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SEÇÃO I – PREÂMBULOS METODOLÓGICOS

1.3 Inserção ao campo

Desde minha infância, vou a Rifaina5. Entretanto, o início da minha ida a campo

data de janeiro de 2014, como forma de ir conhecendo gradativamente o local e estreitando os laços de amizade e proximidade com possíveis informantes.

5Por ser de família atingida pela construção da UHE de Jaguara, que saiu da cidade sem indenização após a formação do lago artificial, desde pequena fui à cidade de Rifaina para conhecer o local em que meus avós viveram. A aproximação, ainda quando pequena, à cidade e as histórias contadas pela família incentivaram minha aproximação do local como pesquisadora.

32 Dessa forma, utilizar a técnica “bola de neve” foi fundamental para a inserção ao campo e para estabelecer os primeiros contatos com os entrevistados. Tal técnica, como dito anteriormente, consiste em formar uma cadeia de referências a partir de informantes-chave que indicam um conjunto de pessoas que compartilham características e sabem de informações interessantes para a pesquisa. Biernacki e Waldorf (1981) ressaltam a relevância dessa técnica quando a pesquisa tem a finalidade de trabalhar com “comunidades desviantes” e comunidades de difícil inserção em razão do tema a ser abordado pelo pesquisador. Não por acaso os autores recorreram à técnica “bola de neve” para explorar o processo de recuperação de ex-viciados em heroína. Com o objetivo de entender como se dá a recuperação desse grupo social a depender da intervenção do tratamento terapêutico, os pesquisadores buscaram criar uma rede de informantes para ter acesso a dois grupos de ex-usuários de heroína: aqueles que recorreram às comunidades terapeuticas para a recuperação e aqueles se recuperaram “naturalmente”, ou seja, sem auxílio médico.

Ao longo do texto, Biernacki e Waldorf (1981) apresentaram as dificuldades e os problemas metodológicos de pesquisadores que propõem encontrar uma amostra de estudo. Entre os obstáculos, os autores apontam a negligência de pesquisadores que não dedicam tempo para se aprofundar em descrever os problemas no uso dos métodos escolhidos e das técnicas envolvidas. Outro ponto relevante consiste na “visibilidade social da população alvo”. Segundo eles há dois grupos possíveis para o estudo. O primeiro em que o pesquisador pode ter dificuldade de ter acesso, mas tem conhecimento de onde encontrar, e o segundo que, por razões morais e legais, tem pouca visibilidade, e em que tem sérios problemas de localizar um respondente em potencial, como o caso dos ex-usuários de heroína (BIERNACKI; WALDORF, 1981). Diferentemente de Biernacki e Waldorf (1981), que trabalharam com populações de pouca visibilidade, com sérios problemas para localizar informantes em potencial e desconhecendo onde encontrar, principalmente, os ex-usuários que não recorreram a tratamentos médicos, no atual trabalho, eu tinha o conhecimento de onde encontrar os sujeitos de pesquisa mas considerei apropriado o auxílio de um informante inicial para se aproximar da região.

Dessa forma, assim como Whyte (2005), que teve auxílio de Doc para se inserir e compreender o campo, Dona Penha, Ernani e Rildo6 foram essenciais para me aproximar

daquela realidade social e para a realização da pesquisa empírica. Moradores da cidade de

6 Expresso, desde já, meus profundos agradecimentos à Penha, Ernani e Rildo, pessoas que abriram as portas de casa e a porta do coração para me acolher e aconselhar nesta jornada. Meus sinceros agradecimentos.

33 Rifaina conhecidos por serem naturais da região, pela atuação política e pela tradição familiar, disponibilizaram tempo e espaço para conversas produtivas e auxílio na pesquisa. Expus aos três informantes-chave os objetivos da pesquisa e apresentei o perfil de pessoas que me interessavam para a realização das entrevistas.

Os primeiros contatos que estabeleci com a Penha foram pelas histórias e lembranças de infância da minha mãe Maria Luiza. Primas de consideração, viveram na antiga Rifaina antes da construção da UHE de Jaguara. Contudo, a formação do lago artificial trilhou caminhos diferentes para estas famílias: enquanto a família de Penha permaneceu e reconstruiu a vida em Rifaina, a família de Maria Luiza iniciou um processo de migração pelo estado de São Paulo até fixar na cidade de Ribeirão Preto. Com a necessidade de me aproximar de Rifaina para realizar o trabalho de campo e com a certeza de que a presença de um informante da cidade facilitaria o contato com os entrevistados, procurei a Penha na primeira viagem que realizei para os fins da pesquisa. Logo ela me acolheu, me hospedou e, após uma conversa, me levou na casa de amigos, amigas e parentes que poderiam me ajudar na construção da pesquisa. Não posso deixar de expor que minha aproximação com a Penha reconstruiu os laços rompidos de duas amigas e primas que há quarenta e cinco anos viram-se na obrigação de seguir caminhos diferentes na vida e, consequentemente, se distanciaram.

Assim como Penha, a procura por Rildo também foi indicação familiar. Morador da cidade de Rifaina e sobrinho de um antigo grande proprietário de terras da cidade, Rildo disponibilizou tempo para me apresentar ao Sr. Irineu. Neste dia, conversamos horas sobre “causos e contos” de Rifaina, além de outras pessoas que se disponibilizariam a ajudar na pesquisa.

Por fim, a ajuda de Ernani na pesquisa foi de suma importância, não apenas pela indicação de pessoas para a pesquisa, mas sua participação ativa em projetos turísticos da cidade e o acervo histórico pessoal sobre Rifaina me fizeram aproximar de elementos ausentes em órgãos oficiais da cidade. O desejo em conhecer as histórias dos atingidos pela barragem nos aproximou e construiu uma importante ponte de ligação entre os meus anseios para a pesquisa e as aspirações pessoais de Ernani.

A presença destes informantes-chave foi de grande importância, uma vez que amenizou qualquer clima de tensão que poderia existir e permitiu criar laços de confiança por parte dos sujeitos de pesquisa. Nesse sentido, ao expor aos informantes-chave os objetivos da pesquisa e apresentar o perfil de entrevistados que interessavam para a realização das entrevistas, tanto Penha, quanto Ernani e Rildo mobilizaram suas redes de amigos e conhecidos

34 e me apresentaram aqueles e aquelas que, em suas percepções, enquadravam-se na pesquisa. Eles foram, portanto, fundamentais para abrirem portas de entrada para mim e elementares para criar uma cadeia de referências a partir das indicações conforme apresentado no diagrama a seguir.

35 Diagrama 1: Rede das famílias entrevistadas7

7 Todos os nomes das famílias entrevistadas são fictícios.

RILDO ERNANI MARCOS ÉLCIO JOSUÉ PAULINO IRINEU ALBERTO ALMERINDA JOSUÉ FILHO ELZIRA VERIDIANA INÊS PENHA AO ACASO LEGENDA: FAMÍLIA ENTREVISTADA INFORMANTES-CHAVE AO ACASO

36 Após a apresentação detalhada da metodologia e das técnicas empregadas na pesquisa e da rede de agentes formada, nos próximos tópicos, serão apresentadas as justificativas para a escolha dos entrevistados e a construção dos tipos empíricos trabalhados. Acrescenta-se ainda a apresentação e localização da cidade de Rifaina/SP.

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