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CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

4.3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DA PESQUISA

Sobre o contexto no qual foi realizada a pesquisa, é possível afirmar que o Centro de Intervenção Precoce vem desenvolvendo ações alinhadas às propostas inclusivas, oferecendo serviços de prevenção, habilitação e reabilitação para criança com DV, ao mesmo tempo em que dá suporte especializado às escolas regulares. Este local se constitui em um dos centros de atendimento do Instituto de Cegos da Bahia e atua com vistas a promover a inclusão social da criança e do jovem com deficiência.

O Instituto de Cegos da Bahia (ICB) foi fundado em 30 de abril de 1933, pelo Dr. Alberto de Assis, a partir da colaboração da Liga dos Institutos de Ensino Particular da Bahia, que através da Campanha Pró Cegos viabilizou a criação do Instituto, considerado pioneiro na assistência e educação da pessoa cega, no estado da Bahia (ASSIS, 1935; PIRES, 2005). Trata-se de uma Instituição não governamental que presta serviços a crianças e adolescentes com deficiência visual e as suas famílias. Tem por objetivo a inclusão educacional e social, almejando a formação de cidadãos autônomos, produtivos e independentes. Compõe-se de cinco centros, a saber: Centro Médico-Odontológico (CMO), Centro de Educação Complementar (CEC), Centro de Tecnologia e Informação (CETIN), Centro de Apoio Terapêutico (CAT) e Centro de Intervenção Precoce (CIP), o mais recente deles e sobre o qual nos deteremos de forma mais detalhada, por configurar o local onde foi realizada a pesquisa.

Em 1998, o Centro de Intervenção Precoce (CIP) foi criado com a finalidade de atender precocemente crianças com deficiência visual, pois antes de sua criação as crianças só recebiam atendimento especializado quando atingiam idade correspondente ao ensino fundamental. Além de ser o único centro de referência no

Estado para o atendimento de estimulação precoce em DV, ele também atua em conformidade com as atribuições do Atendimento Educacional Especializado (AEE), segundo os princípios preconizados na lei e que regem as políticas de Educação Inclusiva. Este fato constitui a principal razão da escolha desse local como campo de pesquisa, assim como garante à investigação o caráter de estudo de caso, por se tratar da única instituição do estado da Bahia que presta esses serviços na área da deficiência visual, conforme explicitado anteriormente nesta seção. Para o entendimento desse programa de apoio à inclusão escolar desenvolvido pelo CIP, é preciso conhecer melhor a instituição da qual faz parte, sua estrutura e todos os serviços por ele disponibilizados.

A equipe do CIP é composta por oftalmologistas, terapeutas ocupacionais, psicólogas, assistente social, pedagogas e ortoptista. Nesse Centro, são atendidas crianças da capital e do interior do estado que já apresentam o diagnóstico de deficiência visual (baixa visão ou cegueira), ou que têm risco de desenvolver essa deficiência. Para iniciar o acompanhamento, é necessário passar por avaliação oftalmológica, e só então a criança e a família são admitidas no serviço. O espaço oferece diversos programas de atendimento, dentre eles:

Follow-up – atendimentos em grupo a bebês entre 0 e 6 meses, acompanhados de seus familiares. É destinado à prevenção da deficiência visual e, portanto, participam bebês que foram prematuros ou tiveram intercorrências durante a gestação ou pós-parto, que representam riscos para desenvolver a deficiência visual e / ou outras deficiências associadas. As oftalmologistas avaliam os bebês ainda na maternidade e, havendo indicação, os encaminham para o Follow-up. Após o acompanhamento sistemático, caso o bebê não desenvolva a deficiência visual, ele recebe alta do Follow-up, ficando apenas em acompanhamento oftalmológico. Quando se detecta a deficiência, o bebê inicia imediata e precocemente a estimulação visual, evitando, assim, a demora no diagnóstico e no tratamento, e, por consequência, aumenta as possibilidades de desenvolvimento da criança.

Programas de Atendimentos Terapêuticos e Pedagógicos – podem ser individuais ou em grupos e a periodicidade depende da demanda de cada caso e da disponibilidade da família em comparecer para os atendimentos; por isso, podem ser semanais, quinzenais, mensais ou bimensais. As crianças de 0 a 3 anos são atendidas pelas terapeutas ocupacionais, enquanto as crianças de 3 a 5 anos, em

geral, são acompanhadas por pedagogas e professoras especializadas. Todas elas ficam sob acompanhamento oftalmológico, e tanto o serviço social quanto a psicologia dão suporte às famílias e à equipe envolvida.

Grupo de Apoio à Múltipla Deficiência (GAM) – atendimento em grupo a crianças que apresentam outras deficiências associadas à baixa visão ou cegueira. Tem como objetivos principais orientar quanto às possibilidades de estimulação visual, possibilitar a troca de experiências entre as famílias e realizar encaminhamentos para outras instituições, visto que essas crianças têm necessidades que vão além da questão visual.

Programa de Apoio à Família – o suporte à família ocorre de variadas formas, dentre elas os contatos sistemáticos com os familiares no dia em que comparecem para levar as crianças aos atendimentos. Tais contatos podem ser individuais ou em pequenos grupos, quando existe afinidade entre as questões vivenciadas pelas famílias ou quando há proximidade entre as demandas familiares ou das crianças, em específico. Tal acompanhamento possui uma regularidade, mas, em geral, acontece sempre que a criança chega para atendimento. Outra forma de suporte aos grupos familiares são as Reuniões Gerais ou Específicas, que são encontros periódicos, porém mais espaçados, que visam agrupar as famílias, favorecendo o suporte e a troca de experiências. As Reuniões Específicas ocorrem quando emergem demandas semelhantes, por exemplo: reunião de pais de crianças em escola, reunião de pais de crianças albinas, reunião de mães adolescentes, reunião sobre Orientação e Mobilidade (OM), entre outros temas. O Programa de Apoio à Família é organizado e conduzido preferencialmente por profissionais de Psicologia e de Serviço Social, e conta com a participação de toda a equipe.

Programa de Apoio à Inclusão Escolar – os profissionais orientam as famílias quanto à importância do contexto escolar para o desenvolvimento infantil e, assim que as famílias matriculam as crianças na escola de sua preferência, o Centro entra em contato com as escolas, agenda uma visita e passa a acompanhar o processo de inclusão da criança na rede regular de ensino. A equipe técnico-pedagógica do Centro desenvolveu, desde sua fundação, estratégias variadas de acompanhamento da inclusão escolar e, atualmente, oferece as seguintes formas de suporte: visitas às escolas; cursos de Braille, de técnicas de Orientação e Mobilidade, de Adaptação de

Material Pedagógico, de Atividades de Vida Diária, ministrados no Centro ou na própria escola, caso a equipe escolar ou a professora tenha dificuldades para se ausentar do trabalho e comparecer à Instituição; envio de relatórios técnicos com esclarecimentos sobre a questão visual, o desenvolvimento da criança e as sugestões de cunho pedagógico, para favorecer uma efetiva participação da criança nas atividades do cotidiano escolar.

Programa de Formação – cursos de formação oferecidos pela equipe do Centro Especializado, destinados às famílias, escolas e comunidade em geral. Também são realizados encontros de formação de funcionários, visando ao aprimoramento constante da qualidade dos atendimentos disponibilizados.

Pode-se perceber que o CIP reconhece a importância do contexto familiar para o desenvolvimento infantil e, dessa forma, tem como papel, entre outros, esclarecer as famílias e a comunidade sobre os direitos legais de frequentar uma escola regular e de ter acesso a todos os espaços e serviços disponíveis na comunidade. A Resolução CEE No. 79/2009 (BAHIA, 2009) assim se refere à Educação Infantil:

Conforme estabelecido nos dispositivos legais da educação brasileira, o processo escolar tem início na educação infantil, que se realiza na faixa etária de zero a cinco anos – em creches e em turmas de pré-escola – permitindo a identificação das necessidades educacionais especiais e a estimulação do desenvolvimento integral do aluno, bem como a intervenção para atenuar possibilidades de atraso de desenvolvimento, decorrentes, ou não, de fatores genéticos, orgânicos e/ou ambientais. (p. 8).

Um processo efetivo de inclusão na Educação Infantil, aliado à estimulação precoce, tende a representar, para a criança com deficiência visual, um fator propulsor de desenvolvimento, visto que a creche ou pré-escola passa a configurar espaço de proteção ao desenvolvimento e ambiente potencializador de novas aprendizagens.

Essa premissa ganha mais destaque quando se traça um perfil da população atendida no CIP, constatando-se que, em sua maioria, são famílias com baixa condição socioeconômica, em situação de risco e vulnerabilidade social. Trata-se de pessoas vivendo em condição de pobreza ou miserabilidade, para as quais faltam recursos básicos, como saneamento, serviços de saúde, alimentação, educação, emprego, condições dignas de moradia, entre outros. Em 17 de outubro de 2008,

quando da elaboração do projeto de tese, a proponente desta pesquisa fez um levantamento do número de crianças atendidas pelo Centro. Com base no livro de registro de admissões das crianças, documento oficial da instituição, constatou que, no período, estavam sendo atendidas 225 crianças residentes em Salvador e no Interior do Estado. Desse total, 95,6% correspondiam a crianças oriundas de famílias vivendo em situação de pobreza e a maioria, cerca de 70%, apresentava outras deficiências associadas à visual. Contextualizou-se, assim, o campo de pesquisa e a população nele atendida.

4.4 INSTRUMENTOS, PROCEDIMENTOS DE COLETA E DE TRATAMENTO DOS