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3 DOS PRINCÍPIOS CONTRATUAIS E DO PLANO PRIVADO DE

3.6 DO CONTRATO DE PLANO PRIVADO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE

3.6.1 Características do contrato de plano privado de assistência de saúde

Segundo Schaefer: “Os contratos oferecidos pelos planos de assistência privada à saúde são atípicos, mistos, de prestação de serviços, de adesão e caráter aleatório, sinalagmáticos, onerosos, formais e de execução diferida por prazo indeterminado”.119

Ainda, Gregori trata o contrato de plano de saúde como um contrato típico de consumo, de adesão, sinalagmático, aleatório, de longa duração e que vigora por tempo indeterminado e com execução continuada.120

O doutrinador Figueiredo apresenta como as principais características do contrato de plano de saúde a bilateralidade, trato sucessivo e indeterminado, onerosidade, comutatividade, adesão e aleatoriedade.121

Ambos os doutrinadores classificam o contrato de plano de saúde de forma igual, com as mesmas características, passamos a conceituar cada uma das características.

Tartuce apresenta como contrato aleatório a prestação desconhecida por uma das partes no momento da celebração do negócio jurídico, pois depende da sorte, da álea, que é um fator desconhecido.122

Entende Diniz a respeito:

Aleatório será o contrato se a prestação depender de um evento casual, sendo, por isso, insuscetível de estimação prévia, dotado de uma extensão incerta. Com a manifestação de vontade dos contratantes, formado estará esse contrato, apesar de se

119

SCHAEFER, Fernanda. Sistemas de assistência privada à saúde. In: ______. Responsabilidade civil dos planos e seguros de saúde. Curitiba: Juruá, 2003. p. 41.

120

GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 139-142.

121

FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Do contrato (produto) de plano privado de assistência à saúde. In: ______. Curso de direito de saúde suplementar: manual jurídico de planos e seguros de saúde. São Paulo: MP Editora, 2006. p. 184.

122

TARTUCE, Flávio. Teoria geral dos contratos: introdução, conceitos iniciais. In: ______. Direito civil: teoria geral dos contratos em espécie. 3. ed. São Paulo: Método, 2008. v. 3. p. 46.

relegar a prestação para implemento posterior, dependente de algum fato incerto; logo, os efeitos do negócio submetem-se a esse acontecimento incerto.123

Assim, o contrato de plano de saúde é acabado desde o momento da celebração, estando vinculado apenas à ocorrência de evento futuro e incerto, qual seja, vantagem que necessitará o contratante.

Quanto à característica da prestação de serviços, leciona Antonio Joaquim Fernandes Neto: “Outra importante característica dos contratos em exame decorre da natureza da prestação atribuída à operadora de plano de saúde. Trata-se de um contrato de prestação de serviços no qual prepondera a obrigação de fazer, com sua peculiar complexidade”.124

No mesmo sentido, Diniz conceitua o contrato de prestação de serviços: “O locador (prestador) se compromete a prestar certos serviços que o locatário (tomador) se obriga a remunerar, de forma que a obrigação de fazer do primeiro se contrapõe à de dar do segundo”.125

Quanto à comutatividade, argumenta Figueiredo:

[...] encerra obrigações mútuas para as partes contratantes. Para o beneficiário, há obrigação de arcar com a prestação pecuniária, sucessiva e mensal; para a empresa, há obrigação de disponibilizar atendimento em rede de serviços médicos específica, bem como arcar com os custos nas hipóteses de eventual enfermidade, contratualmente coberta [..]126

Diante disso, entende-se por contrato atípico ou, também denominado, contrato inominado, segundo Diniz:

Os contratos inominados, ou seja, atípicos, afastam-se dos modelos legais, pois não são disciplinados ou regulados expressamente pelo Código Civil ou por lei extravagante, porém são permitidos juridicamente, desde que não contrariem a lei e os bons costumes, ante o princípio da autonomia da vontade e a doutrina do número apertus, em que se desenvolvem as relações contratuais. Os particulares, dentro dos limites legais, poderão criar as figuras contratuais que necessitarem no mundo dos negócios.127

123

DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais. In: ______. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 25. ed. São Paula: Saraiva, 2009. v. 3. p. 81.

124

FERNANDES NETO, Antonio Joaquim. Características do contrato de plano de saúde. In: ______. Plano de saúde e direito do consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 135.

125

DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais. In: ______. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 25. ed. São Paula: Saraiva, 2009. v. 3. p. 292.

126

FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Do contrato (produto) de plano privado de assistência à saúde. In: ______. Curso de direito de saúde suplementar: manual jurídico de planos e seguros de saúde. São Paulo: MP Editora, 2006. p. 185.

127

DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais. In: ______. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 25. ed. São Paula: Saraiva, 2009. v. 3. p. 93.

O CC em seu artigo 425 prescreve que é lícito às partes estipularem contratos inominados, ou seja, sem forma prescrita em lei, observando as normas gerais fixadas em lei e previstas nos bons costumes.128

Ainda, Schaefer, conforme citação acima, entende que o contrato de plano de saúde é misto. Esse é espécie do contrato atípico. Coelho considera misto “[...] os contratos não disciplinados diretamente na lei, para cuja celebração as partes se inspiraram, total ou parcialmente, em contratos típicos”.129

O artigo 107 do CC prevê como regra dos contratos a informalidade, ou seja, não precisa de forma especial para a validade do contrato, salvo quando a lei exigir.130

No que concerne a formalidade do contrato, Venosa adverte:

O contrato solene entre nós é aquele que exige escritura pública. Outros contratos exigem a forma escrita, o que os torna formais, mas não solenes. No contrato solene, a ausência de forma torna-o nulo. Nem sempre ocorrerá a nulidade, e a relação jurídica gerará efeitos entre as partes, quando se trata de preterição de formalidade, em contrato não solene.131

Ressalta-se que alguns doutrinadores entendem que as expressões formal e solene são sinônimas, no entanto, pertinente a posição de Venosa. Assim, o contrato de plano de saúde precisa ser na forma escrita.

Gonçalves assim conceitua os contratos bilaterais, vejamos:

Bilaterais são os contratos que geram obrigações para ambos os contratantes, como a compra e venda, a locação, o contrato de transporte etc. Essas obrigações são recíprocas, sendo por isso denominados sinalagmáticos, da palavra grega sinalagma, que significa reciprocidade de prestações.132

Nesse contexto, afirma Gregori quanto à contratação sinalagmática que “[...] o consumidor assume o compromisso de pagar periodicamente as prestações pecuniárias correspondentes aos serviços oferecidos pelo fornecedor, ao passo que este cabe prestar o

128

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 6 abr. 2011. 129

COELHO, Fábio Ulhoa. Classificação dos contratos. In: ______. Curso de direito civil: contratos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 3. p. 59.

130

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 6 abr. 2011. 131

VENOSA, Sílvio de Salvo. Classificação dos contratos (III). In: ______. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria dos contratos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. v. 2. p. 415.

132

GONÇALVES, Carlos Roberto. Classificação dos contratos. In: ______. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 3. p. 68.

serviço de cobertura dos procedimentos médicos, hospitalares ou odontológicos, quando o consumidor deles necessitar”.133

Percebe-se que o referido contrato possui execução diferida ou retardada. Na visão de Gonçalves:

Contratos de execução diferida ou retardada são os que devem ser cumpridos também em um só ato, mas em momento futuro: a entrega, em determinada data, do objeto alienado, verbi gratia. A prestação de uma das partes não se dá imediatamente após a formação do vínculo, mas a termo.134

No mesmo sentido, Gregori define:

O plano ou seguro-saúde é um contrato que vigora por tempo indeterminado e com execução continuada. Contratos dessa natureza são chamados de trato sucessivo, tendo em vista que envolvem um longo período de tempo de contratação e convívio reiterado entre as partes contratantes.135

Coelho afirma que quando todas as partes do contrato têm vantagem econômica esse é oneroso. São onerosos, portanto, os contratos na qual a regular execução do contrato implica em vantagem econômica para todos os contratantes.136

O doutrinador Tartuce conceitua contrato de adesão como sendo “[...] aquele em que uma parte, o estipulante, impõe o conteúdo negocial, restando à outra parte, o aderente, duas opções: aceitar ou não o conteúdo desse negócio”.137

Nesse sentido, Diniz utiliza-se o termo contrato por adesão ao invés de contrato de adesão, haja vista constituir-se pela adesão da vontade.138

Sobre o referido contrato, a doutrinadora mencionada leciona:

O contrato por adesão é regido pelo princípio da legitimidade da intervenção controladora, que se manifesta na interpretação das cláusulas dúbias, aplicando-se a norma da interpretatio contra stipulatorem (CC, art. 423) e no controle direto do conteúdo, mediante a declaração de nulidade das cláusulas que contiverem a

133

GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 140.

134

GONÇALVES, Carlos Roberto. Classificação dos contratos. In: ______. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 3. p. 79.

135

GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 140.

136

COELHO, Fábio Ulhoa. Classificação dos contratos. In: ______. Curso de direito civil: contratos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 3. p. 44-45.

137

TARTUCE, Flávio. Teoria geral dos contratos: introdução, conceitos iniciais. In: ______. Direito civil: teoria geral dos contratos em espécie. 3. ed. São Paulo: Método, 2008. v. 3. p. 51.

138

DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais. In: ______. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 25. ed. São Paula: Saraiva, 2009. v. 3. p. 87.

renúncia antecipada do aderente a algum direito oriundo da natureza do negócio entabulado (CC, art. 424).139

No contrato de adesão para Coelho não há margem de negociação, mas é opção do consumidor contratar, restam-lhe duas alternativas, de concordar ou não com as condições do fornecedor. Não há desrespeito à lei, serão válidas e eficazes entre as partes.140

Vale lembrar que o artigo 424 do CC estabelece a nulidade da cláusula de contrato que estipular a renúncia antecipada do contratante aderente a direito resultante da natureza do negócio.141

Conclui-se que o contrato de plano de saúde é de adesão, inexiste liberdade de convenção da outra parte, no entanto, o contratante tem a opção de aderir ou não ao contrato. O contrato é elaborado pela operadora, mas o beneficiário optando pela aderência ao plano, aceita o contrato na forma que se encontra.

3.7 DO PLANO PRIVADO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE FIRMADO ANTES DA LEI N°

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