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O levantamento pedológico visou caracterizar os principais aspectos do solo em cada piso altitudinal. Os parâmetros registrados em campo aliados aos resultados das análises laboratoriais permitiram importantes inferências quanto à distribuição dos solos ao longo do gradiente e de suas relações com a vegetação.

Ao longo da pedosseqüência foi verificado um amplo predomínio dos Cambissolos, os quais, nas porções superiores da encosta, estão associados a Neossolos Litólicos. Em geral, os solos de todos os níveis apresentam-se totalmente dessaturados por bases e ricos em alumínio trocável, recebendo a denominação de distróficos e álicos.

Observou-se que até o piso dos 700 m s.n.m. os Cambissolos apresentam espessuras maiores que 1 m e que acima deste piso estas sofrem redução atingindo 50 cm ou menos, denotando nítida diferença intra-classe, a qual incorre em possibilidades distintas de fragilidade ambiental, no âmbito da estabilidade de encostas. Deve ser ainda ressaltada a existência de contato lítico nos pisos mais elevados (1.100 e 1.000 m s.n.m.), fator que potencializa ainda mais a instabilidade das vertentes, acelerando a saturação hídrica dos solos e facilitando seu deslocamento.

Ainda que não tenham sido encontrados através das amostragens de solos, é válido informar que nas porções inferiores da encosta, os Cambissolos ocorrem associados a Argissolos Vermelho-Amarelos Tb Distróficos típicos A moderado textura média/argilosa (CURCIO, G. R., entrevista concedida a BLUM, C. T., Curitiba, 25 de novembro de 2005).

Fatores ambientais como o clima e a topografia acidentada acarretam em diferenciações dentro das classes detectadas, as quais são apresentadas na Tabela 2. Confirmando as descrições de EMBRAPA (1984), CURCIO et al. (1991) e SCHMIDLIN (1998), as classes de solos detectadas apresentaram uma distribuição coerente ao longo da encosta, seguindo um gradiente de morfogênese. Este foi interrompido significativamente apenas aos 700 m, pela existência de uma ruptura de falha que condicionou a existência de solos mais rasos.

TABELA 2 – Classificação dos solos amostrados nos pisos altitudinais da encosta norte da Torre da Prata.

Piso Classe de Solo

1.100* • CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Distrófico nano** álico A moderado textura média relevo montanhoso

1.000* • NEOSSOLO LITÓLICO húmico alumínico textura argilosa relevo montanhoso

900 • CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Distrófico léptico álico A proeminente textura média relevo montanhoso

800 • CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Distrófico típico álico A proeminente textura argilosa relevo montanhoso

700* • CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico nano** álico A moderado textura argilosa relevo escarpado

600 • CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico léptico álico A moderado textura muito argilosa relevo forte ondulado

500 • CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico álico A moderado textura argilosa relevo forte ondulado

400 • CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico álico A moderado textura argilosa relevo forte ondulado

NOTA: * pisos caracterizados por associações de solos, sendo indicada somente a classe amostrada; ** subgrupo recente ainda não incorporado ao sistema brasileiro de classificação de solos

Conforme discutido, nas porções mais elevadas da vertente estão presentes os Neossolos Litólicos junto a Cambissolos menos espessos – lépticos e nanos – caracterizando a associação Neossolo Litólico Distrófico húmico típico + Cambissolo Háplico Ta Distrófico nano A moderado álico relevo montanhoso, ambos textura média e/ou argilosa. Importante ressaltar a presença inclusa dos Cambissolos lépticos. Estes solos de menores espessuras estão presentes devido à elevada pluviosidade e declividades superiores a 60%, favorecendo os processos de morfogênese caracterizados pela perda de material que se desloca para porções mais baixas. Não raramente esses processos acarretam na ocorrência de afloramentos de rocha, exponenciando a fragilidade ambiental destes trechos. Nas áreas de Neossolos Litólicos são particularmente abundantes os matacões de diversos tamanhos e formas, espalhados pela encosta.

A declividade tende a reduzir-se gradualmente no sentido descendente da vertente, chegando a valores entre 30 e 45%. Em alguns casos esta redução pode ser interrompida bruscamente por características inerentes ao arcabouço geológico, no caso, planos de ruptura de declive por condicionamentos de falha. Isto foi

observado no piso 700 m s.n.m., com declividade média de 79%, incorrendo na presença do Cambissolo nano ao invés dos Cambissolos lépticos ou mesmo típicos. Nas áreas de menor declividade formam-se os Cambissolos típicos, mais profundos, resultantes da morfogênese de coluvionamento .

Através da Tabela 3 pode ser verificado o predomínio das texturas argilosa e média nos solos analisados. A primeira tende a prevalecer nas porções inferiores da pedosseqüência, fato decorrente dos processos morfogenéticos.

TABELA 3 – Resultados da análise granulométrica das amostras coletadas por piso altitudinal na encosta norte da Torre da Prata, entre 400 – 1.100 m.

Areia Silte Argila Amostra Declividade (%)

Grossa (%) Fina (%) Total (%) % % Textura

1100 HA 24,1 24,6 48,8 31,3 20,0 média 1100 HB 61 42,1 25,0 67,1 3,0 30,0 média 1000 HA 69 13,1 7,5 20,6 44,4 35,0 média 900 HA 24,5 24,6 49,2 8,3 42,5 argilosa 900 HB 51 22,3 16,9 39,2 30,8 30,0 média 800 HA 6,7 21,7 28,4 39,1 32,5 média 800 HB 65 10,0 28,5 38,5 26,5 35,0 média 700 HA 6,9 11,1 18,0 42,0 40,0 argilosa 700 HB 79 8,5 18,2 26,7 18,3 55,0 argilosa 600 HA 19,2 7,5 26,7 20,8 52,5 argilosa 600 HB 35 17,4 8,5 26,0 11,5 62,5 muito argilosa 500 HA 15,6 11,8 27,4 22,6 50,0 argilosa 500 HB 32 13,6 11,7 25,3 19,7 55,0 argilosa 400 HA 22,3 20,9 43,2 21,8 35,0 média 400 HB 44 21,1 24,4 45,5 17,0 37,5 argilosa

NOTA: HA – horizonte superficial; HB – horizonte sub-superficial

Observa-se que a relação areia grossa/areia fina é mais constante nos níveis inferiores, denotando menor intensidade e/ou freqüência de fluxos de massa, em contraste com os pisos mais elevados onde são observadas descontinuidades consideráveis nos teores de areia grossa e fina entre os horizontes A e B. Este aspecto é particularmente evidente nas amostras do piso 1.100 m s.n.m. onde o teor de areia grossa do horizonte B é quase duas vezes superior ao do horizonte A, indicando a ocorrência de fluxos.

Verifica-se na Tabela 4 que os níveis de pH foram bastante baixos para todos os pisos altitudinais caracterizando todos como extremamente ácidos (pH < 4,3), a despeito de se acentuarem nos patamares superiores. Paralelamente, detecta-se também a tendência de aumento nos teores de alumínio trocável, acima dos 700 m

s.n.m. Em ambientes mais elevados (entre 1.150 m e 1.400 m s.n.m.) estudando comunidades florestais altomontanas nas serras da Baitaca e Marumbi, RODERJAN (1994), PORTES (1998) e ROCHA (1999) encontraram valores de pH ainda mais baixos e elevados teores de alumínio. A justificativa para este quadro químico se deve à maior mobilidade das bases em relação ao alumínio (RAIJ, 1981).

TABELA 4 – Resultados da análise química das amostras coletadas por piso altitudinal na encosta norte da Torre da Prata , entre 400 – 1.100 m.

pH Al+3 H+ +Al+3 Ca+2 Ca+2 +Mg+2 K+ SB T P C V m Amostra KCl cmol c/dm3 mg/dm3 g/dm3 % % 1100 HA 3,50 2,70 8,20 0,60 0,80 0,13 0,93 9,13 3,00 28,1 10,0 74,0 1100 HB 3,90 2,90 7,60 0,40 0,60 0,06 0,66 8,26 1,50 13,0 8,0 81,0 1000 HA 3,60 4,20 19,40 0,80 1,20 0,20 1,40 20,80 3,00 94,8 7,0 75,0 900 HA 3,60 4,90 12,40 0,30 0,40 0,11 0,51 12,91 1,90 32,9 4,0 91,0 900 HB 4,20 3,10 10,10 0,20 0,30 0,06 0,36 10,46 1,20 26,9 3,0 90,0 800 HA 3,70 3,80 11,40 0,80 1,10 0,14 1,24 12,64 2,30 34,1 10,0 75,0 800 HB 4,20 2,30 9,60 0,50 0,70 0,11 0,81 10,41 4,20 34,1 8,0 74,0 700 HA 3,50 4,50 12,80 0,80 1,10 0,22 1,32 14,12 3,10 54,6 9,0 77,0 700 HB 4,10 2,80 7,60 0,50 0,70 0,06 0,76 8,36 1,50 19,6 9,0 79,0 600 HA 4,20 1,60 9,40 1,80 2,50 0,70 3,20 12,60 2,30 37,7 25,0 33,0 600 HB 4,30 1,70 6,80 0,70 1,00 0,42 1,42 8,22 1,30 14,8 17,0 54,0 500 HA 3,90 2,40 9,80 1,70 2,40 0,23 2,63 12,43 2,10 42,0 21,0 48,0 500 HB 4,20 1,80 5,40 0,60 0,80 0,11 0,91 6,31 1,20 19,6 14,0 66,0 400 HA 4,10 2,40 7,40 0,60 0,80 0,12 0,92 8,32 2,10 23,8 11,0 72,0 400 HB 4,20 2,10 4,40 0,50 0,70 0,05 0,75 5,15 1,50 8,1 15,0 74,0 NOTA: HA – horizonte superficial; HB – horizonte sub-superficial

Observa-se um aumento na saturação de bases trocáveis (V) nos pisos altitudinais inferiores, entre 400 e 600 m s.n.m., denotando uma maior capacidade de suporte químico para o desenvolvimento da vegetação.

Os teores de carbono (C) demonstraram-se muito variados, existindo, no entanto, uma tendência sutil de elevação para montante. Ilustrando esta situação verifica-se que entre 400 e 700 m s.n.m. prevalecem horizontes superficiais do tipo A moderado refletindo um maior grau de oxidação da matéria orgânica. É interessante citar que a cota 700 m coincide com aquela apontada como limite entre os climas Cfa e Cfb, sendo que acima deste piso altitudinal, temperaturas mais baixas desfavorecem a oxidação da matéria orgânica, acarretando no acúmulo de serapilheira e conseqüentemente em concentrações mais elevadas de carbono nos horizontes superficiais (proeminentes ou húmicos).

Neste contexto, foi observado que as cores (ANEXO 2 – pág. 154) do horizonte A são mais escuras nos ambientes mais elevados devido aos maiores

teores de carbono, fato já evidenciado em RODERJAN (1994), ROCHA (1999) e ROSSI et al. (2000). No entanto, essa interferência ainda não se faz sentir em subsuperfície (horizonte B). Ainda que não tenha sido quantificada, verificou-se em campo que a cobertura do solo por serapilheira é contínua e espessa nos trechos mais elevados, tendendo a reduzir-se nos trechos inferiores a 600 m s.n.m.

PORTES (1998), quantificou a produção média de 4,5 ton/ha/ano de serapilheira em uma FOD Altomontana na Serra da Baitaca, registrando ainda baixas taxas de decomposição foliar. Para uma comunidade de FOD Submontana em Blumenau – SC, VIBRANS e SEVEGNANI (2000) encontraram a produção média anual de 8,2 ton/ha. Desta forma, é de se supor que em formações montanas o aporte anual de serapilheira deve variar entres estes dois valores. O maior acúmulo de serapilheira nos patamares montanos e altomontanos se deve às temperaturas mais frias que retardam a decomposição da serapilheira.

Com base em todo o contexto discutido acima pode-se distinguir três pedoambientes ao longo da encosta estudada, citados a seguir:

• Pedoambiente 1 – Situado entre as cotas 1.000 e 1.100 m, constituído pela Associação Neossolo Litólico húmico alumínico + Cambissolo Háplico Distrófico nano (inclusão de Cambissolo léptico);

• Pedoambiente 2 – Situado entre as cotas 700 e 900 m, caracteriza-se pela presença de Cambissolo Háplico Distrófico léptico e típico (inclusão de Cambissolo nano);

• Pedoambiente 3 – Situado entre as cotas 400 e 600 m, evidenciado pela presença de Cambissolo Háplico Distrófico típico (inclusão de Cambissolo léptico). Neste ambiente pode também ocorrer o Argissolo Vermelho-Amarelo.