Características das escolas eficazes

As pesquisas sobre eficácia escolar têm crescido desde a década de 1960 e prosperaram durante os anos de 1980 e de 1990. Elas se tornaram mais sofisticadas em relação às técnicas e aos tipos de dados utilizados (GOLDSTEIN & WOODHOUSE, 2008, p. 411). Tanto as pesquisas nacionais quanto internacionais têm apontado para uma diversidade de elementos que se relacionam com a eficácia escolar. Edmonds (1979) apud Nóvoa (2011), num trabalho pioneiro, descreveu cinco fatores de eficácia das escolas:

A liderança da escola e a atenção à qualidade do ensino, um enfoque nos aspectos acadêmicos, um clima de trabalho propício ao ensino e à aprendizagem, expectativas elevadas dos professores em relação ao sucesso dos alunos e a utilização dos resultados dos alunos como base de avaliação dos programas. (EDMONDS, 1979 apud NÓVOA, 2011, p. 22- 23).

Um dos mais importantes trabalhos sobre Escolas Eficazes foram desenvolvidos por Sammons, Hillman e Mortimore (1994), que organizaram os fatores de eficácia em forma de tabela contendo onze características-chave, a partir da análise de 160 pesquisas publicadas nos Estados Unidos, na Inglaterra, Holanda e outros países europeus; realizando um “Estado da Arte”, ao resumir os conhecimentos disponíveis sobe os fatores do tema da eficácia ligada ao ensino (POLON, 2009, p. 91).

A obra produzida serviu de referência para trabalhos posteriores. No entanto, foi motivo de controvérsias e críticas devido à tentativa do governo britânico de apropriação mecânica e rápida dos dados e resultados apontados pela pesquisa (BROOKE & SOARES, 2008, p. 11). Os autores alertam que

Estes fatores não devem ser considerados independentemente um do outro, e chamamos a atenção para várias associações entre eles que podem ajudar a fornecer um melhor entendimento de prováveis mecanismos de eficácia. Nossa lista não tem intenção de ser exaustiva, mas sim de fornecer um resumo relevante de evidência de pesquisa que, esperamos, possa fornecer um background útil para aqueles preocupados em promover a eficácia e melhoramento da escola, e os processos de auto-avaliação e monitoramento da escola. (MORTIMORE & HILLMAN apud BROOKE & SOARES, 2008, p. 390).

As características-chave elencadas pelos autores estão no quadro 4.

Quadro 4 – Onze fatores para escolas eficazes

1. Liderança profissional

Firme e objetiva

Um enfoque participativo Um profissional que lidera 2. Objetivos e visões compartilhadas

Unidade de propósitos Prática consistente

Participação institucional e colaboração

3. Um ambiente de aprendizagem Um ambiente ordenado _{Um ambiente de trabalho atraente}

4. Concentração no ensino e na aprendizagem Maximização do tempo de aprendizagem Ênfase acadêmica Foco no desempenho

5. Ensino e objetivos claros

Organização escolar Clareza de propósitos Aulas bem estruturadas Ensino adaptável

6. Altas expectativas Altas expectativas em geral Comunicação de expectativas

Fornecimento de desafios intelectuais

7. Incentivo positivo Disciplina clara e justa

Feedback

8. Monitoramento do progresso Monitoramento do desempenho do aluno _{Avaliação do desempenho da escola}

9. Direitos e responsabilidades do aluno

Aumentar a autoestima do aluno Posições de responsabilidade Controle dos trabalhos

10. Parceria casa-escola Envolvimento dos pais na aprendizagem de seus filhos

11. Uma organização orientada à aprendizagem Desenvolvimento de pessoal baseado na escola

Fonte: SAMMONS (2008).

Juntamente com a ideia expressa pelos autores de que a eficácia de uma escola não é fruto de uma combinação simples de fatores, também os resultados das pesquisas não poderiam ser diretamente transmissíveis para outros contextos, uma vez que as escolas possuem características singulares e são bastante dinâmicas, o que as tornam instituições de grande complexidade. Nesse sentido, Brito (2009, p. 24) alerta que a utilidade das conclusões das

pesquisas sobre eficácia escolar, tende a ser sempre limitada por corresponder a um contexto específico, sendo, portanto, particular de cada escola.

O estudo comparativo feito por Townsend (1997) apud Pacheco (2008, p. 32-35) entre escolas da Austrália e dos Estados apontaram dezessete itens de eficácia escolar que muito se aproximam dos itens elencados por Sammons. Os elementos são: I) Propósito escolar claro (programa de ação escolar); II) Liderança acadêmica e administrativa; III) Quadro de funcionários (corpo docente) dedicado e qualificado; IV) Desenvolvimento do quadro de funcionários; V) Altas expectativas; VI) Foco acadêmico no currículo; VII) Tempo efetivamente gasto com a tarefa escolar (Time on task); VIII) Monitoramento do progresso dos estudantes; IX) Identificação antecipada de dificuldades de aprendizagem; X) Ambiente seguro e ordenado; XI) Clima escolar positivo; XII) Relações família-escola; XIII) Escola baseada no processo de tomada de decisões; XIV) Os professores são responsáveis e envolvidos com o planejamento escolar; XV) Apoio da autoridade educacional responsável; XVI) Estratégias motivacionais positivas; XVII) Oportunidades para o envolvimento e a responsabilidade dos estudantes.

Mello (1994), sintetizando as características das escolas eficazes apontadas pela revisão realizada por Purkey & Smith (1983) de estudos com diferentes delineamentos de pesquisa sobre eficácia escolar, afirma:

(...) As escolas eficazes valorizam o desempenho acadêmico, principalmente nas disciplinas básicas do currículo, para as quais estabelecem objetivos de aprendizagem claros e bem definidos. Seus profissionais apostam na capacidade dos alunos de atingir esses objetivos e realizam um contínuo acompanhamento do progresso de cada aluno. São escolas que possuem um ambiente ordenado e voltado, predominantemente para as atividades de ensino- aprendizagem, às quais dedicam mais tempo que escolas consideradas pouco eficazes. (MELLO, 1994, p. 18).

A repetição de diversos elementos de eficácia nos achados dos diferentes autores citados sinaliza sua relevância, o que parece ser imperativo também verificar sua incidência nas pesquisas sobre eficácia escolar nos diferentes contextos. A tentativa foi de facilitar a compreensão do tema e verificar os elementos que possuem maior concordância ou incidência entre

diferentes autores e contextos, além daqueles fatores de eficácia pouco elencados.