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4  RESULTADOS 15 

4.2.2  Caracterização das comunidades vegetais 39 

Em 2012 foram identificadas no total das 64 ilhas inventariadas, 200 espécies de plantas. Em termos de ecologia, as espécies identificadas são predominantemente terrestres (80%), representando os higrófitos os restantes 20%. De salientar o número de espécies exóticas encontrado (16), correspondendo a uma percentagem (8%) no total dos elencos florísticos, enquanto as cinco espécies endémicas inventariadas apenas representam 2.5%.

Quer o cluster da classificação hierárquica (Figura 4.1), quer a representação gráfica da análise multidimensional não-paramétrica (NMS) apresentada na Figura 6.4, permitem detetar e visualizar diferenças nas comunidades de plantas expressas pela totalidade de inventários realizados.

Figura 4.1 - Classificação hierárquica com os dados do presente trabalho utilizando como medida de distância Bray-Curtis. Os grupos florísticos são identificados com caixas utilizando as mesmas cores que na Figura 4.2.

A classificação hierárquica (Figura 4.1), feita com base nos elencos florísticos permitiu-nos distinguir seis grupos de comunidades similares. A separação entre os seis Grupos ocorre a um nível de dissemelhança de 75%.

6 4 3 5 2 1 Abibes_2012 Alcarrache_2012 Amor_2012 Antonio_2012 Arruda_2012 Azenha_2012 Balanco_2012 Barbosinha_2012 Bicas_2012 Cagados_2012 Calitro_2012 Castro_2012 Clorofila_2012 Cometa_2012 Degebe_2012 Duquesa_2012 Erva_2012 Escorpiao_2012 Espinhos_2012 Esteva_2012 Estevinha_2012 Estrela_2012 Fraga_2012 Fraguinha_2012 Gaspar_2012 Gorda_2012 Linda_2012 Linguas_2012 Lorosai_2012 Luardinha_2012 Luz_2012 Moncarxa_2012 MontNovo_2012 Mordilho_2012 Mostarda_2012 Musgos_2012 Noite_2012 Ofioglossica_2012 Outeiro_2012 Pancas_2012 Pedras_2012 Pedro_2012 Pequena_2012 Perdicao_2012 Piao_2012 Pipinhas_2012 Porco_2012 Rasta_2012 Retama_2012 Rocha_2012 Sargaco_2012 Serros_2012 Sol_2012 Solapau_2012 Tabua_2012 Tosse_2012 Touro_2012 Tres_2012 Tubarao_2012 Tubolz_2012 Vaca_2012 Vulcao_2012 Xisto_2012 Zambujeiro_2012 Stress: 0.19

Figura 4.2 - NMS com os dados do presente trabalho utilizando como medida de distância Bray-Curtis. Os grupos florísticos são identificados com as mesmas cores que na Figura 4.1. A análise multidimensional não-paramétrica (NMS) permite visualizar a associação relativa entre locais de amostragem de acordo com as respetivas comunidades, pelo que não apresenta eixos numéricos (Figura 4.2). A correspondência entre a matriz de similaridade e o gráfico é explicada pelo "stress". Assim, valores de “stress” inferiores a 0,05 representam um ajustamento perfeito entre as distâncias reais e as distâncias nos eixos. Valores de “stress” superiores a 0,20 são críticos, devendo ser usada alguma cautela na interpretação dos resultados, enquanto valores superiores a 0,30 não são de todo interpretáveis (Clarke, 1993). O “stress” obtido foi de 0.19, valor que permite dizer, em termos da análise da Figura 4.2, que os 6 Grupos obtidos na classificação hierárquica apresentam comunidades vegetais distintas.

A fim de verificar estatisticamente a significância de diferenças entre os 6 grupos obtidos na classificação hierárquica e visualizados na NMS, foi efetuada uma análise de similaridade (ANOSIM) entre grupos. Semelhante a uma análise de variância (ANOVA), mas de cariz não-paramétrico, esta análise pretende testar a veracidade da hipótese nula de não haver diferenças entre grupos.

Quadro 4.5 - Tipos de vegetação de acordo com o respetivo valor de R associado. *p significativo (<0.05).

Grupos de vegetação Valor do R associado Valor de p

G6-G2 0.627 0.01* G6-G3 0.831 0.01* G6-G4 0.707 0.01* G6-G5 0.538 0.01* G5-G2 0.979 0.01* G5-G3 0.934 0.01* G5-G4 0.816 0.02* G4-G3 0.933 0.02* G4-G2 0.963 NS G3-G2 0.98 0.02*

Inicialmente calculou-se um valor estatístico global (R) de 0.827, associado a um nível de significância de 0.001. Como o teste global foi significativo (p <0.05), evidência a existência de seis comunidades vegetais significativamente distintas (Quadro 4.5). O valor de R varia usualmente entre 0 e 1, indicando o grau de discriminação entre pares: valores próximos de 1 indicam uma forte separação no par, enquanto valores próximos de 0 estão associados a uma fraca ou nula segregação. Por o Grupo 1 apenas ser constituído por um único elenco, não foi possível confirmar por esta análise se se trata de uma outra comunidade vegetal. Ao analisar estes resultados em conjunto com os obtidos na classificação hierárquica e na NMS constata-se que existem, pelo menos, cinco Grupos de vegetação distintos na totalidade das ilhas estudadas.

Tendo-se demonstrado, em termos globais, a existência de cinco comunidades distintas, procurou-se ter uma visão mais pormenorizada da composição e estrutura dessas comunidades. Para o efeito, utilizou-se a rotina SIMPER do programa PRIMER (Clarke e Warwick, 2001), que permite identificar a contribuição de cada espécie para as diferenças observadas entre grupos florísticos (Quadro 4.6). Esta rotina é usada para averiguar quais as espécies que mais contribuem para as diferenças observadas entre grupos, usando a abundância das espécies, aplicada através da matriz de similaridade de Bray-Curtis previamente calculada.

Quadro 4.6 - Contribuição das espécies (por ordem decrescente) para a caracterização das comunidades de plantas nos cinco Grupos identificados.

Grupo 2 Similaridade média 42%

Grupo 3 Similaridade média 57%

Espécie Cont. (%) Espécie Cont. (%)

Cistus salviifolius L. 55 Cistus ladanifer L. 78

Cistus ladanifer L. 13 Quercus rotundifolia Lam. 7

Olea europaea L. var. europaea 9 Brachypodium distachyon (L.) P. Beauv. 3

Lavandula pedunculata Mill. 8 Vulpia geniculata (L.) Link 2

Quercus rotundifolia Lam. 5

Grupo 4 Similaridade média 35%

Grupo 5 Similaridade média 42%

Espécie Cont. (%) Espécie Cont. (%)

Brachypodium distachyon (L.) P. Beauv. 32 Vulpia geniculata (L.) link 49

Cistus ladanifer L. 25 Avena barbata Link 11

Phagnalum saxatile (L.) Cass. 9 Quercus rotundifolia Lam. 7

Avena barbata Link 6 Bromus diandrus Roth 5

Vulpia geniculata (L.) Link 4 Retama sphaerocarpa (L.) Boiss. 5

Conyza bonariensis (L.) Cronq. 3 Conyza bonariensis (L.) Cronq. 5

Bromus diandrus Roth 2 Calendula arvensis L. 2

Glinus lotoides L. 2 Brachypodium distachyon (L.) P. Beauv. 2

Quercus rotundifolia Lam. 2 Echyum plantagineum L. 1

Rumex crispus L. 1 Andryala integrifolia L. 1

Grupo 6 Similaridade média 38%

Espécie Cont. (%)

Quercus rotundifolia Lam. 45

Bromus diandrus Roth 8

Cistus ladanifer L. 6

Brachypodium distachyon (L.) P. Beauv. 6

Conyza bonariensis (L.) Cronq. 4

Cistus salviifolius L. 3

Vulpia geniculata (L.) Link 3

Avena barbata Link 3

Calendula arvensis L. 3

Olea europaea L. var. sylvestris (Mill.) Hegi 2

Retama sphaerocarpa (L.) Boiss. 1

Tolpis barbata (L.) Gaertn. 1

Polygonum persicaria L. 1

Estas espécies são as que mais contribuem para a similaridade dentro de cada Grupo e portanto podem ser utilizadas para caracterizar as comunidades de plantas identificadas. Está-se perante cinco Grupos florísticos que a análise ANOSIM tinha já dado como significativamente diferentes. O Grupo 2 apresenta cinco espécies características, o Grupo 3, quatro espécies, o Grupo 4, dez espécies, o Grupo 5, dez espécies e o Grupo 6, catorze espécies.

Em relação à ecologia das espécies características destes cinco Grupos, salienta-se o predomínio no elenco das espécies com carácter terrestre, muito embora nos Grupos 4 e 6, surjam duas espécies higrófitas com alguma representatividade Glinus lotoides no Grupo 4 e

Polygonum persicaria no Grupo 6.

Em termos gerais, pode-se dizer que as diferentes ilhas amostradas apresentam como vegetação potencial os azinhais termófilos do Pyro bourgaeanae–Quercetum rotundifoliae. No entanto, dada a ação antrópica exercida em tempos ancestrais sobre o azinhal, pouco resta da estrutura original destes bosques de Quercus rotundifolia. Eles foram paulatinamente arroteados e convertidos em estruturas de carácter agrícola e pastoril, atingindo na atualidade um estado de alteração que normalmente se traduz em “montado” de carácter muito distinto de uma floresta ou quando as pressões exercidas se acentuaram em estevais do Genisto hirsutae–Cistetum ladaniferi ou em casos extremos em áreas apenas colonizadas por herbáceas. Contudo, em alguns locais, é possível ainda reconhecer o azinhal, os matagais espinhosos Asparago albi–Rhamnetum oleoidis e o zambujal– lentiscal Oleo–Pistacietum lentisci.

O Grupo 1, representado apenas por uma ilha (Outeiro), tem como vegetação predominante o olival. Nesta ilha surge ainda de forma dispersa no estrato arbóreo a espécie Quercus

rotundifolia, no estrato arbustivo a Retama sphaerocarpa e Asparagus albus, e o estrato

herbáceo, em forma de prado, faz-se representar predominantemente pelas espécies

Chrysanthemum coronarium, Dactylis glomerata, Asphodelus lusitanicus, Urginea maritima e Vulpia geniculata.

O Grupo 2 representa ilhas onde a vegetação ocorre sob a forma de montado disperso de

Quercus rotundifolia, com um sub-bosque arbustivo onde predominam as espécies Cistus salviifolius, Cistus ladanifer e Lavandula pedunculata (esteval). Salienta-se ainda a

abundância da espécie Olea europaea var. europaea reveladora da pressão a que estiveram submetidas estas áreas no passado.

O Grupo 3 representa também ilhas onde a vegetação ocorre sob a forma de montado disperso de Quercus rotundifolia, mas com um sub-bosque arbustivo predominantemente colonizado pela espécie Cistus ladanifer.

O Grupo 4 ilhas onde a vegetação se faz representar por um mosaico de áreas de matos (esteval), com áreas colonizadas apenas por herbáceas (prados). Nas áreas de matos a espécie Cistus ladanifer assume-se como a mais representativa, enquanto nas áreas de prados predominam as gramíneas Brachypodium distachyon, Avena barbata, Vulpia

geniculata, Bromus diandrus. Salienta-se neste Grupo de ilhas a reduzida representatividade

do estrato arbóreo 2% Quercus rotundifolia, assim como a presença da espécie higrófita

Glinus lotoides que assume representatividade na faixa inter-níveis da albufeira.

O Grupo 5 representa ilhas onde a vegetação se assume pelo montado disperso de

Quercus rotundifolia, com um sub-bosque colonizado predominantemente pelas gramíneas Vulpia geniculata, Avena barbata, Bromus diandrus e Brachypodium distachyon (prado).

O Grupo 6 representa as ilhas colonizadas por montado denso de Quercus rotundifolia com um sub-bosque arbustivo onde predominam as espécies Cistus ladanifer e Cistus salviifolius (esteval). Salienta-se ainda a representatividade no estrato herbáceo das espécies Bromus

diandrus, Brachypodium distachyon, Vulpia geniculata, Avena barbata, assim como a

presença da espécie higrófita Polygonum persicaria que assume representatividade na faixa inter-níveis da albufeira.

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