• Nenhum resultado encontrado

Através das diversas análises realizadas no presente estudo, pôde-se confirmar que os fatores climáticos, topográficos e pedológicos apresentam relevante importância no desenvolvimento e na diferenciação de comunidades vegetais ao longo de gradientes ambientais. Verificou-se que as variáveis geomorfológicas e pedológicas apresentam forte relação com a estrutura das comunidades florestais, situação também descrita por RODRIGUES e SHEPHERD (1992) e CARVALHO et al. (2005), sendo a florística tende a ser mais influenciada por aspectos climáticos, como observado por ODLAND e BIRKS (1999), SÁNCHEZ- GONZÁLEZ e LÓPEZ-MATA (2003) e DAMASCENO JR. (2005).

Numa primeira aproximação, observa -se que a distinção florística e fitossociológica entre os patamares submontano e montano coincide com o limite entre os domínios climáticos Cfa e Cfb, que situa-se entre 700 e 800 m s.n.m. A estimativa de temperaturas médias para cada nível altitudinal com base em dados coletados na estação metereológica de Morretes também confirmou esta tendência. Com uma temperatura média estimada do mês mais quente igual a 21,6º C, a cota 700 m já estaria sob influência do tipo climático Cfb, provavelmente ainda numa faixa de transição, vindo a tornar-se típico nas cotas superiores.

Vale ressaltar ainda que a existência de dois tipos climáticos influencia também os aspectos pedológicos, existindo importantes mudanças tanto físicas quanto morfológicas e químicas entre os patamares montanos e submontanos, os quais, por sua vez, também exercem nos descritores estruturais da vegetação, sobretudo, como condicionantes de fragilidade ambiental.

Nos patamares 1.100 e 1000 m s.n.m., solos rasos freqüentemente depauperados pela pluviosidade abundante e sob constantes movimentos centimétricos anuais forçam grande parte das árvores a realizar uma compensação geotrópica que culmina em inflexões de colo (Figura 39).

Outra adaptação característica das comunidades florestais presentes nestas altitudes é o elevado número de árvores com fustes múltiplos (Figura 39). Aspecto morfológico devido, em geral, à grande inclinação dos indivíduos forçados pela gravidade, o que estimula o crescimento de rebrotas retilíneas saindo da base do tronco principal, edificando uma paisagem típica dos ambientes instáveis da Serra

do Mar. Estes fustes secundários cumprem a função de manter a estabilidade dos indivíduos arbóreos inclinados, contrapondo-se à sua massa suspensa encosta abaixo. Em alguns casos, o tombamento de espécimes provocados por fluxos de massa, os quais permanecem fixos ao substrato pelas suas raízes e portanto vivos, também acarretam em intensa geração de rebrotas, que compensa a perda de dominância apical da copa principal.

FIGURA 39 – Adaptações da vegetação às condicionantes pedológicas e topográficas: inflexões de colo (esquerda) e árvores com fustes múltiplos (direita).

Nestes pisos, a estabilidade das árvores também é mantida pelo vigoroso entrelaçamento mecânico formado pelas raízes, de certa forma compensando a pequena espessura dos Neossolos Litólicos e Cambissolos nanos.

Solos pouco espessos acarretam ainda numa redução no porte médio dos indivíduos, que acabam por não atingir grandes alturas e diâmetros para manterem sua estabilidade na encosta frágil. As menores dimensões são compensadas por uma maior densidade destes, como pôde-se observar na Tabela 20, situação exatamente contrária da observada nos pisos mais baixos, onde solos espessos e consistentes proporciona m suporte físico, viabilizando a existência de indivíduos de

grande porte dispostos de forma mais espaçada. Em consonância com estas consideracões, KLEIN (1980) também salientou que as comunidades situadas no alto das encostas, condicionadas por características pedológicas menos favoráveis, apresentam vegetação mais uniforme e menos desenvolvida.

Seguindo este raciocínio, a análise dos três fatores relativos que compõem o valor de importância das principais espécies de cada fitotipia detectada, demonstrou nitidamente que na formação submontana típica as espécies mais relevantes tem a dominância como variável de maior peso na sua importância, situação também verificada na comunidade de transição e, numa escala menor, na formação montana típica. Por outro lado, nas subformações existentes sobre Neossolos Litólicos e associações destes com Cambissolos rasos nos pisos 1.000 e 1.100 m s.n.m., não se observa o predomínio da dominância, ocorrendo um equilíbrio desta com a densidade, o que reflete em grande parte as condições de instabilidade pedológica.

Nos solos de maiores altitudes, deficiências químicas como elevados teores de alumínio e baixos teores de bases trocáveis associadas à pequena espessura implicam em um volume de “solo aproveitável” muito reduzido para a exploração das raízes, remetendo a adaptações morfológicas dos vegetais. O maior acúmulo de serapilheira observado nos pisos elevados favorece o desenvolvimento de sistemas radiculares mais independentes do solo . Neste caso é comum a formação de uma intricada rede de raízes de absorção expostas acima do solo, em meio à abundante serapilheira, adaptadas desta forma à absorção de cátions solúveis. Nas porções mais baixas da encosta a situação é contrária, devido às maiores espessuras do solo, onde as raízes buscam fluxos iônicos em sub-superfície, não sendo comum a existência de sistema radicular exposto.

A existência de raízes superficiais nestas comunidades de porções altitudinais mais elevadas foi citada por KLEIN (1980), que salientou esta característica em especial para a espécie Ocotea odorifera.

Em relação à fragilidade ambiental, certamente pode-se dizer que os patamares montanos são muito mais frágeis. Suas elevadas declividades e extensos comprimentos de rampa, conjugados às reduzidas espessuras de solos geralmente em contato lítico, os tornam extremamente suscetíveis a deslocamentos de massa, em especial nas épocas de elevada pluviosidade quando o solo atinge rapidamente seu limite de liquidez (saturação hídrica), desencadeando fluxos pelo aumento de

seu peso. Deve ser ainda ressaltada que a existência de contato lítico nos pisos mais elevados (1.100 e 1.000 m s.n.m.) potencializa ainda mais a instabilidade das vertentes, acelerando a saturação hídrica dos solos e facilitando seu deslocamento (Figura 40).

FIGURA 40 – Aspecto de trecho da encosta aos 1.100 m s.n.m. onde houve fluxo de massa deixando a rocha desnuda e ocasionando a queda de árvores.

A fragilidade transcende a questão de instabilidade de encostas, sendo que a condição de reduzida espessura pedológica e elevada declividade associadas à baixa saturação de bases e ao alto teor de alumínio implicam em maior dificuldade de recuperação das cicatrizes ocasionadas por escorregamentos, trata ndo-se de ambientes de menor resiliência em relação aos patamares submontanos.

Na Figura 41 apresenta-se um perfil esquemático da vertente estudada, onde foram combinadas informações do meio físico e da estrutura da vegetação. As alturas das árvores e espessuras de solo foram dimensionadas com base nos dados levantados em campo. A declividade da encosta e o gradiente de cores dos solos também respeita a realidade observada na área estudada.

FIGURA 41 – Representação esquemática do gradiente da Floresta Ombrófila Densa na face norte da Torre da Prata.

FODMbc- Floresta Ombrófila Densa Montana de porte baixo com clareiras FODMb - Floresta Ombrófila Densa Montana de porte baixo FODMt - Floresta Ombrófila Densa Montana típica TRANS - Transição entre FOD Montana e FOD Submontana FODSt - Floresta Ombrófila Densa Submontana típica Cdn - Cambissolo Háplico Distrófico nano Cdl - Cambissolo Háplico Distrófico léptico Cdt - Cambissolo Háplico Distrófico típico RLha - Neossolo Litólico húmico alumínico Cfa / Cfb - tipos de clima