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Em relação à caracterização da assistência (Tabela 5), a totalidade (100%) das pessoas com UV deste estudo considerou adequados os produtos e materiais utilizados em seus curativos. No tocante ao uso da terapia compressiva, em 63,3% dos pesquisados o uso deste tipo de terapia encontrava-se presente, e em 36,7% ausente.

Tabela 5. Caracterização da assistência segundo o tempo da UV atual. Natal/RN, 2011 CARACTERIZAÇÃO

DA ASSISTÊNCIA

TEMPO DA UV ATUAL

TOTAL

≥ a 6 meses Até 6 meses

n % n % n %

Adequação dos produtos/materiais usados no curativo

Adequado 24 80,0 6 20,0 30 100,0

Faz uso de terapia compressiva

Sim 17 56,7 2 6,7 19 63,3

Não 7 23,3 4 13,3 11 36,7

Orientação para o uso de terapias compressivas/elevação de MMII/ exercícios regulares

Ausente 16 53,3 3 10,0 19 63,3

Presente 8 26,7 3 10,0 11 36,7

Realização de exames de sangue

Presente 19 63,3 4 13,3 23 76,7

Ausente 5 16,7 2 6,7 7 23,3

Realização de exames de urina

Presente 18 60,0 3 10,0 21 70,0

Ausente 6 20,0 3 10,0 9 30,0

Realização de Doppler

Ausente 19 63,3 4 13,3 23 76,7

Presente 5 16,7 2 6,7 7 23,3

Número de consultas com o Angiologista no último ano

< 4 consultas por ano 17 56,7 3 10,0 20 66,7

≥ 4 consultas por ano 7 23,3 3 10,0 10 33,3

Referência e Contrarreferência

Presente 14 46,7 3 10,0 17 56,7

Ausente 10 33,3 3 10,0 13 43,3

Documentação dos achados clínicos

Sem registro no prontuário 24 80,0 6 20,0 30 100,0

TOTAL 24 80,0 6 20,0 30 100,0

Fonte: Própria pesquisa.

No entanto, em um estudo realizado por Deodato (2007), foi apresentado um percentual de 77,5% de pessoas que não faziam uso de terapia compressiva. E em pesquisa feita por Nunes (2006), em nível de atenção básica, o tratamento compressivo estava ausente em 100,0 % dos pacientes pesquisados.

No tocante à terapia compressiva, diversos autores relatam que ela promove significativa redução das lesões e que, com o decorrer do tratamento, resulta na cicatrização tecidual da maioria dos casos (LUZ et al., 2009; FIGUEIREDO, 2009; SANTOS FILHO, 1996).

Palfreyman et al. (2006) ressalta ainda que, independentemente do tipo de curativo a ser aplicado na UV, ele tem que estar sempre associado a uma terapia compressiva. Essa terapia compressiva é de fundamental importância para o tratamento da doença venosa.

Sendo assim, uma pesquisa aponta a terapia compressiva como estratégia para o controle da hipertensão venosa e cicatrização das lesões nesses pacientes, em virtude de a adesão dos pacientes ao repouso e elevação dos membros inferiores ser difícil (Araújo et al., 2003)

Quanto à orientação para o uso de terapias compressivas/elevação de MMII/exercícios regulares, 63,3% dos pacientes não tinham recebido este tipo de orientação e 36,7% haviam recebido orientação.

Das orientações acima citadas, as mais frequentes foram de elevação de MMII (93,3%), uso de terapias compressivas (76,6%) e realização de exercícios regulares (50,0%).

Segundo Abbade e Lastória (2006) e Valencia et al. (2001), sem a realização de repouso com elevação dos membros inferiores, a cicatrização das UVs torna-se complicada. Como a adesão dos pacientes ao repouso e elevação dos membros inferiores é difícil, Araújo et al. (2003) apontam a terapia compressiva como estratégia para o controle da hipertensão venosa e cicatrização das lesões nesses pacientes.

Assim, os indivíduos devem ser orientados pelos profissionais de saúde a evitar permanecer muito tempo sentado ou em pé; elevar, diariamente, os membros inferiores para melhorar o retorno venoso e diminuir ou evitar edema; utilizar no dia a dia meias de compressão, de acordo com o grau da doença venosa crônica; praticar exercícios regularmente e preservar as funções fisiológicas, como sono, para que assim seja realizada a prevenção de ulcerações em membros inferiores e até mesmo de recorrência. (ABBADE; LASTÓRIA, 2006; AGUIAR et al., 2005; BONGIOVANNI; HUGHES; BOMENGEN, 2006; BORGES, 2005).

No tocante à realização de exames de sangue, 76,7% dos pesquisados tinham realizado esses exames e 23,3% não haviam realizado. Em relação aos exames de urina, 70,0% haviam realizado e 30% não haviam realizado. Já em relação à realização do quanto ao Doppler, 76,7% não haviam realizado e 23,3% haviam realizado.

Sabemos que exames complementares podem ser utilizados para diagnóstico e terapêutica das UVs. O Doppler de ondas contínuas é um exame simples e de baixo custo, que deve ser feito de rotina, uma vez que avalia se existe presença de refluxo em ostio de veias safenas magna e parva, e refluxo significativo no sistema venoso profundo. (SILVA; PAZOS, 2005; SILVA et al., 2007).

Com relação ao número de consultas com o angiologista no último ano, 66,7% dos pacientes apresentaram menos de quatro consultas no ano e 33,3% apresentaram mais de quatro consultas no ano.

O angiologista é fundamental no diagnóstico e tratamento das úlceras venosas. Esse especialista é responsável, além da anamnese e exame físico, pela realização e interpretação de exames complementares, como: eco-doppler, plestimografia e flebografia, bem como pela prescrição do tratamento com uso de medicamentos vasoativos, compressão elástica e cirurgia para correção de valvulopatia e insuficiência venosa. (CASTRO et al., 2001; PITTLER; ERNST, 2002).

Em estudo sobre as características sociodemográficas, de saúde e da assistência prestada aos idosos com UV atendidos nos serviços de saúde nos níveis primário e terciário de assistência do SUS, em Natal/RN, houve um baixo nível (39,8%) de acesso à consulta ao angiologista, sendo 20,5% em nível terciário e 19,3% em primário. (TORRES et al., 2009).

Estudos realizados no Estado do Rio Grande do Norte, que avaliaram a assistência prestada a pessoas com UV, apontam fatores de inadequação e pouca resolutividade; falta de diagnóstico das UVs e de exames laboratoriais, acesso restrito ao angiologista, terapia tópica incorreta que se resume à troca de curativos, ausência de terapia compressiva, presença de dor, realização de curativos por técnicos de enfermagem e cuidadores, falta de materiais para curativos, descontinuidade do tratamento e ausência de treinamentos. (DEODATO, 2007; NÓBREGA, 2009; NUNES, 2006).

Forti et al. (2004), em uma pesquisa realizada sobre a distribuição de angiologistas no Brasil, constatam uma grande defasagem de angiologistas e cirurgiões vasculares na Região Nordeste, inclusive onde existem hospitais universitários e de maior complexidade. Particularmente no Rio Grande do Norte, em 2004, existiam 21 angiologistas/cirurgiões vasculares para uma população de 2.962.107 habitantes, sendo 1:35.466 na capital e

1:2.217.313 no interior. Naquela época não havia, portanto, angiologistas/cirurgiões vasculares suficientes no interior do estado para atender à população, o que acarretava uma grande demanda para a capital.

Ressaltamos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe um (1) angiologista para 17.000 habitantes nos países desenvolvidos e um (1) angiologista para 35.000 nos países em desenvolvimento. (FORTI et al., 2004).

No tocante à referência e contrarreferência, 56,7% dos pesquisados informaram que esse recurso era utilizado e 43,3% que não era utilizado.

De acordo com Deodato (2007), o acesso das pessoas com UV ao ambulatório de angiologia, serviço de nível terciário e de referência estadual, deve acontecer somente através da referência e contrarreferência (instrumento utilizado no SUS para viabilizar o acesso do usuário aos seus níveis de assistência), pois, dessa forma, são garantidos o registro e a continuidade da assistência prestada.

Ainda nesse contexto, Fratini; Saupe e Massaroli (2008) afirmam que a referência e contrarreferência em saúde são conceitos que ainda estão em desenvolvimento, tanto em relação aos seus possíveis sentidos teóricos, quanto na efetivação e divulgação de experiências, exitosas ou não, apesar de serem constituídas como uma das bases de mudança aspiradas para o sistema de saúde.

De um lado, a referência significa um maior grau de complexidade, com o usuário sendo encaminhado a um atendimento com níveis de especialização mais complexos, quer em hospitais, quer em clínicas especializadas. Do outro, a contrarreferência representa um menor grau de complexidade, quando usuário é conduzido para um atendimento em nível mais primário, devendo ser este a unidade de saúde mais próxima de seu domicilio. (OMS, 2003; MAEDA, 2002).

Quanto à documentação dos achados clínicos, a totalidade dos pesquisados (100,0%) não possuía registro no prontuário. Segundo Costa (2011), a documentação dos achados clínicos é de suma importância para o acompanhamento e a continuidade do tratamento do paciente com úlcera venosa, visto que se trata de uma doença crônica.

Nesse sentido, Aguiar et al. (2005) e Borges (2005) preconizam que a assistência aos pacientes de UV deve se nortear pelas seguintes diretrizes de diagnóstico, tratamento e prevenção: avaliação do paciente e sua ferida; documentação dos achados clínicos; cuidados com a ferida e a pele ao redor; indicação da cobertura, uso de 74 antibióticos; melhora do retorno venoso; encaminhamentos dos pacientes; e capacitação profissional. Nesse sentido, a

cobertura ou produto a ser utilizado só terá eficácia se os outros aspectos mencionados acima forem devidamente identificados e avaliados por uma equipe multiprofissional.

Assim em relação à caracterização da assistência, evidenciamos que a totalidade dos pesquisados considerou adequados os produtos e materiais utilizados em seus curativos, com predomínio do uso da terapia compressiva, a maioria sem orientação para o uso de terapias compressivas/elevação de MMII/exercícios regulares, predomínio de realização de exames de sangue, urina e não realização de Doppler, menos de quatro consultas por ano com o angiologista, utilização do recurso de referência e contrarreferência e a totalidade dos pesquisados sem documentação dos achados clínicos.

Conforme a Tabela 6, verificamos que 56,7% das pessoas com UV elencaram mais fatores positivos relacionados à qualidade da assistência (12 a 16 fatores positivos), contudo uma parcela considerável (43,3%) identificou um número menor de fatores positivos associados à assistência.

Tabela 6. Avaliação da qualidade da assistência às pessoas com UV. Natal/RN, 2011 AVALIAÇÃO

QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA

TEMPO DA UV ATUAL

TOTAL

≥ a 6 meses Até 6 meses

n % n % n %

12 a 16 fatores positivos 13 43,3 4 13,3 17 56,7 8 a 11 fatores positivos 11 36,7 2 6,7 13 43,3

TOTAL 24 80,0 6 20,0 30 100,0

Fonte: Própria pesquisa

A pesquisa de opinião sobre o Sistema Único de Saúde desenvolvida em 2002 pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) demonstrou que a avaliação geral do funcionamento do SUS foi considerada boa ou muito boa tanto pelos usuários exclusivos do SUS (45,2%), quanto pelos que utilizavam outros serviços além do SUS (41,6%) e os que não faziam uso do sistema (30,3%). Verificando assim que os usuários que mais utilizavam o serviço do SUS o avaliaram de forma mais positiva. (BRASIL, 2006c).

5.3 CONHECIMENTO DAS PESSOAS COM ÚLCERA VENOSA CRÔNICA

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