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4.1 A saúde mental de trabalhadores agrícolas familiares

4.1.2 Caracterização das propriedades agrícolas familiares

4.1.2.1 Área das propriedades

Os agricultores familiares de Ituporanga têm, em média, propriedades com 17,3 ha (DP=15,7). Observa-se que 44,9% das propriedades têm de 1 a 10 ha e somente 7,4% da amostra estudada tem mais de 40 ha.

Nesta pesquisa, a amostra se concentrou apenas nos trabalhadores agrícolas familiares, não foram estudados os trabalhadores agrícolas patronais. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, apenas 40 propriedades agrícolas no município de Ituporanga são patronais. (IBGE, 2007).

4.1.2.2 Produção agrícola e infra-estrutura

O município de Ituporanga caracteriza-se pela agricultura familiar, predominando-se nas propriedades as culturas de cebola (n=203, 50,1%) e de fumo (n=220, 54,3%).

Destaca-se a importância econômica da cebola, sendo Santa Catarina o maior produtor de cebola do país e a região de Ituporanga responsável por 60% da produção estadual. (EPAGRI, 2008).

Observam-se outras culturas expressivas no município, como o milho (n=230, 56,8%) cultivado como insumo e para fins comerciais, o feijão (n=72, 17,8%) e a horticultura (n=44, 10,9%). A produção animal também é verificada em 25,2% (n=102) das unidades produtivas, centrada em bovinos, suínos e aves (para consumo e fins comerciais). A Figura 3 apresenta os principais produtos agrícolas explorados nas propriedades do município de Ituporanga.

11% 50% 54% 57% 18% 25% 0 10 20 30 40 50 60 70

Milho Fumo Cebola Feijão Hortaliças Criação de animais

Figura 3: Principais atividades econômicas desenvolvidas nas propriedades

Os trabalhadores agrícolas utilizam ferramentas manuais. Quando questionados em relação ao uso de máquinas, 48,4 % afirmam que as utilizam. Observa-se que as máquinas mais encontradas são os micro-tratores e os tratores com seus implementos. As propriedades maiores apresentam bom nível de mecanização na região, principalmente os produtores de cebola.

Agricultores relataram que não têm maquinários, e que utilizam as máquinas adquiridas pelo Programa Microbacias 2 (plantadeira de grão e de adubação verde, espalhador de calcário, plataforma, lâminas e outros equipamentos), por associações

(exemplo, a associação no Rio Perimbó – com grupo de 15 e 20 famílias) e de vizinhos.

4.1.2.3 Relações de trabalho e estrutura familiar

Os agricultores entrevistados são membros da família proprietária das propriedades agrícolas familiares. Quando questionados sobre a contratação de funcionários, apenas 20,2% afirmaram que recorrem a essa prática.

Nesta região, os agricultores costumam ―trocar dias com seus vizinhos‖, ou seja, os vizinhos colaboram nas atividades de acordo com as necessidades de cada propriedade, principalmente nas épocas de transplante e colheita do fumo e cebola. A contratação de mão-de-obra complementar ocorre em propriedades onde há maior atividade produtiva, e por curto prazo.

No desenvolvimento da pesquisa, observou-se que os entrevistados evitam falar sobre a contratação de funcionários, principalmente quando fazem sem os direitos de natureza trabalhista.

4.1.2.4 Dimensão temporal do processo de trabalho

Em relação à dimensão temporal, observa-se que a média de tempo de moradia na propriedade é de 26,15 anos (DP=18,2). Cerca de 73% dos agricultores familiares moram há mais de 10 anos na mesma propriedade e 55,1% há mais de 20 anos. (Figura 4).

mais de 50 41 a 50 31 a 40 21a 30 11 a 20 1 a 10

Tempo de moradia na propriedade (anos) 30 25 20 15 10 5 0 Porcen ta gem 9,88% 12,84% 16,05% 16,3% 26,91% 18,02%

Figura 4: Tempo de moradia nas propriedades agrícolas

Não há uma prescrição formal da organização do trabalho nas situações rotineiras da agricultura familiar, mas essa organização é conhecida e realizada por todos e está presente na rotina dos trabalhadores, já que não há uma jornada de trabalho definida, nem têm horários pré-determinados a serem cumpridos.

Na época de safra, a jornada de trabalho é extensa, com uma média de 12,9 horas diárias (DP=2,6). Verificou-se que alguns (n=55, 13,6%) agricultores trabalham mais de 16 horas, principalmente no período de transplante que ocorre no inverno/primavera e na colheita que ocorre na primavera/verão. Observa-se que os plantadores de fumo, muitas vezes, ultrapassam 18 horas para cuidarem das estufas no processo de cura. Fora da safra, a jornada média de trabalho diminui para 9,1 horas diárias (DP=1,8).

Para comparar a média de horas trabalhadas durante a safra e fora de safra, utilizou- se o teste t pareado, e verificou-se que a média de horas trabalhadas na safra é significativamente superior às horas fora de safra (t(404) = 34,691; p<0,001).

Nas propriedades, existem também atividades não-agrícolas que são realizadas, tais como: os trabalhos domésticos e a manutenção da propriedade. Sendo assim, se forem somadas as horas de trabalho em atividades agrícolas e não-agrícolas, os

agricultores estudados têm uma jornada de trabalho superior à média de trabalho verificada.

4.1.2.5 Uso de agrotóxicos e intoxicações

Em relação à utilização de agrotóxicos, 85,9% (n=348) dos trabalhadores agrícolas entrevistados referiram o uso regular de agrotóxicos (Figura 5). Uma grande quantidade de agrotóxicos é aplicada, principalmente, nas plantações de cebola e fumo. Não Sim Uso de agrotóxicos 100 80 60 40 20 0 Porcen ta gem 85,93% 14,07%

Figura 5: Uso regular de agrotóxicos

O período do ano com maior intensidade no uso de agrotóxicos são os meses após o transplante (inverno/primavera), até a colheita (primavera/verão). Os agricultores utilizam os seguintes agrotóxicos: herbicidas, fungicidas, inseticidas. Além dos agrotóxicos, 47,2% (n=191) fazem uso de produtos veterinários nas criações de animais.

Também se verificaram as intoxicações causadas por agrotóxicos: 40,5% dos trabalhadores afirmaram que tiveram problemas de intoxicação na família e 23,7 % afirmaram que eles mesmos foram intoxicados (Figura 6).

23,7% 40,5% 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Intoxicações na família Agricultores intoxicados

Figura 6: Intoxicações

Analisando as intoxicações nas propriedades, de acordo com a atividade predominante, ou seja, nas principais culturas (cebola e fumo), verifica-se que 50% dos trabalhadores agrícolas que plantam fumo já tiveram intoxicações na família, assim como 36% dos que plantam cebola.

Entre os trabalhadores que plantam fumo, 29,1% afirmaram que eles próprios tiveram intoxicação pelo uso de agrotóxico, contra 21,7% dos que plantam cebola. Os dados mostram, portanto, que as intoxicações por agrotóxico na família são menores entre os produtores de cebola.