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CAPÍTULO 2 – ARTIGO CIENTÍFICO

3.1 Caracterização do sistema produtivo das propriedades avaliadas

A bovinocultura de leite é a principal atividade agropecuária das propriedades avaliadas, sendo que uma delas (P1) produz ainda diversas hortaliças e as demais (P2, P3 e P4) produzem soja e milho.

Os rebanhos bovinos das propriedades avaliadas eram constituídos por animais mestiços, resultantes do cruzamento entre a raça Holandesa e Gir com diferentes graus de sangue. As vacas da raça Gir e mestiças (Gir x Holandês) são amplamente utilizadas para produção de leite no Brasil devido a sua alta capacidade de adaptação ao clima tropical e o seu desempenho produtivo satisfatório (SOUZA et al., 1996).

No momento em que foi realizado o presente estudo, as propriedades possuíam em média 10 vacas em lactação com produção média de leite de 48,75 litros/propriedade/dia e 5,13 litros/animal/dia. A produção e produtividade diária de leite foram próximas as quantidades encontradas por Bezerra e Sant’Ana (2005) no assentamento rural Anhumas em Castilho-SP que produziam 48 litros/lote e 5,70 litros/animal, respectivamente. Ao contrário, nos assentamentos rurais de Timboré localizada na região de Andradina-SP (TARSITANO et al., 2008) e de Estrela da Ilha localizada em Ilha Solteira-SP (BALCÃO et al., 2009), a produtividade média foi superior ao encontrados nesse estudo, constatando uma média de 6,8 e 8 litros/animal/dia, respectivamente.

A atividade leiteira era desenvolvida à base de pasto. Nas propriedades P1, P3 e P4 foi constatado o predomínio das pastagens de braquiárias (Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha), e na propriedade P2 do capim Tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia) e do capim Mombaça (Panicum

maximum cv. Mombaça). As pastagens eram divididas em diversos piquetes de

variados tamanhos. A suplementação alimentar com volumoso era realizada somente nos períodos mais críticos do ano, quando havia escassez das pastagens sendo fornecidos nas propriedades P1, P3 e P4 cana-de-açúcar, briquete e capim elefante (Pennisetum purpureum) e na propriedade P2 apenas briquete. A propriedade P1 não fornecia concentrado para vacas, e as propriedades P2, P3 e P4 forneciam concentrado comercial, em cocho individual, durante a ordenha somente para as vacas em lactação de acordo com a quantidade de leite produzido. As propriedades que forneciam o concentrado adquiriam o produto de um fornecedor em comum, que era constituído por 22% de proteína (PB) e 80% nutrientes digestíveis totais (NDT). Os animais tinham acesso à água ad libitum, proveniente de poço cacimba. Nas quatro propriedades as áreas de pastejo possuíam sombreamento natural. Em todas as propriedades a ordenha era feita manualmente, sendo realizada uma vez ao dia no período da manhã, com a presença dos bezerros ao pé das vacas. Os bezerros mamavam antes do início da ordenha para promover o estimulo à descida do leite, em seguida, eram amarrados próximos às mães e ao término da ordenha eram soltos juntos com as vacas.

O leite produzido era acondicionado em tambor de leite e, imediatamente, após a ordenha era conduzido até o tanque de resfriamento comunitário. A sua venda era destinada ao lacticínio da região. A coleta do leite era realizada a cada 48 horas pelo caminhão do laticínio.

Em geral, as instalações das propriedades eram precárias e de baixo nível tecnológico. Na P3, o local onde era realizada a ordenha não possuía cobertura, sendo a ordenha realizada a “céu aberto”. As propriedades possuíam piso de terra, e em todas as propriedades foi observado o acúmulo de lama nas proximidades das instalações da ordenha, e na propriedade P3

também foi observado acúmulo de lama no curral de ordenha. A presença de lama causa desconforto e problemas de higiene, principalmente durante a ordenha, além disso, dificulta o deslocamento das vacas (SANT’ANNA et al., 2014).

Os procedimentos de higiene e prevenção da mastite demonstraram ser pouco difundido nos rebanhos avaliados. Nas propriedades P1 e P2 a lavagem dos tetos era realizada quando se apresentavam sujos de lama. Somente na P2 era realizada a desinfecção dos tetos antes da ordenha (pré-dipping) e nenhum produtor realizava a imersão dos tetos em solução desinfetante após a ordenha (pós-dipping). No estudo realizado por Jayarao et al. (2004), relataram que adoção da prática de pré-dipping influenciou significativamente para a redução dos patógenos da mastite ambiental. No trabalho realizado por Matsubara et al. (2011), a desinfecção dos tetos antes da ordenha com solução clorada a 750 ppm ocasionou a redução de 91,3% para coliformes e 85,3% para Staphylococcus coagulase positiva. Enquanto Oliveira et al. (2011), constataram que as práticas de desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-

dipping) estão associadas, significativamente, com a redução do Staphylococcus aureus no leite cru.

O uso de pré-dipping diminui, consideravelmente, a contaminação por micro-organismos presente no ambiente, enquanto o pós-dipping reduz a contaminação por patógenos contagiosos (MÜLLER et al., 2002). As práticas de pré e pós-dipping são eficientes para melhorar a qualidade do leite, no entanto, devem ser realizadas de maneira corretas utilizando os princípios e concentrações recomendadas.

Das quatro propriedades estudadas, apenas a propriedade P2 relatou

utilizar a caneca de fundo escuro. Entretanto, a sua utilização não era realizada todos os dias. Nenhum produtor relatou utilizar o teste de CMT, e vale ressaltar que três desses produtores não tinham conhecimento da prática de CMT. A utilização do CMT é uma importante ferramenta para diagnosticar as condições sanitárias do rebanho leiteiro, permitindo ao produtor tomar medidas preventivas para o controle mais efetivo da mastite subclínica (BRITO et al.,

1997). Os resultados obtidos com o teste de CMT são fundamentais para organização da linha de ordenha.

Os produtores relataram não adotar linha de ordenha. No trabalho realizado por Cardozo (2013), foi observado que as propriedades que não adotavam a linha de ordenha para animais mais infectados apresentaram um taxa de risco de 1,55 vezes maior de contraírem mastite quando comparada às propriedades que adotavam tal prática.

Nenhum produtor fornecia alimento pós-ordenha, o que favorecia os animais deitarem logo após serem ordenhados. Segundo Costa et al. (1998),o fornecimento de alimento pós-ordenha é uma prática de manejo que estimula os animais a permanecerem em pé até o fechamento do esfíncter do teto, reduzindo os casos de mastite ocasionada por patógenos ambientais.

A terapia da vaca seca era realizada apenas na propriedade P4. A terapia da vaca seca pode eliminar 80% da mastite existentes na secagem e prevenir em até 80% o surgimento de novas infecções durante o período (MAKOVEC; RUEGG, 2003).

Quanto ao manejo sanitário todos os produtores realizam a cura de umbigo logo após o nascimento dos bezerros e realizavam a vacinação contra a febre aftosa de acordo com calendário e contra a brucelose em fêmeas de 3 a 8 meses. A aplicação de outras vacinas não foi relatada.

Foi observada a presença de ectoparasitos, principalmente, carrapatos e mosca-dos-chifres, e os produtores relataram realizar o controle tático somente quando os níveis de infestação eram considerados elevados pelos produtores. A presença de carrapatos reduz o bem-estar das vacas, pois além de ocasionar irritação na pele, prurido e anemia, podem transmitir os parasitos que causam a tristeza parasitária, piroplasmose ou doença do carrapato (FURLONG; SALES, 2007). Já a presença da mosca-dos-chifres está relacionada à transmissão de doenças e, principalmente, o estresse que causam nos animais na tentativa de se livrar desses parasitos ocasionando perdas de produtividade (BIANCHIN; ALVES, 2002).

Em todas as propriedades foram verificadas a presença de outros animais, como cães e aves durante a ordenha. A presença de outros animais pode acarretar problemas patológicos e de higiene, além disso, a presença desses animais, normalmente, causa uma reação aversiva das vacas (WELP et al., 2004).

Nenhuma propriedade possuía local adequado para o descarte das carcaças dos animais mortos. Em geral, eram descartadas nas reservas ou permaneciam na pastagem representado risco para saúde pública e animal. O aumento da consciência ambiental e a maior vigilância dos órgãos ambientais têm contribuído para busca de alternativas ambientalmente viáveis como, por exemplo, a compostagem (PAIVA, 2004).

3.2 Avaliações dos quartos mamários pelo teste da caneca do fundo

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