2.5 Estudo do Edifício
2.5.2 Caracterização Estrutural
A obtenção de informações estruturais e construtivas relativas ao edifício de estudo, foi realizada
através da consulta de documentos presentes no Arquivo Municipal de Lisboa (AML) sobre a obra em
questão, nomeadamente memórias descritivas e justificativas, pormenorizações dos elementos da
estrutura, registos de alterações estruturais efetuadas, plantas, cortes e alçados. De seguida,
referem-se as diversas características estruturais do edifício em análireferem-se, com bareferem-se na memória descritiva do
estudo das estruturas (AML), presente no Anexo C deste trabalho.
Fundações
As fundações referentes às divisórias, empenas e paredes mestras são contínuas e constituídas
por maciços de alvenaria de pedra e argamassa de cimento e areia, assentes sobre sapatas de betão
simples, com uma espessura de 0,30 metros.
Relativamente às fundações dos pilares de betão armado, são descritas como blocos isolados
de betão simples com uma profundidade superior a metade da largura da sapata, para permitir uma
transmissão de cargas ao solo adequada. Complementando esta informação com os desenhos de
pormenorização das sapatas dos diversos pilares existentes, é possível constatar que existe um
prolongamento dos varões de aço dos pilares na seção das sapatas, conferindo assim um reforço de
armaduras nestas fundações. As dimensões das seções das sapatas variam consoante o tipo de pilar
presente.
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(a) (b)
Na Figura 17, apresenta-se a planta de fundações, sendo possível identificar as espessuras das
fundações para cada parede estrutural, e um corte da sapata de um dos pilares existentes do edifício.
Figura 17 – (a) Planta de fundações do edifício e (b) sapata de um pilar de betão armado do edifício de estudo
(AML)
Paredes Exteriores e Interiores
Devido à impossibilidade de serem realizados ensaios in situ de caracterização material das
paredes existentes, por serem de natureza destrutiva, a identificação dos materiais foi realizada tendo
em conta a informação presente na Memória Descritiva do edifício.
Em relação às paredes das fachadas principal e posterior, são constituídas por uma estrutura de
betão armado, sendo os espaços vazios preenchidos com dois panos de alvenaria de tijolo com
0,40 m de espessura total, constituído por uma caixa de ar interior com 0,08 m de espessura.
As empenas são descritas como paredes de betão armado com 0,20 m de espessura, não sendo
partilhadas com os edifícios adjacentes.
Relativamente às paredes interiores, existem dois tipos de natureza material. As paredes
interiores que constituem a separação dos dois fogos e da caixa de escadas, são formadas por
alvenaria de tijolo furado com uma espessura de 0,25 m. Em relação às restantes paredes interiores, é
mencionado que as se encontram nos dois últimos pisos são de alvenaria de tijolo furado, enquanto as
dos restantes pisos são de alvenaria de tijolo maciço, apresentando espessuras que variam entre os
0,15 m e 0,25 m.
Na Figura 18, apresenta-se uma esquematização da caracterização material das paredes dos
diversos pisos do edifício em estudo.
17
(a) (b)
(c)
Figura 18 - Caracterização material das paredes do edifício de estudo do (a) Piso Térreo, (b) 1º Piso, (c) 2º e 3º
Pisos
Pavimentos e Escadas
O edifício apresenta em todos os pisos, pavimentos constituídos por lajes de betão armado com
0,10 m de espessura. O dimensionamento destas lajes foi realizado discretizando a mesma em diversos
painéis, que descarregavam as suas cargas diretamente nas paredes de alvenaria que os suportavam.
É ainda mencionado na Memória Descritiva do mesmo que o pavimento do piso térreo é constituído
por um massame de betão sobre o aterro previamente regado e batido a maço.
Relativamente às escadas, são de betão armado com uma espessura igualmente de 0,10 m
(Figura 19).
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Cobertura
Em relação à cobertura do edifício, é constituída por telhas do tipo Marselha, suportadas por uma
estrutura de madeira de pinho.
Pilares e Vigas
Como referido anteriormente, os edifícios “de Placa” representam uma transição construtiva
entre edifícios de alvenaria e edifícios que apresentam elementos estruturais em betão armado. De
facto, o edifício de estudo é caracterizado como uma estrutura constituída por pilares, vigas e lajes em
betão armado.
Relativamente aos pilares, o edifício apresenta em toda a sua altura pilares nas fachadas
principal e posterior, e ainda no seu interior no piso térreo. Importa referir que existe uma variação das
propriedades geométricas e estruturais na continuação dos pilares, entre o piso comercial e o piso
superior de habitação.
Em relação às vigas, o edifício apresenta estes elementos horizontais nas fachadas principais e
posterior em todos os pisos e ainda no seu interior para o 1º piso elevado.
As características estruturais e o posicionamento destes elementos no edifício em estudo, podem
ser observados nas figuras presentes no Anexo B deste trabalho.
É importante referir que no período de construção do edifício, o dimensionamento de vigas,
pilares e dos pavimentos era apenas efetuado para a verificação da segurança ao efeito de cargas
verticais.
No que se refere a posteriores alterações estruturais realizadas, apenas há registo da
implementação de uma marquise no 2º andar do lado esquerdo, no ano de 1959, pelo que se
considerou as características estruturais anteriormente mencionados, para o estudo deste edifício.
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3. Caracterização Geométrica
3.1 Introdução
Tendo o intuito de se avaliar adequadamente a resistência sísmica de edifícios antigos, é
importante a obtenção de um conjunto de informações de caracterização estrutural e de contexto
geográfico dos edifícios mais vulneráveis. Atualmente, existem várias ferramentas digitais que
possibilitam armazenar, manipular e visualizar de forma inequívoca toda a informação disponível.
Assim, foram desenvolvidas duas abordagens de representação da informação:
i) representação detalhada do edifício com recurso a ferramentas BIM;
ii) representação da envolvente e do contexto geográfico com recurso a ferramentas SIG 3D.
A modelação em ambiente BIM (Building Information Modelling) constitui uma representação 3D
de todos os aspetos de um edifício num único modelo de base de dados (Amirebrahimi et al., 2015) e
a modelação SIG 3D (Sistemas de Informação Geográfica 3D) permite representar ambientes virtuais
3D, com capacidade de aceder, visualizar e manipular um conjunto de dados georreferenciáveis
relativos aos elementos de um dado espaço geográfico
3.2 Caraterização geométrica do edifício
De acordo com Rajarathnam e Santhakumar (2015), a estabilidade de um edifício inserido numa
área propícia a ocorrência de sismos, depende do seu próprio comportamento estrutural quando sujeito
à ação sísmica. Assim, para que estudos de vulnerabilidade sísmica apresentem resultados fidedignos
e adequados, é fulcral que os mesmos tenham em consideração as características estruturais de cada
edifício. A acessibilidade e análise destas singularidades, pode ser simplificada com a utilização de
modelos BIM. Efetivamente, com o desenvolvimento tecnológico surgiram determinados softwares que
permitem representar modelos virtuais 3D de edifícios de forma precisa, acoplados de informação
detalhada e organizada sobre os mesmos (Figura 20).
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Conforme refere Eastman (1974), este conjunto de documentos de caracterização material e
estrutural é suscetível de ser alterado e/ou complementado ao longo do ciclo de vida da estrutura,
reforçando o objetivo de se obter uma análise rigorosa e atualizada do ponto de vista de vulnerabilidade
sísmica.
Salienta-se ainda a vantagem de esta ferramenta trabalhar num contexto tridimensional, o que
permite obter uma visualização mais compreensível, completa e real dos elementos constituintes do
edifício. Numa vertente a nível de planeamento, construção e manutenção do edifício, a implementação
correta desta ferramenta, proporciona melhorias relevantes na gestão e resolução de conflitos
desempenhadas pelas diferentes identidades do projeto, favorecendo a qualidade de construção do
edifício com custos e tempos de execução menores (Eastman et al., 2011).
Existem ainda diversos estudos que implementaram os modelos BIM como forma de visualizar
e avaliar os danos em estruturas devidos a diversas ações, designadamente de sismos (Christodoulou
et al., 2015), de incêndios (Rüppel e Schatz, 2011) e cheias (Amirebrahimi et al., 2015), apresentando
na Figura 21, um modelo BIM obtido para um caso de estudo relativo à ação de cheias.
Figura 21 - Representação em BIM de danos estruturais num edifício devidos à ação de uma cheia
(Amirebrahimi et al., 2015)
3.2.1 Modelação em BIM
A criação de modelos 3D de base de dados de edifícios requer a realização de um conjunto de
tarefas descritas nos passos seguintes e ilustrados na Figura 22.
i) Definição de cotas dos pisos. Para a representação de cada piso é necessário a definição do
seu nível em relação a um determinado referencial, por exemplo a cota de soleira do edifício;
ii) Importação de informação geométrica. Podem ser utilizados recursos tais como desenhos de
plantas dos diversos pisos, nos respetivos níveis, auxiliando e funcionado como ponto de
partida para o posicionamento dos diversos elementos constituintes de cada andar;
iii) Inserção de elementos verticais. Em cada andar, devem ser implementados um conjunto de
objetos verticais, nomeadamente paredes e pilares e no caso do nível de fundações ainda
sapatas. Em todos estes elementos podem ser aplicados os eventuais revestimentos;
21
iv) Implementação de pisos e elementos longitudinais. Introdução de lajes, com respetivos
pavimentos e eventuais tetos falsos, e definição de vigas;
v) Criação de elementos de escadas. Para a ligação dos diversos pisos, é necessário a
introdução de escadas e caraterização dos seus revestimentos e componentes,
designadamente corrimãos.
vi) Criação e edição de aberturas. Tanto num contexto interior e exterior do edifício, após a
definição das paredes é importante a implementação de elementos como portas, vãos de
lojas e janelas.
vii) Inserção de elementos arquitetónicos relevantes nas fachadas e criação de varandas com
guarda-corpos ou marquises;
viii) Criação da cobertura. É necessário a implementação do telhado do edifício com os respetivos
elementos característicos, nomeadamente eventuais claraboias, chaminés, etc.
Figura 22 - Sequência do procedimento adotado para a construção do modelo BIM
i) ii)
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(a) (b)
3.2.2 Apresentação do modelo BIM
Para a realização do modelo BIM do edifício em estudo, recorreu-se ao software ArchiCad
(Graphisoft, 2015). Esta ferramenta informática de base BIM, permite não só representar as
características geométricas do edifício com bastantes detalhes e realismo, como apresentar de modo
expedito cortes e alçados do mesmo. Além disso, possui a capacidade de armazenamento e
disponibilização de dados referentes aos diversos elementos constituintes do modelo em estudo, como
se demonstrará mais adiante nesta seção.
Recolha e organização dos dados
Com o intuito de se obter um modelo rigoroso e com uma representação das características
geométricas tão próximas da realidade quanto possível, foi necessário a aquisição de um conjunto de
documentos provenientes do Arquivo Municipal de Lisboa (AML), designadamente de desenhos
(plantas, cortes e alçados) presentes no Anexo A deste trabalho. É importante salientar que as
projeções das fachadas e modelação de interiores foram ajustadas ao seu estado atual através de
fotografias de visitas realizadas ao edifício (Abril de 2015), podendo, no entanto, ter existido alterações
pontuais promovidas pelos próprios proprietários.
De seguida, procede-se à exposição de diversas figuras que ilustram o modelo elaborado em
ArchiCad (Graphisoft, 2015), de diferentes perspetivas (Figuras 23 e 24) e comparações com imagens
de fotografias retiradas ao edifício em análise (Figuras 25, 26 e 27).
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(a) (b)
(c) (d)
Figura 24 – Diferentes perspetivas do modelo BIM, (a) varanda da fachada principal (b) varandas da fachada de
tardoz, (c) interior de uma divisão, (d) interior de espaço comercial, (e) vista das escadas de acesso aos diveros
pisos, (f) porta principal do edifício e (g) cobertura com chaminé e clarabóia.
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(a) (b)
(a) (b)
(a) (b)
Figura 25 - Comparação entre alçados principais através de (a) fotografia e (b) modelo BIM
Figura 26 - Comparação entre alçados de tardoz através de (a) fotografia e (b) modelo BIM
Figura 27 - Comparação entre entradas principais do edifício de estudo através de (a) fotografia e (b) modelo
BIM
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Este modelo permite ainda a organização e visualização da informação recolhida do AML,
através da associação de um conjunto de links a determinados objetos presentes no modelo BIM, que
direcionam a um serviço de armazenamento e partilha de conteúdos acessível via Internet. De seguida,
apresenta-se o procedimento para aceder a um dos documentos referidos anteriormente.
1º Passo: Escolha do documento pretendido – O modelo BIM contém um conjunto de objetos com
dados de carácter idêntico em cada um deles. Como se observa na Figura 28, cada um dos objetos
está identificado com o nome do documento a que está associado, bastando apenas selecionar o objeto
pretendido.
Figura 28 – Procedimento de seleção do conteúdo de cada documento
2º Passo: Obtenção de link de atalho para o documento pretendido – Como se observa na Figura
29, após a escolha do objeto, seleciona-se o ícone de informação (contorno vermelho superior), que
permite o aparecimento de uma janela informativa sobre o objeto, que contém um ou mais links que
permitem a visualização do documento via Internet.
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No documento
Caracterização e Avaliação Sísmica de um Edifício Misto Alvenaria-Beta o. Engenharia Civil
(páginas 33-44)