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6. Discussão dos Resultados

6.1 Caracterização das notificações e sua origem

O ano em que se verificou um maior número de notificações totais à UFS foi em 2015. Os resultados positivos para este ano podem em parte ser explicados pela implementação de medidas pelos delegados de farmacovigilância de incentivo à notificação, desenvolvimento de ações de formação e divulgação impulsionada pela UFS e a um projeto de farmacovigilância levado a cabo por uma delegada nas urgências hospitalares (30).

De modo contrário, o ano de 2016 regista o número mais baixo de notificações à UFS, quer para as notificações totais quer para as associadas ao grupo J01, contrastando com o maior número de notificações recebidas no SNF (51). Assim sendo, a taxa de notificação no ano de 2016 na região Sul foi menor, em particular devido à ausência de estudos e projetos da autoria dos delegados de farmacovigilância na região (31).

O cruzamento do número de notificações recebidas a nível nacional (Figura 1), com as recebidas pela UFS no mesmo período de tempo permite concluir que estas últimas correspondem em 2012 a 11,3%, em 2013 a 9,5%, em 2014 a 7,3%, em 2015 a 7,2% e em 2016 a 5,2% das notificações totais para cada ano (20) (51), mostrando assim a importância da UFS no contexto global nacional.

A UFS registou 435 e 314 notificações por milhão de habitantes em 2015 e 2016, respetivamente, valores que superam os obtidos pelas restantes UF para os mesmos períodos. No caso particular da UFC, o número de NE totais entre esta e a UFS é semelhante, com a diferença a residir no facto da região Centro apresentar uma população total mais elevada e portanto uma taxa inferior (52). Exemplo deste facto é visível em 2014, ano em que a UFS registou 359 notificações por milhão de habitantes (29), valor bastante superior à taxa registada pela UFC de 124 notificações por milhão de habitantes (53).

A via de notificação mais usada nos 5 anos do período de estudo foi a via online (através do portal da UFS), tanto para as notificações totais como para as associadas ao grupo terapêutico em estudo. Estes dados devem-se provavelmente à facilidade de acesso a esta via e à sua rapidez de utilização no processo de submissão de uma RAM (52).

Embora surja em segundo lugar como via de notificação mais utilizada, o portal RAM apresenta uma considerável distância do primeiro lugar. Das 1472 notificações recebidas no SNF, no seu primeiro ano de funcionamento (22 de julho de 2012 a 23 de julho de 2013) apenas 26% foram submetidas através desta via. Tendo em conta os universos de cada uma das UF, apenas 6% das notificações recebidas através deste portal são referentes à UFS (54).

O portal RAM apresenta resultados de utilização aquém do esperado, uma vez que se acreditava que pudesse contribuir fortemente para o aumento do número de notificações. A análise dos dados regionais corrobora esta constatação, o que reflete uma necessidade de promoção e divulgação desta ferramenta junto dos utentes e dos profissionais de saúde da região (31).

6.2 Caracterização do notificador de reações adversas

O farmacêutico foi o profissional de saúde que mais contribuiu para as notificações totais e associadas ao grupo J01, comparativamente com as restantes categorias profissionais. No caso particular do farmacêutico comunitário, a sua proximidade com a população, nomeadamente no contacto com o doente antes, durante e após um tratamento é importante na monitorização de uma RAM (32).

Apesar disso, o maior contributo continua a pertencer aos farmacêuticos hospitalares. Alguns fatores que podem explicar estes dados são, uma grande parte das terapêuticas são administradas intravenosamente (quando em contexto hospitalar); em 12,41% dos casos (relativamente ao grupo J01) a RAM conduziu à hospitalização; os farmacêuticos hospitalares têm mais informação sobre farmacovigilância em farmácia clínica e acesso mais facilitado ao processo clínico do doente, bem como contacto permanente com o médico para esclarecer dúvidas sobre a RAM (55); e a constituição da equipa de delegados de farmacovigilância da UFS (7 farmacêuticos hospitalares e apenas 3 farmacêuticos comunitários) (31).

Ainda assim, considera-se a participação dos farmacêuticos, enquanto notificadores, ainda aquém do seu potencial (31).

Desde o início da participação do utente como notificador tem existido uma evolução crescente do número de notificações realizadas por este grupo, quer a nível nacional (crescimento de 1200% de 2013 para 2016), quer para a região do Sul em particular. Não obstante, a sua contribuição é ainda fraca, pelo que deverão existir estratégias de promoção e incentivo a um maior número de notificações (30), uma vez que as notificações realizadas

por este grupo são mais detalhadas que as dos profissionais de saúde, com maior destaque para a gravidade da RAM e impacto da mesma na qualidade de vida do doente, ajudando assim a fortalecer a informação do Sistema (56).

O mesmo acontece com o médico e enfermeiro, que apesar de apresentarem um perfil de notificação mais favorável que o utente, mas inferior ao dos farmacêuticos, demonstram uma clara necessidade de sensibilização/formação destes profissionais para a notificação (31). Isto acontece particularmente com o enfermeiro, uma vez que é o responsável por administrar a maioria dos medicamentos ao doente em contexto hospitalar, e é muitas das vezes quem alerta o médico para possíveis RAM (57).

Na região Sul, por comparação com outras UF do país, verifica-se que o contributo médico é inferior, o que pode ser atribuído a algumas causas descritas em vários estudos, nomeadamente: falta de entendimento do processo de notificação de uma RAM, falta de tempo, receio de identificação errada de uma RAM, incertezas na relação causal entre medicamento e a RAM (58) ou falta de incentivos, embora reconheçam a importância do Sistema de Farmacovigilância (59). Dado que os médicos reportaram praticamente metade de todas as notificações recebidas pela UFC entre 2009 e 2014 (53) e pela UFN (60), seria importante incentivar esta categoria profissional a alcançar um maior número de notificações na região Sul.

Enquanto o farmacêutico e o médico optaram maioritariamente pela notificação por via

online, o utente preferiu a via telefónica, o que poderá dever-se à referência do contacto

telefónico do INFARMED no folheto informativo dos medicamentos, para reportar reações adversas (31).

Setúbal foi o distrito com o menor número de notificações, já que a maioria deste notifica para a UFLVT e apenas uma parte para a UFS. O distrito de Portalegre foi o segundo menos participativo, refletindo a necessidade de promover ações de formação e sensibilização para a importância da notificação nesta área geográfica (52).

A contribuição dos delegados de farmacovigilância faz-se notar, não só através das notificações diretamente realizadas por estes profissionais, mas também nas que estes incentivam a notificar (31). Contudo, os dados analisados no presente trabalho são exclusivamente referentes às notificações diretamente realizadas por este grupo (25,28%), pelo que a sua influência global poderá estar subestimada. Segundo dados onde são tidas em conta as notificações devido à promoção/facilitação da notificação nas suas instituições, 83% das notificações à UFS em 2015 e 69% das notificações em 2016, deveram-se ao contributo dos delegados, mostrando então a importância destes profissionais na promoção da notificação (30) (31).

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