das tecnologias tradicionais de comunicação (rádio e a televisão).

 Quando os recursos das redes telemáticas são utilizados da mesma forma que a sala de aula presencial, acontece a virtualização da sala de aula, que procura transferir para o meio virtual o paradigma do espaço–tempo da aula e da comunicação bidirecional entre professor e alunos.

 O estar junto virtual ou, aprendizagem assistida por computador (AAC), explora a potencialidade interativa das TIC propiciada pela comunicação multidimensional, que aproxima os emissores dos receptores dos cursos, permitindo criar condições de aprendizagem e colaboração.

Ambientes digitais de aprendizagem são sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos. (ALMEIDA; PARISI; STAMATO, 2003)

Almeida; Parisi e Stamato (2003) apontam que os recursos dos ambientes digitais de aprendizagem são basicamente os mesmos existentes na internet (correio, fórum, bate-papo, conferência, banco de recursos, etc.), com a vantagem de propiciar a gestão da informação segundo critérios preestabelecidos de organização definidos de acordo com as características de cada software.

Os ambientes digitais de aprendizagem, de acordo com Almeida (2003), podem ser empregados como suporte para sistemas de educação a distância realizados exclusivamente on- line, para apoio às atividades presenciais de sala de aula, permitindo expandir as interações da aula para além do espaço–tempo, do encontro face a face ou para suporte a atividades de formação semipresencial nas quais o ambiente digital poderá ser utilizado tanto nas ações presenciais como nas atividades à distância.

Na EaD em meio digital: existe um foco central em determinado aspecto, diretamente relacionado com a abordagem educacional implícita, o qual pode ser (ALMEIDA, 2003):

 O material instrucional disponibilizado, tem a abordagem centrada na informação fornecida por um tutorial ou livro eletrônico hipermediático;

 O professor, é considerado o centro do processo educacional, o que indica abordagem centrada na instrução fornecida pelo professor e, recebe distintas denominações de acordo com a proposta do curso;

 O aluno, aprende por si mesmo, em contato com os objetos disponibilizados no ambiente, realizando as atividades propostas a seu tempo e de seu espaço;

 As relações que podem se estabelecer entre todos os participantes evidenciando um processo educacional colaborativo no qual todos se comunicam com todos e podem produzir conhecimento, como ocorre nas comunidades virtuais colaborativas;

Em um mesmo curso à distância, conforme as características da atividade, pode existir alternância entre focos, sendo possível lançar mão de diferentes meios e recursos, tais como hipertextos veiculados em CD-Rom, distribuição de material impresso via correios, vídeos, teleconferências, etc. Porém, sempre há um foco que se sobressai entre os demais e uma concepção educacional subjacente.

Para Shelley, Murphy e White (2013), o maior desenvolvimento do e-ensino está relacionado a evolução e aplicação de blended, ou aprendizagem distribuída. Normalmente associado com a introdução de mídia on-line em um curso ou programa. Ele também está associado ao uso de mídia assíncronas tais como e-mail ou conferência em conjunto com tecnologias síncronas, comumente chat de texto ou de áudio. Asynchronous educação a distância é um modelo alternativo de aprendizagem onde alunos e professores não estão localizados na mesma sala de aula, ao mesmo tempo (CARSWELL; VENKATESH, 2002).

Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e mudança dos paradigmas de aprendizagem e ensinamentos, o ensino à distância também entrou em uma nova era. Novos ambientes de aprendizagem por meio da internet foram desenvolvidos principalmente para a aprendizagem assíncrona enquanto videoconferência e via satélite sistemas têm sido utilizados para atividades síncronas (BEYTH-MAROM et al., 2003).

Albertin e Albertin (2013) apontam os componentes de educação como: objetivos e corpo discente, conteúdo, estratégia pedagógica e infraestrutura:

 O componente objetivo é composto pelo objetivo do curso e pelo objetivo pedagógico.

 O componente conteúdo é o conhecimento que deve ser transferido, compartilhado adquirido e apropriado pelos alunos do curso.

 O componente estratégia pedagógica se refere às estratégias de ensino que permitem que o conteúdo seja transferido, compartilhado, adquirido e apropriado pelos alunos.

 O componente infraestrutura inclui a infraestrutura e as tecnologias de informação e comunicação necessárias para a prática das estratégias de ensino e o acesso ao conteúdo em suas formas e localizações diversas, bem como a interação entre os participantes do processo de ensino aprendizagem.

Segundo os autores estes componentes mantem relação de exigência e restrição entre si, o conteúdo exige determinadas metodologias de ensino, bem como tecnologias para o seu tratamento e para a realização do curso, ao mesmo tempo podem ser restringidos pelas metodologias utilizadas e pelas tecnologias aplicadas. Por outro lado, a metodologia exige determinadas tecnologias para serem aplicadas, sob pena de estas a restringirem.