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ENVELHECIMENTO E SUAS ALTERAÇÕES BIOLÓGICAS

Nos últimos anos os avanços do desenvolvimento na área tecnológica e na área da saúde têm levado a um aumento na expectativa de vida da população, ou seja, a preocupação e o interesse com o envelhecimento humano têm aumentado gradativamente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2005, p. 26):

O envelhecimento representa um conjunto de processos geneticamente determinados e pode ser definido como uma deterioração funcional progressiva e generalizada, resultando em uma perda de resposta adaptativa às situações de estresse e um aumento no risco de doenças relacionadas à velhice.

O processo do envelhecimento é multifatorial, acontece em todos os níveis do organismo, do molecular ao fisiológico e morfológico. Tem seu componente genético, que parece influenciar 30% de todo o processo, e que é fortemente modulado pelo ambiente. No caso dos seres humanos, temos ainda os componentes sociais e psicológicos (JECKEL- NETO, 2012).

Para Spirduso (2005, p. 7) “o envelhecimento no homem ocorre com o implacável passar do tempo, começa em todas as células, simultaneamente, ou em sistema diferente, levando a uma capacidade fisiológica limitada pelas mudanças na função dos órgãos e sistemas”. O envelhecimento relaciona-se com o tempo para apoiar ou sequenciar evoluções, comportamentos e expectativas esperadas durante o curso de vida do homem. Oliveira (1999, p. 27) afirma que “todo ser humano fatalmente envelhecerá com o tempo. O tempo sem envelhecimento não é senão um sonho do homem”.

Os processos fisiológicos encontrados durante o envelhecimento acompanham a vida do homem, da mesma forma que o crescimento e desenvolvimento, portanto, inicia-se na concepção, permanece um período silencioso ou pouco perceptível, até aparecerem às primeiras alterações funcionais ou estruturais e morfológicas, que geralmente começam a se apresentar no final da terceira década e tem seu término na morte (OLIVEIRA, 1999; SPIRDUSO, 2005).

Reafirmando esse pensar de que o envelhecimento se inicia na fecundação, cita-se Haddad (1986, p. 26) que diz: “alguns autores afirmam que o envelhecimento inicia-se imediatamente após a fecundação, porque no organismo de um indivíduo inúmeras células envelhecem, morrem e são substituídas antes dele nascer”.

Para outros, fica difícil dizer quando os homens deixam a fase da maturidade e iniciam a sua velhice, não existem evidências específicas e bem definidas dessa passagem. (BEAUVOIR, 1976; NERI, 2012; OLIVEIRA, 1999).

As definições gerais do envelhecimento biológico se referem a uma diminuição de competências fisiológicas e incremento na vulnerabilidade, em que as mudanças ambientais podem aumentar a probabilidade de morte. Tal vulnerabilidade é resultante das progressivas e

complexas modificações (devido às mutações biológicas) desde a composição celular à estrutura e composição dos tecidos, e que leva à diminuição na capacitação dos diversos aparelhos e sistemas orgânicos. Acometimento desigual nos sistemas e aparelhos que está evidenciado pela diversidade nas formas de envelhecer. Alterações que acarretam mudanças psicológicas e sociais (OLIVEIRA, 1999).

Na ótica de de Papaléo Netto (2006, p. 3):

[...] o fenômeno do envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte.

Portanto, Oliveira (1999) e Papaléo Netto (2006) compartilham do mesmo entendimento ao dizer que o envelhecimento é um processo dinâmico que promove alterações morfológicas, fisiológicas e acrescendo, psicológicas e sociais.

As modificações biológicas ocorrem internamente no sistema orgânico e só posteriormente exteriorizam-se mudanças que surgem no cotidiano da vida e refletem-se na aparência do ser humano. Desse modo, as alterações morfológicas reveladas no corpo são as primeiras observadas pelo homem, podendo ser exemplificadas pelo aparecimento das rugas, dos cabelos brancos, das manchas senis, entre outras (OLIVEIRA, 1999). Mudanças morfológicas não perceptíveis num jovem de 20 anos, entretanto, não passam despercebidas nos maiores de 60 anos. Em ambas as idades, as alterações celulares fisiológicas ocorrem, entretanto, sua exteriorização e seus resultados não são inicialmente observados.

As alterações fisiológicas que estão relacionadas com a funcionalidade orgânica resultam do desgaste celular e associam-se com as alterações bioquímicas e que refletem nas reações químicas em todo organismo. As modificações psicológicas são decorrentes da capacidade do idoso se ajustar ao ambiente, tanto a novas situações, como as tarefas do seu cotidiano, entretanto, as modificações sociais são verificadas quando as relações sociais se encontram alteradas. Alterações que acontecem com a redução da sua produtividade, do poder econômico e das suas condições físicas (OLIVEIRA, 1999; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005; SANTOS, 2001).

O envelhecimento se inicia por um processo de mutações biológicas que se comportam de forma desigual nos diferentes aparelhos e sistemas orgânicos e que declinam, comprometendo o processo vital pelo desgaste, fruto dos anos (OLIVEIRA, 1999).

Para a Organização Mundial de Saúde (2015), o envelhecimento biológico é um fenômeno universal e irreversível, comum a todos os seres vivos, nos quais produz transformações que ocorrem com o passar do tempo. Entretanto, a velocidade deste declínio funcional é muito variável entre os indivíduos, apesar de já haver alterações celulares nos órgãos e nos sistemas desde os períodos mais precoces da vida.

No Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (2015, p. 12) referindo-se as mudanças que ocorrem no envelhecimento, registra-se:

As mudanças que constituem e influenciam o envelhecimento são complexas. No nível biológico, o envelhecimento é associado ao acúmulo de uma grande variedade de danos moleculares e celulares. Com o tempo, esse dano leva a uma perda gradual nas reservas fisiológicas, um aumento do risco de contrair diversas doenças e um declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo. Em última instância, resulta no falecimento. Porém, essas mudanças não são lineares ou consistentes e são apenas vagamente associadas à idade de uma pessoa em anos.

Vale salientar que não há unanimidade acerca da definição de velhice e o envelhecimento. A velhice só é discutida, mas não definida, pela complexidade dos fatores que a envolve. A juventude e a velhice não são concepções absolutas, mas interpretações sobre o percurso da vida. Assim, não existe precisão absoluta no ser da velhice e da juventude, pois são construídos historicamente e se inserem ativamente na dinâmica dos valores das culturas que falam algo sobre seu ser (OLIVEIRA, 1999). Várias são as tentativas para esclarecê-los, sem que o intento venha a ser elucidado a contento, entretanto, eles se complementam, o que permite uma visão mais holística do processo. Segundo Neri e Cachione (1999), o modo do envelhecer não é um caminho pré-determinado ou definido, é reflexo do curso da vida, da condição histórico-cultural e da ocorrência ou não de patologias durante este processo.

Pode-se dizer que a forma de envelhecer é uma resposta ao estilo de vida ou ao modo escolhido para viver. Entretanto, a forma de envelhecer está sujeita a muitas variáveis, tais como, cultura, condições ambientais, condições socioeconômicas, condições biológicas, dentre outros fatores que podem justificar a heterogeneidade das suas formas de se apresentar. Sobre este aspecto, Neri (2012, p. 42) o reforça dizendo: “como o ambiente não é uma constante e as suas modificações ocorrem, na maioria das vezes, ao ocaso, isso explicaria porque os indivíduos envelhecem cada um à sua maneira”. Logo, a diversidade nas formas de envelhecer é decorrente da herança genética e, na maior parte, é proveniente dos ambientes físicos e sociais que habitamos.

Beauvoir (1976, p. 34-35), cita que Howell analisando as variáveis sobre a evolução do processo do envelhecimento diz:

A senescência não é uma ladeira que todos descem com igual velocidade. É um lanço de degraus irregulares pelos quais alguns se despencam mais depressa que outros. [...] o declínio pode ser acelerado ou retardado por diversos fatores: saúde, hereditariedade, ambiência, emoções, antigos hábitos, padrão de vida. Assumem formas diferentes, de acordo com as funções que se degradam em primeiro lugar.

Desse modo, a opção quanto à escolha do modo de viver afeta diretamente o desenvolvimento biológico do homem, bem como, os determinantes na evolução do processo de envelhecimento, podendo atuar em velocidades variáveis desde a sua instalação, a influir no prolongamento ou no encurtamento da vida. O modo de envelhecer não é um caminho já resolvido, mas é um caminho a ser construído por escolhas.

Beauvoir (1976, p. 15) menciona ser a velhice um processo dinâmico e afirma que:

[...] a velhice não é um fato estático: é o término e prolongamento de um processo. [...]. Ela é um sistema instável no qual se perde e se reconquista o equilíbrio a cada instante; a inércia é que é sinônimo de morte. A lei da vida é mudar. O que caracteriza o envelhecimento é certo tipo de mudança irreversível e desfavorável, um declínio.

Desta maneira, percebe-se que o processo do envelhecimento está em incessante modificação e a dar resposta aos estímulos externos e internos do organismo, não parando de se movimentar e se ajustar. Todas as vezes que o organismo se vê comprometido (doença ou outra causa externa) modifica-se em defesa ao estímulo que comprometeu sua estabilidade e tenta reestabelecer seu estado de equilíbrio (NERI; CACHIONE, 1999).

Para Neri e Yassuda (2013), o envelhecimento é caracterizado pelo declínio das funções biológicas, da maleabilidade na adaptação às novas limitações e do aumento na dependência aos recursos da cultura. Tal processo é algo universal a todos, mas ocorre em ritmos variáveis para diferentes pessoas e grupos. Pessoas que vão gradualmente se modificando pelas perdas e ganhos, ou limites e potencialidades, superando as dificuldades e continuando seu desenvolvimento. Dessa maneira, quando no idoso os limites (perdas) e as potencialidades (ganhos) operam sem choques, chega-se a não perceber o envelhecimento (NERI, 2012). Entretanto, por ser dinâmico e progressivo esse processo ocorre por toda vida, não estaciona, embora possa ficar despercebido, tendo-se, inclusive, a possibilidade de preservar e ou apresentar ganhos evolutivos em alguns domínios do funcionamento (domínio afetivo, social, cognitivo entre outros).

No domínio cognitivo, tem-se no cérebro a responsabilidade de combinar informações genéticas, moleculares e bioquímicas com informações procedentes do mundo externo. Pelos avanços tecnológicos de imagem cerebral com a tomografia computadorizada e a tomografia com emissões de pósitrons, que podem geram imagens nítidas da anatomia e do metabolismo cerebral e monitorar as substâncias químicas (neurotransmissores). Técnicas que possibilita os neurocientistas saberem que o cérebro é um órgão com surpreendente plasticidade, dinâmica, crescendo e mudando o tempo todo (LIMA, 2001).

Essas descobertas da nova biologia do cérebro provam a natureza mutante das células cerebrais que continuam produzindo novos dendritos, geram novas sinapses, e alteram a essência dos neurotransmissores que estimulam a atividade cerebral e chegando a gerar novas células cerebrais (DAMASCENO, 2012; LIMA, 2001; SÉ; QUEIROZ; YASSUDA, 2013).

Durante o processo do envelhecimento o cérebro diminui seu volume, reduz a velocidade de processamento de novas informações e recuperação das informações armazenadas e torna-se menos eficaz a memória a curto prazo. Entretanto, a precisão da memória e a fluência verbal não se alteram (LIMA, 2001).

A plasticidade cerebral dá lugar a novas perspectivas, possibilita o crescimento, expansão, recuperação e rejuvenescimento cerebral. Agora se sabe que as células do cérebro podem gerar novos dendritos e novas sinapses, formando novas redes de comunicação em qualquer idade, embora as pessoas nasçam com um número fixo de células cerebrais, número que não define sua capacidade mental e essa função é regulada pelas conexões sinápticas ao longo da vida (SÉ; QUEROZ; YASSUDA, 2013).

Os cientistas começam a entender que a pessoa pode influenciar os fatores que controlam o funcionamento cerebral, através de alimentos, suplementos e mudanças simples do estilo de vida, inclusive exercícios mentais e físicos. Os alimentos podem influenciar a química cerebral no controle dos neurotransmissores e abrem as rotas bioquímicas que transportam os pensamentos. Eles são a essência da memória, inteligência, criatividade e humor, substâncias que mudam constantemente na dependência do que ingerimos ou fazemos (LIMA, 2001). Assim, o estilo de vida, a dieta alimentar a estimulação física e mental favorece a manutenção do desenvolvimento no idoso e influencia o modelo de velhice e a condição de vida.

O envelhecimento e o desenvolvimento, embora comumente sejam entendidos como fenômenos distintos e contrários, encontram-se presentes em toda a vida e também na velhice. Considerando os ganhos e perdas do ciclo da vida, é possível identificar as seguintes fases do desenvolvimento biológico do nascimento à morte. A primeira, período de

crescimento no qual o desenvolvimento é construtivo, prevalece sobre o declínio (período da infância e juventude); a segunda, idade adulta, é um período de equilíbrio entre desenvolvimento e declínio; a terceira, a velhice, é um período de involução, uma época de declínio crescente (ARCURI, 2005; OLIVEIRA, 1999).

Desse modo, se observa que o processo de evolução do desenvolvimento ocorre nos seus três estágios, mostrando os períodos de ganhos e aquisições, de estabilidade, e o de perdas e declínios, próprios de cada faixa etária da vida.

Segundo Neri (2012), esta associação entre o envelhecimento e desenvolvimento, que os gerontólogos, a conhecem há bastante tempo, afirma que apesar de sentidos contrários, eles aproximam com similitude durante o processo do envelhecimento (ambos nesse período se encontram em declínio). Podendo-se dizer que o envelhecimento é considerado antítese do desenvolvimento. Desse modo, pelas variações dos declínios e aquisições das potencialidades referidas acima, surgiram diferentes padrões de envelhecimento e velhice.

Na fase da velhice é que mais se evidenciam as alterações do processo de envelhecimento, as suas variáveis quanto aos modos e formas de evoluir. Há diversidade nas formas de envelhecer, ou seja, pode haver idosos gozando de plena saúde e competentes, e outras, mais jovens, totalmente dependentes. Este fato é decorrente da escolha quanto ao modo de viver e, obviamente, da genética (NERI; YASSUDA, 2013). Segundo a Organização Mundial de Saúde (2015), não há mais pessoa tipicamente velha, as pessoas mais velhas, hoje, possuem saúde melhor em relação aos seus pais ou avós.

Com base nesse entendimento, Neri e Yassuda (2013) classifica a velhice como: normal, bem-sucedida e patológica. Na velhice normal ou fisiológica ocorrem mudanças típicas do envelhecimento humano que são determinadas pela espécie e não são patológicas, podendo-se ter doenças somáticas crônicas, porém controladas, que não causem repercussões na qualidade de vida nem impedimentos à funcionalidade física, mental, psicológica e social. A velhice bem-sucedida se revela em idosos que mantêm autonomia, independência e envolvimento ativo com a vida pessoal, com a família, com os amigos e com o lazer. Idosos produtivos, ajustados e satisfeitos; A velhice patológica ocorre pelo aparecimento ou agravamento de doenças crônicas e incapacitantes que acompanham o envelhecimento do indivíduo ou pelo início de doenças crônicas irreversíveis típicas da velhice.

Nesta direção, apesar dos trabalhos publicados ao longo desses anos mostrarem os efeitos do processo do envelhecimento em laboratório, permitindo-se, além dos estudos sobre biologia, fisiologia e imunologia do envelhecimento, os estudos sobre os aspectos genéticos envolvendo o envelhecimento ao nível celular e molecular, que na sua essência investiga a

bioquímica do envelhecimento, entretanto, os principais mecanismos responsáveis pelo processo do envelhecimento, ainda, encontram-se obscuros.

As ciências do envelhecimento não têm uma explicação nem simples nem única a respeito da velhice, mas, sem dúvida, existe uma considerável soma de conhecimento sobre os elementos que aumentam a probabilidade de se viver muito bem. Existem muitas teorias modernas explicativas sobre o processo do envelhecimento, segundo o aspecto biológico. Porém, pela complexidade em elaborar uma só teoria sobre esse assunto, levando-se em consideração os múltiplos fatores que interferem na biossenescência, não existe a possibilidade de se desenvolver uma teoria satisfatória e unificada até o momento (NERI, 2012; NERI; YASSUDA, 2013; OLIVEIRA, 1999; SPIRDUSO, 2005).

No momento atual, com a descoberta dos genes da longevidade, é possível ter grandes avanços da Genômica com as práticas regenerativas. A vida poderá, então, ser prolongada por meio de injeções de células geneticamente jovens em corpos idosos. Na outra ponta, próteses e órteses de última geração criarão olhos, ouvidos e membros biônicos, com os quais o homem poderá viver melhor. Estes permitirão ao ser humano aproximar-se do ideal de morrer com saúde e bem-estar (NERI, 2015). Sonho ou futura realidade? “Para se viver uma boa longevidade não basta ter propensão genética. É preciso conquistar esse resultado mediante investimentos constantes num estilo de vida saudável, física e mentalmente ativo, produtivo e socialmente envolvido” (NERI, 2015, p. 34).

Segundo Beauvoir (1990, p. 32) “a medicina moderna não pretende mais atribuir uma causa ao envelhecimento biológico, ela o considera inerente ao processo da vida, do mesmo modo que o nascimento, o crescimento, a reprodução e a morte”. Apesar das perdas que ocorrem durante o envelhecimento, ficou demonstrado que se tem condições de modificar o modelo de velhice.

Portanto, o estilo de vida escolhido para se viver é a chave do desabrochar de um novo envelhecimento. Assim sendo, passa-se para abordar o desabrochar do envelhecimento: a velhice e o velho na contemporaneidade.

2.7 O DESABROCHAR DO ENVELHECIMENTO: a velhice e o velho na