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A LINGUAGEM, O TEXTO E A LEITURA NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA APRENDER QUÍMICA

2.4. Características da linguagem científica

A linguagem científica tem características próprias que as diferencia da linguagem comum, características determinadas sócio e historicamente no processo de desenvolvimento das ciências. Reconhecer essas diferenças implica admitir que a aprendizagem na escola é inseparável da aprendizagem da linguagem e do léxico das disciplinas escolares baseadas nos conhecimentos científicos. (Núñez, 2009.p. 45).

É fato que cada ciência ou conjunto de saberes possui sua própria linguagem, conceitos específicos e terminologias apropriadas. Desse modo, é imprescindível, para o entendimento da Ciência Química, que seja explicitada a importância de tal vertente, a fim de alcançar certo grau de letramento científico por parte dos estudantes.

As nossas atividades são realizadas no mundo social, em situações concretas, e é através da linguagem, nas suas diferentes modalidades, que ocorrem muitas das nossas ações. São as situações sociais, com objetivos sociais e com modos sociais de interação, que determinam, em grande medida, os tipos de atividades que podem ser realizadas.

A linguagem científica tem como principal finalidade informar e comunicar. Têm-se como principais característica de acordo com Moya (2003.p.19): precisão, neutralidade, universalidade e concisão.

a) Precisão: talvez seja a qualidade mais importante da linguagem científica. Os cientistas

de todos os campos têm se esforçado, ao longo da história, por encontrar uma terminologia própria para cada termo que corresponda, univocamente, a um conceito ou definição com a finalidade de evitar ambiguidades da linguagem vigente. Na linguagem científica, se tem uma finalidade absoluta de linguagem literal entendido como o oposto da linguagem figurada. O preço a pagar por essa precisão absoluta é a falta de brilho literário, já que há necessidade de utilizar sempre o mesmo termo para referir-se a um conceito anterior que este se repete outras vezes nos textos científicos.

b) Neutralidade: a linguagem científica está livre de significados, conotações e laços

afetivos, frequentes nas mensagens da linguagem comum e literária. Há campos da ciência em que essa neutralidade está praticamente alcançada, enquanto determinados termos de algumas áreas científicas ao passar a ser usada na linguagem comum adquirem conotações efetivas. Por exemplo, termos como radioativo, voltagem, calorias, energia, etc.

c) Universalidade: a linguagem científica é utilizada por toda a comunidade científica.

terminológicas estabelecidas. Essa universalidade tem enormes vantagens, inclusive econômica como o caso da aplicação do Sistema Internacional de unidades (SI), os símbolos dos elementos químicos, a nomenclatura Química IUPAC, etc.

d) Concisão: supõe-se que a linguagem científica tende a expressar as ideias com o menor

número de palavras. Particularmente, portanto, a propensão para substituir frases inteiras por uma única palavra ou expressão como, por exemplo, raiz quadrada, combustão, centro de gravidade, os símbolos dos elementos químicos (H, He, Li, Be...), as fórmulas das substâncias (H2O, Nacl, HCl, entre outros).

Devido ao conhecimento científico ser formado por um conjunto de estudos teóricos e experimentais sobre um objeto, o químico estabeleceu um caminho próprio entre as ciências enfrentando dificuldade de interpretação e descrição dos fenômenos de transformação da matéria, o que levou à criação de uma linguagem própria para interpretação e compreensão dos conhecimentos químicos. (SILVA, et al., 2008).

Nota-se que é imprescindível apropriar-se dessa linguagem, reconhecer suas características como um meio de comunicação para melhor compreensão de fenômenos e problemas da vida; essa apropriação é alcançada por meio da leitura.

Diante dessas considerações, o estudante, situado no contexto das aulas de química, aprende através da mediação proporcionada pelo professor e pelos colegas e materializada pela linguagem. Não é um indivíduo em relação isolada com o objeto, mas socialmente influenciado e que aprende através da mediação com o outro.

2.5. O Texto

O texto é considerado elemento de interação, marcado pela coesão entre seus elementos e pela sua coerência interna/ externa. Uma sequência de frases não pode, portanto, ser chamada de texto se não houver uma relação de significados entre elas. “O texto é um evento sócio comunicativo, que ganha existência dentro de um processo interacional. Todo texto é resultado de uma coprodução entre interlocutores”. (KOCH; ELIAS, 2010.p.13).

Segundo Prat e Izquierdo (2000, p.76), o texto é um instrumento que facilita muito a tarefa de ensino e aprendizagem em qualquer nível educativo. Utilizar um texto melhora o processo comunicativo na aula ao qual possibilita a negociação de significado e permite construir conhecimento de maneira pessoal e coletiva, favorecendo ao mesmo tempo as conexões e inter-relações entre as estruturas antes e o novo conhecimento que deve assimilar, para assim aprender. Para esse autor, o texto é um instrumento que permite elaborar e comunicar conhecimento e que também traz conhecimento.

É um meio de conhecimento, o texto também é a unidade comunicativa. Para Bronckart (1999, p.137) a noção de texto designa toda a unidade de produção verbal que veicula uma mensagem linguisticamente organizada e que tende a produzir efeito de coerência em seu destinatário.

Na escola sócio-histórica, os textos são produtos da atividade de linguagem em funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus objetivos, interesses e questões específicas, essas formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características relativamente estáveis. (BRONCKART, 1999, p.137).

Evidentemente, o texto constitui o eixo das atividades de compreensão leitora. A Linguística Textual é a ciência linguística que estuda o texto como unidade mínima de comunicação.

A primeira informação importante a ser considerada no momento da leitura é que todo texto faz referência a uma situação concreta. Essa situação é o contexto. Há diferentes tipos de contexto (social, cultural, estético, político, científico, escolar...) e sua identificação é fundamental para que se possa compreender bem o texto.

No contexto da comunicação científica, o texto científico, muitas vezes, requer uma leitura prévia de outros textos com informação sobre o assunto em questão, frequentemente, a leitura de um texto científico demanda algum conhecimento teórico sobre o tema que está sendo abordado. Esses textos são específicos, construídos com linguagem característica, própria de uma comunidade, como será caracterizada mais adiante. Portanto, é um texto que requer muita atenção no momento da leitura, por apresentar vários elementos próprios, no caso da Química, símbolos, esquemas, fórmulas, etc.