• Nenhum resultado encontrado

COOPERAÇÃO COMPETIÇÃO

3 O Sistema Petrolífero do RN : Histórico e Importância

3.3 Caracterização da aglomeração

3.3.1 Quanto a conceituação

É possível identificar uma concentração “significativa” no estado do RN de agentes privados e públicos em torno da mesma atividade produtiva (indústria do Petróleo), o que vem a se constituir em uma aglomeração de acordo com as definições apresentadas anteriormente nesta pesquisa.

Após a descrição individual dos participantes que operam o sistema petrolífero do RN, segue uma análise integrada que possibilitou uma caracterização da aglomeração em estudo.

O sistema petrolífero do RN apresenta características de integrante de uma cadeia produtiva, pois as empresas lá instaladas desenvolvem atividades que partem do nível básico de aquisição (exploração) do insumo, passando pelo tratamento necessário e depois entregam o produto/serviço em uma novo estágio da produção, pronto para ser consumido por um novo integrante da cadeia, que pode estar dentro ou fora da região em estudo.

No RN, são explorados e produzidos Petróleo e gás. Parte do petróleo aqui produzido é refinado em Guamaré/RN, em uma planta que produz gasolina para avião, que é distribuída para o Aeroporto Internacional Augusto Severo/RN e para outros aeroportos. Outra parte do Petróleo é transportado para ser refinado em outros estados, produzindo combustíveis e lubrificantes, que são posteriormente distribuídos para comercialização. O gás produzido no RN é processado em Guamaré e de lá já é distribuído para comercialização, ou seja, o gás tem toda sua cadeia produtiva no RN. O petróleo tem alguns sub-produtos que completam seu ciclo de produção no estado e outra parte apenas inicia seu processo produtivo no estado e conclui sua cadeia de produção em outro estado.

No sistema petrolífero do RN, a aglomeração não é conseqüência de incentivos do governo que atraíram as empresas para a região, oferecendo incentivos fiscais e infra-estrutura (em geral características dos distritos industriais brasileiros), envolve um setor, não apenas um produto, não caracterizando a aglomeração em estudo como sendo um distrito industrial. Com relação ao enquadramento da aglomeração como um Milieu inovador, não se verifica a existência de relações sociais, culturais e psicológicas no ambiente como intensificadoras da capacidade inovativa, existindo apenas relações econômicas. O ambiente

não exerce papel fundamental nesse processo de desenvolvimento tecnológico. Portanto, não se aplicam à aglomeração em estudo as características de um Milieu inovador. Colaborando com essa conclusão, tem-se o fato da Petrobras não ter um setor de P&D instalado dentro da UFRN, como seria o caso de uma tecnópole.

A aglomeração apresenta a concentração geográfica de empresas e instituições interconectadas num campo particular, envolvendo fornecedores, maquinaria, serviços e infra- estrutura. Logo, possui simultaneamente a característica de concentração geográfica e a operação de um setor específico (setor petrolífero), em concordância com as definições de

Cluster (OECD 1999; ROELANDT; HERTOG 1999; NETO 2002 e BRITO 2000), descritas

neste trabalho. Essas duas características também estão presentes nas definições de LPS apresentadas no Capítulo 2.

Utilizando a comparação entre os conceitos de Cluster e LPS realizada por Cavalcanti (2005, p.8), em que são analisadas as definições da Eurada (www.eurada.org/library/Clusters.htm), ressaltam-se algumas diferenças entre Cluster e LPS, que são as palavras solidariedade existente na definição de LPS bem como os ambientes sociais e culturais. Conforme pode ser visto abaixo.

“Sistemas Produtivos Locais (LPS) são redes cooperativas de negócios caracterizadas por uma concentração territorial, por especialização em torno de um produto básico e por ativa solidariedade entre os vários atores”.

“Clusters são concentrações geográficas de empresas e instituições

interconectadas num campo particular, envolvendo fornecedores, maquinaria, serviços e infra-estrutura.”

“LPS podem ser definidos como uma configuração de pequenas e médias empresas agrupadas em determinada área ao redor de uma profissão ou negócio, em contato e interagindo como um grupo com o ambiente social e cultura local (não apenas negócios).”

“Clusters são massas críticas e informações, qualificações, relacionamentos e infra-estrutura em dado setor. Cada região proporciona as melhores condições de competitividade para as empresas. As empresas e instituições são “linkadas” por relações comerciais, clientelas, sociedades.”

A característica de solidariedade presente na definição de LPS (sistema produtivo local) apresentada neste trabalho não está presente nesta aglomeração. A palavra que reflete

é a competição. O caráter de competição fica evidenciado tanto entre os fornecedores de equipamentos e de serviços (Schlumberger, Halliburton, Weatherford, dentre outros) quanto entre os demandantes de serviço e equipamentos instalados na região (Petrobras, Petrosinergy, Aurizonia).

Apesar da Petrobras ser a empresa que concentra a maior demanda de equipamentos e de serviços, podendo ser vista como a empresa âncora nesta aglomeração, de acordo com a definição do MCT (2000) e reforçando uma característica do LPS, ainda assim a característica de solidariedade não aparece.

A competição existente no setor eleva o padrão dos serviços realizados na região e colabora na modernização dos equipamentos utilizados na aglomeração. Também existem treinamentos conjuntos de mão-de-obra realizados pelas instituições de pesquisa, esses fatos citados ajudam a tornar o setor mais competitivo em uma análise externa. O alto poder de compra da Petrobras impulsiona o desenvolvimento tecnológico dos fornecedores, sendo um outro fator que aumenta a competitividade do setor.

Logo, essa aglomeração atende as três características contempladas pelo conceito de Cluster: concentração geográfica e setorial e competitividade. Ficando portanto a aglomeração em estudo caracterizada como sendo um Cluster, o Cluster Petrolífero do RN(CPRN).

3.3.2 Quanto as atividades desenvolvidas em rede e com relação ao Conhecimento

É possível observar que as empresas participantes da aglomeração no desenvolvimento das suas atividades produtivas fazem uso das capacitações complementares dos outros fornecedores com a finalidade de atingirem objetivos comuns. É importante salientar que na grande maioria dos casos esta “rede de conhecimento” não se caracteriza pela transferência de conhecimento entre os integrantes da rede, mas o que existe é que pode se chamar de “compartilhamento momentâneo de capacidades complementares”, em que cada empresa detém know-how sobre alguma especialidade do serviço, que realizados em conjunto obtém êxito. Após a execução do serviço, porém, os detentores do conhecimento permanecem os mesmos de antes.

Este arranjo institucional composto por empresas, agentes do governo e institutos de pesquisas realiza a atividade de desenvolvimento de pesquisa e inovações de maneira mais eficiente devido à proximidade geográfica, o que reforçam as vantagens do sistema local de inovação.

3.3.3 Quanto ao Modelo da Hélice Tripla

Quanto a esse modelo tem-se o seguinte enquadramento dos participantes do CPRN: Hélice Empresa: Petrobras; Hélice Universidade: UFRN; Hélice Governo: Ministério de Ciência e Tecnologia, Agência Nacional de Petróleo (ANP). Cada um desses participantes do CPRN, acima citados, foram descritos anteriormente nesta pesquisa.

Capítulo 4