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6. Discussão

6.1. Características da amostra

A massa livre de gordura das voluntárias foi mensurada através do DXA, uma vez que determina a massa gorda, massa magra e o conteúdo mineral ósseo do corpo todo (LINDLE et al. 1997), além dos valores de massa livre de gordura dos membros (LYNCH et al. 1999). Este método é considerado válido para avaliar a composição corporal de mulheres idosas, podendo ser aplicado para mensurar a MLG dessa amostra, já que esta variável medida no DXA correlaciona-se fortemente com a massa muscular (HANSEN et al. 1999).

Após a sistematização dos dados, notou-se que o valor médio da MLGT nesta amostra (67,81±5,16 anos) foi de 38,08±5,45 Kg. De forma similar, Hansen et al. (1999) avaliaram 50 mulheres brancas (63±7 anos) e encontraram MLGT de 37,4±5,9 Kg. Considerando que a estatura média destas idosas era 1,62 m, encontrou-se uma MLGTR de 14,27 Kg/m², enquanto nossas voluntárias, que tiveram estatura média de 1,52±0,06 m, apresentaram uma MLGTR de 16,48 Kg/m². O estudo de Lindle et al. (1997) avaliou mulheres caucasianas da faixa etária entre 50-64 anos (n=88) e 65-80 anos (n=50), e obteve MLGT de 38,9±4,6 Kg e 39,1±3,8 Kg. Estes resultados foram pouco superiores ao de nossa amostra, porém quando se considera a estatura das mesmas (1,64 m e 1,60 m) pode-se notar que a MLGTR foi, respectivamente, 14,46 Kg/m² e 15,27 Kg/m², evidenciando que os resultados foram inferiores ao que verificamos neste estudo. Já Gallagher et al. (1997) avaliaram a MLGT em 148 mulheres, sendo 80 afro-americanas (51,8±15,7 anos) e 68 caucasianas (46,0±18,8 anos). As afro-americanas apresentaram uma MLGT de

44,9±5,5 Kg e as outras 42,7±5,2 Kg. Seguindo a mesma lógica anterior, ao considerar a estatura média (1,62±0,06 m e 1,63±0,06 m) observou-se MLGTR de 17,13 Kg/m² e 16,05 Kg/m², respectivamente. Já em 2000, Gallagher et al. mensuraram 54 mulheres com idade mais avançada (70,2±7,8 anos; 1,57±0,07 m) e encontraram MLGT de 39,3±4,5 Kg e relativa de 15,94 Kg/m². Da mesma maneira, Newman et al. (2003) também avaliaram mulheres mais idosas categorizadas em brancas (73,6±2,8 anos; 1,60±0,1 m) e negras (73,4±3,0 anos; 1,60±0,1 m), e verificaram que as primeiras tiveram MLGT e MLGTR de 38,1 Kg e 15,0 Kg/m², enquanto as negras apresentaram, para estas mesmas variáveis, valores de 42,5 Kg e 16,7 Kg/m².

De acordo com estes resultados, nota-se que a MLGT da amostra brasileira analisada não mantém uma relação constante com os demais estudos, porém quando se corrige esta variável para a estatura, observa-se que as voluntárias brasileiras têm MLGTR inferior às negras e superior às caucasianas, exceto àquelas do estudo de Gallagher et al. (1997). Entretanto, não podemos ignorar o fato de que elas possuem aproximadamente, duas décadas de vida a menos que nossas voluntárias.

Quando se compara estes valores, deve-se atentar ao fato da população brasileira ser altamente miscigenada. Nesta amostra, observa-se que a cor de pele auto denominada foi de 41,05% branca, 41,05% morena, 16,3% negra, 1,6% vermelha e a ancestralidade genômica foi 51,51% de descendência européia. Além disso, respaldando nos achados de Wright et al. (1996) e Perry et al. (1996), foi encontrado que mulheres afro-americanas apresentaram níveis de testosterona significativamente superior ao de mulheres caucasianas, um achado relevante para explicar as diferenças músculo-esqueléticas observadas entre elas.

A MLGA desta amostra foi 15,73±2,27 Kg, e considerando sua estatura, a MLGAR foi 6,8±0,78 Kg/m². A seguir estão descritas, sistematicamente, algumas pesquisas que mensuraram estas variáveis. Gallagher et al. (1997) encontraram MLGA e MLGAR, respectivamente, de 20,5±2,8 Kg e 7,82Kg/m² em africanas e 18,6±2,6 Kg e 6,99 Kg/m² em caucasianas. Baumgartner et al. (1998) avaliaram 382 mulheres (73,7±6,1 anos) e obtiveram MLGA e MLGAR de 14,5±2,2 Kg e 5,9±0,7 Kg/m². Gallagher et al. (2000) verificaram que a MLGA e relativa nas 54 mulheres estudadas foi de 16,4±2,8 Kg e 6,67 Kg/m². Posteriormente, Iannuzzi-Sucich, Prestwood e Kenny (2002) mensuraram 195 mulheres idosas caucasianas (75,0±4,7 anos) e o valor da MLGA foi de 15,2±1,9 Kg enquanto a MLGAR foi 6,0±0,7 Kg/m². O estudo de Newman et al. (2003), que avaliou mulheres brancas e negras, encontrou MLGA e relativa de 15,5±2,4 Kg e 6,1±0,8 Kg/m² para as primeiras e 18,5±3,3 Kg e 7,3±1,1 Kg/m² para as idosas negras. Neste mesmo ano, Kenny et al. mostraram que as 189 mulheres avaliadas (67,5±4,8 anos) possuíam MLGA e relativa de 15,2±1,9 Kg e 5,9±0,59 Kg/m².

Como a determinação da massa muscular pode ser definida por fatores hormonais (TENOVER, 2000; SZULC et al. 2004), nutricionais/ambientais (MORLEY

et al. 2001; LIMA, 2006a), componente hereditário (CARMELLI, REED, 2000), nível de atividade física (EVANS, 2002; SZULC et al. 2004) torna-se difícil apontar possíveis conclusões acerca das diferenças encontradas entre a MLG da amostra estudada e das demais descritas pela literatura. Porém, nota-se que nossas voluntárias quando comparadas às idosas brancas, apresentam valores de massa livre de gordura mais próximos, evidenciando que a etnia é um fator que pode contribuir para esta similaridade. Por outro lado, ao serem comparadas às idosas negras, notadamente possuem menores valores para esta variável. Sendo assim,

vale registrar que a amostra brasileira analisada apresentou 51,51% de ancestralidade européia, 25,49% de ancestralidade africana e 23% de ancestralidade ameríndia (VIEIRA et al. 2006). Corroborando com estes achados, Gerace et al. (1994) confirmaram que pessoas afro-americanas possuem, significativamente, maior massa muscular esquelética que aquelas caucasianas.

O estudo de Baumgartner et al. (1998) apontou como ponto de corte para a sarcopenia em mulheres o valor de MLGAR inferior a 5,45 Kg/m². Desta forma, se hipoteticamente, for levado em consideração este escore, na amostra estudada apenas 4,2% apresentariam sarcopenia, o que diverge aos achados destes autores. Isto pode ser reflexo dos valores médios dos fenótipos musculares encontrados, que não mostraram redução significativa com o passar dos anos. A prevalência da sarcopenia encontrada por Melton et al. (2000), Kenny et al. (2003) e Iannuzzi-Sucich, Prestwood e Kenny (2002) foi de 27,0%, 23,8% e 22,6%, respectivamente, o que corrobora com o estudo de Baumgartner et al. (1998). Porém, sabe-se que ainda não há um valor de referência para jovens brasileiras a fim de se estabelecer um ponto de corte adequado para esta população.

Neste estudo, verificou-se que o percentual de gordura das voluntárias foi igual a 38,28±6,32%. Os estudos supracitados, que também utilizaram o DXA para mensurar esta variável, encontraram os seguintes valores: 38,0±5% (HANSEN et al. 1999), 36,2±9,3% -50-64 anos- e 38,7±8,6% -65-80 anos- (LINDLE et al. 1997), 36±8,0% -afro-americanas- e 33,3±9,3% -caucasianas- (GALLAGHER et al. 1997), 39,0±5,6% -brancas- e 40,1±6,0% -negras- (NEWMAN et al. 2003), 38,7±5,8% (BAUMGARTNER et al. 1998). Sabe-se que com o envelhecimento as pessoas tendem a adquirir maior massa gorda (BASU, BASU, NAIR, 2002), e isto pode trazer grandes riscos para a saúde, uma vez que contribui, por exemplo, para o aumento

nos níveis pressóricos (GUEDES, GUEDES, 2001). Neste estudo, a prevalência da hipertensão arterial foi de 66,32%, um valor bem elevado. Portanto, conforme sugerido por Hurley e Roth (2000), adotar um estilo de vida ativo, com hábitos alimentares saudáveis seria uma estratégia eficiente para minimizar estas alterações decorrentes do envelhecimento. Um fato interessante é que 60,52% da nossa amostra foram classificadas em “Ativas” e “Muito Ativas”, de acordo com o IPAQ, entretanto, é desconhecido o hábito de alimentação destas pessoas, uma vez que não foi aplicado um questionário de recordatório alimentar.

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