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Caracterização das escolas criadas na cidade

TABELA 1 PRINCIPAIS ATIVIDADES/OCUPAÇÕES DA POPULAÇÃO DE ITABIRA DO MATTO DENTRO

1.2 Caracterização das escolas criadas na cidade

O levantamento que empreenderemos agora é de acompanhar a criação na cidade, ao longo do século XIX, das escolas públicas primárias e das subvencionadas bem como caracterizá-las quanto ao público a que se destinavam.

Na Tabela 4 acompanhamos a instituição das escolas públicas primárias no século XIX.

Fonte: APM; Coleção de Leis Mineiras.

Ao longo do século XIX, houve um número significativo de criação de escolas na cidade. As décadas de 1870 e 1880 foram os anos em que mais escolas foram estabelecidas. Importante destacar que todas estas escolas que foram criadas pelo poder provincial funcionaram efetivamente. Apenas a terceira cadeira de instrução primária do sexo masculino da sede da cidade foi suprimida após quatro anos de existência e ao que parece não voltou a funcionar.

É importante ressaltar que na década de 1860, o Estado estabeleceu apenas uma escola na cidade, talvez um reflexo do direcionamento de verbas para a Guerra do Paraguai por parte dos governos provinciais, deixando de lado áreas consideradas não tão importantes, naquele momento, quanto a defesa do território nacional.

Em relação a que tipo de público estas escolas se destinavam temos o seguinte movimento: nas décadas anteriores a de 1860, o governo provincial criou oito escolas primárias para o sexo masculino e apenas uma para o sexo feminino. Na década de 1860, foi criada apenas uma escola primária para o sexo masculino. Na seguinte, a

22 Destas quarenta e duas escolas não foi possível identificar em qual freguesia se localizava a escola de Matto Grosso criada na década de 1880.

TABELA 4 - Escolas públicas na cidade de Itabira do Matto Dentro

Data Nº de escolas criadas

Antes de 1860 9 Década de 1860 1 Década de 1870 12 Década de 1880 20

província criou quatro escolas destinadas ao público masculino e oito escolas para o sexo feminino. Na década de 1880, revelou o movimento contrário ao da década anterior, das vinte escolas criadas, apenas uma se destinava ao público feminino e dezenove ao masculino.

No que diz respeito a uma preocupação do Estado com a escolarização das meninas da província, podemos dizer que ela se fez de forma mais efetiva na década de 1870. Em todo o século XIX, a tentativa de escolarizar a população se direcionou de forma efetiva ao público masculino, o que pode ser percebido na criação de escolas primárias para esta parcela da população de maneira mais sistemática do que com as escolas voltadas para o sexo feminino.

A criação destas escolas femininas, na década de 1870, foi definidora, na cidade, para a entrada das mulheres no magistério. Antes deste período, existia apenas uma escola pública feminina e, portanto, apenas uma professora atuando no magistério público.

Do ponto de vista legal, no município não foram criadas escolas mistas, prática que se tornou mais comum nas últimas décadas do período imperial. Contudo não podemos afirmar que as escolas de Itabira do Matto Dentro, ainda que criadas tendo como foco um segmento específico da população em idade escolar, não tenha atendido a ambos os sexos. Nas atas de exame de algumas escolas, constatamos que escolas masculinas eram freqüentadas por meninas e escolas femininas por meninos.

Além destas escolas estabelecidas pelo governo provincial, a partir de 1881, a Câmara Municipal de Itabira do Matto Dentro passou a subvencionar escolas localizadas em zonas rurais de seu município. A defesa de que os municípios mineiros deveriam ajudar na difusão da instrução pública foi detectada principalmente no ano de 1880 quando o segundo vice-presidente da província Joaquim Jose de Sant‟Anna (1880,p. 11) na abertura dos trabalhos da Assembléia Provincial daquele ano deu o seu parecer sobre o assunto

As camaras municipaes tem na lei de 1º de Outubro de 1828 a attribuição de fiscalisar e promover o ensino. Sem recursos e incentivos, não satisfazem a prescripção legal; entretanto, em todos os paizes da Europa, à excepção da Rússia e da Inglaterra, as camaras em grande parte fundão e subvencionão as escolas. É um regimem que pode-se adoptar com feliz exito. As camaras municipaes terão a administração e inspecção das escolas nos districtos mais populosos. Para mantel-as com os recursos dos seus orçamentos, sendo ordinariamente de uma receita exigua, lembre a creação de imposto de applicação especial, conforme as circunstancias de cada municipio. Nenhum inconveniente resultará da plena liberdade na

direção das escolas municipaes, porque ao lado dellas estarão as escolas provinciaes nas cidades e freguesias, mantidas pelo governo, cujos methodos e disciplina servirão de modelo. Quando trata-se de dar vida e prestigio às municipalidades, não convem desprezar a sua cooperação em um objeto de grande interesse social.

Por esse trecho, percebemos que o governo provincial retoma a lei de 1828 reclamando a ajuda mais concreta dos municípios mineiros na disseminação da instrução. Contudo, a questão da precariedade das rendas das câmaras constituíam em um problema. Desta forma, a sugestão de se criar um imposto especial para ajudá-las na criação ou subvenção de escolas era uma boa solução, além de propor também que essas escolas fossem criadas nos distritos mais populosos. 23

A retomada das atribuições dos municípios nos assuntos referentes à educação encontravam-se nesse momento nas mudanças que ocorriam na sociedade em que medidas mais categóricas estavam sendo levadas a cabo pelo Estado na supressão do trabalho escravo. A inclusão dos negros na sociedade como cidadãos, colocava em pauta a necessidade de prepará-los para a vida em liberdade em que a educação seria um

meio imprescindível para manter a “continuidade da estrutura social originária daquele período” o da escravidão (FONSECA, 2002, p.35)

A partir da década de 1870, vários sujeitos se propuseram a pensar e propor soluções para os problemas que dificultavam a modernização do país. Este grupo conhecido como a Ilustração Brasileira acreditava na ciência como fator de promoção da sociedade e do indivíduo e esta se daria por meio da educação o que fez intensificar os discursos em prol da valorização da mesma. Pois seria por meio dela que se daria uma atuação política mais eficaz, promoveria a preparação para o trabalho ajudando na resolução dos problemas nacionais e no alcance do progresso (GONÇALVES NETO, 2007, p. 2; BARROS, 1986).

Deste modo, a colaboração dos municípios de forma mais efetiva na escolarização da população colocava-se como um fator de necessidade para ajudar a sanar os problemas do país e garantir a continuidade da estrutura social já existente. Além disso, percebemos, com esse movimento, o inicio do repasse dos encargos da instrução para os municípios o que se dará de forma mais efetiva no período republicano.

23 De acordo com Martins (2001, p.200) os distritos eram divisões estritamente administrativas para os serviços de fiscalização e de polícia, denominando regiões povoadas ou que iniciavam seu povoamento. A partir da década de 1830 vários distritos foram criados pelas câmaras municipais como subdivisões de municípios.

A proposta apresentada pelo segundo Vice-presidente foi acatada ainda com algumas modificações na resolução nº 2717 de 18 de dezembro de 1881 (anexo I). No artigo 11 das disposições permanentes, autorizava as Câmaras a criarem escolas primárias ou auxiliarem as já existentes em seu município.

Esse artigo, em seus quatro parágrafos, estabelecia em linhas gerais como seriam o estabelecimento ou o auxílio a estas escolas. Os professores seriam contratados ou nomeados pelo poder local cabendo a ele também a inspeção dos mesmos. Deveriam apresentar anualmente informações sobre aproveitamento dos alunos, métodos e condições do ensino, além de ser dependente a manutenção destas escolas a freqüência exigida pelo regulamento nº 8424 que estava em vigor no momento. Nele não se mencionava a questão da criação de um imposto, apenas que as câmaras deveriam apresentar o orçamento concernente ao assunto. Também não se determinava o local de estabelecimento das escolas criadas ou subvencionadas pelos municípios.

O 4º parágrafo do artigo 11 colocou que, se as escolas criadas pelo município tivessem uma freqüência maior daquelas criadas pela Província, seriam as escolas provinciais suprimidas e as verbas destinadas a elas, repassadas ao município. Se a proposta era a ampliação de escolas e, por conseqüência, uma maior parcela da população escolarizada essa condição na verdade poderia não promovê-la. Se a intenção era de fato repassar aos municípios paulatinamente, os encargos com a instrução, essa resolução poderia atingir seu objetivo.

Se não podemos fazer afirmações categóricas, podemos pensar que os dirigentes da Câmara Municipal de Itabira do Matto Dentro perceberam a ambigüidade dessa resolução porque as escolas que o município subvencionou localizavam-se todas na zona rural, em locais em que não existiam escolas provinciais. O Código de Posturas de 1883 regulou de maneira mais detalhada as condições para a subvenção de escolas rurais do município (anexo II). Nele, foram delimitados forma de seleção de professores, valor anual da subvenção, modo de pagamento, freqüência mínina da escola entre outros.

A subvenção destas escolas teve dois movimentos. Em um primeiro momento, a Câmara Municipal dirigiu-se a pessoas das localidades que já lecionavam particularmente, foi o caso das primeiras subvenções no ano de 1881. Após esse período

24 O artigo 28 deste regulamento estipulava como freqüência mínima vinte alunos para as escolas masculinas e quinze alunas para as escolas femininas.

inicial, os vereadores indicavam a necessidade de criação de escolas em determinadas localidades e também sugeriam quem seriam os professores das mesmas.

A subvenção de escolas ou a criação das mesmas pelo poder local não se fez de modo contínuo, durante toda a década de 1880, foram subvencionadas nove escolas rurais. Destas, quatro passaram a receber subvenção, no ano de 1881, logo após a resolução 2717 de 1880. A Câmara Municipal só iria subvencionar novamente em 1885 três escolas e uma em 1887. Uma escola rural não foi possível obter informações sobre o início da subvenção.

Tanto a resolução 2717 de 1880 quanto o Código de Posturas de 1883 não declaram a que tipo de público estas escolas se destinavam: se para meninos ou para meninas, ou ainda, para ambos os sexos. Embora a legislação não tenha sido explícita sobre essa questão por meio de mapas de freqüência de algumas destas escolas, constatamos que apenas em duas escolas rurais existia a freqüência de meninas. Ainda assim, essa presença feminina era bastante pontual como veremos no capítulo quarto quando nos detivermos sobre os alunos destas escolas.

A partir deste panorama mais geral sobre a criação das escolas públicas no município, procuramos responder algumas perguntas mais pontuais tais como: a criação destas escolas se deu de maneira uniforme nas várias freguesias da cidade? Foram criadas escolas situadas em localidades rurais ou apenas as sedes das freguesias puderam contar com escolas públicas provinciais? Que outros tipos de escolas foi possível identificar nas freguesias? Iremos agora identificar as localidades em que estas escolas foram criadas ao longo do século XIX.