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CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DO ENVELHECIMENTO

Conhecer e entender o envelhecimento populacional, sua evolução é condição premente na sociedade contemporânea, decorrente da sua interferência no envelhecimento pessoal e social, e da sua responsabilidade no insucesso das políticas públicas, que afetam e repercutem no envelhecimento humano. Desde então, vê-se o quanto é importante e se faz necessário, conhecer o causador desse transtorno.

Mundialmente, o século XXI está assinalado por significativas modificações na composição populacional decorrente do crescimento elevado do contingente de idosos. O crescimento populacional se encontrava em acelerado crescimento até a década de 1940,

decorrente da redução na mortalidade infantil e hoje, depara-se com outra realidade, o seu declínio.

Nos países desenvolvidos, a redução da mortalidade promoveu o início da transição demográfica, consequente aos avanços científicos e tecnológicos na área de saúde, na área da alimentação e nos programas de saúde no controle das infecções (CAMARANO, 2004). Nos países em desenvolvimento como o Brasil, a mortalidade começou a cair após no final da 2ª Guerra Mundial, com o advento dos antibióticos e surgimento das vacinas (NERI, 1995), conforme o Gráfico 1; especialmente a do grupo infantil. Esse fato, fez com que os nascidos na década de 1940, ultrapassassem a barreira da mortalidade infantil pelo controle das doenças infecciosas e começaram a se tornar adultos (CHAIMOWICZ; CAMARGOS, 2012, p. 34). Esse grupo representa os idosos de hoje.

Gráfico 1 - Taxa de mortalidade no Brasil de 1940-1999

Fonte: IBGE (2013)

A redução da mortalidade infantil aliada à alta fecundidade produziu um crescimento significativo da população brasileira no período 1950-1970, principalmente devido à população de jovens (baby boom). Em de 1940, a população brasileira que era de 41.165.289 habitantes passa a ser em 2010, de 190. 732.694 habitantes (SANTOS, 2011).

Freitas (2006) refere que o Brasil após a década de 1960, com o aumento da população urbana e o advento dos anticonceptivos, fatores estes, que favoreceram significativamente, a redução da taxa fecundidade e a redução da população de jovens (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Taxa de fecundidade total (regiões do Brasil, Suécia e Inglaterra) 1900-2000 filhos por mulher

Fonte: Wong e Carvalho (2006)

O gráfico acima demonstra como ocorreu à evolução da fecundidade do povo brasileiro. Pode-se observar que após 1970 houve uma queda acentuada da fecundidade, circunstância que foi associada à redução da mortalidade e que vinha ocorrendo, esses foram os responsáveis pelo aumento do número de idosos. É importante observar que a fecundidade nas mulheres em algumas regiões do Brasil está abaixo do necessário para a reposição populacional. Sintetizando, hoje nasce menos, entretanto, vive-se mais. Realidade esta, que leva a redução da população de jovens e o aumento da população dos idosos.

Assim, observa-se que em 25 anos houve um declínio significativo na taxa de fecundidade acerca da sua metade, enquanto países como Suécia e Inglaterra levaram 60 anos para ocorrer a mesma modificação, um período de tempo suficiente para adequarem seus recursos econômicos e enfrentarem a nova realidade, fato não observado no Brasil. Porquanto, os países desenvolvidos se tornaram ricos antes de envelhecer, os países em desenvolvimento estão envelhecendo antes de obterem um aumento substancial em sua riqueza (KALACHE; KELLER, 2000 apud ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005; WONG; CARVALHO, 2006). Esse acontecimento é indicador, que os países em desenvolvimento terão maiores dificuldades para superação desse problema.

O aumento da população idosa é um acontecimento universal, entretanto, está ocorrendo de forma mais significativa nos países em desenvolvimento como demonstrado no Gráfico 3.

Gráfico 3 – População idosa no mundo (1960-2020)

Fonte: WHO Scientific Group on the Epidemiology of Aging (1997)

A partir do gráfico acima, verifica-se que desde 1960 os países em desenvolvimento possuem um contingente maior de idosos que os países desenvolvidos e as projeções estatísticas referendam que continuará cada vez mais acentuada essa diferença.

Desta forma, a longevidade está a intervir na mudança do perfil etário do brasileiro, que hoje, já começa a envelhecer (Gráfico 4), e que segundo os dados do IBGE (2011), verifica-se: não consta lista de referências. Identificar

[...] o crescimento absoluto da população do Brasil nestes últimos dez anos chegou aos 190.732.694 habitantes em 2010 e se deu principalmente em função do crescimento da população adulta e o declínio no grupo de pessoas com menos de 20 anos, que apresentaram uma diminuição absoluta no seu contingente.

Nesse sentido, constata-se então, uma redução no número dos jovens menores de 20 anos, aumento dos adultos e de idosos de 60 anos e o aumento do contingente de idosos acima de 70anos (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Pirâmides etárias 1960, 2000 e 2010: evolução da população brasileira ao longo dos anos e sua

distribuição etária

Fonte: IBGE (2013b)

Alterações percebidas pela evolução do percentual dos idosos ao longo dos anos que em 1960 representava 4,7% da população, em 2000 8,5 % da população e em 2010 passa a ser de 10,8 %, números que mostram seu progressivo aumento.

Camarano (2004, p. 26), ao analisar a população idosa brasileira diz que:

[...] o crescimento da população idosa é consequência de dois processos: alta fecundidade no passado observada nos anos 1950 e 1960, comparada a fecundidade de hoje, e a redução da mortalidade da população idosa. Por outro lado, a queda da fecundidade modificou a distribuição etária da população brasileira, fazendo com que a população idosa passasse a ser um componente cada vez mais expressivo dentro da população total, resultando no envelhecimento pela base.

A visão de Gomes (1994) para justificar o aumento dos idosos na população é mais holística ao dizer ser esse decorrente: do aumento da vida média da população (estimativa de vida), do advento das vacinas usadas principalmente no grupo infantil, da profilaxia do câncer especialmente nas mulheres, da redução das doenças profissionais resultado do desempenho da medicina do trabalho e do planejamento familiar.

Um país é avaliado pelo seu contingente populacional de idosos, classificando-se em: país jovem quando o percentual de idosos não ultrapassa os 7% da população total e país envelhecido quando esta população é superior a 14% (CHAIMOWICZ; CAMARGOS, 2012). Sendo assim, o Brasil que durante muitos anos foi considerado “país jovem”, atualmente

retrata uma realidade diferente, sendo um país em processo de envelhecimento por ter apresentado em 2010 um contingente de 10,8 % de idosos na sua população.

Atualmente, o crescimento populacional se deve, em sua maior parte, a um menor número de pessoas morrendo a cada ano do que a um maior número de pessoas nascendo.

O Centro Internacional de Longevidade Brasil (2015, p. 16) refere que:

O ano de 2050 será um divisor de águas demográfico. Nesse ano: Vinte e um por cento da população mundial estará acima dos 60 anos, comparado com somente 8% em 1950 e 12% em 2013. Haverá mais de dois bilhões de pessoas acima de 60 anos. O número de pessoas acima dos 60 anos irá ultrapassar o número de crianças abaixo dos 15 anos.

Esta nova dinâmica populacional, ocorre devido a redução da mortalidade acompanhada da redução das taxas da fecundidade, que consequentemente leva ao envelhecimento populacional. O processo de envelhecimento da população brasileira pode ser verificado através do índice de envelhecimento (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Evolução do índice de envelhecimento da população ([POP(65+) / POP (0 a 14)] x 100) – Brasil:

1980 a 2050

Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisa. Coordenação de População e indicadores Sociais (2004)

Observa-se que em 2005, para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos, havia 21,9 idosos de 65 anos ou mais de idade. Estima-se que entre 2045 a 2050 a população de idosos supere a das crianças menores de 14 anos. A população brasileira, segundo constatações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2004), cresce numa taxa abaixo de 2,5%, enquanto a de idosos, perto de 5%.

Segundo as projeções do IBGE, admite-se que até 2025 no Brasil a população de idosos terá acumulado o maior crescimento do mundo e representará cerca de 15% de um contingente de 34 milhões e será considerado, o sexto pais mais populoso em idosos do mundo. Ocupando o 6º lugar no ranking mundial em número de idosos só ficando atrás da China, Índia, Estados Unidos, Japão e Indonésia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). Dados que demonstram a importância do conhecer sobre o envelhecimento e como acolhê-lo melhor.

No Brasil, já ocorreram três momentos da transição demográfica representados no (Gráfico 6), que foram: o primeiro com mortalidade e fecundidade elevadas, porém, com predominância da fecundidade; o segundo reduziu-se a mortalidade continuando elevada a fecundidade o que gerou um aumento significativo da população de jovens (chamado baby boomers); e o terceiro momento a redução da mortalidade e da fecundidade e surgindo o envelhecimento populacional.

Gráfico 6 – Características da transição demográfica o Brasil

Fonte: IBGE (2013c)

Na atualidade do Brasil, o contínuo controle da fecundidade pelos anticonceptivos, aliado ao alto custo de vida, fez com que a taxa de fecundidade ficasse inferior a 02 (Gráfico 2) e o crescimento populacional (vegetativo) reduziu. Na 4ª fase os índices de fecundidade e mortalidade se estabilizam, o crescimento populacional é pequeno ou estabilizado. E a 5ª fase é uma interrogação mundial até o momento.

As preocupações do Brasil mudaram antes eram as crianças hoje são os velhos, que em futuro próximo levarão a inversão da pirâmide populacional resultado dos baby boomers

(nascimentos dos filhos após a 2ª guerra mundial) estarem envelhecendo e agora iniciando a fase dos elderly boomers (SANTOS, 2011).

Neste cenário, a Gro Harlem Brundtland (1999 apud ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2005, p. 8) afirma que: “O envelhecimento da população é, antes de tudo uma história de sucesso para as políticas de saúde públicas, assim como para o desenvolvimento social e econômico [...]”.

Este delineamento populacional é um fator de apreensão, pois exige das estruturas governamentais e da sociedade uma maior atenção para esse novo momento social. O envelhecimento populacional e o aumento da longevidade não asseguram uma velhice saudável e bem-sucedida para todos idosos. Nessa mesma linha de pensamento, a do envelhecimento populacional, Elias (2001, p. 92) avisa sobre seus riscos quando diz que:

O amadurecimento da humanidade é um processo difícil. O período de aprendizado é longo, erros graves são inevitáveis e o perigo da autodestruição, da aniquilação de nossas próprias condições de vida, no curso desse processo de aprendizado, é grande.

Desta forma, segundo os escritos de Elias (2001), quanto ao amadurecimento da humanidade, esse faz advertência sobre as dificuldades que surgirão no curso do processo do envelhecimento populacional e dos perigos, que podem levar as condições de vida à situação de irreversibilidade.

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o envelhecimento da população, vem acompanhado de mudanças nas estruturas sociais refletindo diretamente na vida cotidiana de seu povo, na saúde e na economia e representam um grande contratempo que requer solução (NERI, 2012; NERI; YASSUDA, 2013). Não podendo ser esquecido a urgência de medidas que venham minimizar esses efeitos, visto que o envelhecimento populacional no Brasil está caminhando mais rápido que as políticas públicas estão sendo desenvolvidas.

Assim, surgem as incertezas e questiona-se: Como estes idosos irão viver seu término de vida em relação à renda, saúde e autonomia? Quanto ao limite da longevidade, não se sabe até que idade os longevos sobreviverão e quais as suas condições de saúde? Dúvidas que obscurecem as medidas necessárias a serem tomadas. Logo, é preciso entender, esse fato novo na história da demografia brasileira que é o de se estar envelhecendo. Continuando neste rumo, em breve haverá redução da mão de obra dos que trabalham, seguida da diminuição dos que contribuem e aumento dos que dependem (os aposentados).

Estes são os entraves a serem solucionados no momento atual. O governo e a sociedade civil necessitam desenvolver políticas públicas que atendam a demanda desses idosos e assegurem os seus direitos básicos. É de vital importância a implantação de programas que promovam um envelhecimento saudável melhorando: as condições de saúde, a participação social, a segurança dos cidadãos mais velhos, bem como, lhes dê o direito a educação e um futuro digno.

Esta nova configuração demográfica mundial, evidenciada pelo aumento dos idosos, e com suas repercussões é um fenômeno muito expressivo no mundo contemporâneo e representa um problema a ser solucionado no século XXI.

Segundo o Centro Internacional de Longevidade Brasil (2015) a magnitude, a velocidade e o dinamismo da Revolução da Longevidade e seus impactos abrangentes, entretanto, a resposta internacional ainda é preocupantemente tímida.

Apesar, de ser responsabilidade dos governos a promoção de políticas públicas, para a resolução dos problemas da longevidade, o Centro Internacional de Longevidade Brasil (2015, p. 104) chama a atenção ao compromisso de todos os grupos da sociedade ao dizer: “somos partes interessadas no que diz respeito aos resultados. O modelo do Envelhecimento Ativo continua a representar uma estrutura coerente e abrangente para estratégias nos níveis global, nacional, local e individual”

O Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (2015), compreende a longevidade prolongada, como um recurso valioso, uma oportunidade de repensar como todas essas vidas podem se desdobrar em buscar realizar novos projetos e novas paixões. Para tanto, essas oportunidades que surgem estão numa dependência de uma longevidade com boa saúde. Desse modo, necessita-se, de políticas públicas que atendam às necessidades desta população e assim permita um número maior de pessoas, alcançarem este envelhecimento positivo. Portanto, precisa de políticas públicas mais abrangente que tenha suas ações construída sobre o conceito de envelhecimento saudável e considerando que:

a) a idade avançada não implica dependência, embora não existam adultos maiores típicos, a sociedade geralmente as vê de formas estereotipadas, que levam à discriminação. Isso pode levar a uma suposição que os gastos com adultos maiores são simplesmente um dreno na economia e a uma ênfase na contenção de custos, o que não procede como pode ser visto:

b) ignoram-se as muitas contribuições que os adultos maiores podem oferecer para a economia. Contribuições feitas por meio de impostos, gastos de consumidores e outras atividades de valor econômico;

c) além disso, as pessoas mais velhas contribuem de muitas formas menos tangíveis economicamente, por exemplo, fornecendo apoio emocional em momentos de estresse ou aconselhamento em problemas desafiadores;

d) os gastos em sistemas de saúde, retratados como custos, passam a ser um grande investimento;

e) o enfoque social recomendado para abordar o envelhecimento da população, que inclui a meta de construir um mundo favorável aos adultos maiores. Requererá uma transformação dos sistemas de saúde que substitua os modelos curativos baseados na doença pela prestação de atenção integrada e centrada nas necessidades dos adultos maiores. Criando oportunidades acessíveis para o aprendizado e o crescimento ao longo da vida.

Incluir o Envelhecimento Saudável em todas as políticas e em todos os níveis de governo será, portanto, essencial. O uso dessa estratégia nos planos de ação nacionais, regionais, estaduais ou municipais pode ajudar na evolução saudável das pessoas que têm mais de 60 anos. Portanto, uma vida mais longa é um recurso incrivelmente valioso e proporciona a oportunidade de repensar não apenas o que a idade avançada pode ser, mas como todas as nossas vidas podem se desdobrar. Contudo, a amplitude das oportunidades que surgem do aumento da longevidade dependerá muito de um fator fundamental: a saúde (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2015).

Importante se fez conhecer a demografia populacional; o aumento do contingente de idosos; e a visão atual dos rumos das políticas públicas que segundo sugere a Organização Mundial da Saúde (2015) direcionar seu foco a promoção da saúde.

Diante dessa realidade e sabendo-se que para promover saúde tem-se que conhecer a doença, quer dizer, conhecer o envelhecimento e o seu evoluir, as suas alterações biológicas. Em especial, as ligadas ao aprender, aos aspectos referentes ao sistema nervoso central e à cognição, os quais farão parte da abordagem do momento a seguir.