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CAPÍTULO 2: O PERFIL DOS EMPREGADOS E OS INDICADORES DE

2.3. Definição das culturas mais relevantes a partir da quantidade de empregados assalariados

2.3.1. Características gerais da cultura do café

O café é uma cultura permanente, que dificilmente se renova ou que faz uma mescla com outras culturas. Sendo assim, a sua durabilidade em relação ao plantio e colheita anual varia em uma média de catorze anos. Após esse período, há uma erradicação dos pés de café com o plantio de mudas novas (EMATER). Até mesmo por ter um período de vida longa, exige-se muitos cuidados, principalmente, em relação ao manejo da lavoura e controle de pragas, além dos tratos culturais e tecnológicos constantes. Hoje, é presente nessa cultura a agricultura de precisão. E o uso de tecnologia é alto, principalmente, na região do Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba (que perdeu mais empregos nesta cultura). Uma colheitadeira, por exemplo, substitui no café 150 apanhadores manuais, daí a “substituição do homem pela máquina”. Os incentivos nessa cultura são decorrentes, principalmente, da Fundação Pró-Café, uma vez que as multinacionais não oferecem muito incentivo, como para o milho e soja, por exemplo. O café é, também, uma cultura que não exige grandes áreas para plantio, condizentes com o não aumento de área, comparando o período estudado.

Minas Gerais, o maior produtor brasileiro de café, as mesorregiões que mais se destacam na produção dessa cultura em relação a número de empregados são, em primeiro lugar, o Sul e Sudoeste de Minas, seguido da Zona da Mata, e TMAP e Alto Paranaíba, nessa ordem. Essas regiões são mais produtivas, sendo o TMAP e Alto Paranaíba a mesorregião que incorporou técnicas mais avançadas na produção.

Por outro lado, temos as regiões que também têm uma participação relevante no número de empregados nessa cultura, mas que apresentam baixa produtividade e baixa tecnologia. São consideradas como regiões menos dinâmicas e com baixo grau de modernização, nas quais se inserem o Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce. O Norte de Minas, apesar de menos modernizada para as culturas da cana e milho, apresentou, nos dados, indícios de modernização para a cultura do café (apesar de em pequena área da mesorregião).

Conforme Pelegrini e Simões (2011), nos últimos anos, a difusão do cultivo de café pelos sertões do Norte e Noroeste de Minas, em resposta aos novos ímpetos de aplicação e ganhos de capital característico da nova conjuntura econômica, representa a etapa mais recente do processo que promoveu a expansão da cafeicultura em Minas Gerais. Embora a cafeicultura praticada nos municípios dessas mesorregiões apresente dados de área de cultivo e produção total ainda pouco representativo no cômputo da produção estadual, essa cultura

84 destaca-se, todavia, em razão dos elevados índices de produtividade, significativamente superior aos verificados nas tradicionais áreas de produção do Sul e Sudoeste de Minas e Zona da Mata. Esse especial desempenho deve ser atribuído à adoção de sistemas de produção intensivos, a partir da aplicação das mais modernas tecnologias de cultivo de café, sob favoráveis condições do meio, especialmente, relacionadas com a topografia, altitude, disponibilidade de água para irrigação e luminosidade.

Os novos cultivos do café nesses municípios são conduzidos, principalmente, em terrenos planos de chapadas e podem ser caracterizados pelo expressivo tamanho, pela agregação de economias de escala, pelo sofisticado aporte tecnológico, pelo estabelecimento de grande número de plantas por unidade de área, pela adoção de sistemas de irrigação (pivot central e microaspersão), pelo monitoramento anual da fertilidade do solo, pela implantação de cultivares adaptadas etc. Sob essas condições, os empreendimentos são conduzidos, em maior frequência, sob gerência patronal (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2000).

Em relação ao café nas mesorregiões Sul e Sudoeste de Minas, esse é produzido em menor escala, sendo o cultivo vinculado a pequenos e médios produtores que se organizam no sistema cooperativista, com a maioria produzindo até 100 hectares. Nessas mesorregiões, o relevo é mais acidentado, dificultando a mecanização. Já no Triângulo e Alto Paranaíba, em que predominam os médios e grandes produtores nessa cultura, o relevo é mais plano e, por isso, facilita a mecanização (diferentemente das regiões Sul/Sudoeste de Minas onde o relevo é mais acidentado). Nesse sentido, a mesorregião Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba teve uma melhor incorporação de tecnologia que a mesorregião Sul e Sudoeste de Minas, uma vez que o constante aprimoramento tecnológico e a mecanização em todas as etapas produtivas, inclusive, na colheita, fazem com que o processo produtivo seja mais mecanizado.

Já as mesorregiões menos dinâmicas e menos modernizadas, como Jequitinhonha, Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri e Zona da Mata, apesar da participação relevante do número de empregados nessa cultura, são regiões mais estagnadas economicamente, cuja produção é basicamente familiar, sendo praticamente inexistente a tecnologia no processo produtivo. As informações podem ser indicativas de que os empregados dessas regiões podem estar migrando para trabalharem na lavoura do café, principalmente, na colheita no Sul e Sudoeste de Minas. Daí a relevância dos empregados nessas mesorregiões em se tratando dessa cultura.

85 Conforme Vale, Calderaro e Fagundes (2014), algumas características e diferenciações dessas mesorregiões (TMAP e Sul e Sudoeste de Minas e Zona da Mata) podem ser destacadas, conforme Quadro 1, a seguir:

Quadro 1 - Comparação entre as principais características das culturas do café nas mesorregiões mais relevantes: Sul e Sudoeste de Minas, Zona da Mata, Triângulo e Alto Paranaíba e as mesorregiões menos dinâmicas e com baixo grau de modernização.

Características Café de Montanha: Sul e Sudoeste de Minas e Zona da Mata Café do Cerrado: Triângulo e Alto Paranaíba, Noroeste de Minas. Mesorregiões menos dinâmicas e com baixo grau de modernização: Jequitinhonha, Vale do Mucuri Estrutura Fundiária (Predomina o proprietário da terra) Pequenas propriedades (pequenos e médios produtores), a maioria até 100 hectares. Grandes propriedades com áreas médias de 100 hectares.

Regiões mais estagnadas economicamente com a presença de pequenas propriedades.

Processo Produtivo

(Uso de tecnologia) Relevo acidentado e baixos recursos financeiros dos pequenos e médios produtores dificultam a mecanização do processo produtivo. Os produtores criaram o sistema de cooperativas para facilitar a venda e a produção. O constante aprimoramento tecnológico e mecanização em todas as etapas do processo produtivo, inclusive na colheita, faz com que o processo produtivo seja mais mecanizado. Produção familiar e artesanal, sem incorporação de tecnologia no processo produtivo. Mão de Obra

Empregada Maior parte contratada no período da colheita (apanhadores de café), oriunda do Norte de Minas, Bahia e Paraná.

O uso de uma tecnologia mais avançada reduz o número de trabalhadores contratados.

Geralmente, a mão de obra é composta pelos próprios membros da família.

Aspectos

Geográficos Relevo acidentado, clima mais muito ameno (temperaturas baixas no inverno, temperaturas médias entre 16,5 e 20º C), sendo a Mata Atlântica o bioma predominante.

Relevo mais plano, clima mais quente e seco no inverno (temperaturas médias entre 18º e 21º C), e o bioma predominante é o cerrado.

86 Vale, Calderaro e Fagundes (2014), abordam também que nas mesorregiões Sul e Sudoeste de Minas, o café é considerado a principal atividade econômica, sendo o dinamismo econômico da região muito dependente da valorização dessa commodity. As cooperativas que comercializam a sua produção agem mais como uma agroindústria, estabelecendo um elo entre o café e o mercado, exigindo, assim, elevado padrão de qualidade e difícil de ser alcançado com poucos recursos. Já no TMAP, o agronegócio do café exclui cada vez mais os pequenos e médios produtores, diante da dificuldade de investir no desenvolvimento tecnológico exigido para aumentar sua competitividade (embora esses possam contar com o apoio das entidades filiadas à Federação dos Cafeicultores do Cerrado). Nessas mesorregiões, houve também uma expressiva incorporação de técnicas mais modernas facilitada pelos financiamentos públicos, pelo relevo e clima. Por outro lado apesar de no cerrado mineiro o processo produtivo abranger extensas área mecanizáveis, esse processo é excludente e modernizador em relação à mão de obra.

Ao tratar especificamente das regiões mais representativas nessa cultura, assim como suas particularidades em relação à produção, colheita e modernização, no TMAP, reportamo-nos também à leitura de Ortega e Jesus (2010). Os autores ressaltam a aptidão natural para o cultivo do café nessas regiões, principalmente, pelas condições de relevo, clima e solo, abordando também as variações de tamanho entre áreas de produção do café, nas mesorregiões do Estado, e o fato de que a fase da colheita é a mais onerosa pois exigem trabalhadores extras que são muito dispendiosos. O custo também se vincula em função das variações do relevo mineiro.

Algumas mesorregiões apresentam vantagens comparativas em relação às demais, como, por exemplo, regiões mais planas (TMAP) são mais apropriadas para as máquinas automotrizes que os terrenos inclinados, como no Sul e Sudoeste de Minas. Essas últimas mesorregiões têm um custo de mão de obra de 50%, mais ou menos, em relação ao custo de produção. Porém, essas mesorregiões têm como característica um maior volume de produção e a significativa geração de renda e ocupação de grande contingente de mão de obra.

Ainda conforme a leitura de Ortega e Jesus (2010), o relevo pode ser um dificultador, nessa região, para a implantação de técnicas mais avançadas de modernização. Para os autores supracitados, a declinação dos terrenos limita sensivelmente o uso de máquinas, o que torna a operação da colheita mais onerosa, a qual continua sendo praticada manualmente na maioria das propriedades, o que não ocorre na região do cerrado, por exemplo, que apresenta regiões mais planas. Daí o grau de modernização ser maior na região do cerrado.

87 O Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba apresentam médias de áreas maiores que as do Sul e Sudoeste de Minas, predominando os médios a grandes produtores. A mesorregião caracteriza-se, especialmente, pelo elevado investimento na adequação da fertilidade do solo (incremento marcante da mecanização), inclusive, em relação à operação da colheita e frequente adoção de práticas de irrigação. No TMAP, os avanços tecnológicos, nos últimos anos, possibilitaram um crescimento marcante da utilização de máquinas para essa cultura, estando uma das vantagens da utilização das colheitadeiras relacionada com a rapidez da operação de colheita.

Na mesorregião Sul e Sudoeste de Minas, os cultivos são pouco mecanizáveis e aplicam-se mais os métodos convencionais. O relevo apresenta áreas de topografia geralmente inclinada, sem utilização de equipamentos de irrigação. Verifica-se a predominância de pequenas áreas de cultivo do café, o que, aliada às limitações topográficas apresentadas pelos terrenos, explica a reduzida utilização de máquinas, principalmente, na colheita. Muitos trabalhadores que atuam na colheita dessa mesorregião provêm do norte de Minas e dedicam- se, além da colheita do café, à colheita da cana.

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