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QI Deficiência Intelectual

2.2.2 Caracterização da Deficiência Intelectual

Nos indivíduos com DI, tal como os seus pares sem esta condição, o comportamento pessoal e social é muito oscilante. Na verdade, apesar do vasto património genético, único para cada indivíduo, e de todos os estímulos a que este está sujeito existem características sociais, físicas e motoras semelhantes nos indivíduos com DI (Pacheco & Valencia, 1993). Para Jansma e French (1994), as pessoas com DI poderão apresentar certas características sociais comuns tais como: adquirir desempenhos vocacionais; aceitar desempenhos de comunicação e de socialização; poderão necessitar de apoio

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quando estão em situações depressivas; e muitos poderão obter empregos, poderão casar e viver de forma muito parecida com as pessoas ditas "normais". Silva (1991), indica algumas características físicas inerentes às pessoas com DI como por exemplo: pés rasos, desvios na coluna vertebral, alterações do tónus muscular entre outros.

Fonseca (2001) afirma que apesar do comportamento do indivíduo variar conforme a sua própria DI, existem áreas em que as características comportamentais são comuns:

Pessoais - ansiedade, falta de autocontrolo; tendência para evitar situações de insucesso mais do que para procurar os êxitos; possível existência de perturbações da personalidade; fraco controlo interior e falta de motivação;

Sociais - dificuldades em realizar funções sociais, em estabelecer vínculos afetivos, atraso evolutivo em situações de jogo, lazer e atividade sexual;

Física - falta de equilíbrio; dificuldades de locomoção; dificuldades de coordenação; dificuldades de manipulação.

Queirós (2007) acrescenta que uma pessoa com DI apresenta perturbações no comportamento adaptativo, possuindo determinadas características como:

 Não ser capaz de perspetivar o futuro, nem gerir comportamentos;

 Não estabelece relações entre situações nem sabe contextualizar significados;

 Apresenta complicações ao nível do comportamento emocional, nos trabalhos de grupo e cumprimento de regras sociais.

Assim, o indivíduo com DI apresenta limitações ao nível de:

 Funcionamento intelectual;

 Lógica de transferência de afetos;

 Adequabilidade dos comportamentos;

 Sequência lógica das situações;

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 Incapacidade de dar sentido aos acontecimentos e atividades (Queirós, 2007).

Como confirmam Kirk e Gallagher (1996), entre os indivíduos com DI existe uma grande variedade de capacidades, de incapacidades, de áreas fortes e necessidades. Há no entanto quatro áreas em que as crianças com DI podem apresentar diferenças em relação aos outros. São elas a área motora, cognitiva, da comunicação e sócio educacional:

Área Motora

Por norma as crianças com DI não diferem dos seus pares sem deficiência, podendo apresentar por vezes algumas lacunas no desenvolvimento da motricidade fina. Nos casos mais severos, as incapacidades acentuam-se ao nível da mobilidade, falta de equilíbrio, dificuldades na locomoção, na coordenação e na manipulação. Comparativamente com as crianças ditas normais, as crianças com DI podem começar a andar um pouco mais tarde, sendo geralmente de estatura mais baixa e mais suscetíveis a doenças. Apresentam maior incidência de problemas neurológicos, de visão e de audição.

Área Cognitiva

As crianças com DI apresentam dificuldades na aprendizagem de conceitos abstratos, em focar atenção, e ao nível da memória, com tendência a esquecerem mais rapidamente, quando comparadas com as crianças ditas normais. Demonstram dificuldades na resolução de problemas e em generalizar, para novas situações a informação adquirida, conseguindo no entanto generalizar em situações específicas utilizando um conjunto de regras, para esse fim. De uma forma geral, podem atingir os mesmos objetivos escolares que os seus pares sem deficiência até um certo ponto, mas de uma forma mais lenta.

29 Área da Comunicação

Embora existam muitas formas de comunicar, aquela que normalmente utilizamos é a linguagem escrita e falada. Para além da função social e comunicativa, a linguagem desempenha um papel de grande importância, como instrumento do pensamento, ao serviço da resolução de problemas cognitivos. As crianças com DI apresentam neste âmbito dificuldades, quer ao nível da fala e compreensão, quer ao nível do ajuste social. Assim sendo, as dificuldades em viver em sociedade e interagir com a mesma são superiores. Sabe-se que a infância é um período de desenvolvimento importantíssimo para a criança. Desta forma todos os estímulos ambientais a que são sujeitas serão fundamentais no seu desenvolvimento.

Área Sócio Educacional

O desenvolvimento desta área é importantíssimo para que possa existir uma real e efetiva inserção na sociedade. A aprendizagem de competências sociais é fundamental para as crianças com DI, visando a inclusão quer no ambiente escolar quer na sociedade. Este processo é muitas vezes dificultado pela discordância entre idade mental e idade cronológica da criança que provoca uma diminuição das capacidades de interagir socialmente. Facto este muitas vezes agravado pela necessidade de agrupar as crianças tendo em consideração a idade mental e não a idade cronológica, sendo estas colocadas fora do grupo da mesma faixa etária. No entanto, vários autores afirmam que é através da interação com os seus pares da mesma idade, e participando nas mesmas atividades, que aprendem os comportamentos valores e atitudes adequados à sua idade.

Estas características e outras que distinguem o deficiente intelectual dos outros devem ser tidas em conta, pois qualquer programa educativo estará por elas condicionado, e em muitos casos se essas características não estiverem contempladas, serão uma barreira no desenvolvimento destas pessoas (Pacheco & Valencia, 1993).

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2.3 Síndrome Down

O primeiro registo clínico do aparecimento da SD foi efetuado em 1866 pelo médico John Langdon Down, durante o seu trabalho com doentes, que culminou numa publicação clínica das principais características destes indivíduos (Antonelli et al., 2010). A SD ou também conhecida por trissomia 21 faz parte de um grupo de encefalopatias não progressivas, que não se agravam com o tempo (Lefèvre, 1985). É, segundo Júnior e colaboradores (2007), uma patologia causada por um acidente genético que provoca um atraso no desenvolvimento global da criança. A SD não é uma doença, mas sim uma alteração genética que ocorre aquando da formação do bebé, que constitui uma das causas mais frequentes da DI (Moreira et al., 2000). Assim, a criança com SD, é portadora de uma anomalia cromossómica que acarreta perturbações de várias ordens.

No momento da fecundação do óvulo, em situações normais, os 23 cromossomas do óvulo, conjugam-se com os 23 cromossomas do espermatozoide, resultando num ovo ou zigoto constituído por 46 cromossomas, distribuídos em 23 pares. Segue-se a divisão celular, que implica mitoses e meioses, dando o óvulo origem a duas células, cada uma delas multiplicando-se nas mesmas circunstâncias, ou seja cada cromossoma replica a sua informação genética formando-se células filhas, iguais à célula mãe. Desta forma, cada célula formada contém 46 cromossomas, até à formação completa do embrião. O que

acontece numa pessoa com SD é que a divisão celular apresenta uma distribuição anómala dos seus cromossomas, mais concretamente no par 21, e por isso, também se chama trissomia 21, apresentando um cromossoma extra (Escribá, 2002; Sampedro et al., 1993; Sherril, 1998).

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