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CAPÍTULO 2: O PERFIL DOS EMPREGADOS E OS INDICADORES DE

2.3. Definição das culturas mais relevantes a partir da quantidade de empregados assalariados

2.3.3. Características gerais da cultura da cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar é uma lavoura temporária cuja participação vem crescendo, principalmente, a partir dos anos 2000. O principal estímulo para essa cultura são os incentivos governamentais, como o PROÁLCOOL, bem como o aumento da demanda do mercado internacional por açúcar e álcool. Houve no decorrer dos anos, um significativo aumento da área plantada em Minas Gerais, principalmente, no Triângulo e Alto Paranaíba. As terras, em sua maioria, são arrendadas pelas usinas, que podem ser consideradas as “donas do canavial”, sendo alto o uso de tecnologia, principalmente, nas usinas consideradas “mais novas”. Esse fato foi, entre outros fatores, decorrente da legislação, a qual passou a proibir a queima da cana, passando a exigir novos métodos, levando ao aperfeiçoamento, como consequência, de novas tecnologias. Nesse sentido, a proibição da queima dessa cultura acelerou o processo de modernização.

89 Outra questão é o aumento da automação no processo produtivo na busca por maior eficiência, como a utilização de resíduos, uso da palha e bagaço no sistema elétrico, o que economiza energia, bem como a extração do caldo de cana da moenda para o difusor. O aperfeiçoamento das máquinas e os avanços no processo produtivo da cana exigiram, por sua vez, trabalhadores mais qualificados. Assim, o trabalho migrou do aspecto manual (antigos cortadores) para o emprego mais qualificado.

Conforme o presidente da SIAMIG, alguns aspectos estão diretamente associados à modernização da cana-de-açúcar (fase do plantio e colheita): o relevo; o tamanho da área plantada (áreas maiores, geralmente, têm maior incorporação de tecnologia); a fertilidade do solo e o clima (as mudanças climáticas afetam muito a colheita. Como exemplo, o presidente ressaltou que, no ano de 2014, um “ano seco”, perderam-se, em média, 5 toneladas por hectare da cana-de-açúcar); a legislação, que proibiu a queima da cana, fazendo com que se acelerasse o processo de modernização; o uso de técnicas mais modernas, buscando a eficiência na logística (a cana é moída em menor tempo); o uso do rodotrem-canavieiro (sistema bate e volta), que facilita a logística da colheita picada; e a automação vinculada à busca por maior eficiência, principalmente, nas usinas mais novas e recentes, sendo a fase da colheita a que obteve maior inovação tecnológica.

Ademais, algumas características importantes podem ser observadas na cultura da cana. O setor cresceu nos últimos anos, aumentando sobremaneira a produção, com uma mudança na mão de obra caminhando para mais qualificada a partir do aumento da modernização e mecanização na cultura (principalmente, na colheita). Desse modo, pressupõe que o emprego nessa cultura é mais qualificado e tem mais qualidade que nas outras duas culturas, a do café e a do milho. As máquinas foram aperfeiçoadas, assim como o sistema de solo e a área de manobra, bem como são utilizadas máquinas mais eficientes no plantio e colheita.

Em relação ao impacto das máquinas no emprego, o seu uso reduziu muito o contingente de mão de obra. Conforme o presidente da SIAMIG, uma máquina colheitadeira trabalha de forma ininterrupta 24 h/dia e substitui de doze a quinze homens (separados em 3 turnos de 8 horas). Além disso, para cada 15 empregos criados, 70 são perdidos com o uso da máquina. Outra colocação do presidente é que um cortador considerado muito eficiente consegue cortar 8 toneladas de cana por dia, enquanto uma máquina colheitadeira, por sua vez, colhe 540 ton/dia. Dessa forma, o aumento da produtividade com o uso da máquina é significativo, porém reduz a mão de obra, principalmente, a menos qualificada, composta por trabalhadores temporários e volantes. Outra particularidade da cultura da cana-de-açúcar é

90 que ela é uma cultura mais dinâmica em relação ao emprego, pois a colheita envolve os períodos de abril a dezembro, criando empregos fixos praticamente durante todo o ano. Já quanto às culturas do café e do milho, por exemplo, a colheita fica restrita há apenas dois meses ao ano.

Quadro 3 - Características predominantes da cultura da cana-de-açúcar por mesorregiões. Características Triângulo Mineiro e

Alto Paranaíba

Noroeste de Minas Jequitinhonha, Norte de Minas, Vale do Mucuri e Zona da Mata *.

Estrutura Fundiária Grandes propriedades que, em grande parte, são arrendadas para as usinas (geralmente, “donas do canavial”).

Grandes propriedades que, em grande parte, são arrendadas para as usinas (geralmente, “donas do canavial”). Regiões mais estagnadas economicamente, com a presença de pequenas propriedades.

Processo Produtivo (Uso

de tecnologia) Devido ao aumento das áreas cultivadas, o emprego aumentou, mas, com a utilização de tecnologia alta, este aumento está atrelado ao emprego qualificado e permanente, e o temporário vem perdendo espaço.

Devido ao aumento das áreas cultivadas, o emprego aumentou, mas com a utilização de tecnologia alta este aumento está atrelado ao emprego qualificado e permanente, e o temporário vem perdendo espaço. Utilização da cultura familiar no Norte de Minas, predominando a fabricação de cachaça artesanal. E na região do Jequitinhonha, o cultivo para tratamento animal. Predomina a agricultura de subsistência e tradicional.

Mão de Obra Empregada O uso de uma tecnologia mais avançada reduz o número de trabalhadores contratados. O uso de uma tecnologia mais avançada reduz o número de trabalhadores contratados.

Mão de obra familiar

Aspectos Geográficos Relevo plano com extensas áreas.

Relevo mais plano, clima mais quente e seco no inverno (temperaturas médias entre 18º e 21º C), e o bioma predominante é o cerrado.

*Mesorregiões pouco modernizadas na cultura da Cana-de-açúcar: Fonte: Elaboração própria com base em informações da SIAMIG

Nas regiões menos dinâmicas e com baixo grau de modernização nessa cultura, podemos considerar algumas conclusões obtidas pela Fundação Sistema Estaduais de Análise de Dados (FUNDAÇÃO SEADE). De acordo com um estudo da Fundação sobre as mesorregiões de Minas Gerais: nas regiões menos desenvolvidas Norte, Nordeste e todo o Centro-Leste, a busca de alternativas no caso específico da cana pode passar pela retomada da produção artesanal, como é o caso da produção de aguardente no Norte de Minas, onde a criação de uma “denominação de origem” para o produto, aproveitando a “marca”

91 (Aguardente de Alambique do Norte de Minas) já reconhecida nacionalmente, significa um impulso inicial cujo resultado pode ser o sucesso da atividade. Outra informação desse estudo aponta para a grande participação da mesorregião do Norte de Minas na criação de gado e, nesse caso, o aumento dos trabalhadores da cana nessa mesorregião pode estar associado a esses dois fatores: a fabricação da cachaça artesanal e a produção para a pecuária (alimentação do gado).

Em relação ao número de usinas da cana e sua distribuição por mesorregiões, o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, juntos, possuem a maior participação nessa cultura, somando 22 usinas (Quadro 4), o que significa uma diferença substantiva em relação às demais mesorregiões. Conforme informações da SIAMIG, o crescimento das usinas ocorreu, principalmente, a partir de 2003, quando também houve uma significativa expansão dessa cultura no Estado. A quantidade de usinas por mesorregiões de Minas Gerais é apresentada no Quadro 4, a seguir:

Quadro 4 - Quantidade de usinas por mesorregião de Minas Gerais

Posição Região Número de Usinas

1º Triângulo Mineiro 21 2º Noroeste de Minas 5 3º Alto Paranaíba 1 4º Centro-Oeste 2 5º Sul de Minas 3 6º Vale do Mucuri 1 7º Central Mineira 1 8º Zona da Mata 2 9º Norte de Minas 1

10º Vale do Rio Doce 0

Fonte: SIAMIG/Sindaçucar-MG (2015)

Além disso, houve também um aumento da mecanização nessa cultura nos últimos anos (um valor parcial de 98% da colheita mecanizada em 2014; enquanto em 2010, este percentual era de 73%), o que pode ser verificados na Tabela 8. O aumento da mecanização nessa cultura, conforme dados da SIAMIG, está vinculado ao aumento em hectares da área plantada e da colheita nos anos recentes, e ao fato de que, praticamente, quase toda a colheita dessa cultura é mecanizada.

92 Conforme Tabela 8, a seguir:

Tabela 8 – Evolução da mecanização da cultura da cana-de-açúcar em Minas Gerais

Fonte: SIAMIG (2014)

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