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5 CONFLITOS SOBRE NOMES DE DOMÍNIO

5.1 POLÍTICA PARA RESOLUÇÃO UNIFORME DE LITÍGIOS SOBRE NOMES DE DOMÍNIO – UNIFORM DOMAIN NAME

5.1.3 Características principais

Os principais pontos da UDRP a serem observados são: (i) legitimidade ativa; (ii) caracterização de registro ou uso de má-fé; (iii) demonstração de interesse legítimo por parte do detentor do registro de domínio, como se verá a seguir.

A UDRP condiciona a concessão ou registro de um nome de domínio à declaração do requerente de que: (a) as afirmações prestadas no seu Contrato de Registro são completas e exatas; (b) tem conhecimento que o registro do nome de domínio não irá infringir, ou de outra forma violar, quaisquer direitos de terceiros; (c) não pretende registrar o nome de domínio para efeitos ilegais; e (d) não pretende utilizar, deliberadamente, o nome do domínio em violação de quaisquer leis ou regulamentações aplicáveis (item 2).

Por meio destas declarações pretende-se evitar o

comprometimento dos órgãos registradores em caso de quebra ou violação de direitos de terceiros em função dos nomes de domínio registrados. Nas palavras de Martins (2009, p. 126): “Com isso libera o registrador de qualquer dever de verificação prévia sobre a licitude e disponibilidade do signo que compõe o domínio registrado.” Neste caso, esta tarefa cabe ao requisitante que, se não a fez, assumirá a responsabilidade.

É previsto o cancelamento, transferência ou alteração dos registros dos nomes de domínio nas seguintes hipóteses: (i) solicitação do detentor do nome de domínio; (ii) por ordem de tribunal ou tribunal arbitral, de jurisdição competente; (iii) por decisão do painel, no âmbito de ação administrativa conduzida nos termos da UDRP (item 3).

Destaca-se que, durante a resolução de controvérsias, seja por meio dos centros vinculados à ICANN ou do judiciário, o domínio em questão é “congelado” pelo provedor responsável, não sendo permitida a sua transferência a qualquer terceiro até 15 (quinze) dias após a sua solução, de forma a impedir a prática de atos fraudulentos pelo seu detentor (item 8, a)

Nos termos exatos da UDRP, e como recomendado pelo Relatório OMPI, apenas detentores de marcas registradas possuem legitimidade para utilizar-se de suas normas. No entanto, esta legitimidade ativa ampliou-se com o decorrer do tempo, permitindo o acesso ao procedimento por detentores de marcas não registradas e, até mesmo, titulares de outros sinais distintivos.

Os detentores de nomes de domínio estarão sujeitos a procedimento administrativo obrigatório, conduzidos por centros de

solução de conflitos credenciados, em caso de reclamação de terceiros, nas seguintes hipóteses: (i) o nome de domínio é idêntico ou confusamente similar a uma marca sobre a qual o reclamante possua direitos; (ii) o Reclamado não possui quaisquer direitos ou interesses legítimos em relação ao nome de domínio; e (iii) o seu nome de domínio foi registrado e está sendo utilizado de má-fé (item 4, a).

Observa-se que, para aceite da reclamação, esta deve estar fundamentada cumulativamente nos três requisitos acima. Não é possível, por exemplo, a contestação do registro caso o domínio seja idêntico à marca e o detentor possuir direitos ou interesses legítimos (casos de concurrent claims) e esteja a fazer uso de boa-fé do nome de domínio. Esta exigência exclui, a princípio, disputas entre titulares de marcas registradas em locais distintos ou classes diversas, ou entre detentores de outros sinais distintivos.

Constata-se então ser necessária a prova de má-fé por parte do detentor do registro. E este é, sem dúvida, o item de mais difícil comprovação, em virtude de sua subjetividade. Por conta disto, a própria Política prevê, de maneira exemplificativa, as circunstâncias que demonstram a má-fé do titular do domínio (item 4, b), sendo estas: (i) as que indiquem que o domínio foi registrado com o objetivo de venda ou, de outro modo, transferência do registro ao proprietário da marca, ou a um concorrente seu, por um valor considerado excessivo em relação aos seus custos; (ii) o detentor tenha registrado o nome de domínio de forma a impedir que o proprietário da marca o utilize; (iii) o detentor tenha registrado o nome de domínio com o objetivo de atrapalhar o negócio de um concorrente; ou (iv) ao utilizar o nome de domínio, o detentor tente intencionalmente atrair, para efeitos de ganho comercial, usuários da Internet, criando a possibilidade de confusão com a marca do Reclamante.

Com a exemplificação de condutas, tenta-se oferecer maior precisão, diminuindo a subjetividade da questão no momento de dirimir as controvérsias, criando assim, na expressão de Marcos Rolim Fernandes Fontes, os chamados “portos seguros” para o responsável pela decisão. (2004, p. 120)

Para sua comprovação, necessário que o reclamante demonstre a ocorrência de apenas uma das circunstâncias acima citadas, autorizando então a transferência ou cancelamento do registro, conforme aplicável, sendo estas as únicas reparações cabíveis no âmbito da UDRP (item 4, i), não sendo possível a cobrança de qualquer indenização por danos sofridos ou ressarcimento com custos relativos ao procedimento. Caso o

titular da marca entenda devido quaisquer ressarcimentos, este deverá acionar o Judiciário competente para tanto.

Quanto à eventual transferência ou cancelamento do domínio, uma das destas medidas será determinada de acordo com o pedido do requerente, titular da marca. Caso o domínio utilize a marca de forma idêntica, é interessante que esta seja transferida ao seu titular, pois desta forma este poderá utilizar-se para alcance de seu próprio website.

O mesmo pode ocorrer se a marca estiver reproduzida de forma similar, mas que seja comercialmente atrativa, como por exemplo, no caso de marcas estrangeiras (xxx.com) acrescidas do local de uso (xxxbrasil.com.br).

Contudo, se o domínio reproduzir a marca sem que interesse ao seu titular a sua utilização, este pode requerer apenas o seu cancelamento, impedindo a utilização de má-fé, para que não cause confusão aos usuários da Internet ou tenha sua marca difamada ou diluída.

Imprescindível que a má-fé arguida pelo Reclamante seja realmente comprovada, não sendo suficiente sua mera alegação. Ainda que, como afirma Tinoco Soares (2001, p. 69), tenha sido estabelecido um mecanismo de “presunções” neste procedimento administrativo. Entende-se que tal mecanismo limite-se à indicação de condutas que “presumem” a má-fé do titular do domínio, mas estas devem efetivamente ser comprovadas e contextualizadas.

Neste sentido, pode-se considerar que algumas práticas pressupõem má-fé, como por exemplo, oferecer o domínio à venda; impedir o uso da marca por seu proprietário, a prática de “passive

holding”, que significa deixar o site sem utilização, tampouco contatar o

proprietário da marca pra negociação; perturbar sua atividade comercial; a hospedagem de anúncios e links patrocinados, incluindo publicidade de concorrentes do detentor da marca; ou aproveitar-se economicamente da confusão que se origina entre marca de terceiro e o nome de domínio. A este respeito, assim se manifestou Snehlata Singh (2011, p. 31):

É de se notar que um mero registro de um nome de domínio que se assemelha a uma marca registrada não constitui má-fé. A marca registrada não fornece quaisquer direitos automáticos sobre nomes de domínio. Tampouco qualquer tentativa de venda do domínio registrado para o proprietário da marca equivale a registro abusivo .

O ônus da prova da presença de má-fé recai sempre sobre o Reclamante. A tentativa de venda de um nome de domínio tendem a pesar em favor da existencia de má-fé, mas não é necessariamente absoluta.

Destaca-se que, enquanto a primeira conduta relacionada à comprovação de má-fé, está diretamente relacionada aos casos de

cybersquatting, como se verá adiante no item 5.3.1, pois o intuito do

detentor é o lucro com a transferência do registro, as demais, incluindo

typosquatting, representam a materialização da concorrência parasitária,

com o detentor do nome de domínio aproveitando-se da fama alheia para auferir vantagens.

O reclamado, detentor do nome de domínio, por sua vez, deve demonstrar que possui direito ou interesse legítimo na sua utilização, com a comprovação de quaisquer das hipóteses a seguir indicadas: (i) já utilizava, de boa-fé, o nome de domínio, antes mesmo da reclamação ser proposta; (ii) é usualmente reconhecido pelo próprio nome de domínio, ainda que não seja titular de marca correspondente; (iii) utiliza, de forma não comercial, sem a intenção de obter lucro com a confusão dos consumidores ou denegrindo a marca em questão (item 4, c).