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CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO JORNALISMO

CAPÍTULO 4 O JORNALISMO E O TELEJORNALISMO ENQUANTO MEIOS DE

4.1. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO JORNALISMO

O jornalismo pode ser pensando e trabalhado em suas diferentes linguagens e meios, seja pelos jornais e revistas, televisão, rádio e a internet. Todos os veículos de comunicação têm em comum um único objetivo: de informar a sociedade sobre fatos e conteúdos noticiosos, com temas variados, e de relevância para vários tipos de público. Nesta linha, Gislene Silva (2009, p. 12) observa que o jornalismo pode ser visto como uma prática social eminentemente comunicativa e comunicacional, que agrega tecnicidade, perspectiva relacional, interação social, lugar de poder, política, produção econômica, circulação de discursos sociais, narrativa mítica, dimensão imaginária, troca simbólica e cultural. Em síntese, Gislene Silva (2009, p.14) resume as principais funções do jornalismo:

(1) transmite informações sobre qualquer assunto ou acontecimento: política, arte, ciência, entretenimento, economia, catástrofes etc, fazendo circular conhecimentos múltiplos.

(2) torna públicas as informações, faz saber a muitos.

(3) informa sobre temas e acontecimentos atuais, sejam do tempo presente ou do passado e que vieram à luz recentemente.

(4) para socializar informações, ele faz uso de linguagens, narrativas e simbologias (as estéticas de texto, imagem, som) e técnicas modelares.

(5) salienta do universo social vivido fenômenos singulares, ao mesmo tempo únicos e exemplares (ocorrências passíveis de observação ou questões manifestas à consciência),

(6) para transmitir utiliza diferentes aparatos, com tecnologias sofisticadas ou não. (7) para socializar informações, exige trabalho e organização, sendo, portanto, uma mercadoria.

(8) ao selecionar informações, ele faz uso de seus próprios interesses.

(9) dirige informações a diferentes públicos, dada a heterogeneidade dos receptores, que por sua vez respondem por interesses também diversos.

(10) ao socializar informações colhidas na própria sociedade, ele mesmo é objeto de interesses externos (empresas, governo, pessoas comuns).

A autora leva em conta que as diferentes manifestações jornalísticas se transformam historicamente e que o processo de comunicação social tanto se dá na manifestação comunicativa (interpessoal) como na comunicacional (mediada pela tecnologia). "Portanto, é preciso considerar o fenômeno noticioso em suas múltiplas configurações. Seja quando mediado pela tecnologia da imprensa, rádio, tv, internet e multimídia, ou quando manifesto na forma manuscrita e mesmo na oralidade". (SILVA, 2009, p. 12).

Além destas múltiplas configurações apontadas por Silva (2009), Josenildo Guerra (2008) observa duas abordagens principais do jornalismo: subjetivismo e construcionismo. A primeira fundamenta-se numa distinção entre ocorrência e acontecimento. "O acontecimento é a apropriação subjetiva desta ocorrência feita pelo repórter" (GUERRA, 2008, p. 56). Segundo o autor, o construcionismo configura-se numa abordagem que tem na sociologia do

conhecimento a sua base, isto é, nos processos sociais que de algum modo validam e legitimam o conhecimento produzido pelo homem.

Com relação às implicações éticas para o jornalismo, há duas teses, de acordo com Guerra. Na primeira, o jornalismo seria uma atividade estratégica na luta social para a imposição de quadros interpretativos do mundo. "[...] De acordo com a segunda tese, tal situação vai gerar socialmente a indiferença diante de questões éticas". (GUERRA, 2008, p.65). Segundo Liriam Sponholz (2009), o trabalho jornalístico não é determinado unicamente pela busca da realidade, mas também pelas expectativas do leitor, pela estrutura organizacional das empresas jornalísticas e pelos valores profissionais dos jornalistas. "A produção de uma notícia é determinada tanto pela utilização de escolhas racionais (método) quanto pelas repetições inconscientes apreendidas e socializadas na redação, ou seja, as rotinas produtivas". (SPONHOLZ, 2009, p. 123).

Neste viés, Guerra (2008) defende que o maior desafio para os críticos da instituição jornalística é demonstrar como o jornalismo simula objetividade, neutralidade e imparcialidade "quando no fundo se constitui num instrumento de luta social, normalmente denominado por setores hegemônicos, que lê a realidade e direciona as polêmicas sempre de forma a manter a estabilidade da ordem social vigente". (GUERRA, 2008, p. 98).

Sponholz (2009) complementa que diversos procedimentos no jornalismo exigem uma racionalidade mínima como escolher um tema, enquadrá-lo, selecionar fontes, formular perguntas. Estes procedimentos, segundo a autora incluem uma série de decisões que não são tomadas de forma obrigatória ou automática. Gaye Tuchman (1983), citado por Guerra (2008, p.84), ressalta alguns procedimentos que contribuem para que os jornalistas acreditem na objetividade de seus relatos:

1) a verificação (checagem de informações junto a outras fontes); 2) apresentação de possibilidades conflituais; 3) apresentação de provas auxiliares; 4) o uso judicioso de aspas; e 5) a estruturação da informação numa seqüência apropriada, dos fatos mais importantes para os menos importantes.

Com relação à escolha e checagem das fontes, Josenildo Guerra (2008) destaca que a neutralidade exigida para o jornalismo a partir dos pressupostos realistas remete basicamente a uma condição que as empresas e profissionais do jornalismo devem satisfazer: "manter o devido distanciamento das fontes implicadas num fato, a fim de evitar quer um envolvimento emocional quer a cooptação do repórter através de alguma vantagem oferecida". (GUERRA, 2008, p. 95).

Outra característica importante do jornalismo refere-se à atualidade que, nas palavras de Otto Groth (2011, p. 245), é considerada o coração do jornal, "que bombeia o sangue

ininterruptamente por todas as seções do jornal". O jornalismo, segundo o autor, quer coisas certas, quer informar sobre o já resolvido e preparado. "O que ele comunica é presente que se refere ao futuro". (GROTH, 2011, p. 229). Com relação à universalidade, Groth destaca que um jornal agarra tudo o que faz parte do mundo diante dos seus leitores.

Muitas vezes agarrando de fato errado e deixando lacunas, nem sempre imediata e consequentemente, muitas vezes duvidando e hesitando, impedido por questões externas ou contrariando a si próprio, atentando só em um estágio tardio, atento e movido por alguma ocasião especial, por alguma pressão, por um motivo atual qualquer, mas, apesar de tudo, sempre sujeito à lei da universalidade e seguindo as suas regras. (GROTH, 2011, p. 217)

A periodicidade também está associada na organização do jornalismo. Segundo Otto Groth (2011, p. 150), a periodicidade pertence à natureza de qualquer jornal ou revista, ela é por si uma característica essencial dos meios de comunicação como tal. "A periodicidade do jornal já contém, portanto, na sua essência uma relação com o sujeito, pode dizer-se que esta relação é definida por uma consciência ideal como periodicidade". De acordo com o autor, a periodicidade do jornal é influenciada de maneira mais vigorosa pelas inúmeras aparições periódicas e movimentos do consumo sociocultural e natural.

Com o seu retorno periódico, jornais e revistas incitam e coagem os leitores à leitura, os acostumam a eles, ao seu pensar e querer e alcançam por fim uma dependência uns dos outros, uma ligação recíproca, que se intensifica até tornar-se imprescindível, não só no aspecto comercial, político, de entretenimento e assim por diante, mas também no emocional, psíquico. Este relacionamento duradouro, sobretudo também os vínculos psíquicos, internos, são de significado econômico decisivo para a empresa. (GROTH, 2011, p. 166).

Liriam Sponholz (2009, p. 125), também define que jornalistas trabalham com hipóteses que se originam de processos de categorização tanto estáveis quanto duráveis, "Assim um jornalista pode analisar o problema social da fome a partir de uma perspectiva individual, enquanto um outro pode analisar o mesmo tema através da reação do Estado ao problema". Outro ponto destacado pela autora diz respeito aos testes dos jornalistas das suas hipóteses. "Para isso, selecionam fontes, formulam suas questões e lidam com seus entrevistados de determinada maneira". (SPONHOLZ, 2009, p. 125). O esquema a seguir apresenta o processo de seleção dos temas a serem noticiados e os testes das hipóteses:

Escolha do objeto: seleção dos temas, interpretação/categorização do acontecimento; Pré-investigação: averiguação das informações já disponíveis, escolha das fontes para esclarecer o nível factual e ampliação das informações; Formulação de hipóteses; Teste de hipóteses: escolha das fontes para o nível interpretativo, formulação das perguntas (roteiro da entrevista) e realização das entrevistas; Seleção das informações levantadas; Redação. (SPONHOLZ, 2009, p. 136).

Com relação à linguagem do jornalismo, Rosane Rosa (2003, p. 11), destaca que "o discurso jornalístico possui perfil seletivo, pois descarta a disponibilidade dos discursos, que

não são úteis às condições de produção da sua oferta comunicativa". A autora complementa ainda que o chamado 'discurso da atualidade' é pautado no futuro, servindo de orientação para o presente, vislumbrando e abrindo possibilidades e explorando as conseqüências de uma ação.

No entanto, Rosa (2003, p. 7) alega que o discurso jornalístico é frágil e sujeito a múltiplas complementações e alterações, "Podemos até questionar a verdade de suas informações. Mas, por qualquer viés que analisemos o campo jornalístico, ou o campo organizacional, concluímos que as informações são relativas e que não existe “a verdade”, e, sim, pontos de vista". A autora refere-se que o discurso e a linguagem no jornalismo podem ser consideradas partes camufladas de uma visão parcial que se tem do mundo. Assim como os jornalistas selecionam as fontes e definem os seus objetos, os relatos ou redação final, como poder ser chamada, é, para Rosa (2003), apenas uma opinião dos profissionais em formato de texto divulgado aos consumidores. Fator que, muitas vezes, pode excluir a riqueza de dados, fatores sociais e culturais.