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3. Revisão de Literatura

3.4. Sarcopenia

3.4.1. Fatores Relacionados à sarcopenia

Sabe-se que a perda de massa muscular derivada da redução de fibras é responsável pela sarcopenia. Entretanto, fatores hormonais, metabólicos, nutricionais, imunológicos, moleculares e o nível de atividade física também contribuem para este processo (WELLE, 2002; BASU, BASU, NAIR, 2002; SOTO et

al. 2003). Ademais, Dirks e Leeuwenburgh (2002) mostraram que uma redução significante de força e massa muscular pode ser devido à perda de motoneurônios, uma vez que no envelhecimento a carência de estímulos contribui com este prejuízo. A figura 4 ilustra esquematicamente, a influência de fatores que contribuem para o declínio de força e massa muscular.

FIGURA 4: Influência de fatores que levam ao declínio da massa e força muscular associada com a idade, bem como seu impacto na inabilidade e perda de independência.

FONTE: adaptado de DOHERTY, 2003.

O estudo de Doherty e Brown (2002) demonstrou uma perda no funcionamento das unidades motoras na musculatura proximal e distal das extremidades superiores e inferiores, o que pode conduzir a alterações orgânicas funcionais. McComas (1998) observou que o declínio importante das unidades motoras começa a partir dos 70 anos, coincidindo com o aumento na prevalência da fragilidade. A partir desta mesma faixa etária, nota-se que a desnervação desempenha um papel relevante na queda de massa e qualidade muscular (SOTO

et al. 2003).

Diversos hormônios desempenham um papel no turnover da proteína muscular, seja ele anabólico - como o hormônio do crescimento (GH, do inglês

growth hormone) e testosterona que aumentam a síntese protéica, e a insulina que inibe a sua quebra; do estresse - como o cortisol e glucagon que causam catabolismo muscular; ou da tireóide, em que tanto o excesso quanto a deficiência podem aumentar a degradação muscular. O nível de GH diminui com a idade, e sua

Fatores: Nutricional Hormonal Metabólico Imunológico

↓ Massa Muscular ↓↓ Força Muscular

Sarcopenia

↓ Unidades Motoras ↓ Fibras Musculares Atrofia da Fibra Muscular

Atividade Física

Enfraquecimento Mobilidade Prejudicada

administração para adultos mais velhos acarreta aumento do nível de fator de crescimento insulínico tipo I (IGF-I, do inglês insulin growth factor), aumentando a massa muscular total e força. Entretanto, os resultados da reposição de GH não são universalmente positivos, pois aumentam a síntese protéica do corpo todo com um reticente efeito na musculatura esquelética, levando a compreender que a síntese de proteína não muscular pode aumentar com reposição deste hormônio. Já a testosterona, tem muitos efeitos no músculo, osso, próstata e medula óssea, e a partir da quarta década de vida seu nível sangüíneo apresenta um declínio gradual (BASU, BASU, NAIR, 2002). O estudo de Brodsky, Bolagopal e Nair (1996) mostrou que homens submetidos a reposição de testosterona apresentaram um aumento na massa muscular e diminuição na massa gorda.

A redução dos níveis de IGF-I relacionada com o envelhecimento normal também pode ser afetada pela qualidade da nutrição, nível de atividade física, doenças coexistentes, ingestão de álcool e função renal. O IGF-I é um potente mediador de alterações na massa muscular e força, e pela razão de sua importância clínica no envelhecimento, pode contribuir no desempenho das tarefas dependentes do músculo (O’CONNOR, TOBIN, HARMAN, 1998; KAKLAMANI et al. 1999). Na pesquisa de Cappola et al. (2001), foi investigada a relação entre baixos níveis de IGF-I, pouca força muscular e mobilidade em mulheres idosas. Encontrou-se que baixa concentração de IGF-I relaciona-se com dificuldade auto-relatada em tarefas de mobilidade, escassa força muscular dos extensores de joelho e caminhada lenta. Já a miostatina, é uma proteína secretada que funciona como um regulador negativo de massa muscular (McNALLY, 2004). Durante a embriogênese, é expressa no desenvolvimento da musculatura esquelética e atua na regulação do número final de fibras musculares que serão formadas. Durante a vida adulta, é

produzida pelo músculo esquelético, circula no sangue e tende a limitar o crescimento de fibras musculares (LEE, 2004). Em um estudo realizado por Zhu et

al. (2000) avaliou-se o papel da miostatina no estado degenerativo do músculo, e foi evidenciado que sua inibição pode ser apropriada para o tratamento de doenças degenerativas musculares como as distrofias ou degenerações musculares associadas ao envelhecimento.

Lalani et al. (2000) investigaram em ratos, se a perda muscular associada com vôo espacial era acompanhada por aumento nos níveis de miostatina e redução nos níveis de IGF-I e II no músculo. Notaram que o nível intramuscular de IGF-I não foi diferente entre os grupos experimental e controle. Por outro lado, a perda muscular esquelética que ocorre durante o vôo associa-se com o aumento de miostatina e um decréscimo de IGF-II (fator de crescimento insulínico tipo II). Estes dados mostram que mudanças recíprocas na expressão da miostatina e IGF-II podem contribuir para fisiopatologias multifatoriais da atrofia muscular que ocorrem durante o vôo espacial.

Um estudo feito por dE Martino et al. (2000) demonstrou que a interleucina-6 (IL-6, do inglês interleukin-6) inibe a secreção do IGF-I e sua atividade biológica, sugerindo que o efeito negativo do IL-6 na função muscular pode ser mediada através do IGF-I. Barbieri et al. (2003) avaliaram o efeito do IGF-I e IL-6 na função muscular em 526 pessoas. Após os ajustes realizados para idade, sexo e IMC notou-se que o IGF-I, IL-6, bem como sua interação foram significativamente preditores de força de punho e potência muscular. De encontro com esta informação, Cappola et al. (2003) investigaram se mulheres idosas com baixo nível de IGF-I e alto nível de IL-6 estão mais propensos a incapacidades, e verificaram que nestas voluntárias, a combinação confere alto risco para inabilidades

progressivas. Portanto, a união de forma adequada, entre IGF-I e IL-6 pode ser uma estratégia importante para prevenir ou imunimizar as alterações associadas com o envelhecimento.

Roth et al. (2006) recentemente descreveram a importância dos fatores inflamatórios no desenvolvimento da sarcopenia. Estes autores mostraram que a perda de massa muscular e as limitações funcionais dos idosos podem ser devido aos altos níveis do fator de tumor necrose α (TNF-α, do inglês tumor necrosis factor

alpha), interleucina 1 (IL-1, do inglês interleukin 1) e IL-6, uma vez que estes fatores estão envolvidos no processo de catabolismo muscular. Dessa forma, Schaap et al. (2006) investigaram se os níveis séricos de marcadores inflamatórios como a IL-6, a proteína reativa C e a proteína antiquimotripsina-1α estavam associadas com perda de massa e força muscular em 986 voluntários idosos. Os resultados sugeriram que altos níveis de IL-6 e proteína reativa C aumentam o risco de perda na força muscular, enquanto altos níveis de antiquimotripsina-1α diminuem o risco na perda de força muscular em idosos.

Outro fator que afeta a sarcopenia é o status nutricional, pois com o avançar da idade tende-se a ocorrer uma ingestão cada vez mais pobre de alimentos (SOTO

et al. 2003), e a senescência induz a uma redução nas adaptações metabólicas. A fragilidade nutricional é decorrente das inabilidades inerentes à velhice, devido à acentuada perda involuntária de peso e de massa muscular. Este dano deve-se à redução da ingesta calórica, embora sua possível etiologia, ainda inclua causas fisiológicas e não fisiológicas (BALES, RITCHIE, 2002).

A atividade física também diminui com a idade, privando o músculo de um dos mais importantes estímulos ambientais para manter sua massa e função. Está bem fundamentado que os idosos com menor nível de atividade física apresentam menor

massa muscular e maior prevalência de incapacidades (SOTO et al. 2003). Neste sentido, os exercícios apropriados podem estabelecer uma combinação de estímulos para manter a integridade do tecido durante o envelhecimento (EDSTRÖM, ULFHAKE, 2005).

Em um estudo realizado por Szulc et al. (2004) foram investigados, em 845 homens de 45-85 anos, os fatores de risco para a sarcopenia. O índice de massa muscular esquelética apendicular diminuiu com a idade e aumentou com a intensidade da atividade física de trabalho. Os fumantes apresentaram menor índice de massa em relação aos sujeitos que nunca fumaram. Os homens que participavam de exercícios regulares durante o tempo livre tiveram índice de massa 2.2% mais alto diante daqueles que não os faziam.

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