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1.3 Objetivos

2.1.2 Determinantes da saúde mental

A literatura sobre os determinantes da saúde identifica a complexa interação entre os determinantes nas dimensões sociais, ambientais, econômicas e biológicas. (KELEHER; MURPHY, 2004; WHO, 2002).

A condição mental de cada um é determinada por uma multiplicidade de fatores biológicos (por exemplo, genética e sexo), individuais (por exemplo, antecedentes pessoais), familiares e sociais (por exemplo, enquadramento social), econômicos e ambientais (por exemplo, estatuto social e condições de vida). A saúde mental, para cada pessoa, depende de fatores e experiências individuais, valores culturais, interações, estruturas e recursos sociais. (LAHTINEN et al., 1999).

Há muito que aprender sobre as causas específicas dos transtornos mentais e comportamentais. As contribuições da neurociência, da genética, da psicologia e da sociologia, entre outras, desempenham um importante papel informativo na maneira de compreender essas relações. Uma apreciação cientificamente fundamentada das

interações entre os diferentes fatores contribuirá no tratamento das pessoas com estes problemas. Segundo estudos da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da

OMS (2001), a saúde mental de uma população pode ser afetada por fatores

biológicos, sociais e psicológicos.

Os fatores biológicos são determinantes da saúde mental, uma vez que a maioria das perturbações mentais e comportamentais graves comuns está associada a um significativo componente de risco genético. Estudos mostram o modo de transmissão das perturbações mentais nas diversas gerações de famílias. Tais perturbações têm origem predominantemente na interação de múltiplos genes de risco com fatores ambientais. Além disso, é possível que a predisposição genética para o desenvolvimento de determinada perturbação mental ou comportamental se manifeste apenas em pessoas sujeitas a certos fatores de estresse que desencadeiam a patologia. A desnutrição, a infecção, a perturbação do ambiente familiar, o abandono e o isolamento são exemplos de fatores ambientais, que poderiam abranger, também, a exposição a substâncias psicoativas. (OPAS; OMS, 2001).

Os fatores biológicos, a idade e o sexo estão associados com transtornos mentais e comportamentais. Estudos mostram que os homens têm probabilidade quatro vezes maior de cometer suicídio do que mulheres. (EUROPEIAN COMISSION, 2007).

Fatores sociais, como urbanização, pobreza e mudança, igualmente podem estar associados ao desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentais. As mudanças têm efeitos diferentes baseados no status econômico, no sexo, na raça e na etnia. Na vida, as pessoas passam por muitos problemas, entre os quais se destacam, o isolamento, a falta de transportes e comunicações e as limitadas oportunidades educacionais, econômicas e ocupacionais. O acesso aos serviços sociais e de saúde mental tendem a concentrar os recursos nas grandes áreas metropolitanas, deixando limitadas opções para os habitantes das zonas rurais que necessitam de cuidados. (OPAS; OMS, 2001).

Um estudo sobre suicídio de pessoas idosas em zonas rurais da província de Hunan, na China, mostrou índice de suicídio mais elevado nas áreas rurais (88,3 por 100.000)

do que nas áreas urbanas (24,4 por 100.000). (XU et al., 2000). Em outros países, foram registradas taxas de depressão superiores às estimativas para o total da população feminina entre as mulheres das zonas rurais. (HAUENSTEIN; BOYD, 1994).

A pobreza e as condições a ela associadas (desemprego, baixo nível de instrução, privação e ausência de habitação) são generalizadas em países pobres e, também, afetam uma minoria considerável em países ricos. Dados de pesquisas transculturais feitas no Brasil, Chile, Índia e Zimbábue mostram que as perturbações mentais mais comuns são quase duas vezes mais frequentes entre pobres do que entre ricos. (PATEL et al., 1999).

A urbanização pode ter consequências insalubres para a saúde mental, devido à influência de estresse e de acontecimentos vitais adversos, como o congestionamento de trânsito e a poluição do meio ambiente, a pobreza e a dependência em uma economia baseada no dinheiro, com altos níveis de violência ou reduzido apoio social. (DESJARLAIS et al., 1995).

Aproximadamente, metade da população urbana vive em condições de miséria nos países pobres. Nesses países, há milhões de adultos e crianças sem casa para morar. Em certas regiões, o desenvolvimento econômico força um número crescente de pessoas a migrar para zonas urbanas, em busca de uma forma de ganhar a vida. A migração não produz melhoria do bem-estar social, pelo contrário, resulta em elevados índices de desemprego e condições de vida miseráveis, expondo milhares de pessoas ao estresse social.

Em todos os níveis socioeconômicos, a mulher, pelos múltiplos papéis que desempenha na sociedade, está predisposta a correr maior risco de perturbações mentais e comportamentais do que os homens na comunidade. As mulheres continuam com a responsabilidade de serem, simultaneamente, esposas, mães, educadoras e prestadoras de cuidados e a terem uma participação cada vez mais essencial no trabalho, sendo a principal fonte de rendimento em cerca de um quarto a um terço das famílias. Além das pressões a que são impostas em virtude do número

de papéis, elas enfrentam discriminação sexual, pobreza, fome, desnutrição, excesso de trabalho e violência doméstica e sexual. (OPAS; OMS, 2001).

Para a OPAS e a OMS (2001), existem fatores psicológicos individuais que se relacionam com a manifestação de perturbações mentais e comportamentais. Uma descoberta ocorrida no século XX é a importância do relacionamento com os pais e/ou com prestadores de serviços, durante a infância. A atenção, o afeto e a estabilidade permitem à criança desenvolver normalmente funções como a linguagem, o intelecto e a regulação emocional. Seja qual for a causa, a criança sem afeto por parte de sua família e de outras pessoas de seu convívio tem mais probabilidades de manifestar perturbações mentais e comportamentais, seja durante a infância ou numa fase posterior da vida. Em alguns casos, podem-se observar, também, déficits intelectuais.

O comportamento humano, inclusive, é configurado através de interações com o meio ambiente natural ou social. Essas interações podem resultar em consequências desejáveis e indesejáveis para os indivíduos.

As perturbações mentais e comportamentais, como a ansiedade e a depressão, podem ocorrer em consequência da incapacidade de se adaptar a um acontecimento vital gerador de estresse. De maneira geral, as pessoas que procuram não pensar nos fatores de estresse ou que não os enfrentam têm mais probabilidades de manifestar ansiedade ou depressão, enquanto as que discutem os seus problemas com outras e procuram encontrar meios de controlar esses fatores apresentam melhores resultados. Essa descoberta levou ao desenvolvimento de intervenções que consistem em ensinar aptidões para enfrentar a vida e contribuiu para a compreensão destas perturbações. (OPAS; OMS, 2001).