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Fase 3: Recomendações e decisão

3.2 Caracterização do problema

O sistema do reservatório Castanhão, construído pelo DNOCS, com ano de conclusão em 2003, ao que parece, pela análise dos dados de monitoramento hidrológico, não dispõe, até o momento, de regras objetivas para sua operação. Dada à sua complexidade e em função da área geográfica onde se localiza, há necessidade de definições claras, capazes de direcionar as tomadas de decisão, para sua operação.

Conforme Campos (1998), os estudos iniciais foram realizados da seguinte forma: 1. Os reservatórios à montante do açude Orós: Trussu, Farias Brito, Bastiões e

Arneiroz, simulados individualmente, tiveram estimados seus volumes regularizados com 90% de garantia e as sangrias, a nível mensal, considerando uma série de 73 anos, em Iguatu;

2. O açude Orós foi simulado com os deflúvios formados pela série de sangrias dos citados reservatórios, mais os deflúvios naturais das áreas remanescentes não controladas por grandes reservatórios;

3. O açude Atalho foi simulado, isoladamente, com deflúvios estimados a partir da série de observações no município de Icó e foram estimadas as vazões de sangria

que devem contribuir para a formação dos deflúvios no Castanhão;e,

4. Os deflúvios do Castanhão, estimados a partir das vazões sangradas pelo Orós e Atalho, mais as vazões naturais da área remanescente do Icó, e ainda parte da bacia complementar, excluídas as interferências dos açudes Joaquim Távora, Nova Floresta e Riacho do Sangue.

Foram consideradas futuras intervenções de menores proporções, previstas pela Secretaria dos Recursos Hídricos, através do PROURB, em relação aos reservatórios Ubaldinho, Rosário, Cachoeira, Riacho do Meio, e Olho D'água. Também foram incluídos devido a um estudo de sensibilidade de redução da área de contribuição ao Castanhão, considerada a redução dos deflúvios naturais (CAMPOS, 1998).

A simulação do sistema de reservatórios à montante do Castanhão foi realizada com a mesma configuração do Estudo de Alternativas da Barragem do Castanhão (DNOCS & SIRAC, 1990), onde foram analisados seis grandes reservatórios que interferem, ou irão interferir, no regime de escoamento fluvial do rio Jaguaribe, observando que os volumes mínimos foram fixados em 5% da capacidade. Para o açude Orós, foi considerado o volume mínimo de atendimento à irrigação de jusante, fixado nos Estudos do GVJ (Tabela 9).

De uma forma geral, a construção e operação de reservatórios causam grandes impactos, donde, para uma visão global do cenário, conscientização e sensibilidade do decisor, foram sintetizados no Quadro 7. Há que se considerar, também, a visão de usos múltiplos, conforme apresentado na Figura 15, bem como a formalização de uma estrutura de decisão sobre a operação dos reservatórios, sintetizada na Figura 16.

Tabela 9: Reservatórios que influenciam o regime fluvial do rio Jaguaribe

Açude Riacho ou rio barrado Área da bacia hidrográfica (km2) Volume mínimo operacional 106 (m3) Volume máximo operacional 106 (m3) Castanhão Jaguaribe 43.900 249,92 4.451,66 Orós Jaguaribe 24.538 70,0 1.953,26 Trussu Trussu 1.775 13.0 263,00 Arneirós II Jaguaribe 5.560 7,0 139,90

Atalho II Dos Porcos 1.270 7,25 108,25

Farias Brito Cariús 840 10.0 197,57

Bastiões Bastiões 2.200 - 136,74

A: Impactos causados pela construção

1 Ampliação das interfaces ar-água, sedimento-água e organismos-água, alterando o modelo de fluxo de energia;

2 Modificações no balanço hídrico;

3 Alterações na morfologia terrestre, ocorrência de sismos e aumento da erosão e salinidade dos solos; 4 Impactos sobre o microclima regional;

5 Alterações na matéria orgânica dissolvida, condutividade da água, transporte e concentração de sedimentos; 6 Aumento da superfície de evaporação;

7 Modificações na estrutura térmica vertical;

8 Desaparecimento de vegetação terrestre e das matas ciliares; 9 Alterações da fauna de peixes e biomassa de macrófitas aquáticas; 10 Desaparecimento da fauna terrestre;

11 Alterações das vias terrestres de comunicação; 12 Rompimento das atividades agrícolas; 13 Modificações estéticas na bacia hidrográfica; 14 Desaparecimento de sítios arqueológicos; 15 Necessidade de relocação das populações; 16 Alterações das condições sanitárias;

17 Propagação de vetores de doenças de veiculação hídrica. B: Impactos causados pela operação

1 Redução da qualidade de vida da população ribeirinha;

2 Valor injusto da indenização aos trabalhadores rurais residentes na área alagada;

3 Deslocamento da população para terras menos produtivas, gerando empobrecimento e êxodo rural; 4 Destruição do patrimônio cultural que constitua referência para a vida social;

5 Atração de um contingente populacional relativamente grande, após a construção e o enchimento do reservatório, o que se dirige à área, com o intuito de obter emprego ou explorar o ambiente aquático;

6 Implantação de indústrias, iniciando a crescente exploração do sistema aquático e seu entorno;

7 Deterioração dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, devido à disposição inadequada de resíduos provenientes de despejos domésticos e industriais e resíduos de diversos tipos de culturas agrícolas;

8 Incertezas geradas quanto ao controle efetivo de enchentes;

9 * Incertezas na avaliação dos agentes públicos (gestores, políticos etc);

10* Conflitos das equipes técnicas que aplicam diferentes modelos conceituais de operação.

onde: * são as adaptações.

Dentre as várias análises possíveis do cenário, com vistas ao estabelecimento de variáveis expressivas para o processo decisório, foram selecionadas as seguintes:

Figura 15: Roteiro conceitual para o planejamento do uso múltiplo de reservatórios. Adaptado de Link &

1. Critérios de julgamento múltiplos e conflitantes, quantificáveis e não quantificáveis;

2. Interesses destintos: técnicos, políticos, socioeconômicos etc; 3. Opiniões técnicas divergentes;

4. Deficiência na comunicação entre os membros do sistema (gestores, técnicos etc);

5. Falta de mecanismos efetivos de alerta de segurança, quanto a eventos extremos; 6. Informações não totalmente disponíveis;

7. Incertezas epistêmicas e geradas por variáveis estocásticas:precipitação, evaporação etc;e,

8. Influência de outras áreas de interesse (bacias hidrográficas).