O campo de pesquisa é constituído pelas empresas de Biotecnologia do Brasil, ou seja, organizações que operam ao menos uma das técnicas biotecnológicas (Quadro 2) referenciadas pela OCDE (VAN BEUZEKOM; ARUNDEL, 2009)24 na fabricação de bens ou serviços, ou em P&D direcionadas à Biotecnologia.
O setor é caracterizado por micro e pequenas empresas, jovens e de base tecnológica, que se concentram nas regiões sul e sudeste do país com destaque para os estados de São Paulo e Minas Gerais, tendo como fundadores – na grande maioria dos casos – professores e/ou pesquisadores de universidades (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2009b; CENTRO...; ASSOCIAÇÃO..., 2011).
Outro ponto a se considerar sobre o campo é o fato de essas empresas serem modelo de organizações que a teoria afirma ser predominante na Sociedade da Informação e do Conhecimento: embasadas em conhecimento científico, tecnologia e inovação com atuação em "nichos" específicos de mercado. Ao considerar este perfil generalista, subtende-se que essas organizações utilizam informação e tecnologias de informação como ferramentas básicas em suas tarefas diárias.
Os estudos mais recentes (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2009b; CENTRO...; ASSOCIAÇÃO..., 2011) destacam que o setor encontra-se dividido nos segmentos: Agricultura; Saúde Animal; Bioenergia; Meio Ambiente; Saúde Humana; Insumos, que abarcam equipamentos e reagentes; e outras áreas como consultorias, bioinformática, testes, etc.
24 A definição de técnicas biotecnológicas visa padronizar as práticas da biotecnologia e assim permitir uma
Assim, optou-se por caracterizar o setor segundo essas áreas para fins de posteriores análises por estratos.
Dentre as instituições-chave que atuam no desenvolvimento do setor, podem ser citadas universidades, centros de pesquisa, agências financiadoras públicas e privadas e instituições que focam a organização do setor com o objetivo de propiciar seu crescimento e maior competitividade. Como representantes destas últimas, pode-se citar:
Biominas25: instituição fundada em 1990 destinada a fomentar o desenvolvimento de empresas de biociências no país; vem auxiliando na criação e desenvolvimento de bionegócios através de incubadora fundada em 1997, que ganhou nome e marca em 2007, passando a se chamar Habitat. Além da Habitat, a Fundação Biominas, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e o governo do mesmo estado, participou ativamente da criação do APL de biotecnologia de Belo Horizonte e ainda desenvolve estudos prospectivos para o setor e fornecimento de diversos tipos de serviços que contribuem para o avanço das empresas de biotecnologia (BIOMINAS BRASIL, 2011).
Bio-Rio: Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro, com atuação semelhante a da Fundação Biominas. É gerido pela Fundação Bio-Rio, tendo sido fundado em 1988 e conta com estrutura constituída por incubadora de empresas destinada a abrigar novos negócios de biotecnologia e áreas afins por até cinco anos; lotes industriais para implantação de estrutura de P&D e produção, além de apoio administrativo às empresas. Sua sede é estabelecida no bairro Cidade Universitária, Ilha do Fundão, junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro. SBBiotec: a Sociedade Brasileira de Biotecnologia, juridicamente
caracterizada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, foi fundada em 1988. Dentre suas atividades está a organização de uma base de projetos e competências em biotecnologia – BiotecData que, além de fornecer informações sobre as competências disponíveis no país na área da biotecnologia, orienta a formulação de políticas para o setor, como por exemplo, as ações de fomento implementadas pelo Fundo Setorial de Biotecnologia, entre outros (SOCIEDADE..., 2011).
25 A Fundação Biominas a partir do ano de 2011 passa a ser conhecida como Biominas Brasil. Porém os estudos
anteriores a esta data recebem como autoria o primeiro nome da organização. Assim, o texto hora se refere à Fundação Biominas, hora a Instituição Biominas, sendo que ambas as nomenclaturas se aplicam à mesma empresa privada Biominas Brasil.
BRBIOTEC: a Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia, conhecida através da sigla ABRABI consta em várias referências, inclusive internacionais, como o órgão representativo do setor biotecnológico no Brasil, no entanto a pesquisa exploratória revelou que a mesma deixou de existir sob esta sigla e, após um período sem registros de atividades, nota-se a partir de março de 2011 uma nova frente de trabalho denominada BRBIOTEC que está se estruturando com o apoio de instituições como o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia de São Paulo (CIETEC); o Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (Bio-Rio) e a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO). Segundo notícia da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX BRASIL), a entidade nasce com 23 empresas associadas (APEX BRASIL, 2011), assumindo as funções da antiga ABRABI.
BiotecSur: esta base é uma plataforma de biotecnologia para o Mercosul, com sede em Buenos Aires, criada em 2005 a partir de cooperação entre Mercosul e União Europeia, que nasceu com o intuito de aumentar o valor agregado e a competitividade dos produtos do Mercosul nos mercados internacionais. Possui bases de dados de patentes, de empresas e centros de pesquisa, de instrumentos de financiamento e de normas atualizadas periodicamente (BIOTECSUR, 2010).
APLs de biotecnologia: a pesquisa via internet (notícias, sites de associações e governamentais) propiciou a identificação de três Arranjos Produtivos Locais26 que se auto denominam como tal no país; todos no estado de Minas Gerais: APL Biotecnologia da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Biotec Viçosa, com foco em agronegócio e meio ambiente e APL de Biotecnologia do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
Incubadoras: além da Habitat e da Bio-Rio, a pesquisa realizada pela CEBRAP e BRBIOTEC (2011) cita outras onze incubadoras ou parques tecnológicos que comportam empresas com atividades em vários segmentos, dentre elas empreendimentos de Biotecnologia (Quadro 11). É destaque na
26 “APL´s são aglomerados de empresas, localizadas num mesmo território, que apresentam especialização
produtiva e mantém vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores globais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.” (BRASIL, 2011).
referida pesquisa a importância destes agentes nas fases iniciais das empresas de Biotecnologia, sendo mais da metade das empresas levantadas incubadas ou com alguma relação com incubadoras e parques tecnológicos.
Quadro 12: Incubadoras e Parques Tecnológicos brasileiros com empreendimentos em biotecnologia.
UF Nome Empreendimentos com foco em
Biotecnologia
CE Parque de Desenvolvimento Tecnológico da
Universidade Federal do Ceará - PADETEC Biocombustíveis e Meio-Ambiente
DF Centro de Desenvolvimento Tecnológico (Universidade de Brasília) - CDT
Consultoria em Saúde Humana e Nanotecnologia
MG Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Universidade Federal de
Viçosa) - CENTEV
Agricultura e Saúde Animal
MG Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - INOVA
Saúde Humana e Saúde Animal
PE Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) - POSITIVA Não declarado
SP Centro de Inovação,
Empreendedorismo e Tecnologia - CIETEC
Biotecnologia e áreas correlatas: saúde e medicina; meio-ambiente e química
SP Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual
de Campinas - INCAMP
Ciências da vida
SP Incubadora de Empresas e Projetos
Tecnológicos de Botucatu - PROSPECTA Meio Ambiente e Agricultura
SP Incubadora de Empresas de Base Tecnológica -
SUPERA Saúde humana
Fonte: Centro...; Associação... 2011
Por ser uma área dispersa no Brasil e também pelo fato do país comportar diversas incubadoras e parques tecnológicos, é possível que o Quadro 12 seja mais extenso que o apresentado.
Além dessas instituições, outras de caráter público são essenciais para o desenvolvimento da Biotecnologia no Brasil. Há uma relação forte do setor com universidades e centros de pesquisas, além da base de financiamento se originar de fundos públicos, sendo a FINEP responsável por mais da metade desse montante, seguida pelas agências estaduais de fomento (FAPs) (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2009b; CENTRO...; ASSOCIAÇÃO..., 2011).
Apesar das dificuldades referentes a financiamentos, gestão, burocracias, regulamentações e tantas outras que envolvem as empresas de biotecnologia, o cenário aponta
para a tendência ao crescimento do setor que vem se mantendo constante desde os anos 1990 (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2009b; CENTRO...; ASSOCIAÇÃO..., 2011).