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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Caracterização dos Artesãos

A amostra foi de 33 informantes, cuja faixa etária variou entre 20 e 79 anos. Sendo que 70 % do sexo masculino e 30% do sexo feminino. A faixa etária correspondente às idades entre 40 e 49 anos apresentou o maior número de informantes, demonstrando que essa atividade é dominada pelos mais experientes. Vale ressaltar que 90% dos artesãos de Abaetetuba trabalham com o brinquedo de miriti a mais de 10 anos, apenas 3 disseram trabalhar a mais de cinco anos e se enquadraram em outra categoria.

Dos entrevistados, trinta e um informaram terem aprendido as técnicas com a família e apenas 02 sozinhos. Na maioria moradores da própria comunidade desde seu nascimento, se autodenominam “filhos da terra”. Não é comum encontrar nas comunidades ribeirinhas, principalmente nas ilhas, moradores vindos da sede do município, normalmente, ocorre o contrário, mas de forma não muito intensa, alguns, por terem parentes que possuem residências na sede do município, muitos deles, durante algum período já residiram ali ou tem parentes ainda, nas ilhas. Fato este confirmado nos questionários, onde afirmam ter parentes que trabalham com o fornecimento da matéria prima, esta advinda integralmente da região das ilhas. Esta saída das ilhas para a sede do município, é uma característica principalmente dos jovens, por não terem responsabilidade com a família e pelo fato da vida pacata das ilhas não oferecer atrativos que despertem o interesse e motivem a fixação definitiva nelas, como emprego e maiores estudos. Este fato pode ser observado em relação aos artesãos de brinquedos, muitos dos quais são antigos moradores das ilhas que se mudaram para o centro urbano, em busca de uma melhoria de vida.

5.2 Caracterização das Instituições envolvidas.

A partir da grande visibilidade que os brinquedos de miriti ganharam nos últimos anos e a produção em maior escala, os artesãos sentiram a necessidade de se organizar e

buscar melhorias na sua arte fundaram assim a “Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de Miriti de Abaetetuba” (ASAMAB), em fevereiro de 2003. Este fato favoreceu o fomento da atividade por parte do poder público estadual e municipal, por meio de vários projetos. A título de exemplo, o projeto desenvolvido pelo SEBRAE/PA, Unidade Tocantins, na área de arranjos produtivos locais, inserido no setor de artesanato. A possibilidade de renda e trabalho em torno do artesanato de miriti despertou o interesse de gerações mais novas que se uniram e fundaram, em dezembro de 2005, a Associação Arte Miriti de Abaetetuba (Miritong), desenvolvendo novos produtos e novas atividades.

Tais entidades se diferem por suas características (tabela 1), tendo em vista que a ASAMAB tem predominância comercial trabalha a desenvolver a atividade econômica dos artesãos. Já a Miritong apresenta características educacionais, trabalhando o miriti como agente social que visa estabelecer melhorias na sociedade a começar pelos projetos com jovens que a associação desenvolve. E como parceiras ambas contam com o SEBRAE que desenvolve atividades para: melhoria da qualidade dos brinquedos e como incentivadora de micro empresários.

Tabela 1. Caracterização das Instituições envolvidas

Caracterização das Associações

Associados Caráter Objetivos Projetos Parceiros

ASAMAB 60 Comercial necessidade do Atender a artesão

Miritifest

Feira do Círio (Belém) Feiras fora do estado

Prefeitura Municipal

MIRITONG 80 Educacional Social

Repasse de técnica e Conscientização do manejo sustentável

Oficinas de artesanato Ponto de Cultura Projeto mais cultura na escola Ministério da Cultura e Secretaria Estadual de Cultura

SEBRAE 02 Empreendedor Desenvolver a visão empreendedora

Feira de artesanato do Círio Feiras em âmbito nacional. Não se aplica. Fonte: A autora, 2013.

5.3 Uso e Apropriação do Miriti da Fabricação a Comercialização dos Brinquedos. Canoas, pássaros, cobras, vaquinhas, aviões, radio de pilhas, televisões, casal de ribeirinhos, são muitas as opções de brinquedos de miriti que se pode encontrar. Há muitas gerações, estes brinquedos encantam as crianças com o seu mundo mágico que recria em miniaturas, a fauna, a flora e as lendas amazônicas.

O miritizeiro é conhecido entre os ribeirinhos como “árvore santa”, pois além das várias utilidades já citadas, destacam-se também a utilização do caule como ponte que vai da porta da casa até o rio, do fruto na produção de sabonetes, perfumes e velas, e das raízes na composição de remédios e da bucha na fabricação dos tradicionais brinquedos e artesanatos.

Segundo o poeta Abaetetubense João de Jesus Paes Loureiro, cada um dos objetos representa uma singularidade artística individualizadora, todos tem uma forma, mas nunca uma fôrma, como citado por Loureiro em seu livro “Da Cor do Norte”, o artesão Miranda tem como característica do seu artesanato a fabricação, de todos os tipos de barco, “eu trabalho com barcos, canoas e o que as pessoas pedirem, elas podem dizer como querem a porta, por exemplo, ai eu construo todo o resto a partir da porta” A característica dos artesanatos de seu Jê são os brinquedos, “eu faço qualquer tipo de brinquedo, cobrinha, casinha e o que mais pedirem”.

A extração da matéria-prima não é feita de forma predatória, o miritizeiro é uma alta palmeira típica de áreas de várzeas da Amazônia, muito recorrente nas ilhas do entorno do município de Abaetetuba. Dele, tudo é aproveitado. O fruto, também conhecido como buriti, é ingrediente de várias receitas da região. A palma vira boa palha usada para cobrir telhados. A madeira serve de sustentação para casas de pescadores. E a fibra, matéria-prima dos brinquedos, é usada também para tecer cestos, paneiros e matapis.

O processo, de fabricação do brinquedo é lento e para melhor entendimento faz-se necessário esclarecer sobre a nomenclatura das partes vegetais utilizadas e sua correspondência na linguagem local. Ambos os artefatos têm como matéria-prima o pecíolo, localmente denominado de ‘braço’. As fibras, que são a parte mais externa do pecíolo, são conhecidas como ‘talas’ e utilizadas na confecção das cestarias em geral e dos paneiros, em particular. A medula do pecíolo, parte mais interna deste e que consiste em um material esponjoso chamado de ‘bucha’, é empregada na produção dos brinquedos. Começa com a coleta dos talos (braços) da palmeira. O miriti escolhido é de preferência jovem. Da planta se colhe apenas os braços, onde estão as folhagens. Com isso, não é uma atividade predatória e sim sustentável, uma vez que a arvore é mantida viva e crescendo, a matéria prima é retirada

pelo ribeirinho (que vive nas localidades vizinhas da cidade de Abaetetuba), que corta a folhagem da palmeira, retirada a tala pondo a polpa para secar nos seus barracões. Este fabricante se dedica com exclusividade na confecção de montarias (canoas) e outros tipos de locomoções fluviais, ao mesmo tempo, fornecem para os artistas a matéria prima para que se trabalhem as formas variadas de brinquedos na cidade de Abaetetuba, por ocasião que antecede o Círio de Nazaré.

Para se obter a matéria prima dos brinquedos os braços do miriti são descascados e se aproveita apenas o miolo (bucha), esses braços têm em media três metros de comprimento cada, são descascados e postos para secar. Assim tratados são levados de barco para a cidade e vendidos aos artesãos em feixe de 100 unidades, que ainda deverão secar por mais alguns dias, dessa vez ao abrigo do tempo, para então dar-se início à feitura sãs peças

A polpa é retirada dos braços das folhagens, encontra-se revestida pela tala (fotografia 10). Possui a forma cilíndrica de espessura aproximadamente de 0,5 a 0,10 cm de diâmetro, podendo chegar até a 4 metros de comprimentos. O miriti que apanha chuva fica “fofo” e não serve para a fabricação do brinquedo, pois nele não se pode fixar a tala usada também para juntar as partes do brinquedo.

Fotografia 10. Feixes de buchas de miriti.

A primeira etapa dá confecção dos brinquedos consiste no corte de pedaços da polpa do miriti. Por ser matéria macia e porosa, como um “isopor natural” apresenta pouca resistência às facas afiadas dos artesãos, podendo assim talhar com facilidade as mais diversas formas de brinquedos e outros objetos, conhecida por apresentar características próprias em suas peças e ser a mais antiga artesã em atividade no município, D. Nina Abreu em Miriti das Águas, apresenta de forma resumida a utilização da árvore de miriti, os “braços” da palmeira, de onde se extrai a bucha - fibra vegetal conhecida como isopor da Amazônia - são retirados por meio de cortes precisos para que a palmeira forneça frutos gerando sementes.

Os braços cortados verdes possuem um invólucro que é a tala, parecem verdes, mas estão maduros, estes logo tenderão a cair, então automaticamente a árvore é benevolente em oferecer uma matéria-prima, que ela vai descartar futuramente. Por aí já se percebe que é algo sustentável.

Enfatiza ainda as várias utilidades que tem a palmeira do miriti conforme trecho abaixo:

O miriti é bom porque tudo serve dele, do miritizeiro. Começa da folha, o grelo da folha que vem nascendo. Eles tiram o grelo, deixam secar e fazem a envira. Essa envira tece as cordas pra rede. De uma tala, eles fazem o rabo do foguete – esses foguetes que soltam e sobem. E também eles tecem rede. O miriti é o braço da folha do miriti, esse miriti que a gente faz os brinquedos. Da tala, tece os peneiros, cestos, essas coisas. Da bucha, a gente faz os brinquedos. Da fruta faz o vinho, faz o suco, faz licor , faz o doce, faz o mingau.

As cascas que são bem flexíveis, depois de secas, transformam-se em cestos, paneiros, pipas. A bucha trabalhada com facões é alisada e transportado em feixes para os produtores de brinquedos. Os artesãos com ferramentas rústicas (normalmente facas e facões) esculpem e montam peças, segundo suas referências pessoais, como consequência, cortar o miriti torna-se a tarefa mais importante de todo o processo de confecção de brinquedos. Numa unidade de produção percebe-se a hierarquia existente entre os artesãos: o responsável pelo corte exerce certa ascendência sobre os demais, podendo ser identificado como o artesão principal. É ele quem, geralmente, organiza o grupo e ostenta com orgulho as cicatrizes que o ofício de longos anos deixou em suas mãos, sendo assim a organização do trabalho pode envolver toda a família e agregados do artesão em pequenos núcleos de produção, nos quais as tarefas são divididas de acordo com as habilidades individuais.

A cadeia de produção (anexo E) dos brinquedos depende do bom preparo da matéria-prima, adquirida junto aos extratores das folhas de miriti, geralmente, moradores das

ilhas. Alguns preferem comprar as ‘braças’ ainda verdes e secá-las em casa. Neste caso, alegam que a técnica tradicional de secagem ao sol, utilizada pelos extratores, deixam as ‘buchas’ manchadas e escurecidas, dando um aspecto envelhecido aos brinquedos. Assim, os artesãos recomendam que depois de retiradas as ‘talas’, as ‘buchas’ sejam imediatamente protegidas dos raios solares, para garantir uma matéria-prima de qualidade. Outros artesãos, porém, compram-nas já secas e prontas a serem manuseadas, cujo preço pode variar devido grandes procura. Cortar, lixar, pintar e envernizar faz parte da confecção do brinquedo, como a polpa é roliça, para fazer certos brinquedos ela necessita até ser prensada em uma máquina.

O brinquedo pode ser cortado inteiriço ou em partes separadas, neste ultimo caso, a montagem só é feita após as partes terem sido lixadas, aplica-se uma lixa grossa a cada peça cortada de modo a eliminar farpas e ranhuras próprias do miriti, o procedimento visa facilitar a pintura final e pode ser executado pelos ajudantes do artesão que faz o corte, dispensando-o dessa tarefa, considerada menos especializada, especialmente em ocasiões de intensificação do ritmo da produção.

As partes são encaixadas e fixadas umas às outras, com cola branca e palitos feitos da própria casca do miriti, denominada tala, dando forma inicial as peças. A modelagem final é obtida com a realização de novos cortes e aparas, a fim de fazer o acabamento na forma do brinquedo recém – criado.

A montagem e modelagem das peças, assim como o corte do miriti, constituem etapas determinantes da quantidade e qualidade dos produtos fabricados em cada núcleo de produção. Como requerem habilidades específicas, que nem todos têm, acabam recaindo sobre apenas alguns artesãos, mais jeitosos talvez, considerados os que, de fato, “fazem brinquedos”, a despeito da colaboração dos demais em tarefas que podem ser percebidas como secundárias, lixar e pintar por exemplo.

A especialização é um traço característico da divisão do trabalho nas oficinas de brinquedos de miriti, como já foi dito, alguns se especializam em barcos, outros em brinquedos em geral e assim por diante, a escolha deste ou daquele motivo é parte da crônica individual de cada autor ou família de autores, no que diz respeito ainda à forma, outro aspecto muito importante é chamado de “mecanização”, que pode ser a mecanização natural ou de criação próprio de cada artesão.

Embora haja artesãos- que realizem ou, ao menos saibam fazer - todas as etapas da produção, é comum encontrá-los dedicados a apenas uma etapa do processo. Assim, numa mesma oficina, há aqueles que apenas cortam, enquanto outros lixam ou pintam o brinquedo.

Em outra oficina é possível que os artesãos optem por vender os brinquedos sem pintura, “brancos”, como dizem, a outros que se especializam em pintá-los.

Eu entrego em branco, eles pintam e vendem lá em Belém. Tem muitos que fazem isso, eles não fazem, só vendem. A maior parte eu entrego, é mais vantagem porque eu fabrico mais e livro meu compromisso, porque a pintura, você tem que ter uma pessoa só pra pintar, mas não compensa pintar pra outro, você pinta pra outra pessoa, ele desfaz, você entrega em branco ele não tem do que reclamar, tem gente especializada em pintar ai não vale a pena. (Artesão Diabinho)

Em cada núcleo de produção diversas pessoas podem estar envolvidas na pintura de brinquedo: homens, mulheres e jovens encarregados de dar vidas às peças que lhes chegam, ainda “brancas”, às mãos. A preparação para a pintura propriamente dita se faz com a aplicação de uma camada de selador ou base d’água nas peças que, em seguida, são novamente lixadas, dessa vez com uma lixa mais fina do que a primeira, a fim de se eliminarem possíveis defeitos na superfície. “... passa uma massa, se tiver muito furo no miriti, lixa bem ela, passa cal ou alguma coisa branca, base d’água, e aí uma outra tinta colorida.” (Artesão Desidério)

Para melhor fixação das tintas, as peças devem estar tão lisas quanto possível, mas nunca a ponto de se esconder a natureza da matéria com que são feitas. O miriti tem uma textura própria que o distingue de outros tipos de matéria vegetal, como a madeira, e os artesãos zelando pela qualidade de seu produto entendem que essa marca deve sempre permanecer visível nos brinquedos, mesmo depois de pintados. Assim, no acabamento, é comum deixarem pedaços brancos, isto é, sem pintura, em que o miriti pode ser reconhecido em seu estado natural.

Com isso, depois de prontas, com as partes coladas e secas, é aplicado ao desenho, base à pintura final a cor pela sua essência é nos passada através das linhas, traços e pontilhados, bastante usada as cores primárias, assim como as secundárias. É a representação do real retirado da fauna (natureza) proveniente da observação do artista popular que resulta numa policromia, alegre, muitos colorido que diz presente aos efeitos visuais da região amazônico, é feita por membros das famílias (homens, mulheres e crianças) que repetem em cada peça o padrão estabelecido, o tempo médio para a fabricação de cada brinquedo é em média 2h.

É na pintura das peças que se notam as maiores modificações no artesanato dos brinquedos de miriti, sobretudo nos últimos 30 anos. A atual disponibilidade no mercado local de produtos como tintas e pincéis industrializados tem levado à substituição de antigos materiais e instrumentos de trabalho improvisados:

[...] até o pincel hoje em dia é diferente, porque antigamente nós pegávamos tala, apontava, colocava algodão, amarrava, era esse o nosso pincel. Quando não, a gente ia na rua, apanhava lá um mato que tem, agente batia amarrava dois ou três cabos e fazia o pincel. Ficava tipo esses pincéis de agora. (Seu Valdeli).

Também a anilina em pó que, dissolvida em água, dava cor aos brinquedos de antigamente, hoje em dia foi trocada por tintas industrializadas. As mais usadas são as não tóxicas para tecido, embora alguns artesãos prefiram aquelas à base de óleo e os vernizes, a fim de dar mais brilho às peças. Cores fortes e vibrantes, normalmente obtidas a partir de misturas de azul, amarelo e vermelho, são as mais encontradas em qualquer oficina de trabalho. Nada de tons pastéis, pois os artesãos gostam mesmo é de ver seus brinquedos bem colorido. Branco e preto, por exemplo, só aparecem em detalhes e acabamentos

Para o paraense já não é mais possível dissociar o Círio do brinquedo de miriti. Eles fazem parte da memória dos festejos e refletem a alegria e a face profana das festividades em torno da Virgem. Durante a festa arte se une a fé e os brinquedos dão um colorido especial a procissão.

Dessa forma até algum tempo atrás a produção de brinquedos destinava-se à venda por ocasião dos festejos do círio, portanto era de caráter sazonal, concentrando-se nos meses de agosto a setembro. Hoje, embora a comercialização dos brinquedos continue sendo maior no mês de outubro em virtude vinda dos romeiros e turistas que estimulam o comercio na capital, a organização dos artistas populares possibilitou a extensão das vendas durante o ano todo;

[...] aqui a gente sempre faz brinquedos porque a gente recebe muita encomenda e também porque a gente vende em feiras e festivais que têm durante o ano não só aqui mas como também em Belém e outros lugares- relata seu Rivaildo.

Os brinquedos durante o Círio de Nazaré são expostos e comercializados desde a Praça da Sé (bairro da Cidade Velha) até o Centro Arquitetônico de Belém - CAN (bairro de Nazaré). Ao longo do trajeto da procissão, os produtos ficam expostos em girândolas (fotografia 11), erguidas nos ombros dos vendedores, girândolas é uma estrutura que forma uma cruz de braço duplo, sobre esta utilização os artesãos dizem que “é para acompanhar os promesseiros e dá uma colorida no Círio” muitos citam o lado econômico das girândolas, afirma ele:

[...] é para espalhar as vendas enquanto eu fico num ponto vendendo meu sobrinho anda com a girândola vendendo em outros lugares, assim é uma forma que nós tem de ganhar um dinheirinho a mais.

Fotografia 11. O Girandeiro.

Fonte: Rafael Nascimento, 2013.

Os artesanatos ganharam tão grande importância que atualmente os artesãos contam com um espaço próprio no período do Círio para comercialização do artesanato – a feira do Miriti. Mas até colorir a procissão, o miriti movimenta uma ampla cadeia de produção, envolvendo desde as famílias ribeirinhas, que coletam a matéria-prima; as famílias de artesãos de Abaetetuba, que beneficiam e vendem os produtos; até empresários que comercializam o artesanato paraense para outros estados brasileiros.

Porém precisamos lembrar que estes os brinquedos de miriti não são prerrogativas dos ribeirinhos, apesar de muitos artesãos de brinquedos pertencerem a essa categoria. Esta prática artesanal em Abaetetuba é de natureza comercial e os artesãos que a ela se dedicam estão, normalmente, organizados em duas associações: ASAMAB e MIRITONG, ambas estão envolvidas com a produção e a venda destes artefatos em feiras e lojas regionais e nacionais, atendendo também a encomendas internacionais ao longo do ano.

No entanto existem artesãos que não se encontram vinculados a nenhuma destas organizações, alguns destes não associados, mantêm em suas próprias casas uma oficina, o que os tornam produtores em menor escala, alimentando mais a produção local e contribuindo ainda mais para tornar o município pólo nessa arte. Existem ainda os brinquedos fabricados em Belém por artesãos vindos de Abaetetuba e que moram na periferia da cidade, estes artesãos são pessoas humildes e que têm alguma profissão, mas, no período de fabricação dos produtos, eles dividem seu tempo, para que as centenas de brinquedos sejam confeccionados à tempo para o Círio. Neste caso esses artesão trabalham na fabricação dos brinquedos apenas para o Círio e se apresentam como uma minoria na procissão religiosa.

Abaetetuba proporciona para muitos desses artesãos inspirações para produção dos brinquedos por ser uma cidade com características tipicamente ribeirinha, e vasta fauna e flora amazônica. Além disso, proporciona também oportunidades de promoção e comercialização dos artesanatos de miriti, no Festival de Miriti que objetiva o

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