• Nenhum resultado encontrado

Neste item, serão apresentados a ontologia, a epistemologia, a natureza humana e o método do interacionismo simbólico.

A ontologia do interacionismo refere-se ao mundo social como um padrão de significados e relações simbólicas por meio dos processos de ação e interação humana em um ambiente social de interpretações. O caráter fundamental do mundo social está enraizado na rede de significados subjetivos que sustentam as ações como regras que tomam forma duradoura. A realidade repousa não em regras ou no seguimento de regras, mas no sistema de

ações significantes que apresentam a si mesmas a observadores externos, como norteadoras (MORGAN e SMIRCICH, 1980).

A epistemologia do interacionismo trata de compreender os padrões de discurso simbólico. Dessa forma, trata-se do conhecimento dos processos sociais de interação do indivíduo com o mundo social. A realidade não se baseia em um sistema de regras, mas em um sistema de ação significativa, que se torna, para um observador externo, um conjunto de regras. Portanto, rejeita-se a ideia de um mundo social de relações determinísticas e defende-se o conhecimento, compreensão e explicação sobre as relações sociais, considerando como a ordem social é desenvolvida e quais significados os indivíduos lhe atribuem. Essa epistemologia não envolve a generalização dos resultados, mas a preservação da natureza do mundo social (MORGAN e SMIRCICH, 1980).

A natureza humana do interacionismo refere-se aos indivíduos que se tornam atores sociais quando interpretam seu meio e orientam suas ações de forma que sejam significativas para si. Nesse processo, eles utilizam linguagem, rótulos, rotinas para gerenciar impressões e outros modelos específicos de ações, contribuindo para promover uma realidade (MORGAN e SMIRCICH, 1980). O indivíduo torna-se vivo no mundo, interpretando e promovendo um relacionamento na sua vida quotidiana, na realidade empírica da experiência humana, sob a forma como os seres humanos veem a realidade (MORGAN e SMIRCICH, 1980; GODOY, 1995).

Frente às características apresentadas sobre o interacionismo simbólico, torna-se coerente em termos teóricos e metodológicos a abordagem qualitativa (GODOY, 1995). Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa não se preocupa em enumerar eventos ou utilizar elementos estatísticos, mas em obter dados sobre pessoas, lugares e processos interativos, com o intuito de compreender os fenômenos que se manifestam sobre a perspectiva do indivíduo e sua interação social. A abordagem qualitativa visa à obtenção de dados descritivos sobre pessoas, ambientes e determinados fenômenos, procurando entender os participantes em sua relação social e seu ambiente natural. Os pesquisadores qualitativos são indutivos na análise dos dados, não partem de hipóteses estabelecidas, mas de questões amplas que vão se tornando mais específicas no caminhar da pesquisa.

A investigação qualitativa necessita que o pesquisador tenha abertura, flexibilidade, capacidade de observação e interação com os atores sociais envolvidos. Os instrumentos de pesquisa podem ser corrigidos e adaptados, conforme necessidade do campo e objetivo da pesquisa; no entanto, não permitem improvisos (MINAYO, 2008).

Para o método de pesquisa do interacionismo, o significado é um item essencial na compreensão do comportamento humano, das interações sociais e dos processos (CARVALHO, BORGES e RÊGO, 2010). Assim, foram utilizadas três técnicas de pesquisa: observação, entrevista de pesquisa biográfica e técnica projetiva. Esses são considerados procedimentos metodológicos adequados para a perspectiva do interacionismo simbólico (HAGUETTE, 2010), conforme apresentado a seguir.

A observação pode ser utilizada para explorar os significados subjetivos das interações dos indivíduos (MORGAN e SMIRCICH, 1980). Para Lüdke e André (1986), é uma técnica que necessita de controle e sistematização. No entanto, a observação possibilita um contato próximo do fenômeno estudado e da perspectiva dos sujeitos, e, assim, pode-se compreender o significado que os indivíduos constroem sobre a realidade em que estão inseridos e suas próprias ações. Assim, ocorre um envolvimento do pesquisador com a situação estudada. Segundo Haguette (2010), essa é uma técnica de coleta de dados em que o pesquisador vê o mundo por meio de suas percepções. Becker (1958) ressalta que é o processo de entrar em contato com o participante e seu ambiente possibilita uma descrição detalhada das relações sociais e interpretações dos eventos.

Em campo, buscou-se registrar a descrição dos músicos, a reconstrução de diálogos, a descrição dos locais e eventos, a narrativa das atividades e o comportamento do observador (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). Para tanto, na observação, o objetivo de pesquisa foi explicado aos sujeitos de forma geral para minimizar o viés da pesquisa. Assim, foi solicitado ao sujeito da pesquisa permissão para acompanhar seu dia de trabalho, a formalização desse processo ocorreu pela assinatura do Termo de Consentimento. No trabalho de campo, as observações foram anotadas em um editor de texto instalado no celular. Foram realizadas 04 (quatro) observações das apresentações dos músicos em bares e clubes, e 01 (uma) observação foi realizada na reunião da Associação dos Artistas Culturas da Microrregião do Campo das Vertentes. O período de observação compreendeu entre 9 de agosto de 2017 até 30 de novembro de 2017.

Outra técnica de pesquisa utilizada para a coleta de dados foi a entrevista de pesquisa biográfica que tem como objetivo compreender a origem do indivíduo, os fatos, as situações, as interações sociais e culturais, as interpretações e sentidos da sua vida do indivíduo (DELORY-MOMBERGER, 2012). Essa técnica de coleta de dados busca incorporar a relação do “indivíduo e as representações que ele faz de si próprio e das suas relações com os outros;

entre o indivíduo e a dimensão temporal de sua experiência e de sua existência” (DELORY- MOMBERGER, 2012, p. 523).

Além disso, por meio da entrevista foi possível obter informações do sujeito de pesquisa a respeito de sua existência e experiência, ou seja, pelo relato da experiência o indivíduo passa pelo contexto histórico, político, social, representações coletivas, crenças coletivas e discursos da sociedade (DELORY-MOMBERGER, 2012).

Dessa forma, a entrevista de pesquisa biográfica foi utilizada para a conhecer a trajetória dos músicos juntamente com a observação do músico em seu ambiente de trabalho, pois, segundo Lima (2001) e Becker (2008), a observação e a entrevista são técnicas apropriadas para o interacionismo. Foram realizadas uma ou mais entrevistas de pesquisa biográfica em profundidade com os músicos, conforme evolução das mesmas (Apêndice A6).

Outro instrumento de coleta de dados foi a técnica projetiva de associação de figuras, com vistas a registrar percepções e concepções que, normalmente, não são verbalizadas na entrevista em profundidade. Segundo Banks (2009, p. 17), “as imagens são onipresentes na sociedade e, por isso, algum exame de representação visual pode ser potencialmente incluído em todos os estudos de sociedade”. A imagem pode mostrar algum conhecimento que outro método não seria capaz de revelar (BANKS, 2009). Segundo Vergara (2015), a descrição de situações por meio de imagens pode provocar lembranças e reflexões em maior profundidade. Ao final da entrevista de pesquisa biográfica, foi apresentado um conjunto de figuras previamente selecionadas para essa parte da coleta de dados (Apêndice B), de forma que os músicos foram estimulados a comentar as figuras com base na percepção sobre sua carreira de músico.

Em campo, a técnica de observação buscou relatar o contexto no qual o músico exerce sua carreira por meio do diário de campo. A entrevista de pesquisa biográfica e técnica projetiva foram registradas via gravação do áudio da entrevista em profundidade.

Nessa pesquisa, foi realizada a triangulação intratécnica, ou seja, dentro da abordagem qualitativa. A observação, a entrevista de pesquisa biográfica e a técnica projetiva de associação se complementaram com vistas a se aprofundar a compreensão do fenômeno em questão, visando à maior confiabilidade e qualidade nas análises. Flick (2009, p. 62) salienta que “a triangulação implica que os pesquisadores assumam diferentes perspectivas sobre uma questão em estudo ou, de forma mais geral, ao responder a pergunta de pesquisa”. Para o autor, trata-se

6 Foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturada, que direcionou a entrevista de forma a compreender a

da utilização de diferentes métodos, técnicas e abordagens, sendo que esses devem estar interligados e produzir conhecimento em níveis diferentes e, assim, promover a qualidade na pesquisa (FLICK, 2009).