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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.4 O brinquedo de Miriti como desenvolvimento local em Abaetetuba

5.4.1 Dimensão Ecológica

A sustentabilidade ambiental está ligada, à preservação ou aprimoramento da base de recursos produtiva, principalmente para as gerações futuras. Na sustentabilidade local, para este trabalho a questão seria entender a atividade e verificar as vertentes de acordo com os recursos naturais; aqui entendido como a palmeira fornecedora da matéria- prima para os brinquedos.

A confecção de brinquedos, ao contrário de outras atividades que utilizam o miriti, não é prerrogativa dos ribeirinhos; sua produção voltada para o mercado é realizada pelas associações existentes no centro urbano. Porém o aumento da popularidade e venda dos brinquedos reflete no dia-a-dia dos moradores da ilha, pois mesmo não fazendo parte de suas atividades cotidianas, são frequentemente associados a ela.

Para o uso no artesanato são extraídas as folhas da palmeira jovem, medindo de 3 a 8 metros de altura. Para isso utilizam os pecíolos, localmente denominados de “braça”, como já dito no decorrer deste trabalho, a matéria-prima é oriunda da região das ilhas, dos pesquisados neste trabalho 100% afirmaram comprar as buchas de extratores residentes nas próprias ilhas. Os artesãos podem comprar as fibras já prontas para a utilização ou as braças ainda verdes, devendo submetê-las ao beneficiamento.

As ilhas do entorno do município de Abaetetuba, entretanto, possuem particularidades quanto à forma de subsistência, o que as tornam diferentes entre si apesar de estarem próximas, apresentam diferenças marcantes no que diz respeito à forma de

exploração. O que significa dizer que esses braças não vêem de uma única comunidade ribeirinha, desta forma não seria uma única ilha a fornecedora de matéria prima.

Entretanto, a M. flexuosa L. f. é o segundo produto extrativista que rege a economia local, perdendo apenas para Euterpe oleracea (açaí) que é o produto mais importante para esses moradores, tendo em vista os financiamentos bancários facilitados pelo governo para que sejam mantidos os plantios de açaizais nestas áreas, investimentos esses inexistentes para plantio de miritizais.

Diferença aqui apontada por representantes das associações segundo a forma de uso da palmeira e que dá a este trabalho a dimensão da importância do uso da palmeira;

[...] a gente não precisa comprar a matéria quando o miriti tá adulto a gente diz

que ele ta próprio para tirar a bucha, e essa atividade não agride a natureza, o meio ambiente, a palmeira, a gente colhe só as folhas na verdade a gente faz uma podagem, e se a palmeira tem 10 folhas agente tira 5 e deixa 5 pra ela continuar crescendo desse modo agente consegue fazer 2 podas durante o ano (Valdeli – Representante Miritong)

Reafirmado pelo representante da ASAMAB

A gente aproveita tudo dessa árvore as folhas são pra fazer paneiros e matapis; o tronco serve ate pra residências, como pontes ou portos na entrada das casas, servem como jangadas, sem falar na parte da comida que dá pra fazer, mingau, vinho e muitas outras coisas. O melhor de tudo é que a gente usa tudo isso e não precisa matar a árvore ela continua viva e produzindo mais pra gente (Rivaildo, Presidente da Asamab).

Rivaildo lembra ainda que há anos atrás os brinquedos de miriti não existiam e essa parte do miriti era desprezado, jogado fora por não ter importância aos artesãos dos cestos e paneiro e diz “agora até isso, se aproveita”. Outrora considerados subprodutos por serem confeccionados com descartes das buchas deixados pela atividade cesteira, os brinquedos são vistos hoje como um dos principais produtos de miriti.

Pensando no descarte e aproveitamento da matéria-prima outro projeto que está em andamento pela ASAMAB é o da “Usina de Reciclagem”, projeto que tem por objetivo a utilização dos resíduos de miriti para a produção de papel, e que pode ser usado como embalagem para os próprios brinquedos, agregando além da beleza valor ao produto, a associação já conta com todo o maquinário porém ainda não começou efetivamente o projeto pois está sem instrutor.

5.4.2 Dimensão Espacial

Esta dimensão refere-se a configurações urbanas e rurais balanceadas, melhoria do ambiente urbano e rural, superação das disparidades inter-regionais e estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis.

As comunidades ribeirinhas do município de Abaetetuba frequentemente recebem o nome do rio à margem do qual se estabelecem, apresentando características que são peculiares às demais comunidades de várzea do estuário amazônico: suas atividades econômicas baseiam-se na agricultura e no extrativismo de produtos florestais, complementados pela pesca, além de pequenas criações de animais (galinhas, patos e porcos) para o consumo doméstico. Essas atividades também foram comentadas por Hiraoka (1993) em estudo feito nessa mesma localidade. As comunidades do município de Abaetetuba, entretanto, possuem particularidades quanto à forma de subsistência até no que diz respeito ao mesmo produto, o que as tornam diferentes entre si.

Um ponto comum e que chamou atenção dessa pesquisa e já descritas anteriormente, é a presença marcante de M.flexuosa L. f. no cotidiano de seus moradores. Seus frutos são bastante consumidos, todos utilizam utensílios feitos das folhas desta palmeira, entretanto, a M. flexuosa L. f. é o segundo produto extrativista que rege a economia local, enquanto Euterpe oleracea (açaí) é o produto mais importante para os moradores da região das ilhas, tendo em vista os financiamentos bancários facilitados pelo governo para que sejam mantidos os plantios de açaizais nestas áreas, coisa que não acontece com os miritizais.

Seu Valdeli relata pra gente o que tem ocorrido nessas áreas

A nossa palmeira miriti concorre com o açaí, ai o pessoal acaba cortando o miriti pra deixar o açaí e a gente tá conscientizando eles que os dois produtos se dão muito bem, a gente planta com 1 m de distância uma da outra, elas se dão muito bem elas crescem junto, a floresta da muita coisa boa mais uma em especial o miritizeiro temos que saber aproveitar (Seu Valdeli).

Outro entrevistado relata a importância desses dois produtos para as comunidades:

Quando não tem o açaí, tem o miriti. Quando não tem o miriti, tem açaí. É assim que funciona, às vezes temos os dois, isso vai depender da safra do miriti. Tem ano que dá muito e outro dá pouco, não sei por que isso acontece, mas é assim (Seu Rivaildo).

Seu Valdeli diz ainda: “é por isso que a Miritong faz trabalho de chamar a comunidade a preservar a matéria, plantar e cuidar porque até mesmo a natureza através da maré grande, semeia e ajuda a manter os miritizais. Os ribeirinhos tiravam a tala para fazer

paneiro, cesta, tipiti. Essa bucha não tinha serventia, agora não, agente vai lá e eles já põem pra secar, já ganham para além da cestaria ganham também da bucha”.

Como comentado anteriormente, a região das ilhas não fez parte de fato do

universo amostral da pesquisa, sendo realizada apenas uma breve visita na mesma, por ocasião de uma disciplina deste programa e conversas informais com moradores que reafirmaram a fala dos dois representantes entrevistados. Foi diagnosticado também durante as entrevistas realizadas que ao contrário de outras comunidades Cutininga, na região das ilhas, não recebe financiamentos bancários do governo, consequentemente, não existem grandes açaizais nessa área talvez por isso os frutos do miriti e sua utilização na área sejam maiores do que em outras comunidades. Outro fato relevante a se destacar em relação dimensão espacial é a forma de fornecimento da matéria prima dos brinquedos e a sua produção tendo em vista que um encontra-se na zona rural e outro na zona urbana, notando-se assim uma divisão de trabalho dentro da localidade.

5.4.3 Dimensão Social – Institucional

Durante o desenvolvimento desse trabalho e os estudos acerca dos temas aqui abordados, perpassamos por outra dimensão considerada por Sachs, a institucional, mesmo não sendo uma das cinco aqui abordadas, optou-se por fazer referência a ela por entender que se tratando dos brinquedos de miriti estas dimensões estão entrelaçadas e não teria como falar de uma sem mencionar a outra.

Dessa forma em termos institucionais, o desenvolvimento sustentável avalia o grau de participação e controle da sociedade sobre as instituições públicas e privadas, o aparelhamento do estado para lidar com as questões ambientais, o envolvimento em acordos internacionais, o montante de investimento em proteção ao meio ambiente, ciência e tecnologia e o acesso a novas tecnologias. A dimensão institucional trata da orientação política, da capacidade e do esforço despendido pela sociedade para que sejam realizadas as mudanças necessárias a efetiva implementação deste novo paradigma de desenvolvimento.

Nesse caso, dimensão social, segundo a Agenda 21 considera-se, melhorar os níveis de distribuição de renda com a finalidade de diminuir a exclusão social e a distância (econômica) que separa as classes sociais, uma maior equidade de oportunidades, combatendo-se as práticas de exclusão, discriminação e reprodução da pobreza e respeitando- se a diversidade e todas as suas formas de expressão

Neste sentido, vale destacar que, assim como nas oficinas se sobrepõe o caráter coletivo ao individual, esta visão se expande ao grupo social.

Para o SEBRAE a principal dificuldade que tiveram para trabalhar os artesãos, era fazê-los acredita no potencial que eles têm, porque ele sendo artesão trabalha individualmente, precisavam trazê-los para um grupo em que eles conseguissem juntos atender o mercado.

A partir deste momento começou-se a valorização dos artesãos e do artesanato, consequentemente eles se valorizando e se mostrando para o povo de Abaetetuba, pois para estes sim ele são anônimos não do mundo porque para o mundo eles já são conhecidos, a população abaetetubense começaria a lhes enxergar com outros olhos.

Empreendedor, seu Valdeli após voltar de uma viagem ao Rio de Janeiro na qual foi como expositor dos brinquedos de miriti tomou a decisão de criar a Miritong uma associação para ensinar o que aprendeu aos jovens de Abaetetuba, na época ele não tinha quem trabalhasse com ele e chamou os meninos da sua rua para poder ensinar a arte e trabalhar com ele. A Miritong, cujo objetivo é fomentar o desenvolvimento econômico e social da comunidade local, desenvolve um trabalho social, sobretudo entre os jovens com projetos de resgatar os adolescentes, através da exploração do artesanato de miriti e incentivar toda e qualquer política ou ação de preservação, plantio e manejo de miritizais da microrregião do Baixo Tocantins

Hoje em um trabalho de multiplicação muitos desses jovens já fazem parte da equipe administrativa da associação, seu Valdeli afirma ainda, que alguns estão saindo para realizar seus estudos em outros municípios, mas não abandonam suas atividades “eles vão passam um tempo fora, mas sempre que dá vêem vê como ta, ajudam em alguma coisa e depois voltam”. Notamos na fala de seu Valdeli que há uma espécie de gratidão por parte daqueles jovens que outrora foram ajudados e beneficiados com o trabalho da associação e que mesmo que suas vidas continuem progredindo eles não deixam de lado a associação. É no núcleo familiar que se inicia a cooperação e estende-se ao grupo social, as associações. São saberes voltados para o fortalecimento de um estilo de vida que prima pela solidariedade coletiva, pelo crescimento do grupo e não apenas o individual.

É diferente ser associado, é muito importante, porque é através dela (refere-se associação) que a gente consegue encomendas. O nome ASAMAB tem hoje um grande peso em todo o Pará, até fora daqui, falou em ASAMAB já sabe que é relacionado ao brinquedo de miriti (Rivaildo, presidente ASAMAB).

Reconhece-se que o estabelecimento de uma entidade jurídica representativa do grupo facilita o processo de luta, conquista de melhorias nas condições de trabalho e em outros aspectos para o grupo como um todo.

Nas conversas realizadas com os representantes das associações, notou-se que as melhorias ocorridas nos últimos anos são atribuídos as duas associações representativas aqui descritas- ASAMAB e Miritong- contando ainda com a parceria do SEBRAE, que os possibilitou firmarem parcerias com o poder público em várias esferas e com empresas privadas.Todas as ações destes estão voltadas para o pleno desenvolvimento do artesanato de miriti de Abaetetuba, o que favorece a preservação e a valorização deste bem cultural em seu aspecto patrimonial, contribuindo para o registro e divulgação dos saberes e do fazer cultural abaetetubense.

Salienta-se ainda que apesar de ambas as associações trabalharem o artesanato de miriti, diferenciam-se pelos os objetivos dos seus grupos como descritos abaixo; um voltado ao comércio e outro voltado à atividades sociais, como relatado por seus representantes:

Atender a necessidade dos artesãos, visando este resultado na qualidade de vida dos artesãos através da grande significância do miriti. (Rivaildo- ASAMAB)

E ainda segundo o outro representante:

Repasse de técnicas para jovens e adolescentes do artesanato de miriti e conscientização de manejo sustentável da palmeira que fornece a matéria prima para produção dos brinquedos. Com foco em jovens e adolescentes onde fornecemos aos mesmos oficinas e cursos como forma de inclusão e sociabilidade (Valdeli- Miritong).

5.4.4 Dimensão cultural

O conceito de cultura foi incorporado aos estudos antropológicos e sociais passando a ser concebido como um conjunto de conhecimentos, crenças, artes, objetos, símbolos e significações construídos por seres humanos em suas interações sociais. Silva e Shimbo (2001) acrescentam na estrutura teórica e conceitual para a sustentabilidade, a dimensão cultural como a promoção da diversidade e identidade cultural em todas as suas formas de expressão e representação, especialmente daquelas que identifiquem as raízes endógenas, propiciando também a conservação do patrimônio urbanístico, paisagístico e ambiental, que referenciem a história e a memória das comunidades.

Esta visão de cultura nos possibilita compreender o brinquedo de miriti envolto em uma simbologia peculiar do cotidiano amazônico que é caracterizada por Loureiro (1995, p. 42) como: “dinâmica, original e criativa, que revela, interpreta e cria sua realidade. Uma cultura que, por meio do imaginário, situa o homem numa grandeza proporcional e ultrapassadora da natureza que o circunda”.

A dinâmica das negociações cotidianas oriundas das relações sociais desses sujeitos que inspira o ato artístico criador e dá sentido a vida, tornando-a possível. A originalidade está no fato de serem objetos únicos, isto é, não possuem uma forma para produção em série, e, também, na matéria-prima utilizada, bem como do tipo de sociedade que expressam

No brinquedo de miriti, homens e mulheres amazônidas representam a si mesmos e a seus pares, suas crenças, devoção, seus valores, suas experiências, seus sentimentos, sonhos, suas lutas, conquistas, esperanças, sua capacidade constante de se reinventar, acompanhar o contexto histórico presente e solidificar sua identidade cultural e, sobretudo, seus saberes e a forma de socialização de conhecimentos entre as gerações.

Pode-se comprovar tal afirmação, pois durante os questionários 12 artesãos afirmaram ter especialidades em barcos e 6 em pássaros e o restante em outros brinquedos que também fazem parte do cotidiano e são tidos como tradicionais (gráfico 1), no total de 55% dos pesquisados o que significa dizer que os brinquedos produzidos por eles, representam as experiências vividas diariamente, um olhar sobre suas relações, seu espaço de vivência e sua cultura.

Gráfico 1. Especialidades dos artesãos em brinquedos tradicionais.

O artesão que procura traduzir as lendas e cultura locais através da produção dos brinquedos expressa todo o seu olhar da relação que os seres humanos estabelecem entre si e com a natureza através da sua criatividade, homens e mulheres transformam a natureza, da qual são partes integrantes, em objetos, instrumentos e técnicas, e, com a capacidade reflexiva e imaginária, que os distingue dos outros seres vivos, atribuem significados, codificam, criam sentidos a todas as coisas, reproduzem e divulgam sua cultura à outros através da comercialização do produto que vem ganhando destaque no mercado exterior

Nesse contexto, Loureiro (1995), diz que “o artesanato paraense espelha o contexto cultural de seu povo, do homem da região amazônica _ índio, caboclo, amazônida, e do seu meio ambiente: floresta, rio, animais, lendas, mitos...”.

Os brinquedos de miriti do município de Abaetetuba são influências de uma cultura que demonstra em conseqüência de suas raízes, todo o cenário amazônico, pois, o consumo dos bens representativos aponta a arte plástica popular junto à sua coletividade e traz valores ligados a sua autenticidade e identidade. Estão sujeito as transformações, porém, mantém sua integridade diante da evolução tecnológica, buscando expressar de todas as maneiras a forma dada pelo brincante que transforma a matéria-prima em conteúdo, mostrando o cotidiano de seu povo nas suas interações sociais onde (re) criam formas de expressar, através da arte, sua existência no mundo.

Vera de Vives 1983 apud Lima 1987 em “A Beleza do Cotidiano” diz em relação a esses artesãos: é aquele que emprega e transmite, em seu trabalho, valores, técnicas e signos amadurecidos e aceitos no sistema cultural a que ele pertence, reproduzindo padrões que foram recebidos da cultura a que pertence, respondendo a uma determinada necessidade do meio no qual surgiram, tornando-se então intérprete dessas técnicas tradicionalmente conservadas.

Bosi (1992) ao definir cultura, ressalta o dever de se transmitir às novas gerações, as práticas, os valores, os símbolos e tudo mais, como forma de garantir a coexistência social. Os artesãos do brinquedo de miriti aprendem olhando o fazer dos irmãos, cunhados, vizinhos e amigos, 98% dos entrevistados afirmaram que aprenderam as técnicas no próprio ambiente familiar, ou seja, é um conhecimento que pode ser caracterizado como tradicional haja vista que há séculos passa de pais para filhos.

Outro aspecto que se percebe sobre o aprendizado dos artesãos está na localização do município, a dificuldade de acesso a qual foi resolvida com a construção da alça viária4, o que trouxe a facilidade de deslocamento. Assim, a preservação do fazer tradicional foi possível graças à baixa influência dos centros comerciais mais desenvolvidos. E ainda a condição econômica que não permitia comprar os brinquedos convencionais, impulsionou a confecção dos brinquedos, no caso de miriti, principalmente os barquinhos e canoas, para a diversão das crianças

Essas características culturais somadas ao identitário abaetetubense, a interlocução com o brinquedo de miriti e a idéia de pertencimento a uma dada cultura. fez o município ser conhecido nacional e internacionalmente como a “Capital Mundial do Brinquedo de Miriti” que tem atravessado gerações e pela variedade de artesanato de miriti que são exportados, contribuindo para a geração de emprego e renda. O que para “seu Valdeli” é de tanta importância que se tornou um dos pilares da Miritong “fortalecer a identidade, imagem da cidade”.

Além disso, todo esse trajeto levou o brinquedo de miriti a se apresentar como arte representativa de uma festividade tradicional de cunho religioso, tornando o também o brinquedo de um peregrino do Círio, seja como promesseiro, adorno, ou brinquedos que ganharam não só as ruas de Belém mas também as do Brasil e o Mundo

Dessa forma o brinquedo alcançou a dimensão que Magalhães (1997) via para o que ele definiu como patrimônio cultural, sendo este plural abrangente, inclusivo e, de certo modo, “antropológico”, em nome de uma identidade nacional – a expressão de diferentes segmentos da sociedade brasileira, através da cultura popular.

Quando olhamos ao nosso redor, percebemos que nos rodeamos freqüentemente de objetos utilitários ou decorativos, produzidos por pessoas do povo. São objetos resultantes de nossas tradições, que exploram matérias-primas as mais diversas e nos mostram soluções engenhosas (MAGALHÃES, 1997).

5.4.5 Dimensão Econômica

Na fala do seu Valdelir percebe se a importância do brinquedo enquanto produto comercial:

Fazia isso quando criança sem imaginar que um dia ia conseguir tirar o sustento da minha família disso, to há 12 anos trabalhando com isso e não consigo me ver fazendo outra coisa nessa vida. (Valdeli, representante da Miritong).

4

Alça- Viária: complexo de três pontes sobre distintos rios, interligando a capital ao interior do Estado. Antes das pontes a viagem para Abaetetuba era feita apenas por barcos o que aumentava o tempo de viagem do município a capital.

Nesta fala de seu Valdeli percebe-se a importância do brinquedo enquanto produto comercial, algo que quando criança era brincadeira passa a ser o sustento financeiro. Como produto comercial, conforme já mencionado neste trabalho, há o registro do brinquedo de miriti no primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, por ocasião da realização de uma feira de produtos dos municípios do Estado do Pará. Os brinquedos começaram a ganhar mercado com a venda em Belém, principalmente na época da festividade do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. A feira do brinquedo de miriti permanece atrelada aos festejos da Santa até hoje correndo anualmente na semana do Círio.

A produção dos brinquedos é uma prática artesanal com fins comerciais, e os artesãos que a ela se dedicam estão, normalmente, organizados nas duas associações já mencionadas no decorrer deste trabalho, as quais são: ASAMAB e MIRITONG. Muitas das

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