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Caracterização da área rural de Panambi/RS

No documento O turismo rural em Panambi/RS (páginas 35-44)

O município de Panambi faz parte da Região Noroeste Colonial do Rio Grande do Sul. Essa região é composta pelos Coredes Noroeste Colonial, Fronteira Noroeste e Celeiro, num total de 52 municípios, abrangendo um total de 14.620 Km², e uma população de mais de 500.000 habitantes.

De acordo com Brum (1998, p.17),

A formação social que deu origem a atual sociedade da Região Noroeste é relativamente recente – remonta ao final do século dezenove – e dela participaram principalmente imigrantes europeus e seus descendentes, antecedidos por luso-brasileiros, mestiços (caboclos) e elementos de origem africana (escravos e libertos), que já haviam iniciado a ocupação aleatória do território desde o inicio do século XIX.

A vegetação original que existia na região condicionou de forma significativa a ocupação do território bem como sua formação social. O território do Rio Grande do Sul era originalmente recoberto por três formações vegetais básicas, que são as áreas de mata tropical e subtropical, áreas de campo nativo e as áreas de vegetação litorânea. Estas eram as características do território gaúcho antes da vinda dos imigrantes europeus. Para a nossa região Brum (1997, p.17) destaca: “uma área de mata tropical e subtropical nativa e variada, predominantemente e em lento processo de avanço, e áreas de campo, que formavam a retaguarda da extensa planície pastoril do pampa gaúcho, uruguaio e argentino que tem sua convergência no estuário do Rio da Prata”.

Em 1801, com a chegada dos militares e tropeiros foi se definindo a base econômica da região, voltada para as estâncias de gado, ocupando as vastas áreas de campo para o pastoreio do gado, já as áreas de mata, na época, não despertavam interesse.

Outro processo fundamental na ocupação do RS foi a dos caboclos, luso- brasileiros, mestiços e africanos, que por falta de condições acabavam ocupando as

áreas próximas as matas, desenvolvendo a agricultura de subsistência e o cultivo da erva-mate, este que se tornou o segundo produto mais importante da economia regional no período.

Faltava apenas à região conhecida hoje como Região Noroeste Gaúcho ser ocupada pela colonização. Esta ocupação aconteceu através do interesse oficial do governo do estado, secundado pela iniciativa privada, atraindo europeus e descendentes de imigrantes oriundos das colônias velhas.

Este processo teve início em 1890, quando foi fundada a colônia Ijuhy, localizada no vale do rio que leva o mesmo nome. Houve então uma grande mudança, no processo de ocupação, onde a propriedade privada passou a ter um papel fundamental, através de uma colonização programada, planejada, acompanhada da criação de condições que garantissem a fixação efetiva das famílias e o sucesso econômico.

Segundo Gass (2010, p.69), o contexto que se criou a partir da bagagem étnico-cultural dos imigrantes, alicerçado nas condições naturais da região, criaram as condições necessárias para uma relativa prosperidade da mesma. Este aspecto, em conjunto com o elevado crescimento vegetativo da população, explica o grande número de municípios que foram criados na região. Ao mesmo tempo, na região de campo, em virtude das grandes propriedades pastoris e a estrutura político- administrativa praticamente não foram alteradas.

As famílias dos colonos eram grandes e as propriedades com o padrão de 25 hectares, originando os minifúndios, levando a uma exploração intensiva e o rápido esgotamento do solo, e o consequente declínio da agricultura tradicional. Assim sendo, na segunda metade do século XX chegava à falência o modelo agrícola tradicional, baseado na pequena propriedade rural e no uso da fertilidade natural do solo e da mão de obra familiar. Iniciou então o processo de modernização da agricultura, com a introdução da monocultura comercial de exportação, maquinários, fertilizantes e agrotóxicos. Consequentemente houve um crescente êxodo rural, somado à concentração de terras nas mãos de poucos agricultores, que conseguiram acompanhar esse processo, ou a redução ainda mais da área das propriedades.

O Plano Diretor Participativo do Desenvolvimento Municipal de Panambi (2008) divide o território do município em zona rural e zona urbana. A zona rural, segundo dados do IBGE de 2010, ocupa 92,50% da área total, enquanto a área

urbana é de apenas 8,50%. A figura 1 apresenta o mapa de ordenamento físico- territorial do município de Panambi/RS.

No mapa podemos observar a demarcação das duas cascatas em áreas rurais do município, a cascata da imagem 2 está demarcada no mapa pelo nº2, no sentido leste do município, e a cascata da imagem 3 do texto está demarcada com o nº 1, mais ao norte do município, na divisa com o vizinho município de Condor. Ambas com grande valor turístico, bem como a rodovia BR 285 que atravessa todo município, facilitando o acesso do turista.

Outro ponto muito importante demarcado no mapa é a via férrea que está localizada na Linha Belizário, área rural do município de Panambi, esta teve papel fundamental para a indústria, comércio e a imigração no século IXX e XX.

Mapa 2 – Município de Panambi/RS, Ordenamento Físico/territorial. Fonte: Lei do Plano Diretor Participativo de Desenvolvimento Municipal de Panambi, 2008.

Segundo dados do IBGE (2010) a população total do município é de 38.058 habitantes, onde 3.496 (9,2%) residem na zona rural e 34.572 (90,8%) residem na zona urbana. No gráfico 1 podemos observar a distribuição da população do município de Panambi/RS. Podemos observar que a partir dos anos 50 houve um rápido crescimento da população urbana e consequentemente uma constante queda no índice populacional rural, até meados da década de 80.

Gráfico 1: População rural e urbana. Fonte: IBGE 2010.

Na década de 70 a população urbana teve um crescimento acentuado, passando de aproximadamente 5.899 habitantes para alem de 17.972 habitantes. De 1980 até aproximadamente o final do milênio (2000), a população rural manteve- se praticamente estável (4.319), ao passo que a urbana continuou crescendo consideravelmente, chegando a 28.291 habitantes, considerando que em 1960 era de apenas 5.000 habitantes.

Essa inversão da concentração populacional se explica, em primeiro lugar, pelo êxodo rural, já apontado acima, decorrente da modernização agrícola, e em segundo lugar, pela modernização e ampliação do parque industrial do município, que atraiu e empregou esse excedente populacional do meio rural.

A zona rural do município de Panambi/RS esta dividida em 31 localidades que são: Linha Entre Rios, Linha Assis Brasil, Linha Gramado, Linha Maranei, Linha Ocearu, Linha Jacicema, Linha Pinheirinho, Linha Boa Vista, Linha Encarnação, Linha Belizário, Linha Brasil, Linha Jaciandi, Linha Serrana, Linha Pavão, Linha Fiúza, Linha Caxambu, Linha Faxinal, Linha Timbará, Linha Inhame, Linha Iriapira I,

Linha Iriapira II, Linha Rincão Frente, Linha Rincão Fundo, Linha Morengaba, Linha 15 de Novembro e Linha 7 de Setembro, também fazem parte da zona rural as áreas que se destinam ao uso florestal e agropecuário (PANAMBI, 2009).

A área rural do município está inserida numa região que se caracteriza pelo predomínio da agropecuária distribuída em minifúndios, favorecendo a diversificação das atividades e culturas.

Os estabelecimentos agropecuários no ano de 1985 com 50 hectares somam percentual de 87,5%, corresponde a 1067 unidades agropecuárias (IBGE, 1985).

No ano de 2000, o percentual de estabelecimentos agropecuários era de 87,7% correspondente a 1278 unidades agropecuárias (IBGE, 2000).

Conforme o Censo Agropecuário de 2006, no município de Panambi há 1030 unidades agropecuárias. O gráfico 2 traz dados referentes a Condição Legal do Produtor no município de Panambi.

Gráfico 2: Condição legal do produtor. Fonte: IBGE 2006.

Constata-se que 904 unidades são proprietários individuais, ocupando uma área correspondente a 30.065 hectares de terra; 36 unidades são condomínios, consórcios ou sociedade de pessoas, ocupando uma área de 6.748 hectares; 83 unidades estão constituídas em forma de cooperativa, correspondendo a 2.373 hectares; 5 unidades são caracterizadas por sociedade anônima, de 1.439 hectares e 2 unidades com outra situação, ocupando 45 hectares.

Outro fato é que das 1030 unidades agropecuárias existentes no município, 955 pertencem a produtores homens, com uma área de 39.597 hectares e 75 pertencem a produtoras mulheres com área de 1.073 hectares, como mostra o gráfico a seguir:

Gráfico 3: Proprietários – gênero. Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006.

Segundo o Censo Agropecuário de 2006, existem no município de Panambi 1.030 unidades agropecuárias nas seguintes condições:

a) 75% (767) são proprietários das terras, sendo que 93% estão sob a chefia de homens, enquanto que 7% por mulheres. Estas propriedades somam um total de 34.772 hectares.

b) 9,5% (98) são arrendatários das terras, sendo que 97% estão sob a chefia de homens, enquanto que 7% por mulheres, o que vem a somar um total de 2.646 hectares.

c) 1,0% (11) são parceiros, destes 99% estão sob a chefia de homens enquanto que 1% as mulheres que administram as terras, somando uma área de 711 hectares.

d) 14% (149) são ocupantes, sendo que 93,6% são administradas por homens e 6,4% por mulheres, somando uma área de 2.541 hectares.

e) 0,5% (5) possuem área arrendada, sendo que destes 80% são administradas por homens, e 20% por mulheres.

No município de Panambi, segundo o IBGE, encontramos 185 unidades de estabelecimentos agropecuários com lavouras permanentes somando um total de

190 hectares de terras e 959 estabelecimentos agropecuários com culturas temporárias totalizando 30.327 hectares de terra.

A maior produção está voltada para o comércio, predominando o cultivo da soja, consequência da tecnologia e do investimento. Seguem o trigo e o milho, todos comercializados por indústrias locais e até com grupos multinacionais. O município de Panambi também possui um sistema de cooperativa, que está em pleno crescimento e desenvolvimento. Trata-se da COTRIPAL (Agropecuária Cooperativa), a qual assume o armazenamento e a comercialização agropecuária.

Outro produto que está em destaque é a produção leiteira. Comercializado com indústrias como CCGL, PARMALAT, NESTLÉ, DDPA, além de pequenas indústrias de leite e seus derivados que se localizam na zona rural, como COPEC, FINESE, HEJA.

A comercialização de hortigranjeiros é feita diretamente nos pontos comerciais, supermercados, feiras do produtor e diretamente aos consumidores.

Podemos perceber que a tecnologia e a modernização esta presente na zona rural de Panambi. São muito poucas as propriedades que não disponibilizam pelo menos um maquinário para as atividades rurais. E essas tecnologias representam as transformações do espaço rural.

Santos (1997) define três momentos da relação entre a humanidade e a natureza: no primeiro o homem se defronta com o meio natural, o segundo o homem cria e o terceiro o qual estamos vivenciando desde a segunda guerra mundial, constitui-se no meio técnico cientifico informacional. Nos três momentos, a técnica está presente, porém em quantidade diferenciada.

Historicamente com a chegada dos colonizadores, as áreas de floresta começaram a ser desmatadas, para a construção de moradias e a abertura de roças, para o cultivo de produtos de subsistência, como feijão, arroz, milho, frutíferas, etc. O manejo da terra era totalmente manual, servindo as queimadas para a limpeza do terreno.

Posteriormente, com a Revolução Agrícola nas décadas de 1960-70, começaram a ser utilizados os primeiros maquinários e adubos químicos, intensificando o cultivo da soja e do trigo. Inicialmente, cada colono tinha uma pequena propriedade, e os maquinários eram raros, sendo utilizados de forma coletiva, para o plantio e a colheita. Não se utilizavam venenos para matar o inço, e

as pragas eram em número muito pequeno, a limpeza era feita manualmente com a capina.

Com o avanço da produção de soja, motivado pela sua rentabilidade, as matas remanescentes nas propriedades foram recuando. Todavia, esse sistema de produção convencional, baseado na remoção da terra através da lavra e o uso da grade, provocou um intenso processo de erosão nas lavouras, bem como o uso intensivo do solo resultou no seu enfraquecimento, implicando no aumento do uso de adubos químicos, encarecendo a produção.

A soja, o trigo e o milho se tornaram as principais fontes de geração de renda e lucros. Com os incentivos governamentais, como financiamentos para maquinários e a valorização do preço da soja, muitos agricultores começaram a enriquecer rapidamente, buscando mais áreas de terras para plantar, iniciando um processo de desmatamento incontrolável. As regiões de relevos montanhoso e acidentados, antes relegadas para reservas florestais nas propriedades, viraram áreas de cultivo, sustentadas pelas curvas de nível.

Entretanto, a ação da natureza, como as enxurradas provocadas pelo excesso de chuvas, somadas ao uso intensivo, provocaram um processo de erosão nas lavouras, formando enormes valetas e voçorocas, pois com as queimadas ficava totalmente desprotegida, além de acabarem com o desenvolvimento e a ação do meio biótico. Na década de 1990, teve início então o plantio direto, que é a preservação do horizonte O do solo, que é composto principalmente de matéria orgânica e resíduos de plantas. Este plantio direto é muito benéfico principalmente para o meio biótico, além de reduzir o custo de produção da lavoura. Porém, teve início o uso excessivo de venenos, como herbicidas, fungicidas, secante, etc., que são as principais causas da poluição, especialmente da água.

Todas essas mudanças também aconteceram no centro urbano, claro, não com plantio e lavouras, mas com a construção excessiva de casas, ruas, prédios e fábricas, que inclusive em Panambi tem muitas e que geram muitos empregos. O centro urbano vem crescendo de uma forma assustadora, e consequentemente as áreas de mata que rodeavam a cidade sumiram praticamente todas. As ruas de asfalto e calçamento que predominam, também diminuem a absorção da água pelo solo e ainda provocam os alagamentos.

O setor industrial está muito bem desenvolvido no município de Panambi, garantindo emprego e rentabilidade para o centro urbano.

O setor rural também está buscando outras formas de rentabilidade, pois apenas a produção de soja, milho e trigo, ou ainda a criação de gado, por depender diretamente das interferies climáticas, muitas vezes deixa o produtor sem lucros. Então o setor que mais vem se desenvolvendo é o setor da agroindústria. Os pequenos e médios produtores em busca de rentabilidade estão investindo na produção e comercialização de produtos mais naturais e produzidos manualmente, através das feiras do produtor, ou da comercialização direta com o consumidor, levando o produto até as suas casas.

Hoje já podemos citar diversas pequenas empresas agroindustriais no meio rural do município de Panambi, entre eles a plantação e produção de suco natural de laranja, que esta localizada na Linha Gramado, e atende um vasto mercado consumidor, entre eles o setor de Merenda Escolar da Prefeitura Municipal, a fábrica de queijos Finesse, que se localiza na Linha Caxambu, que compra o leite de produtores vizinhos e vende o queijo para diversos mercados do município. A Frutipan, é uma associação de pequenos produtores, que unidos tem um Box somente para eles na feira do produtor do município, onde conservam um funcionário que fica responsável pela venda dos produtos, que são principalmente mel, produtos embutidos como geleias, schmier entre outros. Outra empresa do setor rural de grande destaque é a Heja Indústria de Laticínios, que já garantiu seu lugar no mercado com a produção de leite integral, leite desnatado, bebida Láctea (nos sabores morango, pêssego e coco), creme de leite (nata), queijo tipo colônia e queijo mussarela, em pela e fatiado.

Segundo dados coletados, nem uma dessas agroindústrias têm suas portas abertas para o turismo rural.

No documento O turismo rural em Panambi/RS (páginas 35-44)

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