• Nenhum resultado encontrado

2. AS CAUSAS DO BAIXO DESEMPENHO DISCENTE: ANALISANDO

2.4 Características das Escolas Eficazes: elementos para

Inicialmente, é preciso recobrar que Soares (2007) não descarta a influência da família e da comunidade dos estudantes no seu desempenho; ao contrário, o autor expõe que, segundo modelo estudado por pesquisadores da Nova Zelândia, o impacto desses atores sociais se manifesta por meio de muitos canais, como padrão genético dos pais, educação, ocupação e efeitos do ambiente social que frequentam. No entanto, esses fatores ainda não foram isolados de forma convincente na análise do desempenho discente. Dessa forma, Sores vem destacar que o papel da escola é mudar essa trajetória de desempenho preestabelecida pela sociedade para determinados alunos, ideia na qual reside o efeito-escola.

Comparando resultados de alunos de escolas que atendem a populações de nível socioeconômico semelhante em Minas Gerais, e que participaram do Simave – projeto de avaliação do desempenho cognitivo que utiliza a mesma escala do SAEB para mensurar os resultados –, Soares (2007) identificou importantes indicações a respeito do efeito da escola sobre o desempenho discente. Verificou que essas escolas apresentaram resultados que diferem em até 60 pontos, correspondendo a mais de dois anos de escolarização, o que leva a constatar que melhorias substanciais podem ser empreendidas pelas escolas através de políticas e práticas escolares que visem à melhoria no aprendizado desses sujeitos.

Portanto, para trabalhar com as ideias mostradas nos estudos sobre o e efeito-escola diante dos baixos índices alcançados nas avaliações externas pela unidade escolar investigada, foi necessário identificar as suas características e os direcionamentos que elas suscitam para a gestão escolar. Destaca-se, ainda, que esses elementos vêm ao encontro da necessidade de se melhorar o desempenho acadêmico dos estudantes, principalmente nas suas competências cognitivas de leitura, escrita e matemática, que se encontram em níveis não adequados para a faixa etária a qual pertenciam, diagnosticados pela Prova Brasil e SARESP.

Um dos primeiros elementos trata da estrutura definidora da escola, que se concretiza através de uma rotina organizacional em que a liderança, os processos, os recursos e as parcerias, além da cultura estabelecida e do projeto pedagógico elaborado coletivamente, estejam funcionando bem. Na escola pesquisada essa rotina ainda não se concretizou pela rotatividade da gestão escolar.

A partir de Soares (2007), sabe-se que os elementos que devem estar presentes em uma instituição de ensino para que ela seja eficaz são: 1- direção; 2 - visão e metas compartilhadas; 3 - ambiente de aprendizagem; 4 - concentração no ensino/aprendizagem; 5 - ensino estruturado; 6 - altas expectativas; 7 - reforço positivo; 8 - monitoramento; 9 - direitos e responsabilidades dos alunos; 10 - parceria escola/família e 11 - organização voltada para aprendizagem.

Eles nortearão a elaboração do Plano de Ação Educacional para a unidade de ensino investigada, com a contribuição do relatório "Características das Escolas Eficazes" (WISCONSIN, 2000), que traz como elementos-chave de uma escola eficaz sete dos 11 fatores apontados por Soares. A contribuição desse documento é fundamental porque, além da identificação dos elementos-chave, apresenta a sua descrição e os princípios envolvidos em cada um, além de ser uma ferramenta de reflexão a respeito das ações a serem implementadas.

Relacionando os dados da pesquisa com os elementos-chave, os fatores apontados pelas observações e as entrevistas, pode-se destacar a falta de consolidação de uma gestão escolar na unidade investigada, o que remete ao primeiro elemento. Nessa direção, Soares expõe o papel fundamental da gestão em administrar o projeto pedagógico da escola, as pessoas que constituem a comunidade escolar e os aspectos físicos e financeiros da organização de ensino, voltando-os a um só objetivo.

Sem a liderança necessária, os outros elementos ficaram comprometidos, especialmente o segundo, que se refere à visão e às metas compartilhadas. Como já afirmado anteriormente, na escola objeto deste estudo, os autores não participaram da elaboração de projetos ou planos de ações.

O não conhecimento e compartilhamento de metas e objetivos comprometem a estruturação do ensino e o favorecimento de um ambiente de aprendizagem, pois falta clareza dos objetivos da escola. Quando os professores relacionaram fatores extraescolares como causas do baixo desempenho e, ainda, relataram que faltava orientação para o trabalho com essa comunidade específica, pode-se inferir que a culpabilização por fatores externos desvia a atenção do cerne da questão. Tal fato compromete o direcionamento do trabalho pedagógico a uma concentração no ensino/aprendizagem, nas altas expectativas e no reforço positivo.

A gestão escolar, na maioria das vezes, não acompanhava as reuniões de Conselho de Ciclo, conforme demonstrado nas entrevistas. Nesses momentos, seria

fundamental que as reflexões se concentrassem no papel fundamental da escola em analisar e monitorar os resultados para buscar ações efetivas a fim de melhorar o desempenho. No entanto, as discussões se desviavam para questões externas, prejudicando as reflexões sobre monitoramento da aprendizagem.

A parceria escola/família está em construção, segundo alguns entrevistados, mas o diálogo não está claro, pois os pais não têm conhecimento da real situação da escola quanto ao ensino oferecido.

Assim, o último elemento, a organização voltada para a aprendizagem subjazendo o fortalecimento da equipe e da cultura da escola voltada para esse fim, requer a efetivação da participação e do envolvimento de todos na construção de uma escola eficaz, sendo um pedido implícito dos atores quando se reportaram nas suas falas ao fortalecimento da equipe e ao apoio aos docentes e aos discentes.

Deve-se também voltar-se à questão da equidade, referenciada em López (2005), que prevê ações para discriminar positivamente estudantes de contextos menos favorecidos, visto que a realidade em que a unidade escolar está inserida requer políticas escolares que atuem no sentido de garantir a eles, mesmo partindo de patamares diferentes, os mesmos resultados no desempenho acadêmico.

Considerando o estudo realizado e as características apontadas, os elementos presentes nas escolas eficazes nos quais esta pesquisa se deteve serviram como ponto de partida para coadunar as causas do baixo desempenho discente na Escola Esperança. Tais fatores foram importantes porque possibilitaram analisar as questões extras e intraescolares, apontadas pelos entrevistados na pesquisa, conjugadas à literatura sobre a temática da melhoria da qualidade de ensino.

Das observações realizadas, propõe-se, no próximo capítulo, um Plano de Ação Educacional, com vistas ao desenvolvimento de estratégias de intervenção voltadas à busca pela melhoria dos resultados no desempenho discente, para as quais serão utilizadas as contribuições trazidas pelo relatório de Wisconsin (2000) sobre os elementos e sua aplicabilidade.

3. PLANO DE AÇÃO EDUCACIONAL: POLÍTICAS ESCOLARES PARA TORNAR