CARACTERISTICAS GERAIS DO CONSUMO ALIMENTAR: DIFERENÇAS E

Tomando os dados empíricos gerados na pesquisa realizada no município de Palmeira das Missões/RS, este capítulo apresenta as características do consumo alimentar de forma geral, como tipos de refeições, hábitos de realizar as refeições preparadas em casa; valor gasto com alimentação nas diferentes faixas de renda. Com base tanto das entrevistas quanto no R24h, foi possível identificar que os consumidores, de modo geral, relatam que os alimentos consumidos são provenientes, em grande parte, das compras em estabelecimentos, como discutido no capítulo anterior. Alguns com menor intensidade, consomem parte dos alimentos adquiridos de agricultores ou direto da chácara1_.

Ao analisar aspectos do consumo alimentar, foram observadas algumas características que, sugerem que o consumo de refeições em casa ainda é predominante. A prática do consumo fora de casa foi observada apenas em consumidores com perfil de renda mais elevado que, eventualmente, costumam realizar refeições em restaurantes a quilo ou buffet livre. Cabe

1 _{Os interlocutores desta pesquisa se referem à chácara como uma propriedade, de característica familiar, localizada} na zona rural do município.

destacar que no município de Palmeira das Missões não há restaurantes que pertencem as redes de fast food como ocorre em cidades maiores. Nas famílias com rendimentos maiores, com renda acima de sete salários mínimos por mês, há a presença de uma pessoa contratada que se responsabiliza pelo preparo de refeições principais, como o almoço.

A aquisição e consumo frutas e hortaliças aparece, geralmente, para todos os consumidores, mas ocorre com maior frequência e variedade quando o rendimento dos consumidores é mais elevado. Os alimentos ultraprocessados são consumidos em todos os perfis de renda, mas a seleção dos alimentos é diferenciada, de modo que, quem tem renda mais alta relatou consumir, na maioria das vezes, pizzas, lasanha, barra de cereal, molhos em geral. Os consumidores com rendimentos mais baixos foram citadas bolachas, salgadinhos, miojo, suco em pó e extrato de tomate, por exemplo.

Quanto ao valor gasto com a alimentação, houveram relatos de famílias com menores rendimentos que destinam cerca de R$ 150,00 mensais, sendo a família composta por três pessoas (um adulto e duas crianças); o valor mais alto gasto com alimentação relatado chega a R$ 3.500,00 por mês em um domicílio em que residem quatro pessoas (dois adultos e duas crianças). Para esses consumidores de renda mais elevada, o valor destinado a alimentação não é uma preocupação se comparado às famílias de renda menor.

As diferenças entre o rendimento dos consumidores entrevistados e os valores gastos com alimentação refletem quais alimentos são adquiridos pelas famílias. Nesse sentido, a alimentação pode ou não ser mais variada, como pode ser observado no Quadro 6, em que estão exemplificadas as características da alimentação das famílias entrevistadas, conforme a renda, tomando como base o intervalo de um dia.

Os dados apresentados no Quadro 6, que não representam a totalidade2 das famílias entrevistadas, foram escolhidos porque representam famílias de renda alta, média e menor. Pode ser observado que, para as famílias que têm a renda elevada, houve maior variedade na alimentação, principalmente em relação a composição das refeições, em que é possível observar maior consumo de frutas e hortaliças e mais variedade para esse tipo de alimentos, é importante destacar que o arroz e o feijão aparece como base do almoço para todos os extratos de renda. Embora o R24h apresente a alimentação somente de um dia, os dados gerados por essa técnica sugerem que famílias que têm renda muito baixa apresentam alimentação mais restrita a poucos alimentos. Associa-se a essa característica o fato de que a compra de alimentos ocorre

somente quando se recebe recursos financeiros o que, na maioria das vezes, não torna possível repor os alimentos quando estes estão acabando.

Quadro 6 - Registro de refeições diárias com base no Recordatório de 24 horas de algumas famílias entrevistadas, de acordo com diferentes faixas de renda, Palmeira das Missões, 2019

Alimentos/refeições Característica

Não toma café

ALMOÇO

Arroz; Feijão; Repolho; Carne

JANTAR

Arroz; Feijão; Massa

Consumidora 12 Renda baixa

CHIMARRÃO

CAFÉ DA MANHÃ

Banana, Bolacha caseira

ALMOÇO

Arroz, Feijão, Macarrão, Carne moída, Repolho e cenoura, Laranja

TARDE

Bolacha caseira

JANTAR

Café preto, Cacetinho, Margarina, presunto, queijo

Consumidora 14 Renda média

CAFÉ DA MANHÃ

Pão caseiro, Margarina, Café, Uva

ALMOÇO

Arroz, Feijão, Bife, Rúcula, Tomate

TARDE

Suco de laranja, Pão caseiro, Balas de goma

JANTAR

Massa pappardelle caseira com molho bolonhesa (carne moída, cenoura, cebola, tomate, ervilhas e creme de leite), Suco integral, Uva

Consumidora 5 Renda alta

Fonte: Pesquisa de campo, 2019.

A compra dos alimentos para consumo é organizada conforme a disponibilidade de renda, de modo que alimentos com durabilidade mais longa são adquiridos em maior quantidade em um rancho para um ou dois meses. Para famílias com rendimentos mais baixos, ao longo do mês, conforme os alimentos vão acabando, a alimentação vai ficando restrita a alguns alimentos, pois não há condições de repor os alimentos antes do próximo mês ou até que se receba algum recurso financeiro, como pode ser observado nos trechos das entrevistas a seguir:

É por mês, é só no próximo mês, não é fácil. Se a gente não tem a sorte que a gente um ajuda o outro, me empresta tal coisa, quando a gente faz rancho traz a mais né... então a gente é assim, se ajuda (Consumidora 12).

Eu ganho a Bolsa Família das crianças, né, quando a gente ganha aquele dinheiro vai fazer umas compras boa (Consumidora 19).

Uma vez por mês, um rancho mensal, digamos um rancho grande e depois vai a cada quinze dias, uma vez na semana pegar o que vai faltando; e daí as frutas é mais por semana mesmo, conforme vai usando (Consumidora 10).

O rancho mensal é um uma prática muito comum e, entre as famílias entrevistadas, ocorre independentemente de a renda ser mais baixa ou mais elevada. No entanto, o que aparece como diferença é que aqueles consumidores com poder aquisitivo maior conseguem repor alimentos conforme acabam. Nesse sentido, inclusive a compra de alimentos in natura ocorre com frequência semanal ou quando termina. Já para consumidores de baixa renda, as compras de in natura ficam limitadas à disponibilidade de recursos, aspecto que será explorado na próxima seção.

5.2 O CONSUMO DE IN NATURA E MINIMAMENTE PROCESSADOS: QUEM