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3 DOS PRINCÍPIOS CONTRATUAIS E DO PLANO PRIVADO DE

4.3 DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Inicialmente, a Lei n° 8.078, Código de Defesa do Consumidos (CDC), foi editada em 11.09.1990, publicada em 12.09.1990 e com início de vigência em 11.03.1991.183

O conceito de consumidor, segundo Rizzato Nunes, está previsto no artigo 2º, caput e parágrafo único, do CDC, sendo complementado por outros dois artigos, 17 e 29184, in verbis:

181

E QUEM paga a conta? Veja, v. 37, n. 31, p. 140-142, ago. 2004. 182

CECHIN, José. Os poderes regulatórios. In: ______. A história e os desafios da saúde suplementar: 10 anos de regulação. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 194.

183

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 06 mai. 2011.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.185

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.186

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.187

O conceito de fornecedor está previsto no artigo 3° do CDC, que engloba:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.188

Sobre o conceito de fornecedor, João Batista de Almeida define:

Embora seja mais cômodo definir-se por exclusão, ou seja, dizer quem não pode ser considerado fornecedor. Em princípio, portanto, só estariam excluídos do conceito de fornecedor aqueles que exerçam ou pratiquem transações típicas de direito privado e sem o caráter de profissão ou atividade, como a compra e venda de imóvel entre pessoas físicas particulares, por acerto direto e sem qualquer influência de publicidade.189

Pfeiffer, quanto à aplicação das normas do CDC aos contratos de planos de saúde, conclui:

As normas do CDC regulam matéria de ordem pública e interesse social, como expressamente estabelece o seu art. 1.°, coadunando-se com o fato de a defesa do consumidor ser um direito fundamental (art. 5°, XXXII, da CF) e um princípio conformador da ordem econômica (art. 170, V, da CF). Justamente por tais razões, 184

NUNES, Rizzato. A relação jurídica de consumo. In: ______. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 71-72.

185

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 06 mai. 2011.

186

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 06 mai. 2011.

187

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 06 mai. 2011.

188

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 06 mai. 2011.

189

ALMEIDA, João Batista de. Teoria geral do direito do consumidor: conceitos, direitos básicos, princípio e campos de tutela. In: ______. Manual de direito do consumidor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 40.

o art. 35-G da Lei 9.656/98 determina expressamente a aplicação subsidiária do Código de Defesa do Consumidor.190

Outrossim, Gregori leciona:

[...] pode-se afirmar com tranquilidade, que as empresas que prestam serviços de assistência à saúde, mediante remuneração, são consideradas típicas fornecedoras. [...] Enquadram-se, com efeito, em um dos pólos da relação de consumo.

No outro pólo, estão os consumidores, seus dependentes ou agregados, que adquirem ou utilizam esses produtos ou serviços, como os destinatários finais, considerados típicos consumidores, de acordo com o art. 2.º, caput, do CDC, ou consumidores equiparados, conforme os arts. 2.º, parágrafo único; 17 e 29 do CDC. Portanto, as relações entre os consumidores e as empresas que oferecem serviços de assistência à saúde estão amparadas pelo Código de Defesa do Consumidor.191

Nesse sentido, Cristiano Heineck Schmitt e Claudia Lima Marques comentam:

Não pesam dúvidas que a saúde, analisada sob o enfoque de relação entre privados, onde o consumidor opta por adquirir outros meios para tratar de sua saúde, sem precisar depender do setor público, é uma típica relação de consumo, na qual incidirão normalmente as disposições legais do Código de Defesa do Consumidor.192

No que concerne a aplicação do CDC, Gregori dispõe: “Remarque-se que o Código de Defesa do Consumidor é lei principiológica e, portanto, toda a legislação especial que vier regular um segmento específico deverá respeitá-lo”.193

Importante lembrar que os contratos de planos de saúde antigos foram comercializados até 01.01.1999 e o CDC entrou em vigor em 11.03.1991, assim, desde 11.03.1991 não há dúvida que se aplica o CDC aos planos antigos, no entanto, quanto ao outro período há discussão, mas é majoritário o entendimento pela aplicação do CDC.

Diante dessas considerações, Nunes conclui:

a) A decisão recente do STF não alterou o quadro de defesa dos direitos dos consumidores-usuários dos planos privados de assistência à saúde.

b) O CDC regula as relações jurídicas de consumo, dentre as quais se encontram os contratos ora analisados.

190

PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Planos de saúde e direito do consumidor. In: MARQUES, Claudia Lima et al. Saúde e responsabilidade 2: a nova assistência privada à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. Biblioteca de direito do consumidor. v. 36. p. 23.

191

GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. v. 31. p. 126-127.

192

SCHMITT, Cristiano Heineck; MARQUES, Claudia Lima. Visões sobre os planos de saúde privada e o Código de Defesa do Consumidor. In: MARQUES, Claudia Lima et al. Saúde e responsabilidade 2: a nova assistência privada à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. Biblioteca de direito do consumidor. v. 36. p. 89.

193

GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. v. 31. p. 127.

c) Todos os contratos assinados antes da entrada em vigor da Lei 9.656/98 estão submetidos à égide do CDC.

d) Nenhuma cláusula abusiva escrita antes ou depois da vigência do CDC tem validade, podendo tanto a ANS atuar para coibir abusos, com os órgãos de defesa do consumidor e o consumidor individualmente diante do Poder Judiciário.194

No que diz respeito à aplicação do CDC aos planos de saúde antigos, firmados antes de 11.03.1991, Nunes entende que se aplica, apesar de existirem discussões, vejamos:

Lembre-se que a CF garante que a lei não prejudicará o ato jurídico perfeito (art. 5.º, XXXVI). Ora, ato jurídico perfeito é o ato praticado e certo momento histórico, em consonância com as normas jurídicas vigentes naquela ocasião. Em outras palavras, é o ato consumado pelo exercício do direito estabelecido segundo a norma vigente ao tempo em que ele foi exercido.

[...] E, por isso, todos os contratos desse tipo assinados antes da entrada em vigor da Lei 8.078/90 foram por ela atingidos a partir de 11.03.1991 (data do início de sua vigência).195

O Ministro Relator Luis Felipe Salomão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Recurso Especial nº 418.572, já decidiu quanto à aplicação do CDC:

Tratando-se de contrato de plano de saúde de particular, não há dúvidas que a convenção e as alterações ora analisadas estão submetidas ao regramento do Código de Defesa do Consumidor, ainda que o acordo original tenha sido firmado anteriormente a entrada em vigor, em 1991, dessa Lei. Isso ocorre não só pelo CDC ser norma de ordem pública (art. 5º, XXXII, da CF), mas também pelo plano de assistência médico hospitalar firmado pelo autor ser um contrato de trato sucessivo, que se renova a cada mensalidade.196 (ANEXO A).

No mesmo sentido, consta no voto do Ministro Massami Uyeda do STJ no Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 1.250.819, analisemos:

Ab initio, verifica-se que em recente julgado a egrégia Terceira Turma deste Tribunal, se posicionou no sentido de que, embora a Lei n. 9656/98 não retroaja aos contratos celebrados antes de sua vigência, é possível aferir, nestas avenças, a abusividade de cláusulas à luz dos ditames da legislação consumerista, ainda que tais contratos tenham sido firmados antes mesmo da vigência do próprio CDC. Em verdade, o contrato de seguro de saúde é obrigação de trato sucessivo, que se renova ao longo do tempo e, portanto, se submete às normas supervenientes,

194

NUNES, Rizzato. O código de defesa do consumidor e os planos de saúde: o que importa saber. In: MARQUES, Claudia Lima et al. Saúde e responsabilidade 2: a nova assistência privada à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. Biblioteca de direito do consumidor. v. 36. p. 245.

195

NUNES, Rizzato. O código de defesa do consumidor e os planos de saúde: o que importa saber. In: MARQUES, Claudia Lima et al. Saúde e responsabilidade 2: a nova assistência privada à saúde. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. Biblioteca de direito do consumidor. v. 36. p. 244-245.

196

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 418.572, Ignácio Waligora - espólio. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Brasília, DF, 30 de março de 2009. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=ATC&sSeq=4821316&sReg=2002002551 50&sData=20090330&sTipo=91&formato=PDF>. Acesso em: 04 mai. 2011.

especialmente às de ordem pública, a exemplo do CDC, o que não significa ofensa ao ato jurídico perfeito.197 (ANEXO B).

Por fim, recentemente, a Segunda Seção do STJ aprovou a Súmula 469, publicada em 06.12.2010, tendo como precedentes os dois acórdãos mencionados acima, in verbis: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde”.198

Assim, foi consolidado o entendimento, já pacificado pelo STJ, de que se aplica o CDC na relação de consumo entre operadora de plano de saúde e beneficiário, inclusive em contratos de planos de saúde antigos, conforme doutrinadores mencionados acima.

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