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Características audiológicas do indivíduo heterozigoto para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

BOR 1 Saethre Chotzen

5.2 Análise Molecular

5.2.3 Características audiológicas do indivíduo heterozigoto para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830)

As características do indivíduo heterozigoto para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830) encontram-se resumidas no Quadro 3.

Nº da Amostra Características do heterozigoto para

c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830) 901

Gênero Masculino

Época de aparecimento da perda auditiva Pré-lingual

Tipo da perda auditiva Sensorioneural

Grau da perda auditiva Profundo

Simetria da curva audiométrica Simétrica

Lateralidade da perda auditiva Bilateral

Forma da curva audiométrica Plana

Evolução da perda auditiva Não progressiva

Quadro 3. Características do sujeito heterozigoto para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830), identificado pelo número da respectiva amostra, segundo o gênero e as manifestações da perda auditiva.

O gênero dos indivíduos acometidos se distribuiu conforme mostrado na Tabela 26 e Figura 30.

Tabela 26- Distribuição do gênero entre os heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830).

Gênero Total

Masculino 3 Feminino 5

Resultados 107

38%

62%

Masculino Feminino

Figura 30: Distribuição percentual do gênero entre os heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830).

A época de aparecimento da perda auditiva distribuiu-se conforme mostrado na Tabela 27 e Figura 31.

Tabela 27- Época de aparecimento da perda auditiva entre os heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6- D13S1830).

Época de aparecimento da

perda auditiva Total

Pré-lingual 5 Pós-Lingual 3

Resultados 108

62%

38%

Pré lingual Pós lingual

Figura 31: Distribuição percentual quanto à época do início de aparecimento da perda auditiva entre os heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 edel(GJB6-D13S1830).

O tipo de perda auditiva foi 100% sensorioneural entre os indivíduos heterozigotos e o grau da perda auditiva variou de leve a profundo. (Tabela 28 e Figura 32).

Tabela 28- Distribuição dos graus de perda auditiva entre os indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830).

Grau de perda auditiva Total

Leve 1 Moderado 2

Severo 1 Profundo 3 Grau assimétrico entre as orelhas 1

Resultados 109 13% 24% 13% 37% 13% Leve Moderado Severo Profundo Grau Assimétrico

Figura 32: Distribuição percentual dos graus de perda auditiva entre os indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 edel(GJB6-D13S1830).

O indivíduo com audiometria assimétrica, em relação ao grau da perda, apresentou uma orelha com perda auditiva severa e a outra moderada.

Todos os indivíduos heterozigotos para a mutação c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830) tiveram ambas as orelhas afetadas.

A forma da curva audiométrica preponderante foi plana (74%), seguida por descendente (Tabela 29 e Figura 33).

Tabela 29- Distribuição da forma da curva audiométrica da perda auditiva entre os indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 edel(GJB6-D13S1830).

Forma da curva audiométrica Total

Plana 6 Descendente 1 Ascendente 0 “U” invertido 0 “U” 0 Assimétrica 1 Total 8

Resultados 110 74% 13% 13% Plana Descendente Ascendente "U" invertido "U" Assimétrica

O indivíduo, cuja audiometria se mostrou assimétrica, em relação à forma da curva audiométrica, apresentou uma orelha com forma plana e a outra com forma descendente.

A Tabela 30 e Figura 34 apresentam a distribuição da perda auditiva segundo sua evolução. As perdas auditivas estudadas mostraram-se estáveis, ou seja, não progressivas, em 62% dos casos.

Tabela 30- Distribuição dos indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830), segundo a progressão da perda auditiva.

Progressão Total

Não 5 Sim 3

Total 8

Figura 33: Distribuição percentual da forma da curva audiométrica da perda auditiva entre os indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 edel(GJB6-D13S1830).

Resultados 111

38% 62%

Progressiva Não progressiva

Figura 34: Distribuição percentual dos indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2 e para c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830), segundo a progressão da perda auditiva.

Os indivíduos que se mostraram heterozigotos para a mutação c.35delG/GJB2 também tiveram suas amostras testadas para as deleções del(GJB6-D13S1830) e del(GJB6-D13S1854) no gene da conexina 30 (GJB6). Apenas um indivíduo se mostrou também heterozigoto para a del(GJB6-D13S1830) e suas características foram apresentadas no Quadro 3 (Tabelas 31 e 32 e Figura 35).

Tabela 31- Análise molecular para a mutação del(GJB6-D13S1830) nos oito indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2.

Análise molecular para mutação del(GJB6-D13S1830) Total

Homozigotos 0 Heterozigotos 1

Ausência da mutação 7

Resultados 112

Tabela 32- Análise molecular para a mutação del(GJB6-D13S1854) nos oito indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2.

Análise molecular para mutação del(GJB6-D13S1854) Total

Homozigotos 0 Heterozigotos 0 Ausência da mutação 8 Total 8 0% 13% 87% Homozigotos Heterozigotos Ausência da mutação

Figura 35. Distribuição percentual dos indivíduos segundo a análise molecular para a mutação del(GJB6-D13S1830) nos oito indivíduos heterozigotos para c.35delG/GJB2.

A família que apresentou heterozigose composta foi a de número 09 (indivíduo 901), a mesma em que o pai do probando (indivíduo 903) também foi heterozigoto para mutação c.35delG/GJB2. Este não apresentou nenhuma das deleções analisadas no GJB6.

Foram testadas, ainda, 21 amostras de indivíduos, com perda auditiva, aleatórios sem a mutação c.35delG, a fim de se identificarem as deleções no GJB6 e nenhuma mutação foi encontrada nessas amostras.

Resultados 113

III:1 III:2

II:1 II:2

III:3

2

III:4 III:5 III:6

IV:8 IV:9 IV:11

IV:7

IV:1 IV:2 IV:3 IV:4 IV:5 IV:6

V:1 V:2 I:1 I:2 II:3 II:4 V:3 IV:10 V:4 V:5 IV:12 V:6 5.3 Descrição das Famílias que apresentaram as mutações

c.35delG/GJB2 e del(GJB6-D13S1830) Família 03

A família 03 apresentou seis indivíduos acometidos por perda auditiva, além do probando, sendo eles tios maternos e primos de segundo grau do mesmo, como mostrado no heredograma na Figura 36.

Figura 36. Heredograma da família 03.

O probando (V-2) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau profundo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, esta foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, e o indivíduo apresentou um genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Entre seus

Resultados 114

parentes relacionados no heredograma, apenas três realizaram exames audiológicos para comprovação da perda auditiva informada. O indivíduo IV-5 mostrou perda auditiva sensorioneural de grau severo e os indivíduos IV-9 e IV-11 mostraram perda auditiva sensorioneural de grau moderado. Todos foram considerados com perda auditiva de etiologia autossômica recessiva. Essa família apresentou um casamento consanguíneo (III-5 x III-6), com forte sugestão para o diagnóstico de herança autossômica recessiva. Não foi comprovada, por meio de exame, a perda auditiva dos parentes IV-2 (já falecido) e IV-7 (recusa em comparecer), informada pela mãe do probando. Os pais do probando (indivíduos IV-3 e IV-4) não referiram queixas auditivas e tiveram exames audiológicos normais. A esposa (IV-6) do tio (IV-5) do probando mostrou, por meio de exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau profundo, caracterizada como sendo de etiologia ambiental por meningite aos quatro anos de idade, referida pela própria.

As informações audiológicas dos indivíduos IV-5, IV-9 e IV-11 estão dispostas no Quadro 4. O indivíduo IV-6 foi considerado portador de perda auditiva decorrente de meningite e, portanto, seus dados audiométricos não foram considerados importantes.

Quadro 4: Características dos familiares, acometidos, do probando da família 03 segundo o gênero e as manifestações da perda auditiva.

Familiares Características dos familiares

IV-5 IV-9 IV-11

Gênero Masculino Feminino Feminino

Época de aparecimento da perda

auditiva Pré-lingual Pré-lingual Pré-lingual

Tipo da perda auditiva Sensorioneural Sensorioneural Sensorioneural

Grau da perda auditiva Severo Moderado Moderado

Simetria da curva audiométrica Simétrica Simétrica Simétrica

Lateralidade da perda auditiva Bilateral Bilateral Bilateral

Forma da curva audiométrica Plana Plana Plana

Resultados 115

I:3

III:3

II:4 II:5

III:5

III:1 III:7 III:8

I:1 II:2 II:3 2 II:1 5 I:4 I:2 III:2 IV:2 IV:1 III:4 III:6 IV:3 Família 09

A família 09 apresentou dois indivíduos acometidos pela perda auditiva, além do probando, sendo eles seu pai e sua irmã, vide heredograma na Figura 37.

Figura 37. Heredograma da família 09.

O probando (III-3) e sua irmã (III-5) mostraram, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau profundo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva. Tanto o probando (III-3) como sua irmã (III-5) apresentaram filhos normouvintes sem comprovação audiológica. O pai do probando (II-4) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau leve e etiologia autossômica recessiva. A mãe (II-5) é referida como normouvintes, o que foi comprovado por meio de exame audiológico.

Resultados 116

A análise molecular mostrou que o probando (III-3) e seu pai (II-4) apresentaram um genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. O probando também apresentou a mutação del(GJB6- D13S1830).

As informações audiológicas dos indivíduos II-4 (pai do probando) e III-5 (irmã do probando) estão dispostas no Quadro 5.

Quadro 5: Características dos familiares acometidos do probando da família 09 segundo o gênero e as manifestações da perda auditiva.

Familiares Características dos familiares

II-4 III-5

Gênero Masculino Feminino

Época de aparecimento da perda auditiva Pós-lingual Pré-lingual

Tipo da perda auditiva Sensorioneural Sensorioneural

Grau da perda auditiva Leve Profundo

Simetria da curva audiométrica Simétrica Simétrica

Lateralidade da perda auditiva Bilateral Bilateral

Forma da curva audiométrica Plana Plana

Resultados 117

IV:2

III:1 III:2

IV:6

II:1 II:2 II:3 II:4

I:1 I:2

IV:1 IV:3

V:1 V:2

IV:4 IV:5 IV:7

V:3

Família 108

A família 108 apresentou dois indivíduos acometidos pela perda auditiva, além do probando, sendo eles, irmão e cunhada do probando. Seus pais eram primos de primeiro grau. O heredograma está apresentado na Figura 38.

Figura 38: Heredograma da família 108.

O probando (IV-2) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau severo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo homozigoto

Resultados 118

para a mutação c.35delG/GJB2. Seus pais (III-1 e III-2), primos de primeiro grau, e seus filhos (V-1 e V-2) foram referidos como normouvintes sem comprovação audiológica. Não há registro das informações audiológicas dos indivíduos IV-6 e IV-7.

Resultados 119

III:7 II:2 II:3

III:1 III:3 III:5

I:1 I:2 I:3 I:4

II:4 6 II:1

5

III:8 III:9 III:11 III:12

IV:9 IV:10 IV:5 IV:6 IV:4 V:1 V:2 IV:7 IV:1 4 III:2 III:4 IV:2 3 III:6 IV:3 2 III:10 IV:8 2 Família 111

A família 111 apresentou um indivíduo acometido pela perda auditiva, além do probando, sendo ele seu irmão. Vide heredograma na Figura 39.

Figura 39: Heredograma da família 111.

O probando (III-7) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau moderado/severo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Os filhos do probando (IV-5 e IV-6) bem como seus netos (V-1 e V-2) foram referidos como normouvintes, sem comprovação audiológica. Não há registro das informações audiológicas do indivíduo III-11.

Resultados 120 III:1 II:3 II:2 III:2 I:1 I:2 II:1 6 II:4 II:5 III:4 III:3 III:5 I:4 I:3 II:6 3 Família 119

A família 119 apresentou apenas um indivíduo afetado, além do probando, sendo ele seu primo. Vide heredograma na Figura 40.

Figura 40. Heredograma da família 119.

O probando (III-4) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau severo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo homozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Os pais do probando (II-4 e II-5), seus irmãos (III-3 e III-5), os pais de seu primo (II-2 e II-3) e a irmã de seu primo (III-1) são referidos como normouvintes sem comprovação audiológica. Não há registro das informações audiológicas do indivíduo III-2.

Resultados 121 I:1 I:2 II:1 2 II:2 II:3 I:3 I:4 II:5 4 II:4 4 III:1 III:2 Família 132

A família 132 apresentou apenas o probando acometido pela perda auditiva. Vide heredograma na Figura 41.

Figura 41. Heredograma da família 132.

O probando (III-1) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau profundo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Seus pais (II-2 e II-3) bem como sua irmã (III-2) são referidos como normouvintes, sem comprovação audiológica.

Resultados 122 II:1 II:2 III:1 6 III:2 III:3 II:4 II:3 III:4 6 I:1 I:2 II:5 II:6 III:6 III:5

IV:3 IV:4 IV:5

IV:1 IV:2

III:7

Família 133

A família 133 apresentou dois indivíduos acometidos pela perda auditiva, além do probando, sendo eles seus primos de terceiro grau. Vide heredograma na Figura 42.

Figura 42. Heredograma da família 133.

O probando (IV-2) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau moderado e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Não há registro das informações audiológicas dos indivíduos IV-4 e IV-5, bem como dos pais do probando (III-2 e III-3), que foram referidos como normouvintes.

Resultados 123 I:1 I:2 II:1 2 II:2 II:3 I:3 I:4 II:4 2 III:1 III:2 Família 135

A família 135 apresentou apenas o probando acometido pela perda auditiva, vide heredograma na Figura 43.

Figura 43. Heredograma da família 135.

O probando (III-2) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau moderado e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Seus pais (II-2 e II-3) bem como seu irmão (III-1) foram referidos como normouvintes, sem comprovação audiológica.

Resultados 124 I:1 I:2 II:1 7 II:3 II:2 III:1 II:4 I:3 I:4 II:5 III:2 III:3 Família 140

A família 140 apresentou também apenas o probando acometido pela perda auditiva, vide heredograma na Figura 44.

Figura 44. Heredograma da família 140.

O probando (III-3) mostrou, no exame audiológico, perda auditiva sensorioneural de grau severo e, pela análise do heredograma construído a partir de informação familiar, foi caracterizada como sendo de etiologia autossômica recessiva, apresentando genótipo heterozigoto para a mutação c.35delG/GJB2. Seus pais (II-3 e II-4), bem como sua meia-irmã (III-1) e seu irmão (III-2) foram referidos como normouvintes, sem comprovação audiológica.

Discussão 126

O objetivo do presente trabalho foi realizar um estudo epidemiológico da prevalência da mutação c.35delG/GJB2 como provável causa de perda auditiva, em indivíduos com perda auditiva possivelmente autossômica recessiva e não sindrômica, além de indivíduos com causas desconhecidas de perda auditiva. No decorrer do estudo, verificou-se a necessidade da avaliação das principais deleções no gene GJB6 naqueles pacientes que se mostraram heterozigotos para a primeira mutação, a fim de se explicarem as diferenças fenotípicas encontradas em relação aos genótipos conhecidos até então. Esse registro possibilita a discussão dos prováveis diagnósticos de perda auditiva de origem genética e permite que se pense em um aconselhamento genético adequado a essas famílias.

Dentre as famílias avaliadas, 84% aparentaram ter causa genética de perda auditiva, número bem maior que o encontrado na literatura, que refere serem de origem genética cerca de 50% das perdas auditivas congênitas (Tekin et al., 2001; Morton, 1991). Talvez o fato deste estudo não ter considerado exclusivamente as perdas auditivas congênitas e ter incluído os indivíduos com perda auditiva de manifestação pós-lingual e familiares com perda auditiva pré-lingual e provável herança autossômica recessiva, explique essa diferença.

Entre as famílias arquivadas, com perda auditiva de origem genética, foram selecionadas para o estudo 87% delas, incluindo aquelas com perdas auditivas herdadas por provável caráter autossômico recessivo e as de causas desconhecidas. A literatura mostra que as perdas auditivas congênitas, genéticas, não sindrômicas e de caráter autossômico recessivo representam 80% de todas as genéticas (Kokitsu-Nakata et al., 2004), bem próximo do percentual encontrado neste estudo, que se mostrou pouco maior por incluir também as causas desconhecidas. Apenas 16% das famílias demonstraram ter causas ambientais relacionadas à perda auditiva, número bem inferior ao da literatura que considera essas etiologias em

Discussão 127

torno de 50% entre as perdas auditivas congênitas. Mais uma vez, o fato de não terem sido consideradas as perdas auditivas apenas congênitas pode explicar essa alteração.

Entre as causas ambientais de perda auditiva houve o predomínio de meningite, com 37,5% dos casos. Este número tende a diminuir com a inserção das vacinas contra pneumococo e meningococo no calendário nacional, desde 2010. A rubéola congênita apareceu em apenas 8% dos casos, o que já pode ser reflexo da exaustiva campanha de conscientização e vacinação contra essa doença, principalmente em mulheres em idade fértil.

Apenas dez famílias apresentaram-se sindrômicas, entre as 154 estudadas, número muito reduzido em relação à literatura. Isso pode ser explicado pelo fato de que esses indivíduos dificilmente procuram o serviço de saúde exclusivamente para investigar e tratar a perda auditiva, já que geralmente são acompanhados por um serviço de genética e as famílias deste estudo partiram de um Ambulatório de Otorrinolaringologia.

A maioria dos casos selecionados (56%) mostrou recorrência familiar, como no estudo de Kokitsu-Nakata et al. (2004). O número de casamentos consanguíneos (nove, entre as famílias estudadas) pode ter contribuído para elevar esta taxa.

Analisando os indivíduos com informações audiométricas, 54% eram do gênero feminino, concordando com Kokitsu-Nakata et al. (2004) e discordando de estudos anteriores que mostraram a prevalência da perda auditiva não sindrômica entre homens.

A maioria deles (69%) apresentou perda auditiva de aparecimento pré-lingual, corroborando a literatura (Kokitsu-Nakata et al., 2004).

Também de acordo com a literatura, a maioria (96%) apresentou perda auditiva sensorioneural (Kokitsu-Nakata et al., 2004). As perdas mistas mostraram ser pós-linguais em sua maioria (60%) e 40% delas apresentaram caráter progressivo. A perda condutiva foi considerada

Discussão 128

neste estudo porque o indivíduo acometido apresentou um irmão com perda sensorioneural. Mostrou-se também progressiva, podendo evoluir para perda mista ou até sensorioneural com o passar dos anos. Homøe et al. (2012) identificaram um indivíduo com perda auditiva mista heterozigoto para c.35delG.

Segundo Lefebvre e Van de Water (2000), o grau da perda auditiva de um indivíduo não pode ser previsto baseado na mutação existente ou ainda no grau de perda auditiva dos outros membros da família. A perda auditiva pode variar de grau moderado a severo, o que causa intensidade muito variada de comprometimento social. Isso dificulta o aconselhamento genético. Concordando com isto, Resendes et al. (2001) também afirmaram que o grau de perda auditiva de caráter autossômico recessivo pode variar de leve a profundo; o que pôde ser observado neste estudo. Todos os graus foram constatados, com predomínio do grau profundo (50%), seguido do severo (26%), moderado (15%) e por fim o leve (1%). A simetria, em relação ao grau da perda auditiva, também acompanhou a literatura (92%). Carlsson et al. (2012) também encontraram 87% dos casos com perda auditiva sensorioneural não sindrômica com graus variando de severo a profundo, na Suécia. O único caso homozigoto para c.35delG, encontrado na Groelândia por Homøe et al. (2012), apresentou perda auditiva sensorioneural de grau profundo. Entre os indivíduos homozigotos para mutações no gene GJB2, Lipan et al. (2011) encontraram 85% deles com perdas auditivas de graus severo a profundo; já entre os indivíduos heterozigotos para tais mutações, 38% deles apresentou os mesmos graus de perda auditiva.

Em 96% dos casos, o acometimento pela perda auditiva foi bilateral, concordando também com a literatura corrente (Kokitsu- Nakata et al., 2004).

A forma da curva audiométrica da perda auditiva também não é padronizada nesses tipos de perda e neste estudo observou-se

Discussão 129

predominância da forma plana (77%), seguida da descendente (20%). As formas ascendente e de “U” invertido foram minoria e a forma de “U” não foi observada. Dois indivíduos apresentaram formas distintas nas orelhas, tendo uma orelha forma da curva audiométrica plana e a outra descendente nos dois casos.

Ainda de acordo com a literatura, 86% das perdas auditivas mostraram-se estáveis (Kokitsu-Nakata et al., 2004). Battelino et al. (2012) postularam que o genótipo não pode ser usado para diferenciar perdas auditivas progressivas de não progressivas. Já Chan et al. (2010) concluíram que a perda auditiva progressiva entre indivíduos com mutações no gene GJB2 não é tão incomum e sugeriram acompanhamento audiométrico rigoroso entre esses pacientes.

Pfeilsticker et al. (2004) não encontraram correlação entre a mutação específica c.35delG e a severidade ou progressão da perda auditiva. Entre os quatro indivíduos com tal mutação encontrados em seu estudo, os homozigotos apresentaram perda auditiva sensorioneural bilateral severa desde a infância. Já os heterozigotos, apresentaram perda auditiva sensorioneural bilateral moderada ou severa, sendo um caso congênito e o outro surgindo por volta dos sete anos, sendo este progressivo. No presente estudo, os homozigotos para c.35delG também apresentaram perda auditiva sensorioneural bilateral severa pré-lingual e todos os heterozigotos demonstraram perda auditiva sensorioneural e bilateral. O grau variou de leve a profundo, predominando o profundo (37%). A época de aparecimento foi pré- lingual em 62% dos casos, mostrando também perdas auditivas pós- linguais, como no estudo comparado. A maioria das perdas auditivas (62%) mostrou-se não progressiva, mas também como no estudo comparado, apareceram perdas pós-linguais progressivas.

Pfeilsticker et al. (2004) relataram, ainda, que tanto os heterozigotos como homozigotos apresentaram irmãos com o mesmo fenótipo. Os autores consideraram que homozigotos para a mutação

Discussão 130

c.35delG têm alta incidência de perda auditiva pré-lingual, sendo que aproximadamente 30% terão perda auditiva severa e outros 30 a 57% profunda. No corrente estudo, 100% dos homozigotos apresentaram

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