3 Caracterização Geométrica
4.3 Metodologia
Nesta secção pretende-se apresentar o procedimento adotada na elaboração do modelo
numérico no programa 3MURI/TREMURI. Pretendeu-se sobretudo que o modelo computacional
representasse todas as características relevantes do edifício de estudo e adjacentes e que estas
fossem tão próximas da realidade quanto possível. De facto, a obtenção de um modelo adequado e
que constitua uma aproximação plausível do comportamento real da estrutura, possibilita uma
avaliação adequada das consequências impostas por uma ação sísmica no edifício.
Com este intuito, procedeu-se à definição e caracterização da geometria e das propriedades
mecânicas dos elementos estruturais e das cargas a que a estrutura está sujeita.
4.3.1 Caracterização Material
Como referido na secção 2.5 do presente trabalho, o edifício de estudo apresenta como materiais
estruturais: alvenaria de pedra, alvenaria de tijolo maciço, alvenaria de tijolo furado e betão armado.
As propriedades mecânicas requeridas para a modelação são a resistência média à compressão
(f
m), a resistência ao corte (𝜏), o módulo de elasticidade (E), o módulo de distorção (G), o peso volúmico
(w) e o coeficiente de Poisson (𝜐).
Por se tratar de uma estrutura existente e pela possibilidade de existirem incertezas associadas
à quantificação das propriedades mecânicas, nomeadamente motivadas por falta de
informação/inspeção ou por alterações das mesmas ao longo do tempo, o EC 8 – Parte 3 (CEN, 2004)
estabelece a utilização de um fator de confiança para minoração das características dos materiais, que
é definido com base no nível de conhecimento do edifício em análise.
39
Elementos de Alvenaria
Como claramente referido em Casanova (2011), o EC8-1 (CEN, 2010) não indica claramente
uma abordagem à definição das características mecânicas da alvenaria, enquanto no Regulamento
Italiano (NTC,2008), existem tabelas com a caracterização de diversos materiais deste tipo.
Como ponto de partida, para caracterizar a alvenaria recorreu-se às tabelas de caracterização
material presentes na regulamentação italiana (NTC, 2008), utilizando-se os valores médios dos
intervalos indicados para as propriedades anteriormente requeridas. De seguida, adaptaram-se estes
valores com os obtidos de estudos de caracterização material realizados a outros edifícios “de Placa”
com características idênticas ao caso em análise (Ferreira e Farinha, 1974), (Oliveira et al., 2000),
(Avila, 2014). Desta forma, apresenta-se na Tabela 2 os valores considerados na caracterização
mecânica da alvenaria de tijolo maciço, de tijolo furado e de pedra.
Elementos de Betão Armado
Pela informação referente à Memória Descritiva do edifício de estudo, não é especificada a
classe de resistência de betão utilizado, nem o tipo de cimento ou as quantidades utilizadas para cada
constituinte do betão. Devido a esta facto, utilizaram-se as propriedades referentes ao betão de classe
C16/20, segundo o que é estabelecido no EC8-1 (CEN, 2010), definidas na Norma Europeia EN
1992-1-1 (CEN,2005a).
Relativamente ao ferro fundido utilizado nos elementos de betão armado, também não é possível
determinar as características deste material, tendo-se utilizado as propriedades referentes ao aço
S235, também pelo que é estabelecido pelo EC8-1 (CEN, 2010). As características mecânicas estão
definidas na Norma Europeia EN 1993-1-1 (CEN,2005b).
Na Tabela 2, apresentam-se os valores das propriedades mecânicas para os dois materiais
constituintes do betão armado.
Tabela 2 - Propriedades mecânicas dos materiais estruturais adotadas
fm
[MPa]
𝜏
[MPa]
𝐸
[GPa]
𝐺
[GPa]
w
[kN/m
3] 𝜐
Alvenaria de pedra rija 2,33 0,077 0,82 0,27 21 -
Alvenaria de tijolo maciço 7,19 0,277 5,73 1,91 18 -
Alvenaria de tijolo furado 1,66 0,277 2,95 0,98 15 -
Betão C16/20 32,40 - 29,00 12,08 25 0,20
40
4.3.2 Definição de Massas
A massa total de um edifício influencia as características dinâmicas da estrutura, nomeadamente
na obtenção das suas frequências e modos de vibração (Monteiro e Bento, 2012). Assim, é relevante
que se proceda a uma identificação adequada das massas estruturais e das cargas aplicadas, bem
como à distribuição das mesmas (Azevedo e Proença, 1991).
No modelo elaborado, a massa dos elementos estruturais foi considerada a partir da definição
do peso próprio do material constituinte e através das suas características geométricas. Com exceção
das escadas e da cobertura, todos os elementos têm a representação da sua massa no seu próprio
elemento.
Tendo em conta que o edifício em estudo é habitado, para além da consideração das cargas
permanentes, também existem cargas variáveis que atuam nos pavimentos do edifício. Na Tabela 3,
apresenta-se um quadro resumo de todas as cargas consideradas, para este tipo de elementos.
A obtenção destes valores foi realizada através da consulta da Memória Descritiva do edifício
(AML), das Tabelas Técnicas (Ferreira e Farinha, 1974) e da norma europeia EC1-1-1 (CEN, 2009).
Tabela 3 - Cargas aplicadas
Peso Próprio
(kN/m
2)
Restante Carga
Permanente
(kN/m
2)
Sobrecarga
(kN/m
2)
Pavimento Betão Armado 2,4
a)0,6
a)2,0
a)Varandas 2,4
a)0,6
a)5,0
a)Escadas 2,4
a)0,6
a)2,5
a)Cobertura 1,1
b)- 0,4
c)a) Memória Descritiva do Edifício
b) Tabelas Técnicas (Ferreira e Farinha, 1974)
c) EC1-1-1 (CEN, 2009)
Importa referir que foram utilizados os valores de sobrecarga indicados na Memória Descritiva
do edifício (AML) para o caso dos pavimentos de betão armado, varandas e escadas, por serem
superiores aos valores recomendados na norma EC1-1-1 (CEN, 2009).
As escadas não foram inseridas com a sua representação real, tendo sido modeladas como um
pavimento de laje de betão armado, em cada piso do edifício, com as cargas permanentes e variáveis
apropriadas.
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Relativamente à cobertura, por não ter uma influência relevante no comportamento dinâmico da
estrutura, optou-se por apenas considerar uma carga distribuída, no contorno das paredes envolventes,
representativa da ação vertical deste elemento.
Na Figura 43, apresenta-se os valores das cargas distribuídas nas paredes envolventes, para
cada carregamento.
Figura 43 - Representação das cargas distribuídas da cobertura
4.3.3 Elementos Estruturais
Nesta secção pretende-se apresentar os diversos processos utilizados na introdução dos
diversos elementos estruturais do modelo realizado.
Paredes Estruturais
Em primeiro lugar foi necessário a recolha de informações geométricas, nomeadamente as
plantas dos diversos pisos, para que servissem como referência para o posicionamento das paredes
do edifício. De seguida, definiu-se a altura dos diversos pisos e procedeu-se à inserção das paredes
estruturais em cada piso.
As paredes foram modeladas segundo a sua geometria e caracterização material e no caso das
paredes de empena, por serem de betão armado, foram introduzidas as quantidades de armadura
existentes, tal é apresentado na Figura 44. De referir, que a constituição das paredes de empena foi
posteriormente alterada para blocos de cimento, como se abordará adiante.
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Figura 44 - Definição das propriedades das paredes de betão armado
Foram ainda consideradas as diversas aberturas existentes, visto serem relevantes no contexto
da rigidez da estrutura e para o desenvolvimento do pórtico equivalente de macro-elementos no
processo de cálculo do programa.
Pavimentos
Os pavimentos no modelo 3MURI/TREMURI podem ser representados como elementos
diafragma através da introdução de determinadas propriedades mecânicas relativas ao módulo de
elasticidade em cada direção (E𝑥 e E𝑦), coeficiente de Poisson (𝜐) e do módulo de distorção (G),
contribuindo assim para uma correcta modelação e representação do comportamento sísmico efectivo
da estrutura (Lagomarsino et al., 2013).
Os pavimentos existentes são, em toda a sua extensão, de betão armado, apresentando uma
espessura de 0,10 m. Assim, no modelo para além da definição da sua geometria e dos carregamentos
verticais aplicados, foi necessário introduzir os valores das suas propriedades mecânicas de forma a
conferir as características da laje de betão armado existente (Figura 45).
43
(a) (b)
De referir que as propriedades apresentados na Figura 45, foram recolhidos de estudos de
caracterização material realizados em outros edifícios “de Placa” com características idênticas ao caso
de estudo.
Importa salientar que devido à inexistência de continuidade da laje de betão, foram definidos
diversos paíneis suportados nas paredes estruturais, tal como é apresentado na planta de estruturas
do edifício (Figura 46).
Figura 46 - Planta dos pisos habitacionais referentes à (a) modelação de um dos edifícios executado e (b) planta
de estruturas adaptada do edifício de estudo (AML)
Relativamente aos elementos de varandas presentes na fachada principal do edifício de estudo,
foram modeladas com uma opção existente no programa 3MURI/TREMURI denominada Balcony, que
permite definir a geometria e as massas associadas a elementos de varanda, como se apresenta na
Figura 47 para modelação efectuada.
44
(a) (b)
Fundações
Como mencionado na secção 2.5.2 deste trabalho, relativa à caracterização estrutural do edifício
de estudo, as fundações podem constituir ou uma continuação das paredes estruturais de alvenaria
de pedra até ao solo de fundação ou sapatas de betão armado.
Tendo como referência a planta de fundações do edifício (AML), foram introduzidas as
características geométricas e estruturais para cada caso, tal como se apresenta na Figura 48 para a
fundação de uma das paredes estruturais.
Figura 48 - Definição da fundação de uma parede estrutural
Restantes elementos estruturais de betão armado
Os edifícios modelados apresentam na sua estrutura, elementos verticais e horizontais de betão
armado, nomeadamente pilares e vigas. Na modelação efectuada, foi necessária a definição das
caraterísticas geométricas e estruturais destes elementos, bem como das quantidades de armadura
presentes. Na Figura 49 apresenta-se a definição de um dos pilares e vigas existentes no modelo
elaborado.
45
4.3.4 Modelo Numérico
Após a implementação de todos os procedimentos anteriormente referidos nesta secção,
obteve-se o modelo computacional em 3MURI/TREMURI. Nas Figuras 50 e 51 estão repreobteve-sentadas duas
perspetivas a três dimensões do modelo realizado, nomeadamente para a fachada principal e posterior
dos edifícios.
Figura 50 - Modelo 3MURI/TREMURI (fachada principal)
Figura 51 - Modelo 3MURI/TREMURI (fachada posterior)
Como é possível constatar nas representações do modelo elaborado (Figuras 50 e 51), os
edifícios apresentam a mesma elevação no terreno. Contudo, existe uma inclinação do terreno e os
edifícios não estão, por isso, ao mesmo nível.
Numa fase inicial da modelação deste modelo foi tido em consideração esta inclinação, o que
implicou a divisão da altura de cada piso dos edifícios em diferentes níveis. De facto, um nível
representa a cota de um determinado piso, e o programa 3MURI/TREMURI não permite para um
determinado nível a existência de elementos verticais com alturas diferentes.
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Assim, e como se pode constatar pela Figura 52, foram necessários implementar doze níveis no
modelo, introduzindo-se um sempre que existia uma alteração de cota dos pisos nos três edifícios.
Figura 52 - Representação dos níveis no modelo 3MURI/TREMURI
No final da modelação dos três edifícios através da metodologia anterior, procedeu-se à geração
da malha dos macro-elementos através do método FME. Este procedimento é realizado de forma
automática pelo programa. No entanto, constatou-se que o software não conseguiu representar o
pórtico equivalente de macro-elementos de forma adequada, como se demonstra na Figura 53 para um
dos pórticos gerados (fachada principal).
Figura 53 - Representação da malha de macro-elementos para o modelo desnivelado
Surgiu assim a necessidade de se alterarem as malhas anteriores de forma manual. No caso
deste modelo, estas modificações envolviam a criação e alteração das propriedades geométricas de
macro-elementos (lintéis e nembos) e na edição e correta ligação dos nós rígidos. O processo envolvido
seria bastante moroso e complexo, envolvendo um número muito elevado de modificações e com
suscetibilidade de poder haver erro humano e, consequentemente, inviabilizar a própria confiança dos
resultados que se pudessem obter. Deste modo e tendo em conta não só a finalidade pedagógica que
se pretende retirar com este trabalho, mas também o facto da consideração de todos os pisos ao
mesmo nível constituir uma base de estudo adequada para este tipo de edifícios, já que pode ser
representativo de edifícios semelhantes fundados em terrenos de fundação planos, optou-se por
estudar esta situação. Naturalmente, os resultados obtidos serão diferentes dos que se obteriam na
No documento
Caracterização e Avaliação Sísmica de um Edifício Misto Alvenaria-Beta o. Engenharia Civil
(páginas 56-65)