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4. Proposta de construção de um itinerário turístico-literário queirosiano em Sintra centrado na

4.1. A criação de um itinerário queirosiano turístico-literário em Sintra: forças e fraquezas,

4.1.1. Sintra e a região envolvente

4.1.1.5. Caracterização ao nível turístico

Sintra é o primeiro concelho da Área Metropolitana de Lisboa em termos de internacionalização turística (número de hóspedes estrangeiros/dormidas totais) e de património mundial classificado, sendo o segundo concelho da AML melhor dotado em termos de museus, de galerias de arte e de arquitectura civil residencial classificada. Três dos museus estão integrados em Palácios Nacionais (Sintra, Queluz e Pena). Segundo o Plano Estratégico do Concelho de

Sintra, existe um potencial de receitas associado ao Turismo que está por explorar, assim como um forte potencial para desenvolver segmentos de qualidade (GANEC, 2005a).

Já um relatório de 1996 salientava que “a riqueza patrimonial e paisagística do Concelho encontra condições óptimas para o incentivo e promoção de iniciativas relacionadas com as vertentes do turismo rural, do turismo de natureza e do turismo de habitação, que alia e promove a preservação e revalorização de imóveis e espaços envolventes, assim como a vertente cultural do lazer” (CMS – GSIG/GPE, 2000:66).

Para além da diversidade e atractividade dos recursos turísticos de Sintra, o concelho tem ainda uma localização geográfica privilegiada, devido à sua proximidade a Lisboa, estando ainda dotado de boas infra-estruturas ferroviárias, interfaces rodo-ferroviárias e de uma base aérea. O potencial financeiro do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional) e o potencial para a criação de uma imagem promocional própria para Sintra são outros pontos positivos a assinalar (GANEC, 2005a).

A adjacência a Lisboa, importante foco de atracção de turistas internacionais, epicentro do Turismo de negócios e de congressos a nível nacional e grande centro populacional, contribui para o desenvolvimento turístico de Sintra. O concelho, pelas suas características e envolvência paisagística, pode funcionar como um pólo com traços opostos aos de Lisboa, pela predominância dos espaços verdes, apelando ao lazer e à evasão do stress e ritmo acelerado de uma capital.

Dada a distância a que está de Lisboa, a vila pode beneficiar não só da proximidade ao aeroporto mas, em particular, dos voos low-cost e dos passageiros que estes trazem. Segundo um estudo do Turismo de Portugal juntamente com a ANA – Aeroportos de Portugal realizado junto dos passageiros low-cost que passaram por Lisboa, o seu perfil-tipo correspondia ao de um homem, com grau universitário, em férias ou city break, que escolhe a viagem pelo preço e faz a reserva pela Internet, variando a sua estadia entre os três dias e uma semana (Jornal Opção Turismo, 2005). Na maioria dos casos, as viagens a Lisboa são feitas ocasionalmente ou mesmo pela primeira vez, confirmando a capacidade de as low-cost captarem novos turistas. Através das companhias low-cost os turistas podem poupar nas viagens e usufruir de alojamento em hotéis de categoria superior ou realizar mais viagens por ano (Inside Lisboa, 2005). O Turismo em Sintra poderá beneficiar destes visitantes que, pelo seu perfil psicográfico, poderão ser atraídos pela imagem veiculada por Sintra, fomentando assim o turismo cultural e de qualidade.

No entanto, há ainda algumas barreiras ao pleno desenvolvimento turístico do concelho, tais como carências ao nível do alojamento turístico e existência de fluxos de visitantes diários que muitas vezes excedem a capacidade de carga de imóveis de grande valor patrimonial, tais como o Palácio Nacional de Sintra e o Palácio da Pena (GANEC, 2005a). Já em 1996 era diagnosticado um notório sub-equipamento ao nível das unidades hoteleiras face à “elevada e conceituada expressão turística do Concelho” (CMS – GSIG/GPE, 2000: 65). Para além de o número de unidades hoteleiras existentes ser reduzido (22 unidades), as suas categorias são muito discrepantes, resultando numa carência de unidades de categoria intermédia. Consequentemente, a taxa de pernoita em Sintra é bastante reduzida, preferindo os turistas Lisboa ou Cascais.

Verificava-se ainda que, em 1996, apenas 26% dos estabelecimentos relacionados com o alojamento e restauração tinham unidades com mais de cinco pessoas ao serviço, evidenciando uma elevada predominância de unidades de pequena dimensão (CMS – GSIG/GPE, 2000). Em relação ao sector da Alimentação e Bebidas (restaurantes, cafés, pastelarias e cervejaria, cantinas), este englobava 96% dos estabelecimentos ligados ao alojamento e restauração e 85% do pessoal ao serviço neste sector (CMS – GSIG/GPE, 2000).

Quanto às agências de viagens, estas eram inexpressivas face à dimensão e população do Concelho (existiam apenas quatro). Esta escassez é em grande parte justificável pela proximidade e dependência de Lisboa e superfícies comerciais junto ao Concelho (CMS – GSIG/GPE, 2000: 69).

Verifica-se ainda uma atomização dos museus de Sintra que, no entanto, se tem procurado ultrapassar. Ainda recentemente a gestão do Parque e do Palácio da Pena era feita por entidades diferentes (GANEC, 2005a); porém, estes são hoje geridos pela Parques Sintra, Monte da Lua, empresa de capitais exclusivamente públicos e que gere diversos parques e monumentos sintrenses.

Em relação à distribuição da procura turística no tempo, há uma concentração nas visitas aos museus e monumentos sintrenses nos meses de Verão, de Julho a Setembro, havendo uma procura particularmente acentuada em Agosto. Em Abril e Maio regista-se um ligeiro aumento da procura, sendo que esta é mais reduzida entre Novembro e Fevereiro, não excedendo os 100 000 visitantes por mês em média nesta época do ano (cf. Anexo Nº 30) (Divisão do Turismo, comunicação pessoal, 7 de Abril de 2009). No entanto, é possível verificar que a procura tem aumentado mais na época baixa do que na época alta (cf. Anexo Nº 31). Quanto ao número de visitantes nos postos de Turismo, este aumentou cinco vezes nos últimos dezasseis anos, o que parece ser um indicador positivo (cf. Anexo Nº 32) (Divisão do Turismo, comunicação pessoal, 7 de Abril de 2009).

Em relação à distribuição da actividade turística no território, nem todo o concelho pode ser caracterizado como “turístico”. O Plano Estratégico do Concelho de Sintra distingue quatro “Sintras”, de acordo com as suas características geográficas e económicas: Sintra Histórica e Parque Natural, Sintra Rural, Sintra Industrial e Corredor Urbano (para mais informações, cf. GANEC, 2005a). Os espaços Sintra Rural e Sintra Histórica e Parque Natural são os que apresentam um maior potencial ao nível turístico, sendo este último o de maior relevância no âmbito deste estudo sendo, por esta razão, objecto de análise mais detalhada neste capítulo (cf. mapa – Anexo Nº 33).

A área denominada Sintra Histórica e Parque Natural tem uma área de 112 km2 e 37936 habitantes, correspondendo a 10,4% da população do concelho. A sua densidade populacional é de 337 habitantes por km2, muito inferior à média do concelho. De 1991 até 2001 registou um aumento populacional muito significativo, na ordem dos 25% (GANEC, 2005a). Esta área, de uma inegável riqueza ao nível da sua paisagem natural e cultural, que lhe confere um grande potencial de atracção de turistas, apresenta, no entanto, alguns pontos negativos, tais como a difícil

acessibilidade ao património, o envelhecimento da população e a proliferação de um “Turismo fast food” (GANEC, 2005a). Para além disso, verifica-se a falta de sustentabilidade de algumas quintas e má conservação de tapadas. O comércio tradicional tende a desaparecer e a Vila à noite está desertificada.