2 REVISÃO DA LITERATURA
2.4 Gestão do Conhecimento
No atual cenário econômico de alta competitividade global, muitas mudanças aconteceram no mercado e nas organizações. Uma das mais importantes refere-se a como as
organizações e os seus executivos estão estrategicamente tratando temas ligados à utilização do conhecimento. Com isso, a maneira de gerenciar o conhecimento passa a ter um papel fundamental para a competitividade das empresas. Nessa linha de pensamento, Terra (2001) afirma que, no Brasil, percebe-se que o recurso "conhecimento" tem aumentado sua importância para o desempenho empresarial e que os desafios impostos pela abertura econômica tornam a questão da gestão do conhecimento fundamental para as empresas brasileiras.
Nas últimas três décadas, três temas influenciaram grandes transformações no funcionamento das organizações: a Gestão da Qualidade Total; a Reengenharia e o Capital Intelectual.
Segundo Stewart (2002, p.15-16), “[...] o capital intelectual e a gestão do conhecimento são hoje os tópicos mais quentes em negócios [...]” e “[...] o conhecimento que sempre foi importante, mas hoje ele é mais do que parte da história da prosperidade: é o principal filão.”
Antes de abordar o termo Gestão do Conhecimento propriamente dito, é importante que se tenha um entendimento claro sobre os conceitos de dados, informações e conhecimento, além dos tipos de conhecimento e de suas formas de conversão.
2.4.1 Dados, Informação e Conhecimento
Dado e informação não são conhecimento, mas estão relacionados a ele. Davenport e Prusak (1998) diferenciam essas três classes de elementos como:
Dado: são registros estruturados de transações. Podem ser isolados e medidos. Geralmente ficam armazenados em banco de dados. Os dados fornecem apenas a descrição de parte do que aconteceu, não fornecendo julgamento nem interpretação nem base para tomada de decisões.
Informação: é uma mensagem na forma de documento ou comunicação audível ou visível que tem significado, relevância e propósito, tendo um emissor e um receptor para essa mensagem. Os dados podem ser transformados em informação com algumas das seguintes ações: contextualização; categorização; cálculo; correção e condensação.
Conhecimento: é uma mistura fluida de experiências acumuladas, valores, informação contextual. Na organização ele está embutido em documentos ou repositórios, em rotinas, processos e práticas realizadas na empresa. As informações podem ser transformadas em conhecimentos com as seguintes ações realizadas pelos seres humanos: comparação, conseqüências, conexões e conversação.
A seguir tem-se as três classes de elementos resumidas no quadro 2.
DADOS INFORMAÇÕES CONHECIMENTO
- Simples observações sobre o estado do mundo.
- Dados dotados de relevância e propósito
- Informação valiosa da mente humana. Inclui reflexão, síntese, contexto.
- Facilmente estruturado - Requer uma unidade de análise - De difícil estruturação - Frequentemente quantificado - Exigem consenso em relação ao significado - De difícil captura em máquinas
- Facilmente transferível - Exigem a mediação humana
- Frequentemente tácito - De difícil transferência
Quadro 2 – Dados, informações e conhecimento. Fonte: (DAVENPORT, 2001, p.18)
2.4.2 Tipos de Conhecimento
Segundo Nonaka (2000), existem dois tipos de conhecimento: o conhecimento explícito, que é formal e sistemático; e o conhecimento tácito, de difícil expressão, por ser altamente pessoal e denotar a forma particular como cada pessoa desenvolve sua atividade.
A seguir, são explicados esses dois tipos de conhecimento mais detalhadamente, conforme Nonaka e Takeuchi (1995) os diferenciam.
- O conhecimento tácito é pessoal, reside no ser humano, de difícil codificação ou expresso em palavras sendo de complexa transferência devido à necessidade de interações entre pessoas. É prático, construído ao longo de experiências acumuladas. Um bom exemplo seria “saber jogar futebol”.
- O conhecimento explícito geralmente é dito como objetivo, de fácil codificação e registro, podendo ser armazenado em palavras, números e fórmulas, que podem ser transmitidos mais rapidamente para outras pessoas. É teórico, podendo ser ensinado de maneira formal, com
maior facilidade de entendimento sem contato pessoal. Um bom exemplo seria “uso de determinada equação matemática”.
2.4.3 Formas de Conversões de Conhecimento
Nonaka e Takeuchi (1995) sugerem quatro padrões de conversão básicos para a criação de conhecimento numa organização:
- Socialização (de conhecimento tácito para conhecimento tácito): é o compartilhamento de experiências de um indivíduo com outro indivíduo ou com um grupo, que ocorre com a interação desses. Geralmente este conhecimento é compartilhado por meio de um diálogo e comunicação face-a-face; do trabalho do tipo mestre-aprendiz; da observação, imitação e prática e do compartilhamento de experiências em trabalho em equipe.
- Externalização (de conhecimento tácito para conhecimento explícito): é o processo de conversão do conhecimento tácito do indivíduo em uma linguagem objetiva e explícita. É percebida uma ação consciente no sentido de padronizar o conhecimento, tornando-o acessível e de possível documentação, podendo ser distribuído em grande escala a partir de recursos tecnológicos.
- Combinação (de conhecimento explícito em conhecimento explícito): é o processo de conversão de algum tipo de conhecimento explícito gerado por um indivíduo agregando ao conhecimento explícito da organização. Dentro da organização, o conhecimento pode ser combinado a outros conhecimentos explícitos podendo originar novos conhecimentos. Os meios utilizados para essa conversão são documentos, reuniões etc.
- Internalização (de conhecimento explícito em conhecimento tácito): é o processo de incorporação do conhecimento explícito da organização no conhecimento tácito do indivíduo. Um conhecimento que está documentado na empresa, ao qual o indivíduo tem acesso, possibilita que esse o transforme em um novo conhecimento tácito com sua compreensão agregada ao conhecimento explícito original.
De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), para ser uma “empresa que gera conhecimento” (knowledge creating company) a organização deve completar uma “espiral do conhecimento” (Figura 2).
Figura 2 - Espiral do Conhecimento – (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.69).
Com esses entendimentos sobre conhecimento como uma interação entre o explícito (adquirido pela informação) e o tácito (experiência individual), têm-se algumas definições de gestão do conhecimento objetivando seu entendimento na visão de vários autores.
2.4.4 Conceituando Gestão do Conhecimento
Segundo Brian e Newman (1991 apud TERRA, 2003, p.83) “gestão do conhecimento é a coleção de processos que governam a criação, a disseminação e a utilização do conhecimento”.
Williams e Bukowitz (1999 apud COSTA, 2005, p.14) definem a gestão do conhecimento como “o processo pelo qual a organização gera riqueza, a partir do seu conhecimento ou capital intelectual. Riqueza essa, que acontece quando uma organização utiliza o conhecimento para criar processos mais eficientes e efetivos”.
A GC é descrita no trabalho “Cem palavras para gestão do conhecimento”, da seguinte maneira:
Gerenciamento de atividades e processos do ciclo vital do conhecimento de modo a alcançar níveis crescentes de competitividade, propiciar o melhor uso do conhecimento disponível e fomentar a geração de novos conhecimentos e a criatividade individual e coletiva. (BRASIL, 2003, p.19).
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