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SEÇÃO I – PREÂMBULOS METODOLÓGICOS

1.4 Caracterização da região de estudo

A cidade de Rifaina, pequeno município localizado a nordeste do estado de São Paulo, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, e que compõe a Região Administrativa de Franca8, é conhecida por ser banhada pelas águas do Rio Grande que deu origem à Usina

Hidrelétrica de Jaguara e outras9.

Região de colonização antiga, habitada inicialmente por negros quilombolas e índios caiapós, vistos como bárbaros e violentos, que dificultavam a edificação do porto que facilitaria o fluxo migratório no Rio Grande, e atravancavam a colonização da área. A partir da aniquilação dos primeiros habitantes, foi possível o povoamento disperso da região à esquerda do Rio Grande por meio da posse comum de terras por homens e mulheres, futuros trabalhadores rurais que transformariam o cenário econômico e social da região. Foi na década de 1860 que se fundou o primeiro núcleo do povoado de Santo Antônio – atual cidade de Rifaina –, incentivado pelo início da construção da ponte (concluída em 1888) sobre o Rio Grande, que consolidaria o eixo comercial Franca-Araxá, e pelas doações de glebas de terras para o arraial Santo Antônio da Rifaina, com fundação oficial em 1865. Quando se elevou à condição de freguesia em 1873, Rifaina despertou o desenvolvimento político e administrativo do território, apresentando certo progresso local com a inauguração da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que iniciou a construção da rede ferroviária em 1872 na região de Campinas e, em 1887, na região de Franca.

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A Região Administrativa de Franca é composta por 23 municípios, que ocupam 4,2% da área territorial paulista. Os municípios são: Aramina, Batatais, Buritizal, Cristais Paulistas, Franca, Guará, Igarapava, Ipuã, Itirapuã, Ituverava, Jeriquara, Miguelópolis, Morro Agudo, Nuporanga, Orlândia, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina, Sales Oliveira, São Joaquim da Barra, São José da Bela Vista.

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Além da Usina Hidrelétrica de Jaguara, podemos destacar ainda as seguintes usinas que estão localizadas na Região Administrativa de Franca: Igarapava, abrangendo os município de Igarapava e Rifaina; Estreito, em Pedregulho; Buritis, em Buritizal; e Porto Colômbia, em Guará.

37 Figura 1: Mapa do Estado de São Paulo com divisões municipais

(Destaque para o município de Rifaina)

38 Figura 2: Mapa Individual da Região Administrativa de Franca, com as divisas

municipais

Fonte: http://www.planejamento.sp.gov.br/

No que concerne ao processo de modernização agrícola em curso na região, o município de Rifaina, ainda que localizado na chamada “Alta Mogiana Paulista”10, desenvolvia

uma agricultura diversificada, incluindo atividades hortigranjeiras, frutíferas e cerealíferas de arroz, sendo esta mais praticada às margens do Rio Grande, onde as terras não eram propícias à cafeicultura. Todavia, a cidade, desde o complexo cafeeiro escravista em São Paulo (CANO, 1983), se beneficiou com a atividade produtora de café no chamado “Oeste Paulista”, a partir da implantação e desenvolvimento do sistema ferroviário paulista, a expansão do sistema bancário, o impulso das atividades de comércio de exportação e importação e o desenvolvimento da infraestrutura inerentes à própria urbanização (CANO, 1983).

O Vale do Paraíba, antigo pólo econômico de plantação de café, vivenciou um processo de estagnação e decadência da cultura cafeeira em razão do uso predatório do solo, da proibição do tráfico negreiro e do encarecimento da mão de obra. Cessada a dilatação da

10 A “Alta Mogiana Paulista” se caracteriza como a região localizada a nordeste do Estado de São Paulo especializada na produção cafeeira.

39 plantação e com o fim do rendimento econômico, a expansão da cultura cafeeira marchou ao “Oeste Paulista”, local onde o café não encontrou as limitações endógenas e exógenas encontradas no Vale do Paraíba. Isto é, os cafeicultores do “oeste paulista” eram beneficiados pelas condições climáticas, topográficas e de fertilidade: a terra era o que conduzia as plantações de café na região; somam-se a isso as condições exógenas, com melhorias de transporte, máquinas e técnicas agrícolas para o plantio (CANO, 1983; PRADO Jº, 1991).

A atuação conjunta dos elementos internos e externos no “oeste paulista” influenciou diretamente o aumento da produtividade e crescimento econômico da região. Porém, à medida que a produção cafeeira migrou da região litorânea para o interior do estado, os produtores rurais se depararam com uma nova dificuldade até então inexistente: a longa distância para o escoamento das sacas de café. Tal dificuldade foi solucionada com a implantação do sistema ferroviário paulista. “Dessa forma, as ferrovias paulistas se constituíram numa das mais importantes atividades componentes do complexo cafeeiro preenchendo múltiplos papéis” (CANO, 1983, p. 33). Dentre os papéis destacados por Cano (1983), podemos citar:

a) atuar como “desbravadora da fronteira agrícola”, tornando possível o acesso às terras virgens do oeste paulista;

b) influenciar para o aumento populacional na região e o processo de urbanização com a fundação de vilas e cidades;

c) abaixar os custos da produção cafeeira ao reduzir os custos do transporte; d) elevar economicamente a produtividade física do café.

A instalação dos trilhos férreos das companhias Mogiana, Paulista e Sorocabana cumprem plenamente o papel de desbravadora do território e da fronteira agrícola, permitindo que, à medida que os trilhos vão se expandindo para o interior do território, contribuam para que o café desbrave as terras virgens, surjam novos municípios e se reafirme o padrão de eficiência para a expansão do processo de acumulação do complexo cafeeiro (CARVALHO, 2014).

Gradativamente, o cenário da economia brasileira quanto às pressões latentes por aumento de importações de gênero alimentícios foi mudando. Há, na agricultura, a diversificação progressiva das atividades. O país deixou de ser um fornecedor tradicional de matérias-primas e gêneros tropicais para dar início a uma nova economia voltada para atividades próprias, após a crise mundial desencadeada no ano de 1929, que repercurtiu gravemente no Brasil. A crise do complexo cafeeiro fortaleceu a diversificação de produção ao

40 expandir as plantações de arroz, milho e feijão que, a partir da presença da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, fundada no ano de 1872, possibilitou o escoamento da produção agrícola para diferentes partes do país. O mapa abaixo expõe o trajeto da linha férrea Mogiana e os municípios beneficiados por sua presença.

Mapa 1: Região da Alta Mogiana Paulista: trajeto da linha férrea da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro e ano de fundação das cidades

41 Isto posto, é possível afirmar o papel relevante da expansão ferroviária para o estado de São Paulo, para o município de Rifaina e, mais particulamente, para as famílias que lá residiam. Além de inspirar o crescimento do município, empregar mão de obra da região na construção dos trilhos e na operação do trem, e facilitar o escoamento da produção, a estrada férrea da Companhia Mogiana influenciou o aumento expressivo da produção da cultura cerealífera de arroz da região. De acordo com a tabela 1, observa-se a diversificação da atividade agrícola da região enquadrada no “Oeste Paulista”, no período de 1920 a 1950.

Tabela 1 – Produção (t) dos principais produtos agropecuários da região Alta Mogiana Paulista – 1920/1940/1950

Fonte: IPEAdata, 2013. Retirado de Carvalho (2014, p.21)

A produção de arroz da Alta Mogiana que, no ano de 1920, era de 3.722 t, passou, no ano de 1940, para 7.136 t, apresentando um crescimento absoluto de 91,7%. Em um período de dez anos, a produção de arroz mais que dobrou, passando para 15.261 t, o que representou um crescimento de 113,9% na produção. A criação de bovinos seguiu o ritmo ascedente da produção de arroz, apresentando um crescimento absoluto ao longo das três décadas de 67,7%. A cultura de feijão, ao contrário, apresentou uma marcha decrescente na produção, com a redução considerável de aproximadamente 50% no intervalo de três décadas.

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